Mais um dia de aula, mais um dia tedioso para Summer. Enquanto Emma conversa com os gêmeos, ela não faz nada. Apenas espera ansiosamente pela chegada de Scarlett e Blair.

Uma cabeleira rubra passa em frente a garota, tirando-a do seu estado de torpor. Ela o segue com os olhos azuis curiosos, enquanto ele tem a cabeça baixa e os cabelos cobrindo a face absurdamente bonita. É compreensível que ele esteja andando rápido e a passos largos, já que todos a sua volta cochicham e riem. Os mais descarados até apontam.

Alguém se senta ao seu lado, ela percebe que é Scarlett. A ruiva usa o mesmo perfume desde os doze anos. Summer, conhecendo-a plenamente, sabe que os olhos dela, assim como os seus, estão presos ao ruivo que acaba de adentrar o prédio principal.

— Bom dia, Summ. — a voz cansada de Scarlett intriga a loira, que fita-a e pega o copo de isopor estendido pela amiga.

— Scar, você dormiu esta noite? — indaga, mesmo já sabendo a resposta.

— Feito um bebê. Por quê? — Summer arqueia uma sobrancelha e exibe um meio sorriso. Droga, essa é a cara dela de "eu sei que você está mentindo, desembucha" — Tá bom, como você sabe que eu não dormi?

— É só olhar as evidências. — responde simplesmente, como se as tais evidências fossem tão claras para outras pessoas quanto são para ela — Você soa cansada, está bebendo café e está com tique na perna direita. — expõe, como se fossem provas de um crime.

— Você meio que me assusta com esse jeito de Sherlock Dolmes, às vezes. — pronuncia um tanto nervosa por ser tão transparente. Seria melhor ser indecifrável, como Summer.

— É Sherlock Holmes, na verdade. — corrige — Holmes, com H, não D.

— Tanto faz. — revira os olhos e cruza as pernas, tentando conter o tique — Onde estão Emma e Blair?

— Falando com aqueles amigos dela que eu não sei o nome. — aponta para traz com o polegar, na direção de sua irmã e dos dois garotos — Eu não sei onde Blair está, imaginei que estivesse com você.

— Se chamam Alexy e Armin. — informa — Eles estão vindo para cá. — diz, depois de olhar disfarçadamente para eles — Alexy tem cabelo azul, não se esqueça.

— Como eu poderia? — ironiza, bebendo seu cappuccino.

— Ai, eu sei. Claro que você não vai esquecer, você tem memória eclética. — afirma, achando que saiu como a esperta da história, pelo menos dessa vez.

— Eu tenho memória eidética, não eclética. — Summer ri do erro da amiga, que apenas bebe seu café, sem demostrar interesse na correção ou no próprio erro.

Emma senta-se ao lado da irmã, olhando Alexy e Armin, que parecem hesitantes em se sentar, mas acabam o fazendo mesmo assim.

— Oi. — cumprimenta Alexy, ainda hesitante. Ele cutuca o irmão com o cotovelo para que o garoto diga algo, mas acaba apenas acenando com a cabeça.

— Oi. — Summer sorri — Meu nome é Summer. — estende a mão para Alexy, que a aperta. Depois faz o mesmo com Armin. — Prazer em conhecê-los. — tenta ser simpática, e funciona, pois o azulado abre um enorme sorriso.

— Sou Alexy, esse é Armin. — o garoto parece querer pular de alegria — Você é legal, sabia? Eu achei que ia me expulsar daqui aos berros. — Summer ainda sorri, mesmo depois do comentário que Alexy fez sem pensar.

— Pois você estava certo. — seu semblante muda subitamente de descontraído para rude e antipático — Saiam da minha mesa imediatamente! — ordena.

Alexy arregala os olhos, confuso. O que aconteceu? O que ele fez? Ela sorria há dois segundos! Ele se levanta, as mãos tremendo. Pelo jeito ela é apenas outra garota fútil da cidade, nada parecida com Emma, a única pessoa realmente boa que ele já conheceu. Armin sai atrás dele, e quando dão as costas para elas, ouvem-nas rirem. Os irmãos se viram, ainda mais confusos.

— Sentem-se — pede Scarlett, em meio a risadas —, era brincadeira!

Armin se senta e ri também, Alexy se senta, porém receoso.

— Vocês têm sérios problemas mentais... — declara — E é por isso que gostei de vocês! — ele agarra Scarlett e solta um sorriso largo e sincero.

Finalmente mais pessoas que não ficam apenas fazendo pose. Precisa admitir, Emma não é a única que não se prende ao conceito de normalidade prezado na cidade.

•••

A morena sobe as escadas rapidamente. Após o último segredo revelado, Castiel certamente não está em meio a outras pessoas. Aquele otário se deu mal. Talvez o Universo realmente seja justo. Talvez tudo que vá, volte. E dessa vez voltou com força.

