Tears of sea escrita por inoz2


Capítulo 1
Capítulo 1 - Está gelada


Notas iniciais do capítulo

Os capítulos não terão qualquer sequência uns com os outros, tatam assuntos diferentes em cada um deles (:
Espero que gostem, comentem! :D



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Está gelada. Já não sinto os pés, os ossos, a pele. Porém, dou um passo adiante. A temperatura agora afeta-me todos os músculos e nervos. Aproximo-me. Caminho sem sentir os meus próprios passos. Agora toda a minha cintura é rodeada por uma imensidão gélida, cruelmente acolhedora. Avanço mais um pouco. Todo o meu ventre é envolvido por uma sensação inexplicável que me faz prender a respiração. Quero fugir, parar de o sentir, mas a vontade de ficar é superior a isso. Quanto mais me afundo, mais aguda fica a minha sensibilidade. Todos os meus órgãos se vão habituando momento após momento. Os meus cabelos flutuam, livres, soltos. Bailam uma dança que não compreendo, muito inábil mas cheia de essência. Não seguem qualquer rumo. Fico mais leve, como uma pena que segue a aragem da vida. Não consigo pensar em nada, não há tempo para isso. Não agora. O que é que eu faço? Estou à distância de um passo. Do mover de um pé. Do ocultar da dança das fibras que me arrepiam. De parar a corrida do sangue, que nunca mais circulará no meu corpo. A minha respiração acelera. Acontece num instante. Não se pode resumir ao segundo de um relógio, mas é tanto tempo. Tanto, mas tanto tempo. Parece nunca acabar. Só consigo ouvir o silêncio e a respiração da minha alma. Os movimentos que me rondavam pararam, tudo parou. Acabou. Agora sou só eu e o infinito. É um infinito que não fala e que não me deixa sentir o vazio. Nada. Não sei o que sinto. O meu todo está congelado, paralisado, nada faz sentido. Consigo ver em câmara lenta todas aquelas fibras a dançar novamente do meu lado esquerdo. Mas com movimentos tão lentos, movimentos tão zonzos, movimentos tão estranhos. Não há força no meu ser. Agora sou como um polvo. Mas não me consigo mover ainda. Nem me parece que a qualquer momento volte a conseguir fazê-lo. Todos os meus pensamentos estão apáticos. Será que ainda tenho cor? Lembro-me de evacuar o último ar que me resta. Faço um esforço enorme para o soltar. Vem em forma de bolhas, dentro delas ouvem-se gritos. De dor? Sofrimento? Medo? Tristeza? Não consigo entender. Mas são tantos, tão altos. Custam tanto a ouvir. Fecho os olhos. Pode ser o fim. Pode não ser. Não sei o que fazer. Devo voltar a abri-los? Ainda os oiço. Têm intensidades tão diferentes. Parecem de crianças, mulheres, de vez em quando de homens. De animais. Estarão feridos? Porque é que não acabam? Por favor, por favor, por favor. Eu peço. Não consigo mais. Já não consigo pensar em nada mais para além daquilo que oiço. Eu não quero mais. Pensei que fosse rápido, indolor. Quer dizer, eu não sinto nada, mas oiço a dor de outros. Quero chorar, mas eu não consigo. E quero tanto conseguir. As minhas lágrimas não se conseguem misturar. Não deve ser compatível. Mas porque não me deixam? Eu preciso tanto. Por favor, por favor. Silêncio. É o que volto a ouvir. Acabaram-se os gritos. Terminou. Agora não há mais sofrimento para ninguém. Volto à visão do meu cabelo. Será que os meus olhos ainda permanecem abertos ou é a minha imaginação a querer dominar-me? Ela é tão poderosa em mim. Eu não a consigo controlar. Nem o parar do meu coração alguma vez irá conseguir estancar as forças que ela me transfere. Mas a verdade é que a tal dança que vejo à esquerda me faz acalmar, quase adormecer. Quase, quase, quase adormecer. Fecho os olhos, acho. Vejo escuro, preto. Esta visão acorda a minha falta de ar. Eu preciso dele. Agora que lhe disse adeus, preciso dele. Não há nada que o substitua. Abro os olhos. Mas ele não voltou ao meu peito. Nunca vai regressar, não me perdoa, nunca me perdoou, e nunca me irá perdoar. Ou eu a ele. Acho que o meu corpo se moveu para baixo, penso. Estou mais no fundo. O meu cabelo passa lentamente para o outro lado. Acompanho o seu movimento com os olhos. A eternidade passa outra vez adiante de mim. Eu não sei quando é o fim. Mas quero que venha rápido, que atue rápido. Rápido, rápido, rápido, rápido, rápido. Não consigo pensar em mais nada. Rápido, rááápido. A minha alma sofreu um apagão. Rápido. Vem. Rápido. Não. Quero. Esperar. Mais. É tudo tão lento. Lento, lento, lento. E de repente fecho outra vez os olhos, num ato que não ordenei. Sinto-me confortável agora. Tento abri-los com a esperança de… Eu não sei o que quero ver quando os abrir. Não sei mesmo. Mas não hesito em fazê-lo. E parece que nada aconteceu, a vista é a mesma: escuro, preto. Escuro, preto. Escuro, preto. Fecho e abro novamente. Escuro, preto. Repito muitas vezes, mas o resultado é o mesmo: escuro, preto. E eu gosto. Escuro, preto. Gosto. Parece uma canção. Parece tudo aquilo que me completa, que me fez crescer, mas que conseguirá acabar com a minha vida. Escuro. Ou acabou. Preto. Agora. Escuro. Há pouco. Preto. Não sei bem quanto tempo passou. Parece-se com tudo aquilo que amo. Todas as sensações, os movimentos, os sabores, as cores, os prazeres, o mar. O escuro e o preto parecem-se com o mar. O mar é meu amigo. Eu gostava dele, e continuo a gostar. Muito mais agora. Quero continuar a pensar, mas como o meu pensamento está perdido pelo mar, como ele está separado de mim, não posso continuar. Acho que algumas algas o conseguiram sugar durante este tempo, que não sei qual foi. Talvez alguém o encontre por aí perdido. Não sei para onde vou agora, mas já não estou muito interessada em saber. Só quero que o mar me leve para onde me tem de levar. Ele sabe. E eu confio nele.


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Notas finais do capítulo

Eu sou de Portugal, podem achar esta forma de escrever um pouco estranha :p gostava muito que dessem o vosso comentário, para saber se deva continuar. (=



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