É interessante como as vezes não podemos fazer as escolhas por nós mesmos. Ou, pelo menos, pensamos que não podemos. Não diria queéengraçado, não se atreveria a tal coisa, afinal, estánessa situação e não sentevontade de rir.

Encontra-se deitada em sua cama, fitando o teto. Por todos os anos de sua vida estudara em casa, mas tudo estáprestes a mudar. Ela irápara a escola. Seu pai querqueváapenas para acompanhar sua irmã, que fora recentemente operada. Transplante de córneas. Estáfeliz pelo fato de que sua irmã voltara a enxergar.

Aquela escola tem um nome ridículo, pensou, Não acredito que vou estudar, ainda mais em Sweet Amoris.

Nunca perguntava nada a suas amigas a respeito da escola, nem elas comentavam. Não sabe se elas são populares, nerds, patricinhas... Talvez por não se importar, talvez para não se sentir excluída. Tanto faz.

Fecha os olhos esperando cair no sono, mas alguém entra em sua mente e domina-a em questão de segundos. Ele estuda lá. O que ele dirá a ela? Seu coração apertou. E se ele simplesmente não disser nada? E se ele a ignorar?

Fecha os olhos com mais força, tentando parar de pensar nele. O sono vem algumas horas depois.

•••

Amanhã é o dia, pensou.

As aulas começarão e ela estará lá. Como ela agirá na escola? Ela nem quer ir. Mas ela andará pelos corredores sendo perfeita. Assistirá às aulas sendo perfeita. Conversará durante o intervalo sendo perfeita.

Ela é perfeita. Não há palavra melhor para descrevê-la.

•••

Summer Wentworth adentra o grande prédio branco. À sua direita se encontra Emma Wentworth, sua irmã; à sua esquerda se encontram Blair Atkins e Scarlett Kingston, respectivamente. As quatro melhores amigas atraem os olhares de todos. Blair, Emma e Scarlett gostam da atenção. Summer mostra-se indiferente, mas apesar de parecer indiferente, imagina se acham-na esquisita. Não que isso importe, mas todas aquelas pessoas, provavelmente, se perguntaram por muito tempo como ela era.

Chegam à sala de aula A, que já está cheia e todos as seguem com os olhos. Blair se senta na última carteira da fileira ao lado da janela, Scarlett à sua frente, Summer ao seu lado e Emma a frente de Summer.

Summer mal ouve o que as amigas dizem. Ela presta atenção em todos a sua volta. Nunca entrara numa sala de aula. Pode ouvir todos sussurrando sobre ela. "Summer Wentworth, a filha do prefeito que nunca saía de casa." "Summer Wentworth chegou, agora o quarteto está completo!". São poucos os que falam sobre Emma ter voltado a enxergar.

Apenas um garoto não fala com ninguém, mantém os olhos azuis presos ao console portátil em suas mãos. Ele tem cabelos negros que destacam a pele alva, provavelmente é um daqueles garotos que nunca fica mais de dez minutos exposto à luz do sol e, apesar disso, é bonito.

Summer vê uma cabeleira ruiva e logo percebe quem é: Castiel Vennet. Ele está se aproximando, se aproximando, se aproximando... Ele joga a mochila sobre a carteira ao lado da dela e se senta.

— Wentworth, você por aqui? Mas que surpresa! — Ele fala ironicamente. Como sempre. — Ouvi pessoas sussurrando seu nome pela escola inteira.

— Eu também ouvi, não sou surda. — Responde no mesmo tom irônico.

— Nossa, que grosseria! — Ele finge estar ofendido. — Credo, a filha do prefeito não deveria ser gentil e sorridente?

— Não, não deveria. Mas, por falar em sorridente — ela vira o rosto ligeiramente para ele —, por que está tão bem humorado? Por acaso os químicos da tinta de cabelo afetaram o seu cérebro? Ou você conseguiu, finalmente, tirar Debrah de sua cabeça? — Sorri provocativamente, recebendo um olhar fuzilante em troca. Conseguira acabar com o bom humor de Castiel.

Debrahadentraa sala. Todos parecem adorá-la. Ela estava sendo gentil? Sim, estava.Épor isso que a adoram. Ah, se eles soubessem quem ela realmente é... Ah, se eles soubessem o segredinho dela... Ah, se ela soubesse o segredinho que certa pessoa esconde dela.

—Summ! — Emma a chama, acordando-a de seus devaneios — Está gostando da escola?

— Sim, claro! — Mente, demonstrando um falso entusiasmo.

— É ótimo finalmente te ter aqui. — Emma sorri e Summer sorri de volta.

Um professor alto, de cabelos negros, olhos azuis escuros e profundos e pele branca entra na sala e escreve seu nome no quadro-negro.

Sr. White

É um antigo conhecido de Summer e Emma e, consequentemente, de Blair e Scarlett. Antigo mesmo. Conhece-as desde o nascimento, pois seus pais eram amigos dos pais das garotas. Damon White é um dos melhores amigos de Summer.

— Eu sou sr. Whi-

Toc toc toc.

Alguém bate na porta. O garoto alto, com cabelos e olhos castanhos, aqueles olhos que sempre tem um brilho especial, diferente. Tem um sorriso no rosto, um sorriso perfeito e branquinho, hipnotizante. Ele dá um passo a frente, pondo-se dentro da classe.

— Posso entrar, sr.White?

Seth Lancaster.

Sr. White faz um gesto com a mão esquerda para que se dirija ao seu lugar, e assim ele o faz.

— Bom, como eu ia dizendo, eu sou sr. White e lecionarei inglês para vocês este ano.

•••

Exatamente quarenta minutos após o início da aula, quando Summer já não está mais prestando atenção, alguém passa uma folha de papel pela janela.

Aquela folha cai sobre a carteira de Scarlett, e mal aquelas pessoas sabem que tudo mudará a partir deste exato momento. Scarlett pega a folha com o intuito de lê-la, mas o sr. White aproxima-se de sua carteira.

— Sinto muito, srta. Kingston, mas é proibido passar bilhetinhos durante as aulas. — Scarlett entrega-o a folha.

— Não é bilhete, sr. White. Acabaram de jogar isso pela janela e caiu na minha carteira — Defende-se — , eu ia ler, mas o senhor me tirou a chance.

— Nesse caso, eu mesmo poderia ler, certo?

— Sem dúvida nenhuma. —Desafia-o, tão sutilmente que ninguém mais percebe. Ninguém mais além dos dois e de Summer.

Sr. White dirige-se a sua mesa, encostando-se nela e soltando o peso. Parece confortável em frente a classe, talvez lecionar seja mesmo a sua vocação. Ele limpa a garganta.

— Queridos mentirosos, tenham cuidado. Vocês estão prestes a serem desmascarados, por ninguém mais, ninguém menos que eu, a pessoa que vos escrevo. Eu juro a todas as pessoas aqui presentes: a verdade sobre vocês cairá como gotas de chuva, uma por uma. Ou talvez como lágrimas, dependendo do quão melancólico você é. — ele procura por uma assinatura — É só isso, não tem assinatura. — exibe um sorriso debochado. — Tomem cuidado, pessoal.

Assim como ele, os alunos dão sorrisos debochados. É claro que ninguém acreditara, por que acreditariam? Quem seria otário o suficiente para fazer algo do tipo? Ninguém faria aquilo a sério, é só uma brincadeira, com toda a certeza.

A pessoa que os alertou levou todos aqueles sorrisos como desafios. Mas desafiar aquela pessoa é um grande erro, e eles descobrirão isso.