O dia transcorreu normalmente, e após os Meninos Perdidos terem ido dormir, Peter levou Wendy até a Pedra dos Afogados. Ela estava espantada com a escolha do lugar, mas ele lhe pediu pra esperar até a meia - noite.

–---------------------------------------------------

Cansada da espera e vendo que a lua estava em seu ponto mais alto, Wendy voltou sua atenção para o mar e se assustou ao perceber certa movimentação.

–Sereias, Wendy. Eu a trouxe aqui para vê-las, mas não se engane. Elas são lindas, porém seduzem a vítima , levando-a pra dentro d'água a fim de afogá-la e devorá-la.

Ela arregalou os olhos de susto e quase gritou ao sentir um toque gelado em sua mão. Ao olhar, notou que era uma delas. Uma sereia ruiva, de olhos puxados, que a encarava enquanto puxava sua mão delicadamente para água, sem que Wendy percebesse . Peter notou o que o demônio das águas planejava fazer, e com um rosnado, espantou-a e todas as que estavam em sua volta para longe. Quem dera que fosse mesmo Peter quem as tivesse assustado. O que provocou terror nas criaturas foi a visão de uma silhueta escondida nas sombra.

Alguém que por acaso, segurava um gancho em uma das mãos.

–----------------------------------------------------------------

Ora, ora.

Gancho estava certo, por fim. A garota era um deleite para seus olhos. Graciosa, uma menina com corpo de mulher. James estava sedento por ela, mas não por paixão. Por desejo. Queria desesperadamente tocar a pele daquela boneca de porcelana e possuí-la por inteiro, de todas as formas possíveis.

Ele a teria sim, seria mais uma na sua cama, como ele já tinha imaginado e como todas as outras foram também.

James voltou para seu navio, surpreso com a ideia de poder ter a menina e de se vingar de Pan ao mesmo tempo. Por sua mão deformada.

Se vocês pensam que Peter era tão diabólico que cortaria a mão de seu inimigo para derrotá-lo, está enganado. Gancho não havia perdido sua mão.

" Numa noite, James e Pan estavam duelando novamente, pra variar. Estavam na aldeia da princesa Lírio- Tigrino, filha do chefe, e todos os índios tinham ido se deitar. Apenas eles estavam de pé. Eles e a fogueira.

– Vá embora, James. Deixe-a em paz.

– Ora Pan, é só uma pequena índia . Não fará falta.

– É a minha índia. Saia daqui!

Peter era apaixonado pela princesa- índio. E sabia das intenções de James.

–Lute Pan. O mais forte fica com a garota.

Aquilo era tão infantil que fez James querer rir.

Eles começaram a lutar em volta da fogueira. Incansavelmente e por horas, até que o pirata, desperdiçando segundos para recuperar o fôlego, foi atingido na cabeça por Peter e desmaiou. Caiu ao lado daquele fogaréu, com um de seus braços dentro das chamas. Pan voou pra casa, sem notar este detalhe. O garoto não era cruel nem com o inimigo. Se tivesse visto, Peter teria tirado o braço de James do fogo.

Em meia hora, o pirata acordou, com aquele cheiro de carne queimada, e ao perceber o que estava acontecendo, começou a gritar de dor. O céu se escureceu e começou a chover, apagando as chamas da fogueira e do braço de James. O fogo da Terra do Nunca não é tão abrasador e quente quanto o do nosso mundo, mas aqueles minutos foram o bastante para deformar a pele de James. Aquilo ficou em carne viva, e depois de cicatrizar, virou algo horrendo. Um membro digno de um monstro, que James ficou tão envergonhado que nunca mais mostrou em público. Passou a usar um gancho para esconder a mão. Daí veio seu apelido. James Gancho.

Ele ainda era marujo naquela época, mas a fúria tomou conta dele, que jurou se vingar de Peter. Naquela mesma noite, ele matou seu capitão e por ser o mais velho, depois do homem morto, tomou o controle do navio. Tornou-se capitão. Capitão Gancho, um nome que muitos teriam medo de pronunciar."

Odiava lembrar daquele episódio. James afastou aquela lembrança da sua mente e voltou a pensar em como ganharia a garota e se vingaria de Pan.