Demons escrita por Atlas, Deadly Nightshade


Capítulo 3
Sunset


Notas iniciais do capítulo

Sunset, de The XX. É universo alternativo, também. Obrigado às visualizações.



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– x –


when i see you again
i'll know not to expect
stay one step away
we won't have to wait

when i see you again
and i'm greeted as a friend
it is understood
when we did all we could¹


– x –

Se há um ponto negativo de morar em cidade grande é, definitivamente, a correria. Nunca se chega a tempo em lugar nenhum. Seja a culpa do trânsito, seja a culpa por dormir demais e querer algum descanso, seja a culpa por esquecer a consulta marcada ou a lista do supermercado, em casa.

Johanna conhecia bem esse sentimento, de nunca ter tempo. Por isso, andava sempre o mais rápido que conseguia, na lateral de um prédio, paralelo à alguma rua movimentada. Uma via alternativa, para evitar dar de cara em algum outro apressado. Seus saltos batiam na pedra do chão, seus óculos escuros causando uma dor insuportável nas têmporas. As pastas sob o braço, a bolsa pendurada no ombro. Sentiu o celular vibrando e, mesmo sendo contra as regras de sobrevivência naquela cidade, ela parou no meio da rua, mexendo na bolsa.

Quando finalmente pegou o celular na mão, sentiu seu corpo ser empurrando bruscamente para frente, fazendo seu celular voar da sua mão.

— Meu Deus, me desculpe! — falou o homem que havia batido nela, se abaixando e pegando o celular. Se ergueu, entregando o celular, a tampa e bateria dele, arrumando rapidamente logo em seguida.

— Finnick? — ela perguntou, tirando os óculos dos olhos e colocando-os na cabeça. Ainda conseguia sentir a dor insuportável nas têmporas, mas não era exatamente com isso que se preocupada.

Ele ergueu o olhar, seus olhos verdes encontrando os castanhos, encontrando as lembranças de anos e anos atrás.

— Johanna? — ele riu, ela também. — Meu Deus, quanto tempo. — Finnick a abraçou e ela retribuiu o abraço. O mesmo perfume. Ficaram alguns segundos, antes de ele se afastar, ainda rindo.

Ele estava mais velho - não que passar 7 ou 8 anos faça alguém rejuvenescer -, mas continua insuportavelmente lindo. Seus cabelos loiros mais comportados, dando uma aparência - e somente a aparência, que fique claro - de que ele estava mais maduro. Devia estar com uns 29, mas continuava totalmente em forma. Claro, ela também não representava sua idade muito bem, continuava com a mesma aparência. Poderiam quase dizer que continuavam os mesmos de quase uma década atrás. Quase.

— Quais são as chances disso acontecer? — Johanna perguntou, notando que ainda continuava com os braços nos ombros dele, ainda na ponta dos pés, porque ele ainda continuava o mesmo e, consequentemente, mais alto que ela. Tirou os braços ao redor dele, mas ele não tirou as mãos de sua cintura.

— O que você está fazendo aqui? Quero dizer, uau, você seguiu mesmo aquela idéia de ser psquiatra? — por que as mãos dele continuavam em sua cintura?

— Ah, não. Desisti no outro trimestre, acabei fazendo direito. E você? — Finnick abriu a boca para responder, mas pareceu trocar de idéia, estreitando aqueles olhos cor-do-mar-e-da-tentação.

— Você tem um tempinho? Só para um café? — finalmente, finalmente, ele tira as mãos da cintura dela. Apontou para uma pequena cafeteria, há alguns metros deles.

Não, na verdade tenho que ir.

— Claro, por que não? — ela respondeu. Começaram a andar, lado a lado, atrapalhando - e ignorando - todos que estavam com pressa. — Então, o que você está fazendo? Deu certo a idéia da banda? — perguntou, divertida. Finnick riu, sacudindo a cabeça.

— Não, não deu.

— Sinto muito.

