Capítulo 02 - Dialogando

Revisado (08/04/2020)

''A perfeição da própria conduta consiste em manter cada um a sua dignidade sem prejudicar a liberdade alheia''.

Voltaire

Alexia

Finalmente era sexta. Eu gostava de sexta porque simplesmente entrávamos no fim de semana e eu poderia passar o fim de semana com o Seth, sem me preocupar se ele está bem ou não. No entanto, hoje era sexta feira especial. De ontem para hoje, a maioria dos alunos comentavam sobre a festa. A festa, que ocorre sempre no mês de maio, seria na casa de Zac Tawkns, o meu ex-namorado e o rapaz mais cobiçado da escola. Muitas garotas sonham em ter seu beijo, mas ele é o tipo de rapaz que gosta de namorar. Então, para ele, a arte da conquista é um passo importante para mostrar o quão homem é e quão orgulhoso sua mãe ficaria ao ver que seu filho não é um pegador.  Zac é uma ótima pessoa, porém é muito puteiro. Durante o nosso namoro, ele queria passar uma boa parte do dia fazendo sexo em diversos lugares.

Quando pedi a minha mãe, ela me olhou preocupada.

—Você sabe que seu pai não pode sonhar que você está indo se divertir, certo?

—Ele não vai descobrir. –Afirmei. Minha mãe me olhou meio duvidosa, mas sorriu selando um beijo na minha bochecha.

—Então vai se aprontar. –Subi as escadas, fui até debaixo da minha cama e peguei minha mochila. Olhei para o Seth que até agora observava meus passos. Dei um beijo na sua testa.

—Se cuida, meu amor. Logo estou de volta. –Ele sorriu com aqueles olhinhos grandes e me abraçou.

Desci as escadas e meu pai que estava procurando uma cerveja na geladeira, virou-se para mim, com uma expressão carrancuda.

—Onde você pensa que vai? –Por um segundo, eu estremeci. Olhei para ele, séria e depois para minha mãe que parou de olhar a comida para virar para nós.

—Ela vai para uma casa de uma amiga. –Minha mãe respondeu por mim.

—E quem deixou? –Retrucou meu pai.

—Chega Higor! Ela vai para casa de uma amiga e ponto final.

—Cala a boca mulher. –Rosnou. Tudo que eu não queria é vê-los brigarem novamente. Subi as escadas e Seth olhava triste para mim.

—Estão brigando de novo. –Sussurrou choramingando. Abri o armário e peguei um conjunto de roupa minúscula.

—Vai tomar banho. Você vai comigo.

***

Aaron

A batida de som estava fascinante e deixavam as pessoas animadas. As pessoas daqui me cumprimentavam como se me conhecesse há tempos e gostei dessa característica regional. Coxinha trazia a cada minuto uma bebida diferente.

—Experimenta esse. –Ele me trazia diversas bebidas sem álcool. Ele explicou que era contra bebidas com álcool porque avó dele morreu no acidente, sendo que estava embriagada. Sinto que ele vai ser um grande amigo.

Algumas garotas me encaravam.... Querendo algo mais, pressuponho. O problema é que eu não gostava de ficar com as garotas. Preferia conquistá-la apesar de que sou um pouco tímido.

Coxinha conversava comigo e calou-se no meio de uma frase, fixando o olhar para algo atrás de mim. Segui seu olhar.

Caraca! Não estou acreditando nisso.

***

Alexia

Eu já imaginava que receberia os olhares assim que eu colocasse os pés na entrada. Mas não imagine que TODOS os olhares fossem direcionados a mim. Sorri de lado e puxei uma das mãos de Seth.

—Você endoidou, Alexia? –Liz correu em minha direção, gritando.

—Abaixe o tom. -Disse emburrada.

—Alô, garota, essa festa é muito adulta para o seu irmão.

—Eu sei. –Respondi. –Ele vai ficar no quarto de cima. Vou ficar com ele.

—Mas. –Parou e chegou perto dos meus ouvidos. –E os garotos? –Sussurrou. Repreendi-a com olhar e ela deu de ombros. A Liz é fissurada por rapazes e falava a maior parte sobre eles. Que coisa irritante.

Alguns me encaravam com perplexidade, outros me olhavam indiferentes, me olhavam confusos... Bufei e puxei o Seth pela mãozinha e caminhei, fazendo todos ali se afastarem e deixando o corredor livre. Subi a escada e adentrei em um quarto vazio.

