Magnésio 12 escrita por Evelyn Waldrich


Capítulo 7
A aula


Notas iniciais do capítulo

Aproveitem!



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No dia seguinte Ellen acordou com Marly a sacudindo, estavam atrasadas. Após se trocarem correndo e comerem um rápido café da manhã, Ellen se despediu de Marly e seguiu para a sala de Treinamento de Mutação. Ela bateu na porta e abriu devagar. A cadeira ainda estava no centro da sala porém não havia mais os objetos médicos conectados. Ellen entrou e fechou a porta atrás de si, notando uma garota encostada na parede mexendo na nova versão portátil de PlacaPad. Ela tinha cabelos levemente cacheados na altura dos ombros e óculos com alto grau de hipermetropia, deixando enormes seus olhos verdes esmeralda. Ela levantou os olhos para Ellen e se aproximou.

– Ah! Muito prazer, eu sou Emily Campbell.

– Ellen Henrich.

Elas chacoalharam as mãos. Emily usava um jaleco branco.

– É... Celiny me pediu para ajudá-la. – Disse Emily, acanhada.

– Ahh, sim. Ela me disse que você viria.

Nesse momento Celiny entrou na sala:

– Desculpe pela demora, meninas. Tinha assuntos para tratar. Vejo que já se conheceram. Bem, Emily vai nos ajudar com seu tratamento.

– Como? – Perguntou Ellen.

– Com sua mutação. – Celiny virou para Emily, como se esperasse que ela se explicasse.

– Eu consigo expor as pessoas a seus maiores medos.

Ellen devia ter se sentido preocupada mas sentiu interesse, quanto mais conhecia mutações, mais se surpreendia.

– Vamos usar os poderes dela para ver como você reage aos seus medos. Acredito que ao controla-los, terá mais facilidade ao controlar sua mutação, assim, concertaremos seus problemas desde sua origem. Sente-se.

Ellen se sentou, preocupada. Não sabia o que esperar. A sensação apareceu primeiro. As emoções embaralhadas, gritando em sua mente: medo, tristeza, vergonha, solidão. As memórias vinham à tona, ela na aula de educação física ganhando boladas na cara “talvez assim apague essas marcas no teu rosto!” gritava um garoto. Ellen voltando ao orfanato, Madame Berenice colocando um esparadrapo sobre o rosto inchado “vai passar”, curta e fria, deixando-a sozinha no pequeno quarto sem se despedir. A falta de compaixão, de alguém para amá-la, para cuida-la de verdade. A solidão de sua vida. Tudo culpa de sua mutação. De sua maldição. Tudo culpa dela ter nascido assim! Essa aberração ambulante!

As memórias, os sentimentos, tudo ia e vinha num redemoinho. O ódio preencheu seu interior. Porque Deus a amaldiçoou??! Porque fez isso com ela??? Porque nem seus próprios pais quis ficar com a menina esquisita! A deixou num orfanato velho e decadente, onde ninguém a adotou! Todos sabiam dos acidentes suspeitos com os colegas, eletrocutados. Porque com ela??? Porque não com o menino horrível que a excluiu???! Ele sim merecia! Merecia ser torturado! Sofrer o mesmo que ela sofreu!!!

Emily estava preocupada. A menina sofria fortes convulsões, a sua mutação tentando desesperadamente tentando se manifestar. Não era somente um modo de se proteger contra seus medos e aflições, (que eram muitos) era um modo de se libertar de anos de raiva, de tristeza e solidão, comprimindo tudo em um ódio de si mesma. A contradição fazia mal a Ellen, era lutar contra si mesma, era loucura. Emily enfraqueceu seu poder. A parte difícil de sua mutação era lidar com a dor das outras pessoas, pois, ao utilizá-lo, Emily sentia suas maiores aflições e fobias. Quando criança, isso voltava contra si mesma, vendo-se afogada em medos de outras pessoas. Celiny a ensinou como lidar com isso, consequentemente, fazendo-a entender as pessoas. Ela mesma havia tido um passado conturbado, que ironicamente, não costumava compartilhá-lo.

– Emily, pode parar. – Disse Celiny pelo microfone. Emily agradeceu por parar, Ellen já começava a soltar faíscas azuis, e ela estava começando a ficar com medo de tomar um choque. Ellen sentou na cadeira, segurando as têmporas e Celiny entrou na sala.

– Está bom por hoje. Recebemos informações importantes para seu tratamento, Ellen. Emily, obrigada pela ajuda, quando precisar de você, te chamarei. Ellen, sei que está mentalmente cansada mas fazer um exercício será bom. Você e Emily podem ir fazer tiro ao alvo, afinal, já está no seu horário, Em.

– Muito bem.

Elas seguiram pelos corredores, cheios de alunos, cada um brincando com sua específica mutação. Seria divertido se Ellen não estivesse com uma enxaqueca horrorosa.

– Ei, tudo bem? – Perguntou Emily, por trás das lentes. Ellen concordou com a cabeça. – Eu sei como se sente. Bem, literalmente, já que coloquei seus medos contra você, heheh.

