– O que merda você está fazendo aqui? – pergunto com a voz alta e estridente. Levanto-me da cadeira e dou a volta na cama de Ginna, parando bem em frente ao moreno.

– A minha conversa é com a Gin, Jane. Pode nos dar licença? – Harry está bem mais forte e serio. Seus olhos verdes ficaram mais negros e seus cabelos parecem mais oleosos e compridos. Arrisco-me dizer que ele parece mais assustador.

– Se acha que eu vou sair daqui pode tirar o cavalinho da chuva. – respondo apontando o dedo indicador em direção ao seu peito. Harry respira fundo.

– Eu só quero saber o que houve. Posso pelo menos ter os meus direitos de pai?

– Seu filho da pu... – sou cortada por Ginna.

– Ele tem razão, Jane. Eu não fiz essa criança sozinha.

– Então agora vai acreditar nesse idiota? Depois de tudo o que ele fez? De te deixar sozinha por quatro meses com essa criança na barriga? – eu aponto para Harry enquanto falo isso e me viro para Ginna. Ela levanta uma das sobrancelhas, como se dissesse que nada que eu falasse fosse mudar a sua opinião. Eu bufo. – Estou lá fora se precisarem de mim.

Saio em passos lentos e encaro uma ultima vez Harry, avisando com o olhar que estou de olho nele. Não queria deixar Ginna sozinha com esse cara, mas acho que a minha irmã tem um pouco de razão em querer falar com ele. Além de Harry ser o pai da criança sei que ela ainda é completamente apaixonada pelo idiota. Só espero que isso não a machuque mais.

Encosto-me na parede, ao lado da porta que leva ao quarto de Ginna. Fico assim um bom tempo, pensando nas varias coisas que tem acontecido. Nem percebo quando alguém para ao meu lado.

– Eu disse ao meu pai que você estaria aqui. – exclama Andrew passando os braços ao redor da minha cintura. O abraço foi tão rápido que eu nem tive tempo de recusar.

– O que está fazendo aqui? – pergunto empurrando seu corpo para longe.

– Eu liguei para Sara e ela me disse o que aconteceu. Logo conclui que você estaria aqui ao lado de Ginna. – Andy sorri aliviado. – Nossa, pensei que eu nunca mais iria te ver.

– Então é isso? – eu ergo a sobrancelha direita e me desencosto da parede. – Você me chama de puta e acha que chegando aqui e me abraçando vai ficar tudo bem?

– Qual é Jane! Você sabe que não foi aquilo que eu quis dizer.

– Mas foi aquilo que você deu a entender.

– Olha, eu estou cego de ciúmes, ok? – Andrew aponta para si próprio, como se ele fosse a vitima. – Não é justo a gente ainda se amar e não poder ficar junto. E também não é certo você ficar com o Ian sem ao menos gostar dele.

– E quem disse que eu não gosto dele? Ian é meu namorado, não seria se eu não gostasse. – minha voz fica fina e eu torço a boca quando falo. Isso sempre acontece quando eu minto e Andrew percebe isso.

– Está mentindo. Posso ver em seus olhos que ainda me ama. – o silencio se faz no corredor. Eu não tenho o que responder, negar não vai ajudar em muita coisa. Andrew respira fundo e passa a mão pelo cabelo. – Ele te faz feliz como eu fazia?

– Não. – respondo com sinceridade. Sinto lagrimas se acumulando em meus olhos. – Mas ele não me faz chorar como você me faz.

Assim que acabo de dizer isso ouço um barulho estranho vindo do quarto de Gin. Sem ao menos pensar abro a porta.

– Graças a Deus. – murmura Ginna quando me vê entrando no quarto.

– O que houve? – pergunto olhando para Harry. Ele está parado perto da cama de Ginna e sua cara não é das melhores.

– Eu só estava tentando convencer a sua irmãzinha que o meu filho ficaria melhor morando comigo e não com ela.

– Seu safado de merda! – Ginna exclama com lagrimas descendo pelo seu rosto. – Você nunca vai tirar o meu filho de mim, está escutando?

– Isso é o que vamos ver. – Harry passa por mim e por Andrew e sai batendo a porta do quarto. Andrew olha para nos duas e sai atrás de Harry.

