Sozinhos no Escuro escrita por Jessé Diniz


Capítulo 1
Capítulo 1




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Capítulo Um
A partir do momento em que você abrir esse livro, sua vida não será mais a mesma. Você obterá informações sigilosas, e precisará se proteger. Você se tornará um sobrevivente. Você se tornará um caçador. Você se tornará um Anjo do Apocalipse.
Meu nome é Jason Phoenix. Tenho dezessete anos de idade. Modéstia a parte, eu era um cara inteligente e bem bonito. Bem, pelo menos eu achava que era. Minha inteligência era muito reconhecida, ao contrário de minha beleza. Por isso que eu tinha certeza que era inteligente, e apenas achava que era muito bonito. Ah, você entendeu.
Mesmo assim, nunca tive muita sorte com as garotas. E não me pergunte por que, pois eu não sei. Se eu soubesse, com certeza teria feito algo para mudar isso. As únicas garotas que conversavam comigo eram Isabelle e Jessica, minhas melhores amigas. Fora elas, eu só tinha amizade com mais uma pessoa. Essa pessoa era Zack, meu melhor amigo.
Nós quatro nascemos nos Estados Unidos. Em Columbus, no estado de Ohio, para ser mais exato. Os pais de nós quatro jogaram juntos no time de futebol do colégio. Nossas mães se conheceram na faculdade. E não, não faço ideia de como eles as encontraram.
Assim como eu, Zack também nasceu há dezessete anos atrás. As garotas nasceram dois anos depois. Mudamo-nos para o Brasil dois meses após o nascimento de Belle, a caçula da turma.
Quando éramos pequenos, todos nós protestamos nossa vinda para o Brasil. Sabíamos que lá com certeza era um lugar melhor para se viver. Faculdades, empregos, e tudo o que os EUA podiam nos oferecer do bom e do melhor. Quando reclamávamos disso, nossos pais diziam que, por mais que não parecesse, isso seria melhor para nós. Era como se eles quisessem nos
proteger de alguma coisa. Bom, todos os pais têm esse lado protetor. Mas, se esse fosse o caso deles, havia proteção demais.
Foi então que viemos para Lins, uma cidade no interior de São Paulo. Até que é uma cidade legal para se viver. Pelo menos, eu gostava de viver aqui. Com o tempo, me acostumei. Era uma cidadezinha pequena, com pouco mais de 70 mil habitantes. Exceto pelo fato de não haver um shopping na cidade.
Estudávamos no Centro Paula Souza, ETEC de Lins. Zack e eu estávamos no terceiro ano do ensino médio. Jessica e Belle estavam no primeiro.
Nossa escola até que era bem legal. Ela era grande, mas possuía um único corredor. Um corredor muito estreito, aliás. A parte mais chata da escola era que éramos obrigados a usar uniforme. Um uniforme branco, de mangas pretas e que carregava o emblema da escola no lado direito. Além disso, tinha uma gola em V que ficava pinicando meu pescoço. Principalmente em dias quentes. Levando em consideração à região em que eu morava, era quente o tempo todo. Às vezes, ao invés de dizer que estava calor, eu dizia que Lúcifer havia nos proporcionado uma amostra grátis do Inferno.
Por intermédio do bom Deus, esse era o último ano meu e de Zack nessa escola. No ano seguinte, iríamos começar a faculdade. Só não havíamos decidido o curso ainda. Eu optava por algo relacionado à informática, enquanto Zack optava por algo relacionado à química. Ou, caso nenhuma das escolhas funcionasse, uma opção mais plausível era não fazer faculdade.
Já estávamos no mês de agosto. Apenas mais um bimestre de aula e eu estaria livre daquela escola. Não é que eu não goste da escola, ou que a escola tenha um mau desempenho. É que eu não gostava de certas pessoas que estudavam ali. Apenas isso. Era meio que uma lei natural na vida de todos os adolescentes: odiar a escola e alguns alunos dela.