– Nah, tudo bem.

– A Celiny sabe o que está fazendo, vai dar tudo certo. Ela me ajudou muito, eu também tive minhas frustrações no passado.

– Ah, é?

Emily suspirou.

– Eh. Eu perdi minha mãe quando pequena e logo depois meu pai se casou com uma mulher horrível chamada Rose. Parecia que ela o controlava, ele não era mais o mesmo, deixava que ela me maltratasse.

– Puxa, eu... sinto muito.

– Tudo bem. Um dia eu fugi de casa e logo depois fui resgatada. Todos foram muitos legais aqui. É minha casa agora.

– Entendo....

Ellen ficou quieta, pensando no que ela havia dito. Será que a Resistência poderia ser sua casa, como era para Emily? Mas seus pensamentos foram interrompidos quando elas entraram na sala. A sala de “esportes” era enorme, muito maior do que parecia e muito bem equipada. A direita era usada para exercícios corporais, para melhorar a coordenação, o equilíbrio, os reflexos, a agilidade e a força. Jovens equilibravam-se em cordas, desviavam de dardos, trainavam mortais carpados, lutavam corpo-a-corpo. A esquerda, jovens praticavam arco-e-flecha, atiravam adagas, lutavam com espadas e atiravam com armas de fogo. Uma verdadeira escola militar.

– Venha. Vamos treinar arco e flecha. É fácil. - Elas se aproximaram da área para o arco e flecha e pegaram dois arcos simples porém modernos. – Eu também sou iniciante no arco e flecha. Prefiro as adagas, tenho a minha especial, que trouxe de casa, após minha fuga. Ficaremos a uma distância menor do alvo. Fique de lado, isso. Segure a flecha entre os dedos e aproxime dos lábios, assim. Isso, muito bom.

Emily explicou para Ellen como atirar, mas não ajudou tanto quanto esperava. As flechas sempre caiam muito abaixo do alvo.

– Não. Não. Você está fazendo errado. Mire um pouco acima do alvo e deixe a gravidade fazer seu trabalho. Assim, olhe.

Emily atirou e chegou perto do centro.

– Ok.

Ellen tentou e teve um resultado melhor.

– BEM melhor!

Ellen parou para beber água e aproveitou para olhar ao redor. Era impressionante como todos eram bons, os exercícios deviam ser bem rígidos na Resistência. Foi quando ela notou um homem parado, olhando cada um dos mutantes. Ele devia ter aproximadamente uns vinte anos e tinha cabelos escuros, olhos negros e uma cicatriz sobre a sobrancelha. Tinha uma enorme tatuagem tribal nos braços e no pescoço e um anel em cada dedo, de metais diferentes.

– Ei, quem é aquele?

– Aquele é o Rhuan Warwolf. Ele faz parte do “Conselho” da Resistência. Parece que ele teve um passado muito difícil e desde então luta arduamente contra o governo.

– Qual é o passado dele?

– Não se sabe muito. Só alguns rumores. Como ele foi torturado e tem as tatuagens para esconder as cicatrizes.

– Torturado?

– É. Mas poucos se atrevem a perguntar a ele, também, um passado assim não deve ser fácil de contar.

– É...

– Bem, ele treina os mutantes, como usar armas e lutar corpo a corpo. Não gosta de brigar, mas é muito bom nisso. É um mutante também.

– Qual sua mutação?

– Ele consegue absorver a essência de diferente materiais ao tocá-los. Por isso ele leva tantos anéis, para ter um metal para absorver sempre que precisar. Ele é legal. Normalmente é tranquilão. De boa.

Ellen concordou com a cabeça e seguiram com o arco e flecha. Ellen era boa e tinha facilidade, só não achava uma arma muito útil, nem muito interessante. No final de seu treinamento Rhuan se aproximou.

– Ellen, não é? A menina nova?

– Eu mesma.

– Prazer. Celiny me pediu para treiná-la. Todo dia, à tarde, após o almoço.

– Ok.

– Muito bem, então. Até amanhã. Emily. – Ele cumprimentou ela com um aceno de cabeça. Ela retribuiu.

– Rhuan.

Após a aula, elas tiveram horário livre e se divertiram nas salas de jogos, encontrando Felipe na sala de jogos, Ayuna com outros mutantes mais velhos na sala de filmes, e Marly conversando com Annemarie. Emily se deu muito bem com Anne. O resto do dia foi calmo e a enxaqueca de Ellen deu lugar a uma paz surpreendente. A noite, Ellen foi para o quarto acompanhada de Marly, que era seguida por seu casaco ambulante, que ela tinha se cansado de segurar. Se Ellen olhasse direito para o casaco mais capengando do que andando, ela caía na gargalhada.


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Notas finais do capítulo

Comentem! Quero saber como está indo a história, como um todo! O que vocês gostaram, o que não e porque. Comentem! Quero saber suas humildes opiniões!
Espero que estejam gostando!



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