— Não, está tudo bem. Na verdade, acabei fazendo arquitetura. É legal, até. Você teria se irritado menos do que quando eu estava na banda. É mais silencioso. — ele completou sob o olhar de interrogação que a garota - mulher– tinha. Chegaram na cafeteria e ele afastou a porta, deixando que ela passasse com um "obrigada". Uau, ela estava educada agora, uh?

— Vou querer um cappuccino com canela, por favor. E você vai querer...? — Finnick sabia o que ela iria pedir, mas seria estranho pedir por ela, agora, não seria?

— Um café preto, por favor. — ela pediu e a garçonete se afastou.

— Direito, então? O que fez você mudar de idéia? — ele perguntou. Ela continuava bonita, depois de todos esses anos.

— Psiquiatria tem muitas histórias tristes. Eu iria enlouquecer em alguns meses. — falou sacudindo os ombros. Tirou os óculos e colocou na mesa, olhando para mão de Finnick. Aliança. — Casado, então?

— O quê? — ele perguntou, confuso, olhando nos olhos dela. — Ah, isso? — ergueu a mão. — É, talvez. Quero dizer, sim. Annie, nome dela é Annie.

— Meus parabéns. — Johanna disse, sincera, e não parecia menos que isso.

— Obrigado. E parabéns, também. — Finnick disse, olhando para os dedos dela, que tamborilavam na mesa. Algumas manias nunca seriam perdidas, deveras.

— É, não sei se ainda posso chamar de casamento. — ela disse, dando uma risada meio triste, olhando para a aliança com uma pequena pedra verde em cima. Esmeralda. Ela sempre gostou de verde, cor do mar, mas nunca explicou para o noivo o porquê.

— Entendo. O trabalho atrapalha, às vezes. — Odair comentou, apenas porque tinha certeza que, se estivesse certo, ela concordaria. Se estivesse errado, ela falaria o porquê. Se mentisse, também saberia porque essa era uma das vantagens de ler alguns de seus livros de psicologia e psiquiatria, anos atrás. Era alguma parte sobre como induzir a pessoa a contar o que queria saber. Talvez ele devesse ter feito psicologia/psiquiatria.

— Não é o trabalho, é só... Sei lá. — ela desviou o olhar, olhando para a rua e o tempo de tempestade que se armava. As pessoas pareciam acelerar, à medida que o tempo escurecia e o sol sumia. — Não achei que essa história com casamentos e responsabilidades e toda essas merdas fossem tão complicadas.

— Espere o momento que você tem filhos. As coisas mudam ainda mais. — comentou, mais para ver a reação dela do que qualquer outra coisa. Adiantou, pois Johanna desviou o olhar da janela e olhou diretamente nos seus olhos. Francamente, por que ele não fez esses cursos ao invés de arquitetura?

— Com licença. — pediu a garçonete, entregando uma xícara para cada um. Johanna pegou o açucareiro, colocando algumas colheres do conteúdo dentro na xícara e mexendo distraidamente com a colherinha. Ouviu Finnick agradecer, porque ele sempre foi o educado da relação.

— Você tem filhos? — ela perguntou e Finnick quase riu porque, como sempre, conseguiu o que queria. Se limitou a sorrir, sem mostrar os dentes.

— Um. — respondeu e Johanna concordou - sabe-se Deus lá com o quê -, sem tirar os olhos dele. — Acho que tenho uma foto aqui. — se mexeu e tirou a carteira do bolso. Tirou uma foto de dentro.

— Meu Deus, ele é mesmo o seu filho. — ela sorriu, segurando a foto e vendo o quão parecido com Finnick a criança, de uns dois anos, era. O sorriso, o cabelo, o nariz, o formato do rosto. Mas os olhos eram o principal, sem dúvidas.

— É, mas o temperamento é completamente igual ao de Annie. Teimoso, birrento. Mas ele é inteligente, pelo menos. — comentou, maldoso. Johanna riu, sacudindo a cabeça, entregando a foto para Finnick.

