Summers Brothers (Hiatus) escrita por Vine Azalea


Capítulo 23
Monstrous night


Notas iniciais do capítulo

Um capítulo narrado apenas pela Jean, que irá revelar coisas sobre o Rei das Sombras.



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Jean.

Sentia o lençol pesar sobre o meu corpo e a fronha da cama colada ao meu corpo quente e aparentemente suado. Meus olhos protestavam contra a minha ordem de abrimos. Depois de muitas tentativas as pálpebras cederam e minha visão levou um tempo para se acostumar à escuridão do quarto. Pietro havia convidado a mim e ao Piotr para ficar na sua casa, mas não era necessário ler seus pensamentos para descobrir que esse prédio de poucos andares não lhe pertencia. Mesmo assim aceitamos o pedido. Desde que chegamos a São Francisco só nos deparamos com confusão, até trocar de nome a cidade fez. Me virei na cama, procurando algum relógio até que avistei um despertador velho. 3:00 am. A noite havia sido exaustiva, não imaginava o porquê de ter acordado assim no meio da noite.

Fechei os com o intuído de retornar ao sono, mas zumbidos vieram a minha cabeça. Tentei bloquea-los e então percebi que minha própria mente estava criando o som. Era como um despertador. Ou melhor, um alarme, um alarme telepático. Saltei da cama e tentei dar uma sondada mental no prédio, só que nem sempre meus poderes funcionam quando eu preciso! Mas quando meus poderes não funcionam os meus sentidos humanos ainda estão ali. Escutei um ruído vindo do andar de baixo. Sai do quarto com cautela e antes de descer as escadas eu olhei para o alto. A escada que ligava os possíveis quatro andares - pelo o que eu calculei – se movimentava em espiral, mas uma espiral quadrada que se moldava sobre os corredores e no centro do prédio ficava um vão, um buraco. Esse buraco me permitia dar uma espiada sobre os corredores dos outros andares, mas nada vi. Então olhei para baixo, era o térreo. O vão entre as escadas dava lugar a sala de estar e a escada terminada sobre o chão. Não conseguia enxergar muita na escuridão, apenas as silhuetas dos moveis. Segui em frente, descendo a escada com o maior cuidado para não fazer barulho.

Minha preocupação saiu do meu corpo para deixar o medo entrar assim que eu escutei o som de passos, passos muito pesados por sinal. Gritei mentalmente, o suficiente para o quarteirão inteiro escutar em suas mentes, mas senti que minha mente estava bloqueada. Tentei novamente, me concentrando em pedir ajuda apenas para Piotr, só que parecia ter uma parede de concreto bloqueando-me. Respirei fundo e soltei o ar. Fique calma. Repeti algumas vezes para mim mesma. Um estrondo me fez pular da escada e cair no chão. Mais uma vez. Meu corpo se encheu de tremores ao perceber que alguém estava batendo na parede bem a minha frente, onde ficava a escada. O som de impacto se repetiu e notei que quem estivesse batendo na parede estava andando. Indo para a direita, em direção à abertura que ligava a sala de estar ao outro cômodo. Meus olhos se fixaram em uma estante com louça antiga, provavelmente era porcelana importada. Usei a telecinese para fazer com que a estante bloqueasse o caminho para a sala de estar. Corrigindo, eu teria feito isso se meus poderes telecinéticos funcionassem. Não consegui nem mexer um centímetro de onde a estante estava. Minhas mãos estavam completamente molhadas de suor e eu tremia das cabeças aos pés. Estava completamente aterrorizada e só piorou quando uma nova batida soou em meus ouvidos.

Arrastei-me para trás, procurando um lugar para me esconder, mas sem tirar os olhos de onde iria aparecer quem estava fazendo tais barulhos. Minhas costas encontraram uma parede, não tinha onde eu me esconder. Sem querer eu acabei me afastando dos moveis e não daria tempo de eu ir cautelosamente até um deles para me esconder. Minha mente ficou confusa enquanto o tempo corria. Será que alguém havia nos seguido? Seria a Rainha Branca? Ela é telepata assim como eu, ela poderia ter bloqueado os meus poderes e estar me aterrorizando. Poderia haver muitas possibilidades, porém a única maneira de obter a resposta era esperar para ver quem iria aparecer ali, bem na minha frente. E apesar do enorme medo que eu estava sentindo, eu iria esperar. Notei que meus braços tremiam e eu me encolhi, estava com os joelhos sobre os peitos e os braços laçados em volta das minhas pernas. Eu olhava atenta para aquele quadrado enorme na parede, a passagem entre a sala e seja lá o que for que tinha do outro lado – estava muito escuro para eu enxergar qual parte da casa era. O tempo passava e nada aparecia. Nada visualmente. Senti um odor forte, primeiro tapei as narinas, mas pensei que o cheiro poderia me recordar de alguma coisa. Respirei fundo. Era doce e forte ao mesmo tempo. Imaginava que seria cheiro de podre ou venenoso. Mas era como perfume misturado com suor.