Bem, como em todas as escolas, sempre tem aquele aluno que se destaca entre os demais. Mas também há o aluno valentão que, por falta do que fazer, fica enchendo a paciência do aluno nerd. Gabriel Camussi era o aluno nerd, que não se relacionava com nenhum outro aluno da escola. Victor Braga era o aluno mais popular da escola. Capitão do time de futebol, e sempre namorava as garotas mais lindas. Além disso, era o aluno que atormentava Gabriel.
Todos os dias, sem exceção, eu via Victor maltratando Gabriel, mas nunca tomei nenhuma providência. Mesmo que eu pudesse, não podia fazer isso. Victor e eu nos odiávamos, por causa de uma briga antiga. Briga a qual eu não gostava de lembrar o motivo. Pra ser sincero, odiava lembrar o motivo. Hora com ofensas, hora com empurrões, Victor atormentava-o. E o pobre do Gabriel nada podia fazer. Ele era baixinho e gordinho, e eu duvidava muito que ele fosse dar um soco em Victor, que era duas vezes maior que ele.
Mas um dia, tudo mudou.
Era uma quarta-feira, e estávamos na aula de História, com a D.Maria, um mulherão de uns 35 anos, ruiva, corpo esbelto por causa da malhação e, para a sorte de todos os garotos da escola, solteira. Faltavam dez minutos para o intervalo, e eu não aguentava ficar mais dentro daquela sala de aula. Não por causa da professora linda, nem por causa da matéria, que eu adorava, aliás. Eu queria sair em razão da mistura da fome com o sono e o cansaço.
Quando tocou o sinal, levantei-me da cadeira, dei um grande suspiro, olhei para Zack e disse:
- Ufa, até que enfim. Não aguentava mais.
Começamos a andar em direção à porta da sala, tomando cuidado para não trombar nos alunos desesperados que estavam loucos para sair dali. Uns para comer, outros para ir ao banheiro e outros para namorarem, mesmo sendo proibido esse terceiro tópico. Enquanto andávamos, Zack me respondeu:
- Eu também não. Estou morrendo de sono.
- Então somos dois que estão com sono. - respondi, após um bocejo.
Zack e eu saímos de nossa sala e fomos para a sala de Jessica e Belle. A sala delas era no meio do corredor. A nossa era no fim do corredor, lado direito. Quando chegamos lá, tivemos de esperar um pouco. Várias pessoas passaram trombando por nós, naquele corredor estreito, enquanto aguardávamos a saída da turma de Belle e Jessica.
Três minutos após o sinal do intervalo, que tocava às 09h30, a porta se abriu, e os alunos começaram a sair da sala. Elas demoraram um pouco para sair, pois estavam fazendo prova de matemática.Eu, particularmente, não gosto do Sr. Cougar, o professor de matemática da escola. Ele tinha uns sessenta anos, barba rala, uns poucos fios loiros na cabeça, e me odiava. Eu também não ia muito com a cara dele. Nunca nos demos bem. Não há motivos para esse ódio entre nós dois. Apenas não nos gostamos. E, como eu me lembro de ter dito, é comum do adolescente odiar ao menos um de seus professores.
Quando se odeia mais de um dos professores, há cem por cento de chance de um deles ser o professor de matemática.
Logo que elas saíram, começamos a andar em direção à cantina. Um lugar que só era calmo nas férias, porque todo santo dia uma enorme fila de adolescentes gulosos se formava, para comprarem lanches, salgadinhos, refrigerantes e coisas afins. Era no pátio, a céu aberto. E, na chuva, a fila não diminuía nem um pouco de tamanho, se era isso que você queria saber. A galera tinha tanta fome que até tomava chuva por causa de comida.
- Como foram na prova? – perguntei.
- Pergunta besta - respondeu Jessica. – Sua amiguinha nerd aqui deve ter ido muito bem, pra variar. Quanto a mim, já nem me importo se tirei ou não uma boa nota. Não gosto dessa matéria mesmo.
