Apenas Um Dia Normal escrita por Nana Roal


Capítulo 1
One-shot


Notas iniciais do capítulo

Oi pessoas.

Tudo bem?

E então... Lá vem eu outra vez trazendo mais um surto criativo pra vocês... Culpem o facebook e as zoeiras sobre os clichês... Ai surgiu isso!

Espero que gostem!



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O adolescente estava parado diante do espelho do banheiro, encarava fixamente o seu próprio reflexo enquanto fazia caretas e repetia uma só frase:

— Vamos lá, Naruto, você vai conseguir — afirmou pela centésima vez. — Dessa vez tudo será diferente, você vai ver! É só ter confiança e… e… Droga eu não vou conseguir! — bateu a testa no espelho.

— Naruto! — a voz de Kushina soou, seguida de batidas furiosas na porta do banheiro. — Sai logo dessa merda de banheiro antes que eu derrube essa porcaria de porta e esmurre sua cara!

Naruto suspirou, desencostou a testa do espelho e murmurou uma frase desanimada. Colocou seus óculos de armação grossa e abriu a porta, deparando-se com a figura furiosamente vermelha de sua mãe.

— Bom dia, kaa-chan — cumprimentou com um pequeno sorriso.

Kushina o encarou com uma expressão comicamente confusa:

— O que aconteceu com...? — pausou e suspirou. — Esquece, eu não quero saber — empurrou o mais novo, quase o derrubando. — Vai logo tomar seu café e não se atrase para seu primeiro dia de aula — ordenou, entrou no banheiro e bateu a porta.

— Sim, sim, chefia. Estou indo — respondeu alto, seguindo para a cozinha, onde encontrou seu pai e seu irmão sentados à mesa. — Bom dia — saudou de maneira calma e se acomodou junto a eles, passando a tomar seu café.

Minato derrubou o jornal que antes segurava e o encarou com os olhos arregalados, enquanto Kurama, seu adorável irmão mais velho, o fitou com o cenho franzido e pareceu ter esquecido como se fazia para morder a torrada que estava presa em seus lábios.

— O quê? — Naruto perguntou ao perceber que os dois não falariam nada.

— O que aconteceu com você? — Kurama murmurou, fazendo a torrada cair na mesa. — Foi possuído?

— Alienígenas! — Minato bateu a mão na mesa, fazendo os filhos se sobressaltarem. — Só pode ser isso, Kurama! Ataque-o!

— Eu não sou seu cachorro, Minato — o ruivo rebateu com enfado.

— Mas eu sou seu pai, Kurama!

— Não precisa ficar me lembrando da tragédia da minha vida, Oyaji* — girou os olhos e voltou a encarar o irmão caçula. — Diz, pirralho, o que aconteceu com você?

— É… E fale a verdade — Minato exigiu.

Naruto suspirou, tomando coragem e soltou a bomba:

— Eu quero ter um dia normal na escola.

Os dois mais velhos ficaram momentaneamente em silêncio, mas logo a cozinha foi preenchida por escandalosas gargalhadas. Minato quase caiu da cadeira e Kurama se curvou sobre a mesa, esmurrando a madeira.

— Um dia… normal?! Você é hilário! — Minato disse entre risos e suspirou, limpando uma lagrima que estava no canto de seus olhos. — Precisamos de mais piadas no café-da-manhã.

— Ai, Naruto — Kurama inspirou profundamente, tentando controlar os risos. — Só você pra dizer uma merda dessas logo de manhã.

Naruto fez um bico e cruzou os braços em frente ao peito. Odiava quando seus familiares começavam a duvidar dele. O que tinha de errado em querer um dia normal? Chegar ao seu primeiro dia de aula, apresentar-se na frente de todos aqueles estranhos, fingir que prestava atenção nas explicações tediosas dos professores e passar o intervalo com algum outro deslocado. Seria perfeito! Nada de pensamentos estranhos, reparar em coisas desnecessárias ou acabar adquirindo objetos interessantes. Apenas um dia normal.

— Naruto — o chamado de Minato o fez sair de suas divagações. — Você tem certeza que é assim que você vai conseguir um dia normal? — indagou arqueando uma sobrancelha loira.