— Você não muda.

Finnick concordou, tomando um gole do cappuccino. Johanna fez o mesmo, erguendo a xícara aos lábios, voltando a analisar a rua. E Finnick analisou o rosto dela. Continuava com o mesmo cabelo curto, os lábios vermelhos - porque vermelho era a cor dela. Lápis ao redor dos olhos, e só. Nunca gostou de maquiagem. Estava mais bonita.

— E você? Não tem filhos ainda, né? — Johanna desviou o olhar, novamente, para encontrar os olhos dele.

— Não. — respondeu e olhou a própria xícara. Depois ergueu o olhar para ele, parecendo ter uma batalha interna sobre olhá-lo ou não. — Seria cruel dizer que eu não quero? — perguntou com um sorriso triste.

— Talvez só não esteja com a pessoa certa.

— Talvez. — ela comentou, meio pensativa, agora olhando para a aliança. Queria ter uma criança, algum dia. Mas, nas circunstâncias que se encontravam... Provavelmente não. — Já tenho praticamente 30 anos, é meio complicado.

— Por que complicado? Você é bonita, inteligente, às vezes é legal. — ele riu do próprio comentário, enquanto Johanna corava levemente. — Encontraria outra pessoa mais rápido do que pensa.

— Obrigado, mas não é exatamente o que eu estou procurando, no momento.

— E o que exatamente você está procurando? — perguntou, sério. Seus olhos fitavam com atenção o rosto dela.

— Não sei. Sinceramente. Acho que, primeiro, organizar isso — apontou para as pastas que colocou sob o óculos. — Depois, talvez tentar arrumar meu casamento, talvez pôr um fim. Como eu disse, eu não sei o que eu quero.
Ele ergueu as sobrancelhas, mas não disse nada.

— Não parece que você tem 30. — comentou, aleatoriamente depois de alguns momentos, a fazendo arregalar os olhos e rir.

— Foi modo de dizer, caramba! — ela disse, ainda rindo. — Nunca lembrou de datas, não é?

— Como você disse, nunca mudo. — respondeu, rindo fraco.

— Sabe que eu fiz 28, não é? — questionou, se inclinando sobre a mesa, levemente.

— Claro que sim. — ele responde e coloca a xícara no píres. Segundo os livros de psicologia, não olhar nos olhos era o primeiro sinal de...

— Mentira. — Johanna sibilou e pegou Finnick olhando para seus lábios antes de olhar em seus olhos. Se encararam alguns segundos, antes do celular dela vibrar. Mason arrumou a postura, pegando sua bolsa, procurando de novo pelo celular. Gale Hawthorne. — Alô? Estou... — olhou para a rua novamente — por perto. É, talvez em uns dez minutos. Claro. Também te amo, tchau. — desligou o telefone, jogando-o dentro da bolsa. Finnick sentiu vontade de perguntar quem era.

— Marido? — ta aí um problema de Finnick: impulsivo.

— É. — respondeu, seca. Olhou para uma das gotinhas que corria pela vidro - não havia trazido guarda-chuva, genial. Era estranho conversar sobre seu marido com Finnick. Antes que o homem na sua frente falasse alguma coisa, ela começou a pegar algumas pastas. — Eu preciso ir.

— Trouxe guarda-chuva?

— Hum... Não. Mas não é muito longe daqui, obrigado.

— Posso te levar. — ele disse, se erguendo também.

— Finnick, não precisa. De verdade, estou bem.

— Eu tenho tempo, não me custa nada. — Johanna o olhou novamente, suspirando, derrotada. É, apesar de todos os anos, não se discutia com Finnick Odair.

— Okay. Mas o café é por minha conta, sem discussões. — ela disse e ele deu um meio sorriso. Aquele meio sorriso. Mason foi para o caixa, antes que pensasse qualquer outra coisa sobre Finnick. Mas não era errado encontrar um velho conhecido e tomar um café com ele. Claro que não era, estava sendo irracional. — Vamos? — se aproximou dele.