Zack e eu começamos a rir, pois sabíamos que era verdade. Jessica não se importava com suas notas, pois, por incrível que pareça, ela conseguia recuperar todas no último bimestre. Colando, é claro. Era só dar em cima dos garotos inteligentes que eles passavam as respostas para ela. E o pior é que essa droga de estratégia sempre funcionava.
Enquanto caminhávamos em direção à cantina, desviei meu olhar para o outro lado do pátio, pois vimos um grupo de pessoas formando um círculo em volta de alguma coisa. Pude perceber que algumas das pessoas estavam batendo palmas e gritando: Briga! Briga! Briga!
Bati no ombro de Zack, e desviei meu olhar para o tumulto. Ele compreendeu, e nós quatro começamos a caminhar até lá. Quando nos aproximamos, vi Victor com os punhos fechados e vi um garoto ruivo caído no chão. Quando me aproximei um pouco mais, percebi que aquele garoto era Gabriel.
No mesmo instante eu sabia que teria de parar aquilo, de uma maneira ou de outra. Então, fiz a única coisa que eu poderia ter feito naquele momento: entrei na briga.
No momento em que Victor foi dar um soco no rosto de Gabriel, eu o segurei pelo pulso e o empurrei para fora da rodinha.
- Acabou, Victor – disse eu, com voz de tranquilidade. Olhei para Gabriel e perguntei. – Tá tudo bem, cara?
Ele apenas assentiu, limpando um filete de sangue do canto de sua boca, quando percebi que Victor vinha correndo em minha direção, dizendo:
- Você está enganado! Está apenas começando.
Ele se posicionou para me dar um soco. Quando o fez, eu segurei sua mão e lhe dei uma cabeçada. Doeu um pouco, porque levei minha mão à testa, no mesmo instante. Olhei rapidamente para trás, e vi que dois garotos do primeiro ano estavam retirando Gabriel do chão. Menos mal.
Logo que Victor caiu, ele chutou minhas pernas, com a intenção de me derrubar. Não consegui desviar a tempo. Ele acertou meu tornozelo esquerdo com o chute. Desequilibrei-me e acabei caindo para trás.
Quando ele foi se jogar em cima de mim para me bater, eu esquivei para o lado e me levantei. Ele tentou segurar minha perna, mas nessa hora o peguei pela gola do uniforme, o levantei até a altura do meu rosto e disse, com ar de autoridade:
- Acabou, Victor.
Então, joguei-o no chão, pedi espaço para passar e comecei a andar. Segundos depois, ouvi passos de alguém correndo em minha direção. Retirei meu celular do bolso, olhei para a tela dele e pude ver, pelo reflexo, que era Victor que estava correndo atrás de mim. Enganava-se ele ao pensar que me surpreenderia. Eu já estava acostumado com esse tipo de situação. Por causa de seu antigo trabalho, meu pai me ensinou a ser mais atento à sons, para que eu pudesse me defender, quando necessário. Essa era uma dessas situações.
No mesmo momento, parei onde estava e disse:
- Sabia que é desleal atacar um inimigo pelas costas?
Logo em seguida, me virei e lhe dei um soco na cabeça. No mesmo instante ele foi ao chão. Felizmente, ainda estava acordado, mas estava um pouco tonto. Bem, tonto ele já era. Ele ficou era meio grogue.
Todas as pessoas presentes no local começaram a me ovacionar. Não sei se deveria me sentir feliz pelas ovações ou se deveria ficar ruim pelo que fiz à Victor. Mas, convenhamos. Ele merecia uma lição.
Pude perceber que tinha alguém atrás de mim. Quando me virei, tive uma surpresa: o diretor, o Sr. Duncan, estava bem atrás de mim.
O Sr. Duncan era como a maioria dos outros diretores: pele clara, gordinho, cabelos castanhos claros cacheados. Mas as aparências enganam: o Sr. Duncan era muito rígido, e comigo e com o Victor não seria nem um pouco diferente.