— Acho que ele vai é conseguir passar por um “cuecão” — Kurama debochou e recebeu um olhar mortal como resposta. — Ei, ei… Cuidado com essas expressões! Elas podem arruinar seu sonho patético.

— Vocês não confiam mesmo em mim, né? — Naruto murmurou pesaroso.

— Não é isso, filho, mas… — Minato mordeu o lábio em concentração.

— Mas você é um imã para problemas, eu não sei dizer bem o motivo — Kurama concluiu sarcástico e, dessa vez, recebeu um olhar torto do pai, mas ignorou. — Você pode querer um dia normal na sua vida, mas será que o dia normal vai querer você?

— Que merda é essa que você falou? — Naruto o olhou indignado. — Sério… Não fique filosofando, meus ouvidos agradecem — largou o pão “meio-comido” e se levantou. — Vou nessa, chegarei cedo para chamar menos atenção.

Kurama enfiou rapidamente uma torrada na boca e também se levantou.

— Eu tfe levfo… — farelos de torrada caíram sobre Minato, que acertou uma tapa nas costas do filho mais velho. — Ai, velho!

— Fale de boca vazia, seu mal-educado — sibilou perigosamente e os irmãos estremeceram diante do olhar ameaçador, mas logo um sorriso acolhedor surgiu no rosto bronzeado e os olhos azuis brilharam. — Tenham um bom dia! — desejou e voltou a pegar o jornal.

Os irmãos se entreolharam e deram de ombros, logo seguindo para seus compromissos. Kurama deixaria Naruto no novo colégio e seguiria para seu emprego, que ficava não muito longe de onde o mais novo estudava.

Durante o caminho os dois permaneceram em silêncio, Kurama estava concentrado em formular piadas sobre o novo estilo de seu otouto, enquanto este se concentrava no roteiro imaginário que havia criado para aquele dia. Assim que viu os muros do colégio começou a cutucar desesperadamente o braço de Kurama:

— Pare aqui! Aqui! Não deixe ninguém ver seu carro! — ditou desesperado e só se acalmou quando o ruivo estacionou na esquina, longe da vista de outros estudantes. — Obrigado! — sorriu.

— Cara, você ‘tá realmente empenhado nisso! — arqueou uma sobrancelha. — Boa sorte… nerd.

— Valeu, Kurama! — saiu do carro e fechou a porta.

— Eu venho te buscar mais tarde — anunciou e deu partida.

Naruto assentiu e respirou fundo; seu dia normal estava prestes a começar e este seria o primeiro de muitos.

— É isso aí, dattebayo! — afirmou convicto e seguiu para a entrada do colégio.

Tudo correu bem na entrada. As pessoas não repararam muito nele e fez questão de tentar ser o mais discreto possível. Chegou à sala antes de todos e se acomodou em um lugar estrategicamente escolhido: um local no meio da sala, onde os “comuns” geralmente ficam. Nem fundão e nem lambendo o professor. Ideal.

Os outros alunos foram entrando e a maioria parecia se conhecer, por isso, estavam conversando em rodinhas sobre suas férias e os planejamentos para o próximo ano. Logo alguns alunos entraram, fazendo todos os outros pararem para olhar. Naruto, automaticamente, olhou também.

Lá estavam aqueles que, daquele jeito clichê, provavelmente comandavam a sala de aula. Uma menina de cabelos cor-de-rosa e olhos verdes, outra de longuíssimos cabelos louros, um rapaz de cabelos muito vermelhos e estranhas marcas ao redor dos olhos e, por último, um menino de rosto pálido e… Porque alguém teria um penteado daqueles, Kami-sama? O dito garoto tinha olhos escuros, cabelos preto-azulados penteados como uma – bom, não tinha uma definição melhor –, bunda de pato.

Eles se sentaram no fundo da sala e foram cercados pelo resto dos adolescentes. Naruto não ligou muito para aquilo; estava mais concentrado em parecer normal e pouco suspeito. Logo o professor chegou e todos se acomodaram em seus lugares.

