Laços escrita por Mariii


Capítulo 4
Capítulo 4




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– Ahn... Oi James.

Ele não respondeu e virou-se de costas para voltar ao quarto, não esperando ser barrado por Summer.

– Oi Molly, entre. James fará companhia para você na sala, já que estou ocupado com alguns afazeres. Certo, James?

Suspirando, o garoto virou-se novamente e voltou à sala, sentando-se da melhor forma que conseguiu para não sentir muitas dores. Um momento constrangedor seguiu-se à saída de Summer do aposento e James parecia extremamente concentrado em um ponto fixo na parede.

– Dói muito? - A voz tímida de Molly finalmente saiu.

– O que você acha?

– Que sim.

James deu de ombros, não querendo admitir que sim, doía muito. Seguiu-se mais um momento silencioso onde Molly fazia pequenas dobras na colcha do sofá para disfarçar sua timidez.

– Hum... Você sabe brincar de mímica? - A voz dela é retraída e vendo o sorriso sarcástico de James em meio ao seu rosto inchado, ela tem certeza que ele irá negar.

– Já vi fazerem. Por acaso você está sugerindo que a gente brinque disso? - A pergunta é seguida de uma careta que a faz sorrir.

– Sim. Eu gosto de mímica.

– Por que isso tudo? Você não me deve nada. Eu não sou um coitadinho para você ter pena. - A expressão emburrada dele por pouco não a fez rir novamente.

– Não estou com pena, James. Eu só não consigo brincar de mímica sozinha. Será que você pode fazer isso?

Molly não sabia por que se sentia impelida a começar uma amizade com ele. Por mais que anos depois ela pensasse sobre o assunto, nunca chegaria uma conclusão. Talvez fosse um pouco de culpa por nunca ter se aproximado dele na escola, por só tê-lo notado como o marginal da turma. Às vezes, tempos depois, ela se perguntava se caso tivesse se aproximado antes, alguma coisa teria sido diferente. Provavelmente não. Não estava em suas mãos impedir as coisas horríveis que o pai dele infringia. O que a consolava é que ela foi responsável, em partes, por tirá-lo das garras dele.

– Tudo bem, então. Vamos ver onde isso vai dar, comece você.

Ela pensa por alguns instantes no que imitar e se decide por um animal. Já que James não tem experiência com mímicas ela escolhe algo fácil e começa a imitar um...

– Cachorro, Molly. Não sou nenhum retardado.

Molly apenas sorri, apesar das palavras ásperas dele.

– Sua vez, James.

O garoto até que se esforça e ela também, para adivinhar. Tenta por muitas vezes segurar o riso, até que ele escapa em uma enorme gargalhada fazendo com que o rosto de James ganhe um discreto tom rubro por baixo de seus hematomas.

– Deus, você é muito ruim! - Lágrimas escorriam dos olhos dela, que não conseguia parar de rir.

– E você imita um cachorro e acha que é muito boa em mímica, é isso que estou entendendo? - James tentava ficar sério, mas um pequeno sorriso estava cismando em escapar dos seus lábios.

– Pelo menos sou melhor que você.

Ele torceu os lábios, mas agora já era descarada sua tentativa de não sorrir. De algum modo aquela pequena garota sem graça havia feito dar o primeiro sorriso sincero desde que ele se lembrava. E era reconfortante como ela não desistia dele, mesmo com suas grosserias.

James só se deu conta de que algumas horas haviam passado quando Molly disse que precisava ir embora. Eles passaram o restante da tarde fazendo mais algumas mímicas, conversando sobre como a escola era terrivelmente chata e fazendo tentativas de novas brincadeiras.

– Ela vai voltar amanhã, não vai? - James perguntou a Summer quando a garota saiu porta afora.

– Sim, ela vai. - O senhor respondeu sorrindo.

–-- --- ---

E Molly voltou. Quase todos os dias de suas férias. Às vezes a noite, às vezes durante o dia. E eles dividiam as mais variadas brincadeiras, principalmente depois que James passou a andar normalmente de novo.

Ela descobriu da forma mais difícil que sempre haveriam preconceitos rondando seu mundo. A primeira amostra foi quando Alice parou de falar com ela ao descobrir sua amizade com James, tornando-o seu único amigo.

– Molly... James... Silêncio! - Claire repreendia-os com um sorriso mal disfarçado no rosto. Sua melhor surpresa após a volta às aulas foi ver que James fizera uma amizade e que pela primeira vez o menino parecia verdadeiramente feliz.

– Eu posso te chamar de Jim? - Os dois estavam deitados lado a lado na grama, aproveitando um dos raros dias de sol. Ele demora para responder, como se não tivesse ouvido. - James...

– Pode... Molls.

A garota faz uma pequena careta com o apelido que Alice usava, mas era uma troca justa que ela não podia negar.

– Por que você pegou meu bolo naquele dia? - A pergunta sai antes que ela possa evitar. Apesar de tudo, era um assunto que ainda rondava sua cabeça.

– É tão difícil de imaginar? Porque eu estava com fome. E tenho uma útil habilidade de pegar coisas sem que ninguém perceba, como isso! - Ele exibe sobre os olhos dela o pequeno laço de cabelos com desenho de gatinhos que havia pego.

– JAMES! Isso estava no meu bolso!

– Estava, não está mais. Não, você não vai pegá-lo de volta. E eu voltei a ser James? - Guardando o laço em seu próprio bolso, Jim sorri vitorioso.

– Ele não te dava comida?

Esse era um assunto quase proibido entre eles. Até agora não haviam tocado no assunto, mas Molly tinha curiosidade sobre como era a vida dele antes e como ele tinha desenvolvido essas habilidades peculiares. Se arrependeu de ter perguntado quando o sorriso sumiu do rosto dele.

– Não. Raramente. E só o suficiente para que eu me mantivesse em pé, roubando para ele. Ah... Claro... Também para aguentar as surras.

Os dois se perderam em pensamentos. Molly pensando sobre como o encontrou caído em seu próprio sangue e Jim pensando em como fora salvo.

Naquele momento, quando Molly segurou sua mão e ele a apertou, todas as palavras que não foram ditas ficaram evidentes entre os dois.


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