Esse cheiro me dava à noção de que era uma pessoa que estava tentando me amedrontar – independente se era humano ou mutante, era uma pessoa. Respirei fundo e pensei “eu posso enfrentar isso”. Tentando arranjar forças onde não havia, eu me ergui, ficando em pé, mesmo que escorada a parede ainda estava de pé. Dei um passo para frente com as pernas tremulas. Se o maldito não fosse dar as caras, eu iria catar a sua fuça. Dei alguns passos rápidos até o sofá e me agarrei a ele, tentar me equilibrar. Soltei uma risada baixa e sem graça. Estava rindo de mim mesma, afinal eu parecia uma criança que recém aprendeu a caminhar. Mas o mais engraçado era que sem os meus poderes eu virava em nada. No começo quando eu descobri minha mutação, depois de passar os primeiros dias de alegria ao descobrir que você tem poderes como personagens de desenhos, eu queria não ter nascido assim. Passei meses em depressão, sem me aceitar e sem entender quem eu era. Ainda não sei direito, mas aqui estou eu, me sentindo um lixo sem meus poderes. A imagem do rosto do Piotr veio a minha mente. Seus lábios grossos se movimentavam, dizendo palavras quais eu não queria acreditar estar ouvindo. – Você é uma inútil, Jean. – Ele dizia de forma natural, como se pensasse naquilo todos os dias, apenas ainda não tinha colocado para fora. Senti uma lagrima escorrer no lado esquerdo do meu rosto. Deixei ela cair e observei a gota se esparramar no piso. Depois daquilo um sorriso sínico e até mesmo maléfico se formou no meu rosto.

– Não brinque com a minha mente, seu filho da puta. Piotr nunca diria uma coisa dessas. – Gritei para o vazio.

Minhas pernas finalmente ficaram firmes e eu consegui caminhar sem me apoiar a mobília. Marchava confiante em direção ao destino. Ao lado da escada tinha um criado mudo e em cima dele estava um abajur. Quase gritei de felicidade ao ver o tamanho do fio que estava enrolado para não atrapalhar. Desenrolei rapidamente o fio e liguei-o na tomada. A luz branca piscou e depois se acendeu como um farol em uma noite fria. Segurei o objeto pela base de madeira e segui adiante. Assim que sai da sala de estar eu cheguei à sala de jantar. O abajur iluminou a grande mesa com as cadeiras em cima dela. Atrás da mesa de jantar tinha a porta que levava a cozinha. A esquerda da mesa estava muito escuro, a luz do abajur não alcançava até o final da sala. Olhei para a direita e uma janela coberta por uma cortina que permitia um pouco de luz lunar entrar e revelar uma parede vazia. Me voltei novamente a esquerda e fiquei encarando a escuridão. Engoli um seco e comecei a caminhar. Olhei para a parede ao meu lado e parei. Como se alguém tivesse dado uma marretada na parede, ficava um pequeno buraco sobre o concreto e a volta da cratera vários círculos de rachaduras cobriam a parede. Continuei andando e apareceram mais rachaduras como aquela, consegui contar cinco delas até que o fio do abajur trancou. Não conseguia mais seguir. Me virei, verificando se não havia as minhas costas e depois dei uma olhada em direção a mesa de jantar, afinal me concentrei a parede que não olhei mais para os outros lados. Nada fora do normal. Voltei a seguir em frente, com o abajur apontado para frente como se fosse uma arma, tentaria ir o máximo que o fio permitiria. Cheguei novamente ao ponto final, tentava ver a minha frente, além do que a luz iluminava, mas via apenas escuridão. Será que estava muito longe da outra parede da sala? Eu poderia largar o abajur aqui e seguir na escuridão. Seria rápido, quantos passos seriam?5?10? A ideia de ficar muito tempo sem o abajur me dava calafrios. Então eu fiquei ali, parada, apenas apontando o abajur para o nada e fitando a escuridão, tentando decidir o que fazer. Uma mão surgiu da escuridão e agarrou a lâmpada, e antes que eu pudesse gritar a mão arrancou o abajur das minhas mãos e eu escutei o fio arrebentar e a luz se apagou rapidamente. Eu gritei. Berrei desesperadamente enquanto caminhava para trás, tentando fugir para algum lugar.

O tempo parecia não passar e eu não parecia sair do lugar. A luz se ascendeu e eu vi o abajur jogado no chão, bem na minha frente. Olhei para trás, Alex estava do outro lado da sala de jantar perto do interruptor da luz. Mesmo vendo ele e podendo enxergar a sala inteira, eu continuava a gritar. Pietro apareceu junto com Jubileu. Depois Lorna, e assim foi indo até que todos estivessem ali. Todos estavam a minha volta, falavam algo que eu não conseguia escutar. Ouvia apenas os meus gritos e sentia apenas o meu medo enquanto eu caia até o chão, ficando sentada escorada na parede. Minha garganta foi cedendo, ela já estava bastante dolorida e o que era um grito agora eram apenas gemidos. Minha visão estava embaraçada, mas consegui enxergar Lorna sentada ao meu lado e me entregando um copo.