- O que está acontecendo aqui? – perguntou ele, com ar de autoridade.
- Bem, Sr. Duncan – comecei, – o Victor estava batendo em Gabriel, então entrei na briga para defendê-lo.
- Isso é verdade, Victor? - perguntou o Sr. Duncan, olhando para o Victor, que ainda estava deitado no chão.
- É sim, Sr. Duncan. – respondeu Victor, cuspindo um pouco de sangue no pé de uma das alunas, que o xingou e foi correndo para o banheiro, limpar seu tênis.
- Quero você em minha sala agora! – gritou Sr. Duncan para Victor.
Depois, ele me olhou olho no olho e disse:
- Desta vez você escapou, Jason. Desta vez...
Eu assenti, dando-lhe uma risada falsa.
Ele levantou Victor do chão para levá-lo a sua sala. Victor virou para trás e disse em alto e bom som, para que todos ali escutassem:
- Te pego lá fora, Jason. Isso ainda não acabou.
Sr. Duncan o puxou com força, para Victor ter certeza de que aquela briga havia acabado. Mesmo assim, respondi-o, para ele ter certeza de que eu não tinha medo dele:
- Estarei esperando.
Então me virei para ir embora, deixando vários alunos me ovacionando por ter batido em Victor Braga, e foi nesse instante que percebi que todos ali o odiavam por algum motivo.
- Vamos para minha sala – disse Belle, já caminhando. Eu concordei pois, após a briga, havia perdido a vontade de comer.
Quando dei o primeiro passo em direção à sala, fui agarrado pelo braço. Virei-me para trás e me deparei com a menina mais linda e cobiçada da escola: Ariane Schneider. Também conhecida como a namorada de Victor.
Ela era linda. Do tipo de garota que todos os garotos da escola querem namorar. Loira, tinha olhos verdes, mais ou menos 1,70m de altura. Resumindo: A garota que qualquer garoto gostaria de namorar.
Algo que me incomodava nela é que, querendo eu ou não, ela fazia parte de meu passado. Um passado que eu não conseguia me esquecer. Um passado do qual eu não podia escapar.
Então me virei para ela e disse, com ar de deboche:
- O que você quer Ariane?
Então ela respondeu, com voz de garota oferecida e brincando com seu cabelo:
-Caramba, Jason. Não sabia que você era tão forte assim.
Zack e as garotas ficaram apenas olhando. Eles sabiam que Ariane fazia parte de meu passado, e sabiam que eu odiava estar ali, conversando com ela. Ariane aproximou seu rosto do meu e sussurrou em meu ouvido, enquanto alisava meu braço direito:
- Quer me fazer esquecer o Victor?
Eu me afastei dela discretamente e disse, dando uma risadinha:
- Ariane, não é assim que as coisas funcionam.
Ela simulou um choro e gritou:
- Caramba, Jason! Não me quer mais? Pensei que já tivesse superado aquilo.
Olhei para trás, e vi que meus amigos estavam gargalhando. Em seguida, olhei nos olhos da loira, suspirei e disse:
- Ariane, eu não te odeio. Muito pelo contrário. Eu desejo que tudo seja positivo em sua vida. Inclusive seu exame de HIV.
Pude ouvi-la gritando quando me virei para alcançar meus amigos e ir para a sala de aula de Belle e Jessica.
Logo que entramos na sala das garotas, nos sentamos e começamos a combinar algo para o fim de semana.
- Por que não vamos ao cinema? – sugeriu Belle.
- Ah, não! – retruquei – Por que não fazemos festa do pijama na casa de alguém? Aí aproveitamos sexta, sábado e domingo, por causa da reunião dos professores.
- Eu concordo plenamente – disse Jessica. – E como foi você quem sugeriu, acho que deveria ser na sua casa.
- Por que na minha? – perguntei, com voz de quem estava perdendo a batalha.
