"O mundo é um lugar onde se podem ver diversos tipos de pessoas e lugares, onde o perigo está por toda a parte, onde tudo pode acontecer onde você menos imagina..."

Foi essa visão do mundo que me ensinaram desde criança, meus pais diziam: "os filhos devem ser trazidos a realidade, e não ficarem presos em um mundo de fantasia."

Eu não diria que o mundo que criei é uma fantasia, e sim um resumo do que é a realidade.

O mundo é uma grande tela em branco, onde se há paz até que interferimos com as nossas próprias cores. "Sujamos" ou "pintamos" com as nossas emoções, que geram ações, sejam elas boas ou más.

...O mundo é uma tela em branco que pede para ser colorida...

Por onde passo as pessoas mostram as suas cores vivas e claras, o amarelo que expressam em seus rostos e em seus movimentos agitados e animados. A cor prata estava por todos os lugares, grandes anúncios e propagandas te incentivando a valorizar o dourado do dinheiro, e te fazendo gastá-lo até que não lhe reste mais nada, com certeza a cor do egoísmo estava por todo o lugar, pois, o dourado as faziam ficar egoístas.

O colégio e suas cores eram ainda mais vivas, pessoas sem preocupações conseguem se expressar de uma forma incrível, mas não deixam de ser pessoas que deixam a mostra as suas cores.

O bege nunca era visto nas salas de aula, pois a calma era algo que não podia ser alcançado naquele lugar.

Os professores nos obrigavam a expressar o marrom, pois como eles dizem, sem essa cor não podemos viver no mundo lá fora, pois não seriamos o tipo de pessoa que teria algum futuro. Mas eu vejo essa cor em suas ações, e eu não quero ter o mesmo futuro deles.

O azul-claro era uma cor que muitos buscavam, pois uma pessoa tranquila conseguia se virar nessa grande mistura de cores. Mas eu nunca a busquei, devido a muitos dizerem que essa também é a cor da depressão.

A bela mistura de cores toma conta da tela em branco, a enchendo de vida, e cada um colaborava com a sua cor.

..."Mas, e qual era a minha cor?"...

A grande mistura de cores claras e escuras não me permitia ter uma cor, a minha cor era vazia, não significava nada, não se misturava com nada.

Amarelo? Quem tentasse procurar essa cor em mim estaria perdendo o seu tempo.

Laranja? Nunca tive confiança, nem o verde da esperança, pois essa cor eu já perdi faz tempo.

A única cor que me domina é o roxo, não de algo espiritual, mas sim dos meus machucados, pois se a sua cor não consegue se encaixar, ela deve sofrer até a morte.

Aos poucos mais uma cor se juntou a minha, o cinza. pois eu tentei alcançar o sucesso que as pessoas a minha volta queriam que eu tanto tivesse. Mas cinza em excesso simboliza a ausência de vida, a indecisão que eu sentia, a indisposição que me fazia desistir de viver.

Mas uma nova cor começou a tentar se misturar, alguém que trazia consigo um tom de azul que conseguia me tranquilizar, uma cor que finalmente poderia me tirar daquele cinza, alguém que queria me ajudar...

Com o tempo essa pessoa me apresentou a alegria do amarelo, me fez ter a confiança do laranja, me fez ver a beleza do rosa... Sim, o carinho que eu sentia por ele era tão bonito quanto o rosa, que logo ficou mais forte, se tornando vermelho, cor da paixão, do desejo, uma cor difícil de se esconder, difícil de se controlar...

... O vermelho era o mais belo das cores...

O meu maior desejo era mostrar essa cor para ele, aquele que me fez virar parte da grande mistura de cores, aquele que me fez ter esperança...

... Mas ele não conseguia ver essa cor em mim...

Porque? Era tão claro quanto todas as cores que você me mostrou! Mas ela é mais intensa, mais forte...

...Essa cor machuca se não for mostrada...

Será que só eu consigo ver as cores nas pessoas? Que simplifico o mundo, tornando as ações e emoções das pessoas mais fáceis de serem entendidas? Será que é por isso que ele não consegue ver?

...Então, acho que tenho que trazer essa cor para o mundo dele...

Ando pelos corredores carregando uma carta de papel vermelho, com suas bordas em rosa e suas letras em um tom verde, as cores do amor, carinho e esperança.

Paro em frente a porta de uma sala, a que ele sempre me levava para conversar, a mesma em que o conheci.

Abro a porta devagar, olhando pela pequena abertura...

...Mas, ninguém me disse que essa cor tinha o seu lado obscuro...

Ele não poderia! Ele estava beijando aquela que me fez chorar com os meus machucados, que me fez entram em um mundo cinza e sem vida.

Comecei a gritar, a raiva estava me consumindo, os dois olharam para mim espantados, mas eu apenas corri, só poderia ser um pesadelo!

...A cor mais bela do mundo também carrega a fúria, a violência...

Me fechei no banheiro, e não! Nem a cor azul claro que cobria aquele lugar era capaz de apagar a fúria do vermelho!

A porta se abriu, revelando aquela garota marcada pelo dourado em suas roupas e em sua arrogância. Ela tentava me intimidar com o seu olhar superior sobre mim, me rebaixando como sempre fez.

A ignorei por um momento e me olhei no espelho, eu não conseguia mais ver as cores de antes, só a bela cor do vermelho que me tomava por dentro, mas agora eu não me contentava mais com apenas isso, eu queria a expor para o mundo!

Ela me colocou contra a parede, e começou a espalhar o roxo em meu corpo, mas eu não iria deixar o dourado apagar o brilho do vermelho.

... Para que esconder? Se...

Quebrei parte do espelho com as minhas mãos, peguei um dos cacos e cortei o seu pescoço, braços e rosto, até que ela não pudesse mais resistir.

Olhando para o seu corpo agora imóvel no chão comecei a sentir inveja, eu também queria ser tomada pelo vermelho.

Com o caco de vidro em mãos, comecei a cortar os meus braços e pernas, a bela cor vermelha começava a cobrir o meu corpo e o chão.

...Agora todos sabem qual é a minha cor...

Com o dedo sujo de sangue comecei a escrever nas paredes, e então fiz cortes mais fundos em minha pele. Sim, a cor vermelha tomando conta de mim era a visão mais linda que eu podia ter.

Comecei a ficar cada ver mais fraca, não conseguia mais me mover, naquele momento eu já sabia que todo aquele vermelho me levaria a temida cor preta.

Mas, eu posso morrer feliz, pois em algum instante aquela porta irá ser aberta novamente, e todos verão a mensagem naquela parede...

"O mundo é uma tela em branco que pede para ser colorida,

Mas, e qual era a minha cor?

O vermelho era o mais belo das cores,

Mas ele não conseguia ver essa cor em mim,

Essa cor machuca se não for mostrada.

Achei que tinha que trazer essa cor para o mundo dele,

Mas ninguém me disse que essa cor tinha o seu lado obscuro,

A cor mais bela do mundo também carrega a fúria, a violência,

Para que esconder? Se...

...Agora todos sabem qual é a minha cor?"