– Tome um pouco de água. – Dizia ela quanto me entregava. Tomei alguns goles, mas a água escapava da minha boca enquanto eu tremia.

– Que marcas são essas na parede? Você estava tentando reformar o prédio enquanto dormíamos? – Jubilee não conseguia ficar séria nem mesmo em um momento desses.

– O que aconteceu? Por que você está assim? – Piotr me perguntava e eu agarrei o seu braço e o apertei contra o meu corpo o mais forte que podia

– Ele ta aqui. Ele ta aqui Colossus. – Tentei encontrar conforto e segurança no braço forte do meu amigo russo, mas mesmo assim o pavor não saia de mim.

– Quem está aqui além de nós? – Sammy que estava sentado em uma cadeira na mesa de jantar perguntou. Ele estava mais distante de nós, mas mesmo assim eu ouvi bem sua pergunta. Todos ficavam me olhando, então Pietro repetiu a pergunta, mas eu havia escutado direito. Eu escutei, apenas não queria responder. Explicava para mim mesma, como se eles pudessem ler meus pensamentos.

– Amahl Farouk. – Disse aquele nome lentamente, como se as palavras fossem machucar minha boca.

– Quem é isso? – Jubileu perguntou.

– O Rei das Sombras. – disse Lorna. – Ouvi Satânico se referir a ele com esse nome.

– Esse aí é o que você viu dentro das pessoas que usaram o Diamante Branco? A mesma droga que Emma usou para bloquear os poderes de Lorna e Magneto? – Mesmo o Alex sendo legal, eu tinha vontade de mandar ele se fuder por fazer tantas perguntas quais ele já sabia a resposta.

– Sim, ele mesmo. Aliás, ele bloqueou os meus poderes sem eu usar Diamante Branco. Pelo menos eu acho que não usei. – O que eu estava dizendo, era obvio que eu não usei aquilo. Nunca usei drogas.

– E o que ele queria? O que ele estava fazendo aqui? – Alex continuava com as perguntas.

Eu olhei para o abajur caído no chão e mais algumas lagrimas escorreram em meu rosto. Alguém me puxou do chão e quando vi estava nos braços do Piotr. Ele me carregava e me colocou sentada sobre uma das cadeiras da mesa de jantar. – Deixe ela descansar Alex, não vê que ela esta muito abalada. – Lorna explicava o motivo de Peter ter me tirado de lá.

– Quer um pouco de leite? – Ofereceu Sammy que estava sentado a minha frente, tomando leite.

Peguei o copo dele e coloquei na boca. Deixei o liquido gelado descer pela minha garganta lentamente, querendo resfriar o meu corpo. Abaixei a cabeça e fechei os olhos, tentando não pensar em mais nada. Quando minha cabeça estava livre, ouvia apenas um chiado que vinha dos cochichos dos meus amigos, e sentia um cheiro familiar. Ergui minha cabeça lentamente e falei calmamente. – Posso estar sem meus poderes, mas não sou uma inútil. Ainda sou humana antes de qualquer coisa.

– Do que ela está falando? – Jubileu disse baixinho atrás de mim, como se eu não fosse ouvir ou perceber o tom de voz, que mostrava que ela pensava que eu era louca.

– Como humana ainda tenho meus sentidos. Não tenho minha telepatia, mas tenho meu olfato. – Joguei o copo de leite para frente que acertou o rosto de Sammy.

Bem no alto. Seu rosto sangrava com os cacos de vidro, mas eu precisava de mais. Subi em cima da mesa e segurei a gola da camiseta polo do garoto e deu um soco na sua cara. – Você acha que pode brincar comigo assim? Está completamente enganado, Amahl! – Desferi mais um soco, com tanta força que pareceu que minha mão havia quebrado.

– Ela está completamente louca, tire ela de cima do coitado do Samuel. – Jubileu gritava.

Mas antes de alguém vir me tirar da mesa, o garotinho começou a rir. Ria tão alto que a mesa e as cadeiras tremiam. Escorria sangue de sua boca e hematomas já apareciam em seu rosto. Ele abriu e fechou os olhos, revelando olhos brilhantes como a lua no céu escuro sem estrelas. Sua sombra que reluzia na parede estava se movimentando, ou melhor, se modificando. A pequena sombra de um garoto com cara de peixe se transformava em uma enorme sombra monstruosa.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado do capítulo. Eu não queria enrolar mais, mas o capítulo ficou grandinho e por isso vou deixar maiores explicações sobre o Rei das Sombras para o próximo capítulo.
Até lá.



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