- Porque você sugeriu – respondeu Zack – Olha, pra mostrar que sou democrático, vamos fazer uma votação: Quem quer a festa do pijama na casa do Jason?
Apenas eu não levantei a mão. Enquanto eu abaixava a cabeça, desconsolado, sabendo que teria que passar o domingo inteiro arrumando a bagunça da noite anterior, os outros três comemoravam.
Bateu o sinal do intervalo. Era hora de voltar para a sala de aula. Eu e Zack fomos para nossa sala e as meninas foram para seus lugares, aguardar o professor chegar à sala de aula.
Infelizmente, agora eu teria aula de matemática com o Sr. Cougar. Como podem perceber, eu teria vários problemas.
O Sr. Cougar e eu, em três anos de convivência, nunca nos demos bem um com o outro. Sabe toda essa história de amor à primeira vista? Em relação à mim e ao Sr. Duncan, havia sido ódio à primeira vista.
Diante dessa situação, fiz a única coisa viável a se fazer: tirei meu celular do bolso, coloquei os fones no ouvido, escolhi a música Papercut, da banda Linkin Park, coloquei-a na lista de repetição e comecei a desenhar.
Eu podia ser um aluno inteligente e que prestava atenção na aula, mas ter de estudar Geometria Analítica nas duas últimas aulas de quarta-feira não era nem um pouco legal.
Como estava sem minha pasta de desenhos, a única saída foi começar a desenhar na capa de trás do meu caderno. A primeira coisa que veio à minha mente foi uma espada negra, que vinha aparecendo em meus sonhos há alguns dias.
Comecei a desenhá-la. Estava me esforçando ao máximo para deixá-la igual à espada que aparecia em meus sonhos.
Depois que acabei o esboço, comecei a detalhar o desenho. Sombreei, e dei um efeito brilhante, para deixar a espada o mais real possível.
Enfim, acabei o desenho, e nem um pouco tarde. Logo que guardei meu material na mochila, o sinal bateu. Zack e eu saímos da sala e fomos em direção ao portão principal. Quando ultrapassamos o portão, vimos uma rodinha de pessoas que, pelo visto, estavam esperando por nós. Ou apenas por mim.
Quando me aproximei da rodinha, ela se abriu, e de seu centro saiu Victor, com cara de quem queria lutar por vingança.
Lutar contra mim. Se vingar de mim, por tê-lo feito levar advertência escrita e verbal do Sr. Duncan.
Quando entrei na rodinha, ela se fechou.
Eu sabia que Victor queria lutar comigo mais uma vez. Em parte, eu estava certo, mas em outra...
Trocamos olhares firmes, como se pudéssemos matar alguém com esse olhar. Nessa hora, lhe perguntei:
- Quer mesmo fazer isso, Victor?
- Eu disse que me vingaria de você - respondeu ele, apontando para seus amigos, que faziam parte da rodinha – mas desta vez, trouxe amigos.
Pelo visto, a festa seria divertida.
No fundo, sabia que as aulas de Kickboxing um dia me seriam úteis. Esse momento era um belo exemplo de dia útil para usar o Kickboxing para me defender.
Um primeiro amigo dele que eu não sabia o nome avançou contra mim e me deu um soco. Eu defendi seu soco com meu antebraço e o empurrei com a sola do pé.
Outro veio correndo em minha direção, como louco. Quando ficamos frente a frente, eu segurei seu pescoço e dei um soco em sua costela.
Dois golpes e dois amigos de Victor haviam ido para o chão. Eu olhei para Victor e disse:
- A gente não precisa fazer isso, Victor. Quer mesmo continuar?
- Já perdeu a namorada. Quer perder a briga também? – respondeu ele, dando risada.
Eu sabia do que ele estava falando, e isso fez minha ira por ele aumentar. Comecei a correr em sua direção, e ele fez o mesmo, vindo ao meu encontro. Quando estávamos a mais ou menos meio metro de distância um do
outro, eu parei e estendi o braço direito para o lado. Ele bateu o pescoço em meu braço e caiu no chão.
