Um menino no espaço - 2ª parte escrita por Celso Innocente


Capítulo 12
Reencontro




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Pouco depois, chegava à resposta para minhas dúvidas. O filhote não havia falecido. O que acontecia, era que o senhor Rud, trazendo um de seus filhotes, entrara naquele barracão e seguira direto até a chefe. Fiquei feliz em vê-lo e sabia que todo o mal era aquele. O filhote ganiu muito com a chefe, que seguida pelo então novo visitante, veio até minha jaula. Sorri contente e meu salvador, piscou o olho direito. A chefe abriu a porta da jaula e fez sinal para que eu saísse. Obedeci imediatamente, abraçando o tal herói do dia, que me perguntou:

— Você está bem? Peladão!

— Não estou pelado! — Neguei.

— Quem fez esta roupa chique pra você?

— Como veio até aqui?

— Com a ajuda do bichinho!

— Ele foi te buscar?

— Nós o raptamos!

— Nós!

— Eu e Tony! Pegamos três deles! Dois continuam com a gente na nave, o outro veio comigo, te buscar.

— O senhor não vai levar eles conosco! Vai?

— Claro que não! Eles são apenas reféns, para trocarmos com você!

— Como sabia que eu estava aqui?

— Ouvimos quando você pediu socorro, perto da nave.

— E por que demorou tanto pra me socorrer?

— Tentamos! Até conseguirmos estes três álibis!

Ao sairmos, a chefe, seguida por outros dois adultos, nos acompanhou. Na entrada para a trilha da floresta, parei, olhei para trás e pedi:

— Espere um pouco!

Saí correndo, indo até o local, o qual seria a enfermaria, ver o filhote ferido. Só que tive uma pequena surpresa: ele já não se encontrava mais lá. Olhei para a médica, como a perguntar por ele. Ela, apenas mostrou seus dentes serrilhados, como se fosse um sorriso e então percebi que ele estava muito bem. Voltei até o senhor Rud e tomamos nosso caminho, rumo à nave.

— O que houve com você, Regis? — Perguntou-me ele.

— Eles me pegaram!

— Por que deixou sua cueca na beira do rio?

— Estava nadando!

— Ficou com vergonha deles?

— Não tive tempo! — Ri. — Estava com medo!

— De nós, que te amamos, você tem vergonha! Deles, que te prenderam, você não tem?

— Claro que não! Todos eles, até as fêmeas andam pelados!

— Eles te fizeram algum mal?

— Não! São boa gente! Só não me deixavam vir embora.

Chegamos à espaçonave e quando íamos entrar, a chefe, ganiu brava, me segurando pelo braço.

— Ela quer que eu espere! — Insinuei.

Em seguida, o senhor Tony, desceu com os dois filhotes capturados e eu tive outra grande surpresa: um deles era o que sofrera acidente, no dia anterior.

Os dois foram libertados e eu também. O mesmo do acidente se aproximou, me olhando timidamente. Então sorri a ele, piscando simultaneamente um olho. Eles tomaram o caminho, de volta à suas casas.

Dentro da nave, o senhor Rud, puxou as folhas de árvore, as quais eu usava como tanguinha, rasgando-as e em seguida, mostrando-me minha cuéquinha, disse:

— Sabe o que é isto?

— Me dê aqui! — Pedi.

— Tem vergonha de nós?

— Não tenho! Mas não vou ficar pelado!

— Então venha pegar!

— Me dê aqui! — Pedi, correndo atrás dele.

Jogou-a ao senhor Tony, que caçoou:

— Venha buscar, Regis.

Virei-me a ele, exigindo:

— Me dê aqui senhor Tony! Não gosto desse tipo de brincadeira!

— Pegue Regis, pegue!

Jogou-a para Rud, por cima de mim, mas errou, ou fingiu errar o cálculo e então a apanhei. Vesti-a rapidamente e fui até meu quarto, onde vesti o resto de meu uniforme escolar, sempre acompanhado pelo senhor Rud.

— Pensei que não iríamos encontrá-lo nunca mais, garoto.

— Aposto que nem se preocuparam!

— Não!? Naquele mesmo dia, acabamos de consertar a nave e fomos até o rio, para te buscar. Só encontramos sua cueca, o resto de você havia desaparecido. Puxa, que susto você nos deu!

— Como assim?

— Pensamos que você tivesse morrido afogado!

— Que isso! Sou bom de natação!

