Água fluorescente

Dois anos depois da formatura

Aaron

Era o mês de abril, e a faculdade ficou de recesso, por causa da semana santa. Eu fazia a mesma faculdade que Alexia, porém ela estava lá mais tempo que eu. Exatamente, um ano. No começo do ano, eu planejei uma viagem com Alexia. Conversamos e concordamos em reservar um quarto no Hotel & Beach Miami Club.

É um lugar com um espaço enorme e bem bonito. Tinha em torno de 4 piscinas sem contar com as pequenas e as piscinas de hidromassagem. No total, tinha, de acordo com meus cálculos, 13 piscinas. Tinha SPA, e até hoje não sei pra que serve, e tinha dois campos de futebol e uma quadra de vôlei. Também sei que tem um bar fora da piscina e dentro da piscina. E um restaurante perto do hotel. Alugamos um quarto que além te ter uma suíte, tinha frigobar e TV á cabo.

A verdade é que tinha planejado essa viagem há tempo, então juntei um dinheiro o suficiente para pagar o que minha namorada queria.

Depois da formatura, seis meses depois, ela tirou a carteira de motorista e comprou um carro baratinho, antigo, e roda muito. Claro que tivemos que levar ao conserto. Ela ia dirigir, porque eu não sabia dirigir. E eu queria uma moto.

Viajamos meia noite e a viagem durou 7 horas.

Foi a melhor viagem de todos os tempos.

***

Alexia

Quando cheguei ao Hotel, a primeira coisa que eu fiz, foi descansar. Dormi e acordei no final da tarde, dando tempo de ver o pôr do sol. Aaron tinha acabado de sair do banho, e ele riu com o meu estado.

Estava com a cara toda amassada, ainda com sono, descabelada, e com a mesma roupa. Eu estava me sentindo suja. Levantei da cama, caminhando até a mala pegando minhas vestimentas.

Saindo do banho, Aaron me esperava ouvindo música do meu celular.

–O que está ouvindo? –Perguntei.

–30 seconds to mars. –Arrumei-me e sentei ao seu lado colocando o fone. Tocava Hey Jude! -Remember to let her into your heart –Cantei. –Estou pronta.

–Vamos ao restaurante? –Assentimos e antes de passarmos realmente no restaurante, damos volta conhecendo o lugar.

A noite, o lugar fica lindo. Tinha algumas árvores, e eram constituídas por pequenas lâmpadas. E o céu, bastante estrelado, deixava o local magnífico. Eu estava no paraíso, sem dúvidas. No jantar, comemos uma comida estilo surf n’ surf, que é metade carne e metade frutos do mar. Tomamos vinho, o que deixou o clima romântico e como sobremesa, nós escolhemos petit gateau, que é um mini bolo com recheio dentro, e vem com uma bola de sorvete.

Estava uma delícia. Estou adorando e aproveitando cada momento.

[...]

No dia seguinte, ficamos o tempo todo na piscina. Tinha quatro toboáguas, enormes, mas de diferentes formas. Vermelho (que é todo fechado e não tem curvas), azul, (não tem a parte de cima, e também não tem curvas), o amarelo (fechado, porém tem curvas) e verde ( que a sua forma é de caracol e contorna todos os tobogãs, e é fechado.)

O verde é o meu preferido, o ruim é que você só tem a visão completa da piscina quando você estiver no topo, e confesso que tenho um pouco medo de altura.

–Precisamos ir para o toboágua verde. –Disse puxando o Aaron junto.

–De novo?

–Eu não lembro ter andado no verde. –Respondi, cruzando os braços, e encostando a cabeça no seu ombro. Ele riu e tentou me beijar, só que eu desviei.

–Você acabou de recusar um beijo meu?

–Te beijo lá embaixo, vamos. –O puxei e eu sei que ele riu e revirou os olhos. Éramos o próximo na fila. O cara riu pra mim, e eu ri também, e senti um braço rodear minha cintura. –Podemos ir juntos? –Perguntei, ignorando Aaron.

–Claro que sim, podem ir. –Respondeu e Aaron encarou o cara antes de ficar a minha frente. Mordi seu queixo e subi nas suas costas. Ele pegou minhas coxas e se sentou. Descemos, e eu gritei igual louca pela décima e quarta vez. Aaron nenhuma vez, soltou minhas coxas.

–Tampe o nariz, vamos mergulhar. –Gritou, tendo em vista que logo em segundos, iríamos afundar na água. Segurei minha respiração e abracei minhas pernas no seu tronco. Debaixo d’água, pude ver seu rosto e seu cabelo flutuando. Eles estavam um pouco grandes. Ele virou o corpo e puxou minha cintura selando nossos lábios.

[...]

Train

Abri os olhos, bocejando. Espreguicei o meu corpo. Percebi que o Aaron não estava no quarto. Bocejei novamente e peguei minha toalha entrando no banho.

Quando saí do banho, Aaron entrou no quarto.

–Onde estava? –Perguntei secando o meu cabelo.

–Lembra o panfleto que vimos na parede, ontem no restaurante? –Balancei positivamente, relembrando a cena. O panfleto falava sobre o campeonato de danças de casais. E ganhava prêmios. –Fui conferir. Vai ser amanhã, ás 20h, e o prêmio é um tablet. Quer ir?