— Bom dia, alunos — saudou de maneira entediada e os alunos responderam da mesma forma. — Meu nome é Hatake Kakashi, sou professor de Álgebra I e também coordenador dessa turma.

Naruto freou uma careta que ameaçava surgir em seu rosto. Não poderia fazer esse tipo de coisa com o professor… Isso chamaria atenção demais.

— Bom, vejo que não há muita novidade nesta sala, que chato — Kakashi comentou casualmente, até seus olhos escuros recaírem sobre Naruto. — Opa, uma novidade! Garoto?

Naruto piscou e reprimiu outra careta. O que tinha feito de errado?

— Sim, sensei? — levantou-se educadamente e tentou aparentar nervosismo. Nem foi tão difícil.

— Você é aluno novo certo?

Naruto quis girar os olhos e soltar um “jura, Capitão Óbvio?”.

— Sim — assentiu de maneira contida.

— Apresente-se, então — comandou e, quando Naruto fez menção de começar a falar, o interrompeu. — Aqui na frente, garoto.

Por dentro Naruto berrou diversos impropérios contra aquele professor esquisito que usava uma maldita máscara cirúrgica. Será que o cara ‘tava doente ou era algum tipo de excentricidade? Mas por fora ele caminhou até a frente do quadro e parou, seus olhos claros passaram rapidamente pelos rostos dos outros alunos e ele percebeu um certo desprezo no ar. Aquilo era ótimo! Quase pulou de alegria.

— Meu nome é Uzumaki Naruto, nasci e cresci nessa cidade, não tenho passatempos interessantes, minha vida é normal e espero fazer bons amigos nessa escola — Naruto falou, enquanto mexia nervosamente as mãos. Aquilo era perfeitamente normal, pois indicava nervosismo. Ele tinha lido isso em um blog qualquer.

— Muito bem, Naruto-kun — Kakashi sorriu – na verdade Naruto não tinha certeza –, e virou-se para a turma. — Alunos, deem as boas-vindas à Uzumaki Naruto.

Naruto, inocentemente, aguardou o entediado coro de boas-vindas que já havia escutado milhares de vezes, mas recebeu, na verdade, uma saraivada de bolinhas de papel, seguida de um coro de gargalhas. Ele respirou fundo se preparou para fazer sua melhor expressão de… Que expressão deveria fazer naquele momento? Merda! Merda! Não tinha lido sobre isso!

— Já chega! — Kakashi praticamente berrou e um silêncio assustado pairou sobre o local. — Bando de delinquentes mauricinhos! Eu deveria forçá-los a lavar o banheiro da escola por um mês! Seus mal-educados.

— E por que não força, sensei? — um tom baixo e debochado soou.

Naruto, que ainda estava estático diante do quadro, lançou um olhar sobre o dono da voz. O cara com a “bunda de pato”. O Uzumaki deveria ter percebido logo o tipo dele; jaqueta de couro, coturnos, uma camiseta de uma banda Metal qualquer e sorrisinho debochado. O mauricinho bad boy, obviamente.

— Se seu dia tivesse 72h Sasuke, com certeza eu o colocaria para lavar banheiros, mas infelizmente não tem. Então se contente com suas habituais detenções e castigos — Kakashi rebateu em tom sério. — Volte para seu lugar, Naruto-kun.

— Certo — assentiu e obedeceu. Evitando olhar para o tal Sasuke, afinal algo nele tinha lhe chamado a atenção e isso não podia, de maneira nenhuma, acontecer. Seu dia seria normal.

A aula de Kakashi e as outras que se seguiram foram completamente normais e Naruto estava cada vez mais eufórico. Nada havia acontecido e isso era show, maravilhoso, uma vitória espetacular.

O sinal do intervalo soou, arrancando o loiro de seus devaneios comemorativos, mas ele, sabiamente, aguardou todos saírem para levantar-se e seguir para tomar seu lanche. Evitar esbarrões era estritamente necessário para não chamar atenção. Quando pensou estar sozinho, levantou-se, já com o lanche em mãos, e se preparou para sair.

— Então, bolinho de peixe*, o que achou de sua recepção? — a voz soou muito perto e, por isso, ele pulou de susto e virou-se para o dono dela.