— Claro. — ele abriu o guarda-chuva, grande o suficiente para protegê-los, deveras, mas... — Você vai ter que se aproximar um pouco. Não se preocupe, eu não vou morder. — comentou, meio feliz demais. Johanna passou o braço ao redor da cintura dele. — A menos que você peça. — completou, baixinho, recebendo um tapa da mulher.

— Eu sou casada.

— Porque quer.

— Por que eu quero? — ela ergue uma sobrancelha, embora não estivesse olhando para o rosto dele, e sim para frente, evitando as poças d'água.

— É. Você mesma disse que vai pôr um fim nisso.

Johanna suspirou, novamente. Estavam mais próximos - fisicamente - do que ela queria e acabou inalando o perfume dele, de novo.

— Não disse isso.

— Tecnicamente, disse.

— Não quis dizer isso. Disse que talvez eu fizesse isso. Não se joga um casamento fora.

— Mas se isso não te faz feliz, qual o problema?

— Não estou infeliz.

— Você mesma disse que não sabia se chamaria de casamento. — rebateu e Johanna se irritou.

— Caralho, Finnick, você fez arquitetura ou direito? — ele riu, ela se controlou para não rir. Odiava ceder e, provavelmente, esse foi um dos motivos de eles não terem funcionado. Ficaram em silêncio até chegar em frente a um prédio alto, de advocacia.

— Chegamos. Está entregue, donzela. — Mason revirou os olhos, quando estavam na entrada do prédio, onde estavam protegidos da chuva. Finnick ainda tinha aquele sorriso divertido nos lábios e ela se pegou pensando se ele ainda beijava como antes.

— Obrigada. — ela disse, ainda olhando para os lábios dele. Algum lugar na mente dela a lembra que estava uns vinte minutos atrasada. Odair ficou sério, notando que ela estava olhando para ele. Se aproximou um passo e ela deu um para trás, como se tivesse acordado. — Tenho que ir. Obrigado, de novo... Pelo café. — se virou lentamente, com intenção de entrar no prédio.

Finnick segurou seu braço.

— Espera. — ele ficou ali, sem dizer nada. Pigarreou. — Eu... Nós podíamos repetir isso. Qualquer dia, quero dizer, trabalho por perto. — Johanna ergueu uma das sobrancelhas e ele notou que não se irritava mais com isso. — Como amigos, só amigos. — esclareceu, mais para si mesmo do que para a garota, argh, mulher na sua frente.

Johanna Mason, você é casada. Amigos é o caramba.

— Claro, por que não? — respondeu, rapidamente, como se temesse pensar demais. Finnick soltou seu braço, parecendo aliviado. Sentia-se como um adolescente de novo, tentando conseguir um encontro com a garota mais impossível do mundo. E ficou, realmente, aliviado quando conseguiu. Que ironia, não foi isso que aconteceu?

— Eu tenho que ir agora, de verdade. — ela disse, meio constrangida.

— Claro, claro. Até. — Finnick disse, se afastando.

— Até. — ela respondeu, entrando no prédio e não olhando para trás.

Em que belo problemas estava se metendo. Corrigindo: em que belo problema de olhos verdes e que atendia pelo nome de Finnick Odair, ela estava se metendo. Novamente.


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Notas finais do capítulo

1. Trecho onde diz "Quando eu vir você de novo / eu não vou saber o que esperar / ficar um passo de distância / nós não vamos ter que esperar" e " quando eu vir você de novo / e te cumprimentar como amigo / fica entendido / que fizemos tudo o que podíamos." O que acharam?

Argh, foi difícil demais escrever esse capítulo. Significa muito pra mim e é muito, muito doloroso. Mas, anyway, consegui trazer õ/ Espero que gostem. Comentários?