Eu fiquei meio sem saber o que fazer nessa hora. Eu sei que Ginna precisa desabafar com alguém, mas também sei que possivelmente Andrew vai arrumar uma briga boa com Harry.

– Vai. – Ginna declara sorrindo amarelo assim que vê a minha indecisão. Foi como se ela lesse meus pensamentos – Vai atrás dele.

Eu a agradeço com o olhar e saio do quarto. Primeiro vou reto no corredor e acabo chegando na recepção, a mesma pela qual eu entrei. Lá estão Sara e Richard falando com um homem de cabelos grisalhos e jaleco branco. Eu não falo com eles, simplesmente vou em direção as escadas e abro a porta vermelha.

Assim que entro no recinto ouço vozes abafadas, como as vozes na escada ficam, com ecos. Mas só parece uma briga quando desço mais alguns degraus.

– ... E você acha que assim vai tirar a minha raiva de você? – quem grita isso é Harry. Continuo a descer as escadas, só que agora mais rápido. – Desde que a gente era criança você fazia isso!

– Pare de bobagem Harry! – Andrew é a voz da vez. – Você deveria parar de pensar no passado e se voltar para o futuro, cara! Você tem um filho para criar!

– Cala a merda dessa boca, seu idiota! – eu finalmente consigo ver os dois. Eles estão parados em um dos andares da escada, antes da porta. Andrew fecha os punhos quando Harry fala isso. – Vou te bater até você ficar arrombado.

Um sorriso de lado surge no rosto de Andrew.

– Duvido.

Quando Andrew acaba de falar isso me meto no meio dos dois e, antes mesmo de Harry conseguir pensar em partir para cima de Andrew, empurro um para cada lado da escada.

– Parem! Vocês parecem duas crianças! – exclamo. Harry e Andrew me olham surpresos. – Estamos em um hospital, um lugar onde pessoas estão sofrendo. Tenham um pouco de respeito.

– Se eu fosse você eu não me metia, loirinha. – Harry diz caçoador.

– Jane, é melhor você subir. – Andrew puxa o meu braço de leve em direção aos degraus de cima da escada.

– Acha mesmo que eu vou deixar vocês brigarem? Não mesmo! – eu me desprendo do braço de Andrew e caminho até a frente de Harry. – Você já fez o que tinha que fazer aqui. Agora, vaza.

– Já disse pra você sair da frente. – retruca o moreno.

– Harry, eu estou falando na boa. Mas, na moral, você quer que eu chame os seguranças do hospital para te prender? Porque é só eu falar que você encostou em um fiozinho de cabelo meu para isso acontecer.

Ele me olha, analisando o que falei. Sei que isso é verdade, posso fazer um escândalo a hora que eu quiser.

– Você escapou de apanhar dessa vez Andrew. – Harry dá meia volta e desce as escadas rapidamente.

Espero a porta da escada se fechar novamente para me virar para Andrew. Ele está com uma expressão de raiva, fúria. Mas isso passa quando seus olhos se fixam nos meus.

– Não deveria ter feito isso. – declara com a voz mais calma.

– Você é quem não deveria ter feito isso. Se eu não chegasse provavelmente vocês brigariam e os seguranças iriam te prender.

– Se isso é uma indireta para eu te pedir desculpas, então desculpa.

– Isso não é uma indireta.

– Mas desculpe mesmo assim. – Andrew dá um passo à frente e eu tenho que olhar um pouco mais para cima para encará-lo. – Eu sei que o que eu fiz mais cedo foi besteira.

– Bota “besteira” nisso.

– Sério, Jane. – ele ergue a mão direita e roça seus dedos na minha mão. – Eu faria tudo para a gente não brigar mais.

Eu estou me segurando para não o abraçar. Mas acaba acontecendo, já que Andrew é bem mais impulsivo do que eu. Seus braços vão para a minha cintura e a agarram desesperadamente, como se fosse o ultimo copo de água do mundo. Já os meus rumam para o seu pescoço e eu fico na ponta dos pés para alcançar ele.

Mas isso passa rápido. Logo temos que voltar para a vida real, onde somos irmãos. Onde Ginna está passando mal, onde Harry faz ameaças sem sentido, Julian tenta nos manter afastados, Ian continua sendo meu “namorado” e, principalmente, onde continuamos totalmente e completamente apaixonados um pelo outro.