Ela para em frente à porta. Seus olhos descem até encontrar o tijolo, que é usado como peso, não deixando a porta se fechar, pois só é possível abri-la por fora. Ele está lá. A garota empurra a porta e passa por ela. Quando passa, solta-a, que bate com força no tijolo.

Quando a vê, suspira. O que ela quer? Está cansado de todos apontando, rindo e caçoando. Está cansado mesmo que tenha passado menos de trinta minutos sendo zoado. E, acima de tudo, não quer ser caçoado justo por ela. Sabe que não foi sempre a melhor das pessoas com ela, mas ela mesma o fez pagar por tudo o que fez. Por um segundo, passa por sua mente a ideia de que é pior do que ela. Mas a garota faz com que todos pensem que ela é a gentileza em pessoa, pelo menos ele não se esconde atrás de máscaras de bondade.

— O que você quer?

•••

Debrah encara seu reflexo no espelho do banheiro feminino acima da pia. Passa a mão por suas madeixas castanhas, ajeitando-as num rabo de cavalo. Está séria demais, suas amigas percebem isso, mas nada dizem. Ela sabe que Castiel deve pensar que é ela a anônima, afinal, o próprio rapaz a disse que apenas ela sabia de seu segredo. Se ele resolver contar isso a alguém, a notícia se espalha e todos passam a pensar que ela é a anônima. Toda a reputação que ela fez para si mesma pode ir por água abaixo em um piscar de olhos, mas ela não deixará que isso aconteça. Ninguém descobrirá que sua gentileza e bondade são qualidades da pessoa que ela finge ser quando está na escola.

Ambre, percebendo a expressão da colega — sim, colega, pois a única coisa que quer de Debrah é a popularidade — passar de pensativa a determinada. Ela está tramando algo, e a loira não gosta de ser deixada de fora. Precisa estar sabendo de tudo, sempre. Sendo assim, resolve perguntar:

— No que está pensando, Debrah? — a voz fanha irrita Debrah até o último fio de cabelo, mas precisa manter a personagem que criou e ser educada e boa com todos, até mesmo com a praga loira chamada Ambre.

— No anônimo... E no suposto segredo de Castiel. — ri pelo nariz, debochada.

— Suposto...? O que quer dizer com isso? — indaga Íris, a mais inocente do grupo.

— Castiel não é virgem, queridinha. — declara, abrindo um sorriso largo e malicioso.

Ambre e Li arregalam os olhos e deixam seus queixos caírem, surpresas. Já Íris, não entende e fica com aquela cara de dúvida que sempre irrita Debrah. Por que justamente sua mais fiel seguidora tinha que ser tão burra? Alguns segundos depois, a ficha cai, assim como seu queixo.

— Debrah?! Você e Castiel... Fizeram aquilo...? — indaga, indignada. Debrah arqueia as sobrancelhas, como quem diz "obviamente, né".

— E eu que pensava que esse anônimo apenas falava verdades! — reclama Li, estupefata.

— Coitado do Cast, sendo zoado por algo que nem é verdade... — Debrah simula estar chateada pela injustiça que está sendo cometida, e é claro que as garotas acreditam.

Ambre, mesmo não gostando de Debrah, acredita nela. Afinal, ela é Debrah Wilkins, o ser mais bondoso na face da Terra. Ou, pelo menos, em Sweet Amoris. Se ela está dizendo, é porque é verdade, e a loira não pode deixar que seu Castiel seja julgado por essa grande mentira.

Debrah conseguiu o que queria. Fez com que as garotas acreditassem nela e em pouco tempo a escola toda estará sabendo que Castiel não é virgem. Pelo menos, não de acordo com a mentira inventada pela morena. Mas ninguém nunca saberá dessa mentirinha, não é mesmo?

•••

— Que grosseria, Cassy. — ironiza — É difícil vir para a escola quando todos sabem do seu segredinho... — se aproxima dele a passos lentos — Eu sei disso tão bem quanto você.

— O que você quer, Blair? — Castiel tem o corpo encostado ao muro do telhado da escola, os braços cruzados enquanto vê a garota se aproximando cada vez mais.

— Eu quero ver de perto a sua vergonha, o seu sofrimento... — Blair senta-se sobre o muro, as costas sem apoio nenhum. Certamente é arriscado estar num lugar em que pode ser empurrada tão facilmente, principalmente quando tem um Castiel tão irritado e frustrado por perto.

— Por que? Você já viu antes! — a raiva crescendo em seu peito — Eu te fiz mal, eu sei! Mas eu paguei por isso! Você me fez pagar por isso! — ele grita a última frase, perdendo o controle.

— Acalme-se, Cassy. — ele se põe na frente dela, e ela coloca a mão em seu ombro — Você não é o badboy, aquele que não se importa com nada? Então, supera isso! — o tom de sua voz se torna raivoso. "Supera isso". Foi o que ele disse a ela, certa vez. Castiel pousa suas mãos na cintura dela, segura-a com firmeza.