Ali estava o grupo dos líderes lhe fitando com desprezo e o dono da voz tinha que ser o mauricinho do penteado bizarro.

— Foi… — Naruto se interrompeu ao perceber-se usando seu tom normal, então recomeçou em tom baixo e acuado. — Foi realmente diferente, er… — Kami-sama! Qual era o nome do “bunda de pato”? Pensa! Pensa! Rápido… Ah! — Sasuke-san. — Yoshi! Tinha conseguido lembrar o nome do cara! Vitória!

Sasuke aproximou-se perigosamente de Naruto e isso fez o loiro quase sufocar quando aquilo que havia chamado sua atenção anteriormente ficou ao alcance de suas mãos. Ele mordeu o lábio e evitou olhar naquela direção. Então seus olhos recaíram no ruivo de expressão estoica logo atrás de Sasuke, que o fitava.

— Sasuke-san? — indagou tentativamente, mas sem olhá-lo. — Algo errado?

— Sabe, bolinho de peixe? Eu não gosto de pessoas como você.

A mente de Naruto ficou em branco. Não gostava de pessoas como ele? Como assim? O que ele tinha de errado? Aquele cara era doido? Tinha tomado chá de cogumelos antes de ir pra aula?

— Como assim, Sasuke-san? — olimpicamente venceu a vontade de gritar com aquele garoto bizarro.

— Pessoas assim… Certinhas… Educadinhas… Normais! — Sasuke comentou, fazendo um esgar de desprezo.

Era oficial: aquele cara tinha algum distúrbio. Era melhor ficar longe dele e daquela coisa tentadora que ele tinha.

— Desculpe por ser assim — se forçou a dizer. — Posso ir tomar meu lanche?

A menina de cabelos exóticos riu, chamando sua atenção e também a de Sasuke, que se afastou para encará-la.

— Você é patético — ela disse com desprezo e entortou o nariz arrebitado. — Deveriam selecionar melhor as pessoas que frequentam essa escola.

Ótimo! Só tinha gente louca naquele lugar. Selecionar melhor as pessoas daquela escola? Sério? Então o cara perturbado e ela deveriam ser os primeiros a sair daquele ambiente de estudos.

— Cala a boca, Sakura — Sasuke demandou, fazendo-a se encolher.

— Mas, Sasuke-kun…

— Ninguém te chamou na conversa ainda, testa — a loira se intrometeu.

— E nem você, Ino — Sasuke afirmou e girou os olhos.

As duas meninas coraram e se encolheram, levando as mãos ao peito, em pose de vergonha e foi então que Naruto reparou naquelas coisas… Lindas, maravilhosas, tão… tão… Não! Não podia! Desviou o olhar, encarando os próprios sapatos, e apertou as mãos. Merda! Merda!

— Algo errado, Naruto-san? — a voz rouca soou pela primeira vez. Era o ruivo de olheiras.

Naruto se assustou e o encarou. Ele tinha um mínimo sorriso no canto dos lábios e isso assustou o loiro. Era um maldito sorriso “espertalhão”. Aquele cara era perigoso e o Uzumaki entendeu que deveria manter distância.

— Não, nada. Só estou com fome mesmo — falou quietamente.

— Certo. Vamos deixá-lo em paz, então — o ruivo disse calmamente e segurou o antebraço de Sasuke, puxando-o para a saída da sala.

— Ei, Gaara, me larga! Eu não tinha terminado! — Sasuke reclamou irritado, mas o ruivo o ignorou e continuou puxando-o pra longe.

Sakura e Ino seguiram os dois sem nem lançar um olhar para Naruto, e este suspirou aliviado, virando-se para sair da sala. O sinal bateu antes que ele desse um passo.

— Puta que o pariu — resmungou revoltado e se jogou na cadeira. Aqueles desgraçados tinham acabado com seu maldito intervalo normal conversando com seu – planejado –, colega deslocado.

O grupo maldito foi o primeiro a chegar e Sasuke o fitou ameaçadoramente, ou pensava ser algo assim. Sakura e Ino o ignoraram, e o tal Gaara continuava com aquele sorrisinho escroto nos lábios.