Eu abaixei ao seu lado, segurei-o pela gola do uniforme, olhei bem em seus olhos e lhe disse:
- Quem é o perdedor agora, Victor?
De repente, senti uma mão sobre meu ombro. Quando me virei, tive uma surpresa: o Sr. Duncan, bem atrás de mim. E seu olhar não era nem um pouco amigável.
- Vocês de novo, seus insolentes? – perguntou ele, olhando para mim e Victor.
- Foi ele, diretor – disse Victor, ainda deitado, apontando para mim.
- Isso é verdade, Sr. Phoenix? – perguntou-me o Sr. Duncan, com um olhar de “esperei por esse momento em toda minha vida: aplicar uma advertência em Jason Phoenix”.
Pra não falar que sou um garoto malvado, eu decidi dar uma chance ao Victor e ao Sr. Duncan, mesmo sabendo que o culpado ali não era eu.
- Fui eu sim, Sr. Duncan – disse eu.
- Venha para a minha sala. Agora! – gritou ele para mim, puxando-me pelo braço. Acho que até o Victor ficou com pena de mim, por causa do grito.
Eu tirei meu braço de sua mão e disse:
- Não estamos em horário de aula. Não pode me dar advertência.
- Então sabe que posso chamar a ronda escolar pra você, né?
- Se quiser, pode tentar – respondi, dando de ombros.
O Sr. Duncan começou a andar rapidamente para dentro da escola, provavelmente para ligar para a polícia. Eu comecei a segui-lo, logo após ter visto Victor levantando-se e saindo correndo, para se livrar de problemas.
Quando passei por Zack, vi que ele sussurrou para mim:
- Você é louco? Por que está fazendo isso?
Eu apenas pisquei para ele e dei um sorriso sarcástico.
Por serem meus amigos, Zack, Belle e Jessica nunca me abandonavam, não importava aonde eu fosse. Como na vez em que pulei o muro de uma casa para roubar pitangas, e eles me ajudaram, mesmo odiando pitangas. Então, eles entraram comigo na escola.
Enquanto esperávamos na diretoria, o Sr. Duncan ligava para a ronda escolar.
Eram 12h15, e um cara da ronda escolar veio falar com a gente, logo após de ter conversado com o Sr. Duncan. Ele era um cara de meia idade. Uns 45 anos, no máximo. Pele clara, baixinho e tinha uma barriga avantajada, o que mostra que ele era um bêbado de primeiríssima categoria.
- Bem, qual de vocês dois é Jason Phoenix? – perguntou ele, olhando para mim e Zack.
- Eu sou Jason Phoenix – respondi, me levantado daquele banco duro.
Ele me olhou da cabeça aos pés e me disse:
- Prazer, sou o Sr. Oliveira – disse ele, me cumprimentando com um aperto de mão. - É, garoto. Pelo visto, não vai se sair bem dessa. Mas o que causou essa briga entre você e esse seu amigo? – ele apontou para Zack.
- Não foi com ele que eu briguei – respondi – O cara em que dei uma surra provavelmente esteja em casa agora, sobre os cuidados da mamãe. - E por que vocês brigaram? – perguntou ele, logo após de sentar-se na cadeira de couro do Sr. Duncan.
- Porque ele é covarde demais. – respondi, com indiferença.
- Como assim? – perguntou ele, enquanto acendia um cigarro.
- Bem, - eu disse ofegante – a briga começou porque ele estava batendo em um garotinho indefeso. Então.
Bem nesse instante, ele me interrompeu. Para o azar dele, eu odiava ser interrompido.
- Indefeso? – perguntou ele, dando uma tragada em seu cigarro.
- É. Indefeso – disse eu. – Posso continuar?
- Cuidado com o que fala garoto.
- Por falar nisso - disse, com um belo de um sorriso sarcástico no rosto –, não vou falar mais nada, porque não sou obrigado. E, se não se importa, preciso ligar para meu pai, para explicar o que está acontecendo. Até porque acho que você precisa falar com o meu responsável.
