O Regresso do Desespero escrita por Duchess Of Hearts


Capítulo 13
Hopeful Moments -Three-


Notas iniciais do capítulo

Yoo!
Após quase um mês sem postar, eu finalmente arranjo um tempo para isso. Claro, esse capítulo está pequeno porque a) é um capítulo de FTE, que eu avisei que seriam sempre mais pequenos e b) não tive muita disponibilidade para mais, além de que escrevi isso enquanto estava com febre.
De qualquer jeito, espero que gostem! Aviso que isso foi ANTES do assassinato e tudo a ele relacionado acontecer. c:



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Está na hora de olhar ao céu.

Enquanto Maleficent caminhava pelas abandonadas ruas do que fora no passado uma cidade, ponderava no quanto ela gostaria de ver as estrelas. As saudades que ela tinha de observar aquele belo céu azul-escuro cuidadosamente salpicado por pontos brilhantes. Contudo, ao olhar para cima, tudo o que conseguia ver era uma densa camada de nuvens provindas da poluição.

Há quanto tempo é que ela não via o céu de verdade? Dois meses? Três? Talvez até mais, ela não sabia. Talvez datasse muito antes, no tempo em que ela não era uma bruxa.

Continuou caminhando pelas ruas, um facão em mão, cortando o pescoço a quem quer que quisesse impedi-la no seu passeio. Não poderia, com certeza, manter-se na rua por muito tempo. O ar sujo e cheio de fumo iria matá-la, visto que não tinha o equipamento apropriado. Não estava muito preocupada se morria, porque talvez assim acabasse nas estrelas que tanto sentia falta. Mas tinha demasiada consideração para com os outros para deixar que tal acontecesse.

Não é como se tivesse sido propriamente impedida por muita gente, também. Aquela cidade estava praticamente deserta, devastada por acontecimentos recentes. Mas os poucos que ali estavam não iriam gostar de saber que uma bruxa havia chegado.

Um edifício em chamas. A mera menção de chamas fazia-a ficar com os pelos em pé. Lembrava-lhe de como aconteceu quando descobriu o que era: Uma bruxa.

Aquela pessoa puxara-a para uma garagem de um edifício abandonado. Naquele lugar estavam imensas pessoas. Pessoas de Super High School Level, mais precisamente. O que eles pretendiam era destruir a bruxa dentro de Maleficent. Presa a um pilar, começou o momento da tortura. O momento do mais profundo desespero.

Aqueles nos quais Maleficent confiava estavam ali, chamando-a de imunda. De lixo. De bruxa. Estava na hora dela pagar pelos seus pecados. Então um deles chegou perto dela com um fio, as suas pontas faiscando ligeiramente. Tocou com o fio de leve na sua barriga.

O impulso elétrico que sentiu quase a fez vomitar. Sentiu os seus órgãos a contrair-se, o coração a apertar-se, os músculos a retesarem perante aquela descarga súbita de energia.

“Monstro! Demónio! Bruxa! Arrependa-se!” gritavam aqueles aos quais a garota chamara uma vez de amigos.

Ela achava que já tinha passado. Mas não, continuaram. As descargas elétricas de altas voltagens torturavam-na ao ponto em que ela quase desmaiava. Mas tal nunca acontecia – eles não deixavam. Aquele ritual tinha de prosseguir.

E no dia seguinte tudo continuou. Maleficent não entendia. Tudo o que ela queria era ajudar o planeta, mas todos os dias ela percebia que o que estava fazendo era piorá-lo. Deixando pessoas daquele tipo viverem.

Ela nunca conseguiria fazer nada quanto a isso. Porque ela era uma bruxa.

Que desesperante.

Todos os dias ela seria torturada. Não valia a pena contar a ninguém. Porque, se o fizesse, a descarga elétrica seria fatal.

Que desesperante.

As pessoas que o faziam eram suas amigas. E falavam com ela normalmente fora daquele momento específico, como se tudo estivesse bem. E também ela toscamente fingia estar tudo bem. Porque tinha medo do que podia acontecer.

Que desesperante.

