E ela havia se perdido em si mesma, como se tivesse saltado de um avião que sobrevoava o atlantico, caindo de cabeça em meio ao vazio infindável que se demonstrara ser o oceano.

A sensação de liberdade era ridícula e desnecessária. Ninguém desejava ser tão livre, livre para nadar para qualquer direção, ainda mais sem rumo como se encontrava.

Ela queria mais.

Ela queria arrancar de si o que a confundia. Ao mesmo tempo queria enfiar a mão em seu peito, arrancar-lhe o próprio coração e congelá-lo, assim, ao menos, ela deixaria de sentir tudo tão fortemente; e queria também abrir um buraco em seu crânio e desconectar o cérebro de seu corpo para depois vê-lo queimar até que se inutilizasse, e com um sopro suave suas cinzas voariam para longe, para outro mundo, outra vida.

Às vezes a luta interna é tão forte que só se deseja ser outra pessoa, alguém o mais distante de si o possível. Ou voltar para um passado bárbaro onde meros cortes resolveriam.

“Vale a pena tentar” ela pensava, confiando numa ideia fora de seu tempo, longe de sua época pensando que isso pudesse melhorar sua situação.

O calafrio que percorreu sua espinha rente ao frio do material prateado sobre sua pele. Apesar da dor, ela riu, desejando-se livrar daquilo, como se, de alguma forma, ela pudesse se desintoxicar de si mesma.

A porta se abriu, o olhar assustado perante a cena, ao cúmulo da loucura. Ela ainda ria, divertida, débil. Fora de si.

-Parece mágica. Quanto mais eu desenho com o prata, mais o vermelho escorre...