— Não sei!… Logo percebemos que a coisa não era tão grave assim! A água limpa deixava a gente ver o fundo da represa e você não estava lá.

— O senhor disse que não era tão grave!

— Chegamos a pensar também, que algum monstro alienígena tivesse te devorado.

— Credo!

— Mas preferimos pensar que você tivesse se perdido e logo apareceria. Não era mesmo tão grave!

— Eu estava prisioneiro, pelado… e o senhor acha que não era tão grave?

— Se tivesse morrido, não seria mais grave?

— Esqueceu que sou imortal, estando com vocês?

— Em Suster! No planeta em que estávamos não!

— Qual planeta, o senhor se refere?

— Mark III. Lembra?

— Não estamos mais?

— Já estamos voltando pra casa! A milhões de quilômetros por segundo!

— Consertou a nave?

— Com certeza!

— Logo estaremos em Suster?

— Assim que conseguirmos reencontrar o caminho novamente.

Corri para a cabine da nave, onde pude reparar que era verdade o que o senhor Rud, falara. Já estávamos novamente cortando o espaço sideral, rumo ao planeta imortal. Sentei-me na poltrona do co-piloto.

— Tudo bem agora, senhor Regis? — Perguntou-me o senhor Tony.

— Agora está! Tem uma coisa que não entendi até agora, senhor Tony! Por que aqueles seres estranhos, não podiam me entender, apesar de estar usando o aparelhinho?

— Não sei dizer, garoto! Talvez este aparelho não seja tão sofisticado assim!

— É, Regis! — Insinuou o senhor Rud, que se encontrava de pé, atrás das poltronas. — Acho que este aparelho, só serve mesmo, pra traduzir a minha linguagem e a sua!

— Não, senhor Rud! — Neguei. — Quando estava no planeta de Mira, ela me entendeu perfeitamente. Quando fui para a NASA, nos Estados Unidos, onde eles falam Inglês, eles me entenderam perfeitamente!

— É verdade! Talvez sirva para alguns lugares.

— Quem é o povo do planeta Mark três? — Perguntei.

— Os markianos! — Riu o senhor Rud.

— O que você ficou sabendo sobre eles Regis? — Perguntou-me o senhor Tony.

— Eles não têm vergonha de andar pelado; são muito eficientes em natação, salto em altura e distância; não brigam entre si; são organizados; não desperdiçam nada e parecem ser muito bons! Quando voltar pra Terra, acho que vou levar alguns pra participar de nossas olim...píadas! — Insinuei brincando.

— Você ficou preso naquela jaula, durante todo tempo? — Perguntou-me o senhor Rud.

— Não! Tomei banho, nadei, brinquei! Ajudei a salvar aquele filhotinho que o senhor capturou…

— Então lá estava melhor do que aqui! — Caçoou o senhor Tony. — Aqui você fica preso!

Uma sombra de tristeza dominou meu semblante:

— Mas aqui eu tenho esperança de voltar pra minha casa!

— Ainda continua com essa idéia? — Insinuou o senhor Rud.

— Nunca mudarei de idéia! Por mais que vocês me tratem bem!

— Que ingrato! Não? — Alegou o senhor Tony.

— Não sou não senhor! Vai me dizer que o senhor não sente saudades de seu planeta?

— Tudo bem, Regis! — Entendeu Tony, que realmente já sentia muitas saudades de Suster. — Concordo com você!

— O senhor tem família? — Lhe perguntei, já que estávamos no assunto de saudade.

— Minha esposa Lariana, dois irmãos semelhantes a mim e meus pais! Alem de tios e primos... Uma grande família. Acho que só me falta mesmo um filhinho!

— Sinto muito! — Senti pena daqueles dois homens e do senhor Frene... E de todos os susterianos. E me senti importante por ser um filho... De meus pais...

O senhor Rud, se retirou e eu continuei ao lado do senhor Tony, lhe contando o que acontecera comigo, no planeta batizado por mim de Mark III.

— Como eu seria feliz, se você topasse ser meu filhinho, — Insinuou o senhor Tony, com certa tristeza nos olhos. — a quem eu veneraria com todo meu amor...

Confesso que senti lágrimas de compaixão. Porém aleguei:

— Gosto muito do senhor, senhor Tony! Quase tanto, como gosto de meus pais!

Ele sorriu com os olhos marejados de lágrimas.