As últimas aulas transcorreram normalmente. Uma vez ou outra, uma bolinha de papel o acertava, alguém gritava “bolinho de peixe”, etc. Nada muito difícil de lidar, afinal ele tinha crescido aguentando Kurama e Kushina, e ninguém podia ser pior que aqueles dois. Eles eram os soberanos dos apelidos ridículos e, além disso, havia Minato… Aquele ali, quando irritado, era pior que o demônio. Por sorte era difícil tirá-lo do sério.

O último sinal tocou e Naruto, que já estava com o material todo guardado, disparou para a saída. Foda-se a teoria de sair por último; aquilo tinha rendido merda. Atravessou o pátio em disparada e quando chegou à rua, sorriu ao perceber que o carro do irmão estava ali. Deu um passo naquela direção e estranhou ao ver a calçada se aproximar.

O chão se aproximava cada vez mais e ele escutou várias risadas começarem a soar ao seu redor. Alguém o tinha feito tropeçar e Naruto viu todo seu planejamento passar diante de seus olhos, assim como seus antecedentes. Ele se lembrou de que não sabia lidar muito bem com humilhação pública e dor.

Naruto sabia que seus pais o tinham dado uma boa educação. Esta servia bem ao propósito de vida daquela estranha família. Eles o ensinaram a apreciar o que era belo, a ser discreto, silencioso, rápido, gentil, galanteador, fofo, agressivo… Enfim, o haviam ensinado a ser um excelente gatuno. Não conhece a palavra gatuno? Pois bem...

 Kushina e Minato eram gatunos, furtadores, larápios, malandros, mãos-leves, rapinadores, salteadores... Enfim: ladrões. Eles ganhavam a vida fazendo isso, eram os melhores do ramo e, obviamente, haviam ensinado aos filhos o negócio da família. Claro que Naruto e Kurama tinham o objetivo de estudar e seguir uma vida honesta... No intervalo entre um serviço e outro.

O leitor deve estar se perguntando: eles fazem isso e não são pegos? Sério? Em que mundo eles vivem? Brisadolândia? Não caro leitor, eles não vivem nesse mundo.

A questão é que eles não roubam para si mesmos. Eles prestam serviços a outras pessoas: políticos, empresários, policiais, soldados, generais, cafetões, etc. Sendo assim, em cada classe social havia pessoas de rabo preso com eles, por isso, não eram pegos.

Voltando ao caso de Naruto, que agora está caído com a cara na calçada e tentando buscar todo o autocontrole que havia treinado durante as férias, a situação dele não era das melhores. Os risos ecoavam dentro de sua cabeça e ele sentia suas bochechas queimarem.

Havia feito tudo certo: colocado uma camisa de seu "super-herói" preferido, Deadpool; estava usando óculos de grau, que não tinham grau algum; vestia uma calça fora de moda, cheia de bolsos, porque certos costumes não são largados tão facilmente; seu cabelo estava sem gel, mas isso não mudava muita coisa, já que eles eram rebeldes por natureza.

Não havia falado alto ou gritado, não tentou fazer amizades, evitou olhar para qualquer pessoa que usasse alguma coisa interessante. Tentou suprimir sua personalidade complicada e explosiva, não sorriu, não piscou charmosamente, não esbarrou propositalmente em seus colegas e nem os ofendeu.

Enfim, havia se deixado com aparência normal e pouco chamativa, talvez até nerd.

Qual era o problema daquela gente? Eles queriam provocá-lo? Pois bem, tinham conseguido! Uzumaki Naruto, o delinquente, terror de metade das escolas da cidade, estava de volta e alguém pagaria por esse retorno.

O loiro se levantou lentamente, espanou a roupa e tirou os óculos, lançando-os longe. Reparou que o carro de seu irmão estava parado no mesmo lugar; o idiota estava esperando pacientemente por sua típica explosão.

Naruto era o cara que chamava a atenção. Ele conseguia fazer qualquer pessoa fixar atenção nele e isso facilitava o serviço dos outros. Distraia quem deveria distrair, seu irmão derrubava quem deveria derrubar, Kushina e Minato pegavam o objeto em foco. Claro que havia revezamento, mas essa era a formação “original”.