No final de cada ritual, ela era obrigada a acender uma vela. E, sempre que voltava, estavam elas ali, acesas para relembra-la do que sofrera. Trinta, quarenta, cinquenta. E Maleficent não se esquecera de um único segundo do que passara.

Que desesperante.

A certa altura, ela já aceitava. Já não precisavam de a puxar para lá, ela mesma se dirigia com o seu próprio pé. Porque também ela sabia que precisava de ser purificada.

Que desesperante, que desesperante. Tão, tão desesperante. O desespero a consumia. Em breve, ela não teria outra coisa. Ela seria apenas desespero.

Maleficent estava tão, tão desesperada.

–X-

Mais um dia naquele inferno. Mais um tempo que eu teria, obrigatoriamente, de suportar fechado naquela maldita escola.

Pelo menos agora tínhamos mais espaço. E apesar do nosso pavor pelos acontecimentos recentes ter já se acalmado consideravelmente, nenhum de nós se tinha esquecido disso. Até porque tal era impossível, considerando o tipo de coisas que passámos. Assassinato de uma colega, feito por um outro colega.

Tudo isso era simplesmente chocante demais para alguma vez abandonar as nossas memórias. Contudo, aqui estávamos nós, tentando fazer o nosso melhor para não mergulhar completamente no desespero. E era com isso em mente que eu e Teemu nos dirigíamos para a “sala” dos professores. Chegando lá, logo me apressei a sentar-me num dos pufes, achando que o mais velho faria o mesmo, mas em vez disso ele dirigiu-se às prateleiras com as mais variadas bebidas.

– Hmm… Hey, Isao, quer experimentar um desses? – E apontou distraidamente para algumas garrafas de whiskey – Eu não sou nenhum alcoólico, mas sempre achei interessante provar as diferentes bebidas das diferentes regiões. Esse aqui é do Japão… E acho que nunca experimentei.

Fez uma pausa enquanto analisava o rótulo da garrafa. Após alguns momentos, se virou para mim e sorriu.

– Então, vamos experimentar? – Perguntou, com um sorriso jovial. Fiquei um pouco envergonhado com o entusiasmo dele e com a resposta que eu iria derradeiramente lhe dar.

– Eu não bebo… – Disse, tentando não deixar o ambiente constrangedor. Ele tentou avaliar se eu estava falando sério, frisando o sobrolho. Em resposta, expliquei-me – É que meu irmão mais velho não bebia. Assim, eu também não bebo álcool. É tipo um hábito que eu não penso em quebrar.

– Oh. – Teemu voltou a posar a garrafa de whiskey na prateleira, acenando afirmativamente – Suponho que tenhas uma relação bastante forte com o teu irmão, Isao.

– É… Nós lá em casa valorizamos muito a família. Desde que o meu pai morreu, então, o meu irmão mais velho tem meio que tomado esse papel paternal. – Comentei, encolhendo os ombros. A súbita imagem de minha mãe e meu irmão sendo arrastados por homens com uma máscara de monokuma e uma figura feminina estranha, que eu não conseguia distinguir como mulher ou criança, pegou fogo à minha casa. Cerrei os punhos em ódio, gesto que não passou despercebido para o aventureiro.

– O motivo que aquele boneco nos deu… Ele estava relacionado com a nossa família para todos, não é? – Não foi propriamente uma pergunta. Foi mais uma confirmação. Teemu enterrou-se num pufe ao meu lado. – É, comigo também foi assim… O que eu vi naquele vídeo.

Não necessitei de perguntar o que é que ele vira. O medo espelhado no seu rosto já o demonstrava. Ainda assim, continuou.

– Meus pais e eu nunca fomos tão chegados assim. Quero dizer, nós vivíamos viajando como parte do nosso dia-a-dia. Às vezes eu ficava com minha mãe, outras vezes ficava com meu pai. Ia variando. Mas, no final, minha maior ambição era viajar sozinho. Assim que me permitiram, eu fi-lo. No início eu encontrava-me com eles quase todo o mês. Depois o número de vezes foi diminuindo… E agora, a ultima vez que eu os vi foi há 2 anos atrás. Pessoalmente, pelo menos.

Deu um suspiro pesado, encarando os sapatos.