— O que te garante que não vou te empurrar daqui, neste exato momento? — o ódio nos olhos cinzentos dele é evidente, impossível não notar. Mas Blair não se abala por isso.

— Você não faria isso. Pode ter todo esse jeito de garoto problema, mas, no fundo, é uma boa pessoa. — o rapaz afrouxa o aperto e sua expressão se torna mais branda — Se bem que me empurrar seria uma boa ideia. — ela desce do muro, seria perigoso dizer o que está prestes a dizer estando tão vulnerável — O título de assassino faria com que as pessoas voltassem a te ver como homem, pelo menos. Traria de volta o que o título de virgem te tirou. — sussurrou, como se fosse um segredo e piscou o olho direito.

Blair pôs-se a andar em direção a porta, deixando aquele lugar e um Castiel furioso para trás. Pois é, surpreendentemente o anônimo foi mais útil do que pensava.

Castiel passa as mãos pelos cabelos rubros freneticamente. Puxa os cabelos, chuta a porta e, por fim, soca o muro. Essa vadia não pode simplesmente chegar e acabar com ele dessa maneira. Aliás, por que fazer isso? Que inferno! Ela mesma disse que ele já tinha pago por suas maldades!

•••

— É, acho que Blair não vem hoje mesmo. — comenta Scarlett.

— De fato, ela não é do tipo que se atrasa. Nunca chegou mais de cinco minutos atrasada.

Assim que Emma diz isso, Blair bate na porta aberta da classe e a professora faz um sinal para que ela se sente, e assim ela o faz.

— E aí, do que vocês estão falando? — pergunta, com um bom humor matinal incomum.

— De você. — responde Scarlett.

— E do seu hábito de não se atrasar... — continua Summer.

— Eu acabei dormindo demais e só fiquei pronta para vir para escola na metade do primeiro período. — esclarece a situação, não convencendo suas amigas, que resolvem apenas esquecer o assunto.

— Enfim, nós vamos todas dormir na minha casa hoje, ok? Precisamos de uma noite de garotas... — avisa a ruiva — E precisamos falar sobre alguns assuntos sérios também. — as meninas se entreolham e todas entendem perfeitamente sobre o que precisam conversar.

•••

Durante o horário do almoço, as quatro garotas conversam sobre um programa de TV qualquer, tudo está calmo. Seus celulares vibram, todas receberam uma mensagem no mesmo instante. Se entreolham. Abrem e leem a mensagem ao mesmo tempo.

— Tentou ajudá-lo? Agora vai descer junto com ele. — Scarlett começa a ler em voz alta, a voz trêmula denuncia seu nervosismo — O lindo corpinho de Debrah, que é desejado por garotos e invejado por garotas? É apenas o resultado de uma doença da qual ela sofre: — a ruiva arregala os olhos — a bulimia.

— O que?! — indaga uma Emma indignada e perplexa — E como assim tentou ajudá-lo? Tentou ajudar quem?

— Eu tenho uma pergunta melhor ainda: porque apenas nós recebemos esse segredo? Quero dizer, o anônimo costuma escrever na lousa, para todo mundo. — acrescenta Blair.

— Mas não fomos apenas nós. — murmura Summer, olhando em volta, para todas as pessoas que observavam as telas de seus smartphones, fazendo com que as outras olhassem também.

— Então esse desgraçado sem rosto nos manda segredos por SMS agora? — a ruiva reclama, revoltada — Ah, qual é! Eu não mandei nenhuma mensagem para 48022 para ficar recebendo os últimos segredinhos, não! — gesticula loucamente enquanto solta outra reclamação.

— Scarlett, relaxa. — Summer diz baixinho — Você está parecendo uma paciente fugitiva de manicômio. — Scarlett suspira.

— Eu acho que o café subiu a cabeça, foi mal. — ela abaixa a cabeça, parece chateada. Precisa aprender a controlar melhor as emoções, não ficar falando a primeira coisa que vem a mente.

— Gente, alguém quer me explicar essa mensagem, por favor? — pede Emma, já impaciente.

— Emma, você não ouviu os boatos? — pergunta Blair, recebendo da platinada um aceno negativo com a cabeça em resposta — Bom, estão dizendo por aí que Castiel não é virgem. Nesse caso, o anônimo teria mentido.

— Mas como o anônimo sabe que foi a Debrah quem espalhou o rumor?

— As pessoas que estão espalhando o rumor disseram que foi a própria Debrah que contou para Ambre e mais algumas meninas. — Summer responde — Parece que o anônimo não gosta muito de ser desmentido...

— E quem gosta? — comenta Scarlett, apoiando o cotovelo sobre a mesa e o queixo na mão, demonstrando cansaço.

— Eu tenho uma suposição sobre quem é o anônimo... — comenta a loira, fazendo todas desviarem os olhares para si — Mas é melhor falarmos sobre isso hoje à noite, na casa da Scar.