Eu sai do carro primeiro do que Andy. Ele não parava de falar que eu estava ansiosa demais, que se eu não me acalmasse poderia até ter um treco no meio da rua.

– Você sabe o que falar? – perguntei estralando os dedos em sinal de nervosismo. Andrew parou ao meu lado e entrelaçou seus dedos nos meus.

– Jane... – suspirou levando sua mão livre a cabeça. – Você sabe que terá que fazer isso por si própria, não sabe? Ele tem que saber por você, não por mim.

– Pelo menos me dê uma ajuda. – peço fazendo biquinho com os lábios.

– Vou estar ao seu lado o tempo todo. – ele afirma sorrindo de lado. Antes de voltar a caminhar em direção a porta, me dá um selinho rápido nos lábios. – Vem, ele deve estar maluco atrás de nós.

Entramos no Hotel e logo demos de cara com o Recepcionista Pinguim. Ele usava o mesmo traje com o qual nos recebeu, a única diferença era uma nova mancha de molho de tomate na sua camisa.

– Onde estavam!? – Pinguim parecia nervoso. Nesse segundo soube que Julian já estava sabendo de nosso sumiço. – Seu pai quase me matou por ter deixado você sair do Hotel!

– Ou, ou, vai com calma ai! – repreendi o Recepcionista. Ele me olhou com cara de tédio, como se perguntasse a si mesmo quem era eu para lhe dar uma bronca. – Onde Julian está?

– Jane! – gritou uma voz vinda do meu lado esquerdo.

Assim que olhei para onde a voz vinha vi Julian. Ele estava com uma roupa social e carregava uma mala grande. Seu rosto estava vermelho, vermelho sangue, e atrás dele Quinn estava parada com os braços cruzados no alto do peito, também com uma mala ao seu lado.

– Onde estava, mocinha!? – ele deu passos largos em minha direção e, assim que viu minha mão na de Andrew, puxou meu braço e me fez soltar Andrew. – Está totalmente de castigo, não vai sair do quarto até que eu decida!

– Você está me machucando! – gemi tentando me soltar de seu forte aperto em meu braço. – Julian, disse que está me machucando! Me solta!

– Pai, pai! – chamou Andrew me separando de Julian. Por força, ele acabou me soltando. – Precisamos conversar.

– Conversar?! – Julian grita chamando atenção das ultimas pessoas que ainda não estavam prestando atenção em nós. – Jane foge e me deixa preocupado por sua causa e você ainda quer conversar?!

– Pare de gritar! – peço.

– E ainda por cima vocês me entram aqui de mãos dadas! Sabem que são irmãos, que não podem... – eu o corto.

– Você não é meu pai! – grito sobressaindo sua voz.

Todos no cômodo pararam, inclusive Julian. Primeiro, penso que ele vai estourar de vez e ter algum tipo de ataque epilético. Ele me encara com os olhos estreitos e vejo uma gota de suor escorrer pela sua testa.

– Você não é meu pai. – continuo, agora com a voz mais calma. Aperto minhas unhas dentro da palma da minha mão, quase rasgando minha pele. – Eu não posso te culpar por mentir ou...

Ele me corta.

– Como assim? – pergunta quase sem voz.

Eu caminho até mais próximo dele, saindo de trás de Andrew. Coloco a mão em seu ombro e o olho com uma certa compaixão.

– Sinto muito Julian. Minha mãe mentiu naquela noite que foi até você. – eu dei um leve apertão no seu ombro. – Sei que deve não estar entendendo nada, mas...

– Eu achei um antigo amigo de Windy. – declara Andrew atrás de mim. Julian desvia seus olhos dos meus e encara Andrew. Sinto seu olhar endurecer quando faz isso. – Ele disse que quando Jane nasceu Windy fez um exame de DNA sem ninguém saber.

– Isso é impossível! – ele explode quase partindo para cima de Andrew. – Windy nunca me esconderia o resultado desse exame.

– Ela queria esquecer de você, lembra? – eu debato estranhando a reação de Julian. – Olha, eu sei que deve ser complicado saber disso, mas a gente não precisa se afastar. Eu já te adoro como pessoa e...

– Ok, Jane. – vejo uma lagrima rolar em sua bochecha. Ele dá dois passos para trás e a limpa. – Você venceu.

– Julian, eu disse que... – ele me corta.

– Eu não sou mais seu pai. – ele afirma, ainda meio abalado. – Fale com Richard sobre o que você quer falar.

– Julian! – o chamo, mas é inútil. Ele já saiu praticamente correndo para a saída do Hotel.

***

– Você é um homem muito gentil, sabia!? – ironizo tentando carregar a minha mala até a entrada da casa, sem sucesso. – Dá pra me ajudar aqui?

– Eu já estou carregando duas maiores que essa! – reclama Andrew com uma mão na maçaneta da porta. – Espere, vou chamar seu pai.

Ele abriu a porta e gritou pelo nome de Richard. Enquanto ele não vinha, deixei a mala no chão e enxuguei o pouco de suor que começava a escorrer pela minha testa. Estava calor, muito calor. Eu vestia um shorts jeans e uma regata branca. No pé eu tinha uma rasteirinha.

– Filha! – exclama meu pai andando em minha direção com os braços abertos. Eu me aconchego no seu abraço, sentindo o seu comum cheiro de alecrim. Assim que nos separamos ele diz: – Você demorou!