Só que, até quando não queria, Naruto acabava chamando a atenção. Ele era um chamariz para problemas, mesmo quando não roubava nada. Nas escolas, vivia arrumando brigas e sempre levava para casa “espólios de guerra” destas encrencas. Brincos, pulseiras, colares, prendedores de cabelo e até uma bicicleta.

— Vai ficar parado ai, babaca? — Sasuke provocou às suas costas.

Naruto sorriu de lado e se virou na direção dele. Seus olhos fixaram-se em seu objeto de desejo e sentiu-se salivar. Tão bonito e tentador... Seria dele!

— Sabe, Sasuke-san?— debochou e estralou o pescoço. — Eu não gosto de pessoas como você.

— Ah, é? Pena que eu não me importo com a sua opinião — Sasuke rebateu sorrindo de lado. Iria massacrar aquele loiro. Motivo? Ele podia fazer isso: simples assim. Estava na hora de reafirmar quem mandava naquele maldito lugar tedioso, e Naruto era o alvo perfeito.

— Sasuke — Gaara chamou em tom de aviso. Ou quase isso.

— Fica na sua, Gaara — rosnou e deu um passo na direção de Naruto, ficando cara a cara com ele.

— Certo — suspirando, Gaara se afastou deles.

Logo o caos se instalou. O bando de adolescentes formou um círculo ao redor dos dois, e todos gritavam, euforicamente, incentivos para que brigassem. Em geral, só havia gritos de “vai, Sasuke!” e “Acabe com o loiro nerd!”. Naruto percebeu que as mais empolgadas eram Ino e Sakura. Elas balançavam os braços finos no ar, fazendo os olhos dele brilharem de euforia.

— O que você tá olhando, dobe? — Sasuke indagou em tom áspero.

— ‘To olhando pra sua cara de emo, teme — Naruto rebateu de forma estridente. Seu tom típico. — Além de retardado, você é cego também?

— Quem é emo, seu merda?

— Você, idiota… não me escutou? ‘Tô discutindo com uma ameba? — o Uzumaki fez uma expressão de espanto. — Kami-sama! Com certeza vou pro inferno por bater em você, bastardo.

— Vai sonhando, loiro! — rosnou e se lançou sobre Naruto.

O Uzumaki estava preparado para o golpe, mas agiria de maneira inesperada, como era de seu costume. Desviou do soco, segurou o punho de Sasuke, o puxou para perto e o segurou pela gola da camisa.

— Você é um mauricinho realmente bonito, teme — sussurrou e viu Sasuke arregalar os olhos. Era isso que o queria: atenção desviada.

— Sai fora, viado!

— Depois — sussurrou novamente e puxou-o pela gola da camisa, tocando os lábios dele com os seus.

Sasuke travou e arregalou tanto os olhos que Gaara, o único observador inabalado do local, pensou que eles cairiam para fora do rosto do Uchiha. Os outros alunos estavam tão chocados que pararam de gritar e não conseguiam pensar em nada além de “que porra era aquela?”.

Naruto lambeu lentamente os lábios de Sasuke, antes de afastar-se bruscamente e empurrá-lo. Sasuke caiu sentado no chão e acompanhou, estarrecido, o loiro passar correndo entre Sakura e Ino, quase as derrubando, e seguir para um carro estacionado não muito longe dali. Logo o carro saiu em disparada.

Os alunos foram saindo aos poucos daquele lugar. Não queriam estar por perto quando o torpor de Sasuke passasse. Sabiam que o Uchiha louco, provavelmente, iria descontar sua fúria em qualquer idiota que estivesse por perto. Apenas o grupo que sempre ficava com ele não o temia.

— É ele mesmo — Gaara comentou, parando ao lado de Sasuke, que ainda estava sentado na calçada, olhando para o local onde antes estava o carro.

— Ele, quem? — murmurou em tom vazio, sem se mexer.

— Kyuubi — respondeu com simplicidade.

— O demônio da lenda? — Sakura indagou.