– Eu queria tanto ter liberdade para fazer o que quiser. Queria tanto. Agora estou preso nesse lugar e… – deu um soco na própria cabeça, como que se punindo – os meus pais foram raptados por causa disso! É um pesadelo, Isao! Perdi minha liberdade, e ainda roubei a dos outros! E eles correm perigo… Céus, quão irresponsável é que eu posso ser?

– H-Hey! – Ver o pânico refletido no olhar de Teemu deixou-me assustado e acabou por me fazer esquecer os meus próprios problemas. Rapidamente levei a mão ao seu ombro, querendo mostrar-lhe apoio. – A culpa não é sua. Você não tinha como saber. Nem você, nem eu, nem ninguém aqui preso. Estamos todos no mesmo pé de igualdade… E definitivamente, nenhum de nós está nesse lugar porque foram irresponsáveis. Tira essa ideia da cabeça, porque a culpa não é definitivamente sua, ok?

– …Sim, você tem razão. – O loiro suspirou, a sua expressão mudando para algo mais determinado. – O que interessa é não desistir… E manter a esperança. Desculpe, Isao. Não é normal da minha parte ter essas reações. Foi pouco educado da minha parte.

– Chaattooos! – Disse uma voz jovial cujo tom em nada combinava com a situação em que estávamos. Quando me inclinei para ver, descobri Kobayashi recostada na porta. Quando que ela entrara ali? Não cheguei a alcançar a resposta pois a Designer logo interrompeu a minha linha de raciocínio. – Takane acha vocês os dois muito chatos! Não são nada kawaiis, e Takane não gosta quando as pessoas não são kawaiis!

Nenhum de nós sabia se devia levar aquilo como uma ofensa ou não.

– Apesar do coração flamejante de Takane estar, também, preocupado com os seus tios – Fez um beicinho e uma expressão triste. Contudo, essa expressão saiu de uma forma estranhamente artificial e durou apenas meros segundos, como se ela estivesse só brincando com o assunto. Afastei essa ideia da minha cabeça. Apesar de meia louca, com certeza que a loira ainda tinha sentimentos… não? – Ela acha que falar disso não tem lógica nenhuma! Deixa vocês com rugas e totalmente nada kawaiis ~

– Ela tem razão. – Concordou Teemu, acenando afirmativamente – O que aquele urso quer é que fiquemos pensando nessas coisas. Não podemos deixar que tal aconteça.

– Então de que vocês querem falar? – Inquiri. – Não é como se tivéssemos outra coisa para fazer.

– Oh, Takane sabe! Takane sabe! – Ela agitou a mão no ar, como que uma criança esperando pela sua vez para falar. Quando percebeu que todas as atenções já estavam voltadas para a sua excêntrica personagem, ela bateu palminhas com entusiasmo. – Takane sugere que façam um escaldante jogo!

– Um jogo? – Teemu pareceu um pouco incerto com a pergunta.

– O jogo é assim: Takane faz uma pergunta e, se vocês errarem, recebem um momento quente com ela! Caso acertem, então não recebem nada.

Um momento quente? O que é que ela estava pensando? Não podia ser…? Senti a minha face tomar tons escarlates e aparentemente a loira tomou isso como um sim, pois nenhum de nós respondeu antes dela fazer a pergunta para o tal jogo.

– E a pergunta ééé: Quantos garotos Takane já ~fez~?

Aquilo estava tomando proporções drásticas. Só faltava ela falar explicitamente que queria ficar pelada na nossa frente. Ou pelo menos era disso que eu achava que ela estava falando.

– Q-Que pergunta estranha para se fazer… – Murmurou Teemu. Uma rápida olhada nele demonstrava que também ele estava desconcertado, mas não tanto quanto eu. Parecia, na verdade, mais intrigado com as ações da outra do que propriamente preocupado com o tal “momento quente” que prometera.