A velocidade de nossa espaçonave era inacreditável, pois faríamos nossa viagem de oitenta e sete anos-luz; ou seja, uma distância de quase vinte e sete parsecs[1], em apenas trinta dias susterianos, que era o mesmo que setenta e um dias terráqueos. Às vezes passávamos por parte escura no espaço; às vezes, por parte clara; às vezes o infinito se tornava azul escuro, às vezes rosado, às vezes amarelado (Sei que já relatei isto, mas é preciso repetir, para que consiga entender meu drama... minha aventura). Quando, um ser humano, criança de minha idade, poderia pensar em tal viagem pelo espaço? Uma espaçonave, cortando milhares de vezes a barreira da velocidade da luz, que é de míseros trezentos mil quilômetros por segundo.

— Como alguém pode acreditar que esta espaçonave consiga velocidade tão grande? Não consigo entender como ela pode voar mais rápido do que a luz!

— Fora de sua atmosfera, existe um vácuo complexo do Universo. Nesse lugar, a massa é menos densa e a velocidade se torna muito diferente. Graças a esse e outros fatores mais complexos ainda, a gente consegue desenvolver velocidades, que em sua atmosfera, ou em qualquer outra, desintegraria qualquer material. Você já viu estrela cadente?

— Muitas!

— São apenas pedaços de matérias que vagam pelo espaço. Seu povo chama de meteoros ou meteoritos. Eles não são brilhantes como se vêem. O que acontece é que, devido a alta velocidade em que vagam pelo espaço, quando atinge sua atmosfera, se desintegram, em bola de fogo, que pode ser maior do que sua cidade inteira.

— Quando vocês entram em nossa atmosfera, o que acontece?

— Acho que já lhe falei que nossa nave é construída de um material meio líquido, assim como estanho derretido. Mesmo assim, em contato com sua atmosfera nossa velocidade é reduzida a um décimo da real, por questões de segurança.

— Se as estrelas cadentes se incen...deiam ao chegar na atmosfera, tudo bem que com esta nave não aconteça o mesmo. Mas e o calor por qual ela passa? Não torra a gente aqui dentro?

— Estamos dentro de um poderoso isolante térmico! Nada do que se passa do lado externo nos atinge aqui dentro!

— Tem certeza? — Franzi o rosto.

— Cinco mil anos de experiência! — Riu ele. — Esta nave foi desenvolvida para enfrentar todas as tribulações do Universo! E até dos multiversos!

— Como pode ter certeza?

— Os maiores perigos no espaço sideral, alem dos grandes buracos negros maciços, são os ventos estelares, carregados de radiação. E a gente sobrevive a isso.

— Quando conseguiremos encontrar o caminho de volta?

— Não sei ainda! Mas confesso que estou muito ansioso em reencontrá-lo logo.

— E como saberemos, quando encontrarmos?

Mostrou-me no painel, uma luzinha amarela, apagada, dizendo-me:

— Assim que voltarmos a nossa rota original, esta luzinha vai se ascender.

— Então precisamos ficar de olho nela?

— É! Mas acho bom você ir descansar um pouco, em seu quarto.

— Não estou cansado!

— Então façamos o seguinte: Vou conversar um pouco com Rud e você fica aqui. Pode ser?

— O senhor confiaria em me deixar aqui?

— E por que não?

— Estou com muitas saudades da Terra! Poderia desviar a nave pra lá!

— De que jeito? Se estamos fora de rota?

— É! O senhor tem razão! Pode confiar em mim!

— Deixe a nave seguir sempre no automático, pra que ela encontre a rota. Tudo bem?

— Sim senhor!

Quando ele já saia da cabine, o chamei:

— E se a luzinha ascender, o que faço?

— Dê um salto de alegria! — Riu ele.

— E o que mais?

— Mais nada! — Deu de ombros, ele. — Deixe que a nave viaje feliz de volta pra casa!

— Sua casa... — Dei leve sorriso triste.

Ele se retirou, então me sentei em seu lugar, apenas para observar o espaço e principalmente a luzinha amarela, que continuava apagada. Alem do mais, antes que ela se ascendesse, com certeza, já estaríamos novamente em contato com Malderran.

[1][Astronomia] Unidade astronômica de distância equivalente à distância de uma estrela cuja paralaxe anual seria de um segundo. (O parsec equivale a 3,26 anos-luz, ou seja, 3,08.1013 quilômetros.)


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