Isso só vai piorar, quer apostar?

–Alexia! –Revirei os olhos e virei encarando o Aaron. –Dá pra gente conversar?

–Quem sabe outro dia? Pode deixar que eu não vou desaparecer. –Ironizei. Voltei a andar pelo corredor e ouvi passos apressados e novamente ele estava na minha frente. Bufei, olhando para o lado e cruzei os braços. –Perdeu alguma coisa?

–Não seja grossa, eu não vou deixar você passar enquanto a gente não conversar. –Tentei várias vezes passar por ele e desisti batendo o pé no chão. –Deixa de infantilidade e vamos conversar.

–Infantilidade? Não fui eu que fiquei fora de casa fazendo sei lá o que e ainda por cima, desligou o celular.

–Eu precisava ficar sozinho, eu fiquei no parque sentado na grama o dia inteiro.

Eu não acredito que ouvi isso. Sinceramente.

–Quer saber Aaron? Vai catar coquinho.

–Eu estou dizendo a verdade.

–Por quê? Por que você precisava ficar sozinho? –Ele ficou desconfortável, percebi isso. –Quando você confiar em mim, conversamos.

[...]

Agora é a penúltima aula e é Educação Física. Último horário será também Educação Física. A treinadora mandou para que todos dessem cinco voltas na quadra. Coloquei os fones e deixei no último volume.

♪ I think about you all the time you're so addictive
Don't you know what I can do to make you feel all right?
Don't pretend I think you know I'm damn precious ♫

Girlfriend é a música perfeita para uma corrida, além de ser animada.

Depois de ter dado cinco voltas, fizeram uma fila para que jogássemos a bola na cesta. Basquete. Vez ou outra, os meninos ajudavam as garotas. E elas adoravam. Ri quando Coxinha tentou ensinar a Chloe. Ele errou a cesta três vezes seguida.

Quando foi a minha vez, Aaron perguntou se eu queria ajuda. Ri fraco. Olhei para cesta e joguei a bola.

–Cesta! –Gritou a professora. –Muito bem Alexia. –Olhei para o Aaron e ele assentiu.

Se quer ficar assim, tudo bem.

Essas foram as palavras que ele sussurrou. E eu tive medo delas.

***

Aaron

Saí irritado da quadra. Ela estava ridícula, apesar de ter gostado quando ela acertou a cesta. Entrei no ônibus e sentei no fundo. Depois todo mundo foi chegando e começaram a zuar, mas resolvi ficar quieto.

–O que tá pegando entre você e Alexia?

–Está de frescura, nem ligo pra isso. Quero mais que ela se foda.

Senti na hora algo me acertando. Vi o estojo roxo cheio de flores e rabiscado no meu colo. Olhei pra frente e vi Alexia brava com rosto vermelho. Não estava chorando, mas faltava pouco. E ela estava muito furiosa.

–BABACA! –Ela gritou e virou indo para porta. Pediu o motorista que abrisse a porta e desceu.

Todo mundo me encarava, portanto não diziam nada. E foi assim, o caminho todo.

É. Ela tinha razão. Eu sou um babaca.

***

Alexia

Incrível como as coisas podem estar boas, mas em outro segundo, tudo piora. Quando desci do ônibus, eu vi que eu estava muito longe de casa. Eu não tinha dinheiro, então voltei pra casa a pé.

Mas no caminho, eu chorava. Controlei-me um pouco para que o Seth não me visse assim quando chegasse a casa. Diferente de mim, o Seth era forte. Toda vez que eu via meu pai eu chorava, mas ele não. Ele dava um jeito de me alegrar.

Entrei pela porta dos fundos e chamei o Seth e logo ele apareceu.

–Já que hoje você não tem aula, vamos para o shopping?

–Só eu e você?

–Só eu e você. –Afirmei e subiu as escadas trocando de roupa. Banhei rápido e usei apenas um vestido solto, sapatilha e fiz um coque no cabelo. Uma hora depois chegamos ao shopping e fomos direto para loja de brinquedos.

–Demorou hoje. –Seth comentou.

–O ônibus estragou então resolvi ir embora e no caminho parei para ver sapatos.

–Aaron foi lá pra casa e entregou seu estojo. Disse que você deixou cair no ônibus. Vocês brigaram? Ele parecia triste ou culpado.

–Você devia ser psicólogo. –Falei. Ele repara em tudo. –E eu e Aaron somos apenas conhecidos.

–Vish, pelo jeito a coisa foi séria. Quando você e o Zac brigaram, foi a mesma coisa.

–Você está muito enxerido, concentra no seu jogo.

***

Aaron

Deitei no sofá exausto, e fui ver televisão. Lá pra duas horas da tarde, meu pai acordou. Ele estava de folga hoje.

–Sua mãe te ligou. Falou que quando você chegar é pra ligar pra ela e imediatamente.

–Já é duas horas da tarde e eu estou com fome.

–E eu com isso? Se vira rapá. –Ignorei e peguei telefone discando o número.

–E ai mãe?

–E aí? E aí? Você não me ligou desde que se mudou filho da puta.

–Você tá ligada que se chamou de puta né?

–Cala a boca Aaron e como você não me conta que tinha uma NAMORADA?! –Grita.

–Só se for invisível. –Respondi encarando meu pai, o mesmo olhou pra mim e riu. Vai rindo... –Viaja não mãe, não tenho namorada.

–Como estão as coisas?

–Melhor que isso impossível. –Ironizei e ela começou a falar um monte de coisa. Disse que tinha que visitar ela, que ela estava com saudades de mim e do meu pai, perguntou como está minha alimentação, aquela coisa de mãe. –Então mãe, eu preciso desligar. Já é quatro horas e nem almocei.

–Como assim você não almoçou? Está faltando comida ai? Caramba, vou xingar seu pai. Mas aqui meu filho, só queria te avisar que você vai passar o fim de semana aqui em casa, seu pai já sabe. Vai bem bonito, você vai conhecer seu padrasto.

Putz... Aposto que tem alguma coisa pra piorar.

–E o filho dele também vai está lá, ele é da sua idade querido. Agora tenho que ir, beijos. LIGUE-ME!

Falei.