Magnésio 12 escrita por Evelyn Waldrich


Capítulo 3
O Resgate


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura! Espero que gostem!



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A única coisa que Ellen ouvia naquele breu era sua respiração pesada. Ela tentou acalmar os nervos enquanto seus olhos se acostumavam a escuridão. Estava caída no chão, apoiada sobre os cotovelos. Podia notar que as algemas haviam quebrado, deixando somente o machucado em seus pulsos. O cheiro de carne queimada impregnava o ar e incomodava seu nariz. Então um pensamento horrível perpassou-lhe a mente: Teria matado todos eles? O pânico tomou conta dela por um segundo. Isso já havia acontecido. Quando era uma criancinha, nos primeiros anos do colégio, um garotinho arrancou o giz de cera de sua mão e, misteriosamente, o menino foi eletrocutado. Houve um descompasso no coração da criança e o garoto foi para o hospital, mas passa bem. O problema foi com Ellen. Não havia sido a primeira vez que isso acontecia nem seria a última. Tudo isso colaborou para a exclusão de Ellen e sua permanente tentativa de impedir que suas “anormalidades” se manifestassem. Por medo de que algo do tipo acontecesse.

Ellen se obrigou a permanecer calma. Não conseguiria nada se ficasse nervosa. Lentamente levantou, com dor nas juntas rígidas e tentou se localizar. Virou a cabeça e do canto do olho viu algo vermelho. Com cautela e uma leve aflição no peito, decidiu seguir na direção da luz. É... um arco? Se perguntou, ao chegar mais perto. Então pode ver os três garotos que a salvaram, dentro de uma proteção circular de cor vermelha brilhante, criada pela garota que lutou habilmente. Ela apagou o escudo e todos voltaram a escuridão.

– Você matou todos. Você matou todos eles.

No momento que as palavras saíram da boca de alguém Ellen desejou que nunca tivessem saído. Eles ficaram um minuto em silêncio diante da frase macabra, até que um garoto, que Ellen concluiu ser o de cabelo verde, falou:

– Bem, o papo está muito bom mas é melhor agente ir indo.

Ele a segurou pelo ombro e a empurrou para um lado.

– A escada tava por aqui... Ayuna, você se lembra onde estacionamos o Carro Aéreo? Era por aqui né? Lembro que subimos uma escada...

– Siga em frente, Lipe. Vai ter uma escada a sua direita. Desce com cuidado. Não faça como na última vez lá no dormitório...

A menina, que aparentemente se chamava Ayuna, deu uma risadinha.

– Há... há... há... Que hilário....

– Vamos gente, o Tavo deve estar preocupado. E não estou com vontade e ouvir mais um de seus sermões.

Disse o último garoto. Ellen seguia a passos tortos, enquanto tentava entender o que se passava, quando a ficha caiu.

– Não! Espere! – Ellen soltou o braço e parou de andar. – Onde estão me levando? Quem são vocês?

– Olha, eu sou o Felipe, a menina é a Ayuna e o chinês é o Liang. Estamos aqui para ajudar e leva-la para um lugar seguro. Somos mutantes e...

– Como é que é? Mutantes?

– Olha, não dá para explicar tudo agora, explicamos no Carro Aéreo. Vamos??

– Não! Sem essa! Qual é a dos caras do exército armados e... e... meus salvadores são... adolescentes??? Mas que merda está acontecendo aqui???

Felipe deu um suspiro.

– Olha, te explicaremos no caminho, no Carro Aéreo. Vai dar tudo certo. Confie em nós. Afinal, viemos te salvar cara! Não faríamos isso se não estivéssemos do mesmo lado!

– Afinal, eu não gostaria de ficar aqui, logo virá a polícia para ver o que aconteceu e quem matou aqueles soldados e bem, você vai estar no meio.

Comentou Ayuna. Ellen engoliu em seco.

– Vamos em frente.

No estacionamento do colégio havia uma parte sem teto e lá estava estacionado um Carro Aéreo. Ellen arregalou os olhos. Nunca havia visto um Carro Aéreo ao vivo, afinal, essas aeronaves tinham uma tecnologia muito avançada e eram muito caros, somente ricos e o governo possuíam. Carros Aéreos serviam tanto de lazer e um modo eficiente de locomoção quanto armas de guerra, caso bem equipado. Era um enorme “carro” de comprimento ovalado, piso reto para aterrissar e teto arredondado. Tinha três andares, o piloto ficava no do meio e normalmente o lazer ficava no último andar por ter um teto retrátil, podendo virar um andar todo de vidro com a mais bela vista. Muitos milionários usavam o Carro Aéreo como casa voadora, e quanto mais Ellen se aproximava, mais notava como a coisa era realmente enorme.