— Depende de qual lenda você está falando, Haruno — Gaara a olhou astutamente. — Kyuubi é o delinquente que tanto falam por aí... De certa forma, ele tornou-se uma lenda.

— Dizem que Kyuubi matou a diretora de uma das escolas que frequentou — Ino narrou de forma sombria e estremeceu. — E que uma vez arrancou a perna de um garoto, só porque ele roubou seu lanche.

— Meu Deus! — Sakura gritou em pânico. — Ele vai matar o Sasuke-kun!

Gaara as encarou sem entender o motivo de andar com elas. O que tinham na cabeça? Alias… Será que elas não perceberam que algo faltava?

— Meu colar! — Sasuke colocou-se de pé e tateou o pescoço, olhando ao redor. — Onde está meu colar?

Gaara sorriu ladinamente.

— Colar? — Sakura murmurou e então arregalou os olhos. — Minha pulseira! Cadê minha pulseira?

— A minha também sumiu! — Ino berrou transtornada.

— Foi ele — Sasuke murmurou, enquanto uma aura sombria o rodeava. — Aquele… NARUTO! — berrou furioso.

**********/////**********

Naruto estava no banco do carona e espirrou.

— Estão falando mal de você, gaki — Kurama comentou. — O que aconteceu com seu dia normal? — arqueou uma sobrancelha.

— Kurama, você não vai acreditar! Naquele lugar só tem gente louca! — falou afoitamente. — O cara disse que não gostava de mim por ser normal! NORMAL!

— Certo, não precisa gritar — riu levemente. — Por acaso o tal cara foi aquele que você beijou?

— Esse mesmo! Sasuke-teme, para os íntimos — sorriu sapeca. — Ele tem lábios gelados.

— Que ótima informação. Usarei isso no próximo assalto — Kurama comentou sarcástico.

— Você é um idiota — resmungou e mexeu em um dos bolsos da calça. — Ele tem lábios gelados e uma família rica, Kurama — estendeu a mão, mostrando o objeto que havia arrancado do pescoço de Sasuke na hora do beijo.

— Ele é um Uchiha? — Kurama questionou ao olhar de esguelha para o pequeno pingente em formato de leque, que era cravejado com pequeninos rubis e diamantes. — Esse é o símbolo deles.

— Uchiha? A família que é dona daquele diamante raro que você vai ter que roubar? — arqueou uma sobrancelha.

— Corrigindo: a família que era dona do diamante raro — piscou. — Ambos tivemos uma manhã proveitosa, gaki.

Naruto gargalhou e recostou-se no banco. Um colar e duas pulseiras, essa era sua arrecadação do dia. Porém, algo lhe dizia que não ficaria com o colar por muito tempo, pois os lábios gelados de Sasuke tornaram-se extremamente mais interessantes e queria roubá-los apenas para si, nem que pra isso tivesse que devolver o pequeno leque. Afinal, Naruto jamais deixava de conseguir algo que queria.

— Kyuubi está de volta — murmurou alegremente enquanto olhava a paisagem.

Seis meses depois

Naruto e Sasuke, depois da cena fatídica no primeiro dia de aula, viviam se engalfinhando pelos corredores do colégio. Obviamente, nenhum dos outros alunos citava o tal beijo, afinal, o único louco que tentou, ganhou uma enfeite especial em um dos dedos… feito de gesso. Sasuke era um cara cruel.

Mas isso não significava que Naruto tenha deixado o assunto passar. Era só ter uma oportunidade que lá estava ele: atacando Sasuke do outro jeito e sempre roubando o pingente de leque, que só era devolvido quando Sasuke atacava Naruto do outro jeito também. Claro que eles foram mais discretos nesses novos ataques e Gaara até os encobria às vezes.

Sakura e Ino não podiam vê-los juntos e sozinhos que ficavam vermelhas, gritavam e logo saíam correndo. Inicialmente por medo, afinal viram Sasuke quebrar o dedo do fofoqueiro e ainda pensavam que Naruto era um assassino de diretores indefesos; depois por vergonha, pois flagraram um dos ataques… muito alternativos. Gaara, naquele dia, pela primeira vez em todo o tempo naquela escola, gargalhou.