- O.k. – disse Sr. Oliveira, dando outra tragada em seu cigarro e suspirando. – Pode ligar para quem você quiser. Vamos ver o que vai acontecer com você daqui para frente.
Enquanto ele se dirigia para o pátio da escola, eu fui até a calçada, para conversar com as meninas. Zack me acompanhou, não dizendo nada no caminho.
Olhei no relógio do celular. Eram 12h32. Olhei para Zack, estendi a mão e lhe disse:
- Me empresta seu celular, vai.
- E por que você quer meu celular? Usa o seu.
- Estou sem créditos.
- O.k., pegue – disse ele, tirando o celular do bolso e me entregando.
Enquanto eu discava o número no celular, Belle me perguntou:
- Jason, para quem você vai ligar?
- Para meu pai – respondi, colocando o celular no ouvido. – Ele vai nos tirar daqui antes que você perceba.
- E como é que ele vai fazer isso, Jason?
- Ah, ele tem seus truques – respondi, dando uma risadinha.
Então, ouvi a voz de meu pai ao celular.
- Alô? – disse ele.
- Alô? Pai? Sou eu, o Jason – respondi, com entusiasmo.
- Ah, sim. Tudo bom, filho? Por que ainda não veio pra casa?
- Então, pai – respondi, tentando disfarçar a situação. – Tem como você vir aqui na escola?
- Sabia que você tinha aprontado alguma coisa. O quê foi que você aprontou dessa vez?
- Tem como o senhor vir? – perguntei, suspirando.
- Já estou chegando aí.
E essa foi a última coisa que eu o ouvi dizer.
*
- O que foi que você aprontou Jason? – perguntou meu pai.
- Briga – respondi de cabeça baixa.
- E como isso aconteceu, Zack? – perguntou ele, virando-se para Zack.
- Jason bateu em um valentão que estava batendo em um garoto inocente. – respondeu Zack.
Meu pai colocou a mão em meu queixo e olhou em meu rosto, para ver se havia alguma lesão.
- Pelo menos sabemos que suas aulas de Kickboxing funcionam.
- Que aulas? – perguntei – Você não quis pagar para eu ter aulas. Tive que aprender sozinho, vendo vídeos no YouTube.
- Isso não vem ao caso. Onde está a pessoa com quem tenho que falar pra te tirar disso?
Com o dedo, Jessica apontou para o pátio do colégio, onde o Sr. Oliveira estava.
- Obrigado, Jessica.
Ela assentiu.
- Esperem aqui. Não vou demorar – disse meu pai, se virando e indo em direção à diretoria.
Zack e Jessica ficaram na calçada, conversando. Enquanto isso, Belle começou a seguir meu pai, para ouvir a conversar. Para que ela não se encrencasse, eu a acompanhei.
Tudo aconteceu muito rápido. Meu pai entrou na sala, tirou algo de seu bolso e mostrou para o Sr. Oliveira, que sorriu e cumprimentou-o.
Quando percebi que meu pai estava saindo da sala, segurei Belle pelo braço e saí correndo em direção à rua.
- Vamos embora? – disse ele, olhando para mim.
Eu assenti.
Enquanto meu pai se dirigia ao carro, Belle sussurrou em meu ouvido:
- Como ele fez isso, Jason?
Sussurrei de volta:
- Eu disse que ele conseguiria.
Virei-me para o resto do pessoal (que, tecnicamente eram apenas Zack e Jessica) e disse:
- Vamos embora, gente.
Entramos no carro, um Dodge Charger SRT8 azul, que meu pai havia comprado com a ótima aposentadoria que ele ganhava de seu antigo emprego. Fora ele, eu era o único que sabia qual tinha sido seu trabalho nos E.U.A. Mas eu não tinha permissão para contar sobre o assunto para ninguém. Nem mesmo para meus melhores amigos.


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