– Hmm… Nem sequer tentam? Sério? Awwn… – Kobayashi suspirou, aparentemente desiludida. – Isso é tão anti-kawaii que nem sequer vos quero mais dar o momento quente. Esqueçam! A resposta é 23! Takane já teve casos com 23 homens, de variadas idades, etnias e religiões! ~ Ara, ara, e ela nunca esqueceu do odor deles… Do calor que o corpo deles emanava… Dos gemidos incontroláveis que soltaram aquando daquele momento… Uma sensação tão boa, tão efusiva, até deixa Takane arrepiada… Aquele imenso prazer de sentir a carne quei—

Fez uma pausa, limitando-se a encarar-nos com uma expressão vazia e sonhadora. Não cheguei a entender o que seria o fim daquela última frase, mas de qualquer forma não me importei em saber. Provavelmente seriam mais pormenores sobre o que Kobayashi faz nos tempos livres que eu NÃO preciso de saber.

– 23 pessoas? Que idade você tem, afinal? – Inquiriu Teemu – Com certeza de que tantos parceiros sendo tão jovem não pode ser saudável…

– Takane tem 17 anos, e ela só está falando dos homens! Ela também teve casos em que o calor também atingiu mulheres! E às vezes, um poderoso macho e uma sedutora fêmea ao mesmo tempo ~ Ara, ara, desde que Takane consiga o que ela quer, não importa o número de pessoas incluídos! Não admira que sejam vários, afinal, Takane encontra gente kawaii todo o dia no trabalho dela! É algo impossível de evitar! ~

Por alguma razão, aquela conversa estava me deixando estranhamente nauseado. Como se Kobayashi estivesse falando de algo bem diferente do que eu achava. Uma sensação agonizante tomou conta do meu corpo, coisa que me deixou sem entender bem o que se passava. A certa altura, Teemu pareceu notar.

– Isao? O que se passa? Você está pálido…

– Eu… Eu preciso de ir ao meu quarto. – Murmurei, tentando não levantar o olhar. Sentia umas sérias náuseas e isso me dava vontade de vomitar. O loiro logo me ajudou a sair do pufe.

– Não precisa de ajuda para ir até lá? Você parece mesmo mal…

– Não… Está tudo bem. É só que… Não sei. Tem alguma coisa me incomodando. Se não se importam…

E, deixando um silêncio constrangedor atrás de mim, saí da sala dos professores. Ao passar por ela, Kobayashi soltou um curioso “ara, ara…” antes de me deixar passar.

Andei pela escola durante algum tempo, vagueando pelos corredores até me sentir melhor. Subitamente, senti-me chocar contra alguém. Virando-me para ver quem era, descubro que essa pessoa se tratava de Akatsuki, que me soltou um olhar irritado.

– Humpf. Cê tem de ver p’ra onde anda. – Disse, de braços cruzados. Dei uma risada leve, tentando atenuar a situação.

– Ahh, desculpe! Não foi propositado, eu estava… Distraído. – Comentei, coçando a cabeça com um certo embaraço. Os olhos cinzentos implacáveis da outra não se moveram nem um milímetro.

– Nã’ tou p’ra aturar coisas como “distrações”. – Respondeu no seu habitual tom cortante e aparentemente irritado. – Nem p’ra olhar p’ra essa SUA cara em particular.

Quê? Uni as sobrancelhas com aquela atitude anormalmente hostil de Akatsuki. Certamente, eu já estava habituado à forma rude de falar e a aparente falta de compaixão para com os outros, mas essa era certamente a primeira vez que a vi fazendo uma abordagem direta sobre o quanto ela detestava uma pessoa – especialmente para comigo.

– C-Como assim? – Perguntei, nervoso. – Hey, Akatsuki… Eu não sei o que possa te ter feito, mas se algo aconteceu, pode falar. Com certeza que eu não fiz propositadamente…

– Humpf. O que cê sabe? – Inquiriu a estrategista. O seu rosto adquirira uma tonalidade escarlate e cerrava os punhos com tanta força que me fez dar um pequeno passo para trás, receoso de que ela subitamente saltasse para cima de mim. – Cê nunca sabe de nada. Qu’espécie de herói cê é? Pretende realmente salvar alguém? Então salve. Mas, tanto quanto sei, a única coisa que você fez até agora foi merda! MERDA! E eu nã’ preciso de gentalha assim perto de mim.

E, dito isso, afastou-se. Não consegui entender o que se passava, mas percebi uma coisa:

Akatsuki me detestava por algum motivo.


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Notas finais do capítulo

Leitores lindos, voltem!