Agora, ali estavam eles, e Naruto havia decidido que um dia normal era aquele onde roubava algo, empurrava um colega e xingava-o. No geral, ele passou a fazer isso apenas com uma pessoa, mas esta retribuía à altura.

— ‘Tá pensando em quê, idiota? — Sasuke lhe acertou um peteleco a testa.

Os cinco estavam sentados em uma praça. Era um de seus finais de semana de folga e, por isso, aceitou o convite das garotas para andarem por ai. Havia ficado realmente surpreso quando viu Gaara e Sasuke junto a elas na praça.

— Não ‘to pensando em nada, teme — rebateu e acertou um chute leve no outro, que estava à sua de frente.

— Que novidade — debochou.

— Vão começar com essas farpas de casal? Se forem, avisem. Não quero ver algo que me faça perder o apetite — Gaara falou e deu um sorrisinho ladino quando os viu arregalarem os olhos.

— Gaara, você vive debochando da gente... Não tem medo, não? — Naruto perguntou de forma ameaçadora.

— Medo de um delinquente que anda em uma bicicleta velha? Jamais — riu levemente.

— É verdade! Porque raios você anda em uma bicicleta velha, Naruto? — Sakura questionou, verdadeiramente interessada.

— O Sasuke-kun é bad boy e anda de moto — Ino pontuou, também interessada.

Sasuke lançou um sorriso superior a Naruto, que apenas girou os olhos.

— Sasuke não é um delinquente. Ele apenas tem essa cara rabugenta e um temperamento horrendo. Eu ando na bicicleta velha que eu roubei porque meus pais não são idiotas de darem uma moto na mão de alguém que pode atropelar os colegas de escola.

Os quatro o encaram boquiabertos. Naruto sabia assustar quando queria e, propositalmente, não havia desmentido alguns rumores. Sim, a bicicleta que usava era roubada: a havia roubado aos onze anos e era seu troféu. Mas ele não tinha moto porque, na verdade, morria de medo de pilotar uma coisa daquelas. Ele preferia carros fechados, obrigado.

— Então… — Sakura murmurou tentando quebrar o clima ruim.

— Fiquem relaxados, dattebayo — Naruto gargalhou. — Eu disse atropelar os colegas, e não meus amigos e meu namorado.

Se Sasuke estivesse tomando alguma coisa naquela hora, teria cuspido na cara daquele loiro retardado. Que história era aquela? E porque os outros estavam gargalhando?

— Naruto — sibilou perigosamente.

— Calma aí, teme! — levantou-se em alerta. — Vamos conversar.

— Você vai morrer — grunhiu e se avançou na direção do loiro.

Naruto saiu em disparada para longe dali, gritando para Sasuke se acalmar, afinal Gaara jamais seria seu namorado. Isso só fez o Uchiha ficar ainda mais furioso e derrubá-lo impiedosamente. Breve os dois estavam embolados e aos beijos no meio da praça.

— Ótimo, perdi meu apetite — Gaara resmungou fazendo uma careta leve.

— Não sei por quê... Isso já é tão comum — Ino rebateu sem querer expressar muito do que pensava, mas suas faces vermelhas a denunciavam.

— É mesmo! É apenas um dia normal... Né? — Sakura foi na onda dela, mas estava tão vermelha quanto.

Gaara apenas girou os olhos e voltou sua atenção para a latinha de cerveja que estava em sua mão. Como Naruto tinha conseguido aquilo? Bom, ele não ligava. Era realmente apenas um dia normal.


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Notas finais do capítulo

Notas:

Oyaji: Significa pai, velho, chefe.

Bolinho de Peixe: o nome, Naruto, faz referência a um tipo de bolo de peixe feito no vapor, que tem o formato de uma espiral, chamado naruto.

Então pessoas o que acharam? Legal? Mais ou menos? Chato? Piração total da minha cabeça (é melhor eu me internar)?

Não se acanhem, podem comentar a vontade e deixar sua opinião! xD

Beijos Beijos

Até uma próxima!

Fuiiiiiiiiii