Capítulo 3 – Pesadelo e notícia bombástica

POV Mabel

Estou assistindo uma linda valsa, vendo tudo de fora, apenas observando os casais que dançam de forma sincronizada. Percebo que estou em um baile, mas não qualquer um, eu estou naquele baile, o que pode mudar meu futuro. Do nada a música para, Carmen aparece no meio dos casais e começa a caminhar na minha direção. Todos abrem espaço pra ela como se ela fosse uma estrela do rock ou apenas alguém com uma doença contagiosa.

Olho para minhas roupas e vejo que estou com um vestido preto longo, colado ao corpo, com uma corrente de ouro discreta, um bracelete e meu cabelo preso em um coque alto, estou muito bem arrumada, suspiro tranquilizada. Carmen continua vindo em minha direção e sua expressão muda de indiferente para furiosa no mesmo instante que sinto uma sensação de queimação pelo corpo, olho novamente para minhas roupas e percebo que elas estão mudando, o vestido se torna cinza, folgado, amassado e rasgado, minhas joias desaparecem e meu cabelo se solta, fica tão armado que podia muito bem ir para a frente de batalha em uma guerra.

Ela se aproximava cada vez mais rápido e a cada passo que ela dava, meu pânico aumentava.

– O que diabos você está vestindo Mabel?

– E-eu juro mãe...

– Jura o que? – ela me cortou no meio da frase – Jura que vai continuar sendo essa desarrumada idiota que você é?! Não consigo entender como você saiu de mim!

– M-mas eu estava arrumada, como a senhora mandou.

– E agora vai dizer que eu sou cega?

– Minhas roupas, elas mudaram...

– EU. NÃO. SOU. IDIOTA. MABEL. – ela deu ênfase a cada palavra – e onde está o seu namorado? Vai me dizer que ele sumiu junto com suas roupas?!

Olhei em volta a procura de alguém, eu sabia que ele estava aqui, mas mesmo depois de olhar por todo o salão, não achei ninguém. Ele havia sumido.

– Ele não está aqui. – falei sentindo meus olhos cheios d’água.

– VOCÊ É UMA IMBECIL MABEL! EU TE DEI A CHANCE DA SUA VIDA E VOCÊ DESPERDIÇOU, TENTOU ME FAZER DE IDIOTA VINDO AQUI DESSE JEITO.

– Não, mãe eu não quis fazer isso! – as lágrimas escorriam pelo meu rosto.

– Escute aqui mocinha: você não vai entrar na orquestra e se depender de mim, nunca vai entrar em orquestra nenhuma.

– Mãe, não faz isso!

– Você me entendeu Mabel? – eu queria responder, mas não conseguia- Mabel? Mabel?

– MABEL ACORDA SUA VACA! – senti alguém me sacudindo.

Abrir os olhos e me sentei, tão rápido que quem quer que seja que estava me sacudindo, não teve tempo de se afastar e minha testa bateu com a sua.

– AI IDIOTA! POR QUE FEZ ISSO? – a voz feminina continuou e finalmente reconheci quem falava comigo.

Deparei-me olhando uma Jordyn esfregando a testa, com a cara franzida, como alguém que acabou de chupar limão. Jordyn é uma das minhas melhores amigas. Tem a minha idade, é uns 10 centímetros mais alta que eu, tem cabelos loiros bem claros – naturais, ela ama se gabar disso – e olhos verdes tão escuros que podem ser confundidos com castanhos. Ela é uma das pessoas mais inteligentes que já conheci, olhando para ela, me pergunto de onde tiraram essa história de que loiras são burras. Ela está fazendo um curso de licenciatura em Artes Plásticas, vai ser professora universitária. É mesmo bem a cara dela.

– Você me assustou. Eu estava tendo um pesadelo.

Ela me fitou com uma expressão de curiosidade.

– Ah! Então você deve estar feliz por eu ter te tirado do pesadelo.

– Bem, olhando por esse lado, é verdade.

– Quer me contar com o que estava sonhando? Tem alguma coisa a ver com a notícia bombástica que você disse que tinha? – como sempre, Jordyn liga os pontos sem que você tenha dado algum indício disso. Essa menina devia ser detetive.

– Tudo a ver. Mas quero contar quando Carly e Anna chegarem, não gosto de me repetir.

Eu divido o apartamento com Jordyn, mas ontem ela dormiu no hotel em que estava uma tia, que tinha vindo fazer uma visita. Acho que a velha foi embora essa manhã.

– Elas devem estar descendo agora.

Carly e Anna moram no apartamento que fica um andar depois do nosso. A divisão do nosso campus é assim: são vários prédios residenciais com cinco andares e três apartamentos em cada um. Geralmente cada apartamento tem entre dois ou três quartos cada, pelo menos na área feminina. Na masculina, apartamentos com quatro quartos são comuns. Antes dividíamos o apartamento com a irmã mais velha de Jordyn, a Dilyn. Mas ela se formou ano passado com licenciatura em Dança de Salão e foi trabalhar no exterior, não veio ninguém ocupar seu quarto. Houve a possibilidade de uma das meninas vir morar aqui, mas uma teria que morar sozinha, então a ideia foi descartada.

Escutamos uma batida na porta e Jordyn saiu do quarto correndo, mas não antes de soltar um “eu não disse?!“. Eu me levantei, troquei a roupa de dormir por um short jeans e meu moletom do Mickey e a segui, quando ela abriu a porta indiquei a cozinha. Eu estava morrendo de fome e queria tomar café.

– Então Bel, qual a notícia bombástica que você tem pra gente? – Anna perguntou assim que as três se sentaram numa mezinha que havia no canto da cozinha.

Peguei um cereal, leite, colher e uma vasilha e fui me sentar com elas. Eu não estava com clima para pão, panquecas ou qualquer coisa que envolvesse fogo ou algum tipo de esforço maior que girar a tampinha da caixa de leite.

– Vocês devem saber que minha mãe está no campus. – comecei.

– E quem diabos não sabe? Ela é uma das principais doadoras dessa faculdade. – Carly falou. – O reitor fica louco para agradá-la quando ela está aqui. A notícia se espalha mais rápido que fogo em palha.

– Ela me fez uma visita ontem...

– Essa é a notícia bombástica? Fala sério! – como sempre, Anna não me esperou terminar de falar. – Ela sempre te visita quando está aqui.

– Não besta! A notícia é o que ela veio falar comigo.

– PARA DE SUSPENSE E CONTA LOGO MENINA! – Jordyn gritou, paciência não é sua maior qualidade.

– Ela me ofereceu um lugar na orquestra.

– O QUÊ? – as três falaram juntas.

– Pois é, minha reação também foi essa. Mas ela me deu condições.

– Quais?

– Primeiro: obviamente eu tenho que me formar primeiro. Segundo: tenho que começar a me arrumar. O. TEMPO. TODO. – momento facial: chupei o limão mais azedo do mundo – E por último: tenho que ir com um namorado para um baile depois da formatura.

– Mas o que? – uma Jordyn boquiaberta perguntou.

– Exatamente o que você ouviu.

– E como você vai acatar as últimas duas? Nós tentamos fazer você se arrumar desde quando nos conhecemos e você nunca demonstrou interesse em nenhum menino daqui. – Carly falou.

– O que você vai fazer Bel? – perguntou Anna.

– Não faço a menor ideia.