– Tivemos que deixar Quinn e a irmã de Andrew na casa delas. – falo sentindo um bolo na minha garganta. Desde a discussão que tivemos mais cedo, Julian simplesmente desapareceu. Ninguém o viu, ninguém soube dele. Nada.

Andrew pareceu perceber os meus pensamentos. Ele caminhou até o meu lado e entrelaçou seus dedos nos meus.

– Sabe, eu não gostava de você no inicio. – declara meu pai olhando para Andrew. Ele fez uma cara engraçada, como se estivesse com medo do meu pai. – Mas estou começando a perceber que você faz bem a minha filha. E isso é o mais importante para mim.

– Eu a amo. – afirma Andrew olhando em minha direção.

Eu fiquei corada, o que fez os dois rirem. Meu pai pegou a mala que faltava levar para dentro da casa e sorriu, indicando o caminho com a cabeça. Eu estava prestes a segui-lo, quando Andrew puxou meu braço.

– Espera, amor. – eu parei onde estava e olhei com a expressão confusa para ele. – Antes preciso te mostrar uma coisa.

– Ahm... Ok. – falo sorrindo bobo. Uma surpresa? – O que é?

Ele não responde, simplesmente tira um pano do seu bolso.

– Vire de costas, você não pode ver. – eu o obedeço, dando uma gargalhada.

– Não faço a menor ideia do que você está fazendo, mas já estou gostando.

Ele prende o pano envolta da minha cabeça, me impedindo de ver o que irá fazer a seguir. Depois faz meus pés andarem atrás dos dele, indo para frente. Mas nós não andamos para dentro da casa, vamos para trás dela, na parte da piscina, pelo que posso perceber.

– O que estamos fazendo aqui atrás? – pergunto com a sobrancelha levantada.

– Espere aqui. – diz, ignorando minha pergunta anterior. Logo depois que Andy fala isso ouço seus passos se afastando, na direção contraria da minha.

Espero cerca de dois minutos, parada na mesma posição. Pelo o que pude perceber, estou parada ao lado da piscina, em frente as cadeiras de Sol. Quando penso em desistir e tirar o pano de meus olhos ouço sua voz novamente.

– Quando eu falar, pode tirar o pano. – eu assinto com a cabeça, mordendo os lábios de ansiedade. O que será que esse garoto está planejando? – Pode tirar!

Desamarro o nó rapidamente, quase me enrolando com meus próprios dedos. Assim que consigo ver novamente, sinto um grande peso em minha barriga e, antes mesmo de eu conseguir racionalizar ou pensar em algo, cai para trás.

Bum! A água da piscina pesa e eu prendo a respiração sem perceber. Vejo um corpo nadando ao meu lado, com pelos claros e grande, quase maior que o meu. Consigo nadar até a parte de cima da piscina e tomar ar de novo.

– O que é isso?! – grito, totalmente desorientada. O cachorro vem nadando até mim e coloca a sua língua em minha bochecha mais rápido do que eu poderia prever. Automaticamente, começo a rir.

– Eu passei em um abrigo para cães e fiquei pensando se... Sei lá, a gente poderia ter um cachorro. – Andrew dá os ombros e sorri meio tímido. – Gostou?

– Se eu gostei? – eu faço o Labrador de pelos claros parar de me lamber e o olho bem. Seus olhos castanhos me encaravam com alegria e eu sorri como nunca pensei ser possível sorrir antes. – Eu adorei! Obrigada, Andy. Meu Deus, um cachorro! – Faço uma pausa para conseguir olha-lo melhor. – Ele já tem um nome?

– Não. Eu pensei em você colocar um nome nele. – afirma Andrew.

– Hm... Que tal Fom?

– Fom? – Andrew dobra as sobrancelhas. – Fom?

– O que foi? – pergunto acariciando os pelos do cachorro. – Isso me lembra uma coisa boa.

– Tipo o que? – indaga ele.

– Lembra quando a gente se conheceu na praia? – Andrew assente com a cabeça. – Então, eu perdi o meu telefone. Então eu pensei, Te-le-fo-ne. Fom.

Andrew ri, jogando a cabeça para os lados.

– Ok, tudo bem. Fom.

– A única coisa que eu não gostei foi de me molhar inteira! – reclamo olhando para Fom em seguida. Ao falar com ele, faço voz fina. – Você é um menino muito mal!

– Não acredito que você fala assim com cachorros! – Andrew declara coçando o olho e negando com a cabeça.

– Cala a boca e me ajuda a sair daqui! – eu ergo a mão, com a intenção de Andrew me puxar para fora da piscina. Ele agarra ela e, antes de me puxar, eu o puxo, fazendo seu corpo cair ao meu lado, dentro da piscina.

– Sua... Sua... – ele começa, quando volta a superfície. – Eu confiei em você e é assim que você revida?

– Minha vingança ainda não acabou! – assim que acabo de falar isso jogo um jato de água no rosto de Andrew, que fica surpreso. Entretanto, ele se recupera rápido e logo uma guerra de água começa.

– Acho que retiro o que disse! – grita meu pai, por cima de nossos gritos e do barulho da água. Nós paramos a guerra e o encaramos. Ele fala isso sorrindo, de brincadeira. – Estou começando a não gostar de você de novo Andrew!