— A música parou. -Seth falou e eu inspirei, sentindo ficar mais irritada.

—Fique aqui, já volto. –Saí sem esperar pela sua resposta. Desci a escada, ouvindo vários cochichos sobre a minha chegada. Quando cheguei ao final da escada, todos olharam para mim. –Continue a festa. Não é a primeira vez que ele vai a uma festa deste tipo. –Menti. –Ele já foi a bem piores. –Ouvi gritos e pessoas pulando.

Justine ligou novamente o som e eu sorri. Global Deejays de The sound of San Francisco é umas das melhores músicas deste estilo. Antiga, mas muito boa.

Voltei para o quarto encontrando meu irmão dançando loucamente. Juntei-me a ele.

***

Aaron

Caraca! A menina é muito corajosa pra trazer o irmão. Só que não caí no papo dela que o irmão dela já foi em festas deste tipo. Na entrada, o garoto estava com a expressão indiferente, mas eu vi quando ele apertou a mão da Alexia.

—Vou lá pra cima. –Falei.

—Ei! Ei! Já quer ficar com ela? Deixa a Alexia chegar e respirar. E o irmão dela está lá e...

—Não enche, Coxinha. –Interrompi-o. –Só quero conhecer o irmão dela. Nem estou afim da garota.

—Ainda não... –Murmurou, mas eu ignorei. Fui a cozinha e peguei refrigerantes e salgadinhos. –O que você vai fazer com isso?

—Levar para o menino. É uma tática para conseguir informações. –Menti.

—Você é mente mal, cara. Enganar uma criança. Mas tenta convencer a Alexia. Ela tem muito ciúmes do irmão e adora dá uma patada.

Balancei a cabeça e fui procurando em cada quarto até que eu os achei. Eles estavam dançando bem animados. Alexia estava em cima da cama jogando cabelo pra todos os lados e o pequeno estava no chão fingindo tocar guitarra. Gargalhei alto chamando atenção deles. Depois de vários minutos, eu consegui parar.

—Parou de rir, ô engraçadinho? –Alexia resmungou cruzando os braços, próxima a mim. –O que é isso? –Apontou para comida.

—Achei que seu irmãozinho iria ficar com fome. Afinal, qual é o nome dele?

—Meu nome é Seth. –O rapazinho moreno respondeu por ela. Correu até a mim, puxou os salgadinhos abrindo e já enfiando na boca.

—Rapazinho, olha a educação, agradeça-o. –Alexia olhou para ele e o Seth sorriu.

—Obrigado. Quer? –Me ofereceu. Eu neguei.

—O que está fazendo aqui? Não quero os seus amigos aqui no quarto. –Desviei o olhar do guri e encarei a morena.

—Posso ficar aqui? –Perguntei. Ela ergueu a sobrancelha. –Não gosto de meninas me encarando. Parecem que querem me comer. –Praguejei. –Desculpe aí, eu esqueci completamente dele. –Ela me encarou por alguns instantes e riu baixinho, fechando a porta.

***

Alexia

Passamos uma boa parte jogando conversa fora e brincando. Seth cansou e se deitou na cama. Folgado.

—Alexia, por que ele está aqui? Não acredito que seja o que você falou lá embaixo. –Falou um pouco tímido.

Não gostava de falar sobre a minha vida, mas eu contei. Sem qualquer pretensão.

—Meus pais estavam brigando e eu não queria que ele presenciasse.

—Mas é normal os pais brigarem.

—Os meus brigam todos os dias. Não deixam passar um dia.  Acho que vão separar e eu não quero isso para o Seth.

—Ter pais separados é muito bom. –Olhei para ele, incrédula, que deu uma risadinha baixa. –Você tem dois lugares para morar e as brigas acabam.

—Eu não ligo para casa. Seth que vai sofrer com tudo isso. –Sussurrei, observando se o meu irmão estava espiando a nossa conversa.

—Eu não tinha pensado nisso. Nunca tive irmãos.

—Queria ter? –Perguntei.

—Não. –Respondeu. –Sou uma pessoa fácil pra fazer amizades.

—Já percebi. –Rimos. –Todos acham que minha vida é perfeita e que não tenho problemas. Mas... Eu até prefiro que eles pensem assim.

Ficamos um bom tempo em silêncio. Um silêncio confortável.

—O seu segredo está guardado comigo.

Não era segredo, mas gostei de ele ter falado isso. Prefiro mesmo que as pessoas pensem que sou perfeita.