Sistema. Certavez tive um sonho, e ainda há vezes que tremo ao relembrá-lo. Admito que não me contive: tenho que escrevê-lo e compartilhá-lo com outras pessoas. Mas não era como um sonho... todo aquele ar era esotérico tudo ecoava, as luzes que haviam eram fortes demais, quase cegavam-me e as pessoas não tinham rostos. Era como uma visão de uma realidade diferente desta. Eu não usaria o termo diferente, era apenas uma realidade vista pelos olhos de Dalí.
Eu estava de olhos fechados, me sentia enjoado; um pouco desconfortável, mas quando abri os olhos fiquei estupefato com a visão que meus olhos estavam a mirar. Era um planeta, muito lindo, era colorido e eu me sentia revigorado e mais vivo só em tê-lo em meu foco visual mesmo da tão longa distância que estávamos um do outro. Era como se ele me atraísse para si.
Como já podem imaginar, sim, eu estava flutuando no meio do universo. Em meio à inércia e escuridão do universo o que me atraía a atenção era aquele colorido planeta cheio de vida e paz. Aquilo atiçava a minha imaginação e curiosidade.
Então a Voz falou, não sei bem de onde vinha, mas esta voz ecoou em minha mente tão forte que eu podia jurar que ela vinha de dentro de mim.
–Você quer ir ao Planeta? Lá é lindo não é? Você tem que ir lá.
–Mas eu não sei se devo ir... o que eu faria num lugar estranho como aquele?
–Você quer encontrar um sentido para existir não é? Lá pode encontrar respostas se fizer as perguntas certas. Vá ao planeta...
E fui aonde a Voz dizia que eu deveria ir. Foi um grande choque de realidade. O planeta era realmente colorido e belo, mas a medida que os tempos se passavam as coisas iam desbotando. A cada passo meu as cores iam ficando mais fracas e a vida e o sentido que tanto almejei achar mais estavam longe, e cada vez mais me via ocupado com coisas com as quais eu não queria me ocupar.
Então chegou certo momento em que o que sobrara de cores eram apenas escalas de cinza. Nada mais. Eu havia amadurecido, tinha que achar um sentido. Algo para buscar, um objetivo a cumprir com um ser maior. Um homem chegou ao meu lado e tocou em meu ombro e mandou ir à Guerra matar outros como eu. Tentei argumentar, mas a única coisa que ouvi foi ele repetir a mesma ordem, então fui lá e guerreei. No entanto, a Guerra durou longos anos e eu já estava acabado. Devastado pela Guerra, era um soldado que havia vencido a guerra, mas que ainda não tinha tido as respostas que procurava.
Quando não fui mais importante para ser usado nos outros campos de guerrilha, fui mandado para a Fábrica. Eu já estava velho demais e me locomovia com cadeira de rodas, era tarde demais para saber o “por quê” de alguma coisa. Eu só procurava saber o que tanto fabricava na Fábrica, mas ao tentar encontrar resposta acabei tendo um grave acidente em meio o maquinário.
Já em meu leito de morte senti mais uma vez a Voz invadir-me o ser. Mas não me senti revigorante como antes, era sufocante, como se ela sugasse cada gota de vida que restava em mim. Então lhe perguntei pela última vez: “Por que fui obrigado a trabalhar incessantemente? Você enganou-me, disseste que as respostas estariam aqui. De longe tudo era belo, havia paz, mas agora... qual o objetivo de tudo isto?”.
–Responderei apenas uma das perguntas e com certeza as outras serão respondidas consequentemente. Você foi obrigado a trabalhar para manter o sistema deste belo mundo, para manter o sistema deste mundo rodando, tomara que o próximo do Sistema seja melhor do que você.
Então morri, e ao ser enterrado, tornei-me como raízes que brotaram e destas raízes veio uma Flor a nascer. E ao desabrochar da Flor ela ganhou cores e todas as cores tomaram o mundo.
E novamente eu me via imerso; flutuando no espaço.