–Claro, quero aproveitar tudo! –Respondi um pouco empolgada. –Amanhã quero passar no SPA.

–Me explica o que é isso?

–Onde ocorrem massagens, sabe banhos de lama? –Perguntei e ele assentiu. –Então, tem isso, tem aquelas pedras quentes que ajuda relaxar o corpo. Ele propõe o conforto ao cliente.

–Curti. Relaxar antes que as aulas e o trabalho voltem. –Murmurou e sorriu, ele me fez sentar no seu colo de lado e beijou minha bochecha. –Vamos para a piscina principal?

–Mas está fechado, apenas hidromassagens estão abertas.

–Eu sei, mas vamos quebrar as regras apenas hoje. –Fez voz manhosa, e eu dei um peteleco na sua testa.

–Tem alguma coisa lá não tem? –Disse obviamente.

–Disseram-me que a noite lá do topo do toboágua, através do muro, você consegue ver os vagalumes.

–Sério? –Perguntei um pouco empolgada. Será que eu vou? Mordi os lábios, nervosa. –Vamos! –Sussurrei.

Aaron entrelaçou nossas mãos, e caminhamos pelo corredor. Demos a volta por trás, para não sermos pegos por seguranças. Do jardim pude ver a toboágua. Deu frio na minha barriga, porque estava com um pressentimento bom. Sério, nunca tinha visto vagalumes. Deve ser lindos. Algumas pessoas dizem que quando junta um bocado deles, você fica maravilhada.

Chegamos ao toboágua e tivemos que subir pela escada porque o portão estava trancado. Subi primeiro e Aaron mantinha uma mão na minha cintura, se algo desse errado e me desequilibrasse. Fiquei em pé, e não tinha ninguém, eu acho. Olhei através do muro e não tinha nada. Olhei ao redor, e nada.

–Cadê a porcaria dos vagalumes? –Perguntei e estava zangada. –Você sabia que eu queria ver a droga dos vagalumes. Eu estou muito zangada Aaron -Ele me encarava e mexeu o cabelo nervoso. E olhou para baixo, e por impulso olhei também.

Eu... Cara... Estou sem palavras... Quando olhei para baixo, foi como se tivesse nascido novamente. Meu coração batia forte, eu sentia minhas veias por debaixo da minha pele. A água estava fluorescente.

Não eram vagalumes, eu tinha certeza.

Em letras grandes e no meio da piscina estava escrito algo que eu não esperava.

‘’MANTENHA CALMA E CASA COMIGO?’’

Eu comecei a chorar, fiquei de frente e encostei a minha cabeça no seu ombro.

–Amor... Não chore! –Ele sussurrava várias vezes.

Casamento envolve muitas coisas. Não é uma brincadeira. Um casamento perfeito é quando há amor nele. Amor é essencial em um casamento. Se eu vou dizer sim? Claro, existe amor, e não é pouco. Nós dois sabíamos disso. Só que eu não vou casar agora, atrapalharia minha faculdade, a dele, e precisamos de dinheiro. Casamento envolve família, envolve duas pessoas e futuramente, envolverá 3, 4 ou mais. E acima de tudo, para um casamento feliz tem que ter fidelidade. E sou fiel á Aaron e ele á mim. Casamento não é um ‘’felizes para sempre’’. É um desafio de você permanecer com a pessoa para o resto de sua vida, de reconstruir o amor todos os dias, cada minuto, cada segundo.

–Sim! –Abracei seu pescoço com força e comecei a rir. –Sim! Quero casar contigo. Eu te amo! Sim!

–Também te amo meu amor! –Ele disse mordendo minhas bochechas. –Eu te prometo várias coisas: eu te prometo te acordar todos os dias com um beijo, te prometo deixar você ganhar algumas vezes no jogo, prometo deixar você me ensinar a fazer comida, prometo deixar você ver aquela novela chata, prometo te levar ao shopping para comprar o que você quer, te prometo te buscar todos os dias do trabalho com minha futura moto mesmo você tendo carro, prometo te levar para viajarmos pelo menos uma vez ao ano, prometo que farei de tudo para não mentir a você, prometo te contar a verdade mesmo que demore um mês, prometo trazer uma flor para você cada semana, já que você ama. Ainda te prometo muito.

Eu já estava chorando ali, de novo.

–Prometo deixar você ver os jogos, e se a final do jogo for ao mesmo horário que minha novela, eu deixo de ver para ver contigo e não converso quando está rolando o jogo, prometo fazer um tira gosto no meio do jogo, prometo não reclamar muito porque sei que venho reclamando muito. Meu Deus, eu não sei o que mais prometer sem ser algo relacionado a jogo! –Ri sem graça e ele sorriu me puxando. –Ah sim! Prometo te deixar sozinho quando estiver nervoso. Mesmo que você tenha uma calma que me irrita.

O amor não começa na palavra, o amor começa no olhar. Um abraço, apenas um abraço daquela pessoa que ama, nos faz sentir no topo do mundo.

–O teatro nos uniu. –Disse.

–Não, Deus nos uniu.