Ellen notou que, no casco com aparência de madeira lustrosa, à frente, havia escrito com uma bela letra: Volans. Concluiu ela, que era o nome da aeronave. Ao se aproximarem, uma rampa traseira se abriu, permitindo-os a subir adentro. A boca de Ellen caiu. Tudo dentro era muitíssimo bem mobiliado, com mármores e os mais ricos metais decorando o interior.

– Vamos subir, precisamos nos encontrar com Tavo e nos mandar rápido daqui. Esse resgate já está muito longo.

Disse Liang, entrando num elevador panorâmico.

– Relaxe, Li! Já acabou nosso trabalho aqui! Vamos voltar para a Resistência e comer e dormir como porcos, ok? – Disse Felipe, enquanto subiam no elevador. Quando o elevador acabou de abrir as portas um garoto de cabelos negros bagunçados, olhos castanhos claros e óculos redondos pendendo na ponta do nariz, chegou em passos desastrados.

– Onde vocês estiveram?? Eu fiquei muito preocupado! Antes teve a maior explosão, um raio, ou qualquer coisa assim, fiquei tentado a sair correndo ver se vocês estavam bem! Aí depois vocês demoraram pacas! ´Ces sabem quão perigoso é seu trabalho e eu tenho que ficar aqui, pro caso de algo horrível aconteça com vocês! E pra variar vocês não ligam o bendito do TouchPad! Já ensinei mil vezes como funciona o treco mas nããã...

Enquanto ele falava suas sobrancelhas mexiam consideravelmente rápido, fazendo caretas cômicas.

– Tavo, Tavo, cara, relaaxa! – Interrompeu Felipe. - Deu tudo certo! A mina nova aí torrou os caras em dois segundos, não precisamos fazer nada!

Só então Gustavo (Tavo) pareceu notar a presença de Ellen. Ele ergueu as sobrancelhas.

– Ahh, então a explosão foi você? Bem que eu senti muita energia vinda de você. Muito prazer. Bem vinda a bordo da Volans! Gustavo Phillips ao seu dispor.

Ellen cumprimentou-o com um aceno de cabeça.

– Bem, agora eu vou ligar está belezinha!

Gustavo se foi e Ellen se dirigiu a um sofá com Felipe, Ayuna e Liang.

– Bem, agora às explicações. Eu sou Felipe Valutto, Ayuna Hikimoto, e Liang Cheng como já disse. Aquele lá é o Tavo, como você percebeu. Ele pilota a nave e também é mutante. Todos nós somos mutantes, uma nova evolução natural do ser humano. Esta nova evolução é algo relativamente novo, por isso, o mutante mais velho que encontramos até agora está entre os trinta anos. Mas muitos de nós estão em perigo por estarmos sendo procurados e sequestrados. Nós, da Resistência, trabalhamos para que os novos mutantes sejam resgatados e salvos, levados em segurança até a nossa sede. Você vai gostar de lá, você vai aprender como controlar sua mutação e vai conviver com outros de nós, como um acampamento.

– Mas quem está nos sequestrando?

Felipe deu um suspiro pesado.

– Essa é uma história complexa e não acho que sou a pessoa mais indicada para te explicar. Lá na Resistência você irá conhecer Celiny, a criadora da Resistência. Ela explicará tudo para você.

– E quais são suas mutações?

– Eu controlo o magnetismo. Sou basicamente um imã gigante. E com cabelo naturalmente verde.

Felipe sorriu e bagunçou o próprio cabelo. Era um sorriso caloroso, lindo e perfeito, capaz de fazer qualquer mulher derreter num segundo. Aí que Ellen notou como ele era bonito. Tinha os olhos de um azul profundo belíssimo, pele dourada de Sol, um sorriso encantador e uma atitude descontraída.

– Eu crio escudos de energia. Consigo criar barreiras, tanto para ataques ofensivos quanto defensivos.

Disse Ayuna. Ellen havia visto ela lutar e percebeu como a garota era boa naquilo. Fazia da luta uma arte. Ayuna tinha algumas características tipicamente orientais, mesmo que leves. O cabelo negro e liso comum em asiáticas, tinha um corte Chanel de um lado e do outro um pouco mais longo, na altura do ombro. Olhos verde-água levemente puxados e sobrancelhas arqueadas, aparentando um olhar mais atrevido.

– Eu, junto com minhas irmãs gêmeas temos a mutação de desaparecer. Tornar invisível não só a gente, como qualquer coisa que quisermos. Nós que camuflamos a Resistência.

Liang tinha um ar tranquilo porém sério. Parecia alguém ótimo para se ter uma conversa calma e civilizada.

– E você?

Perguntou Felipe. Ellen se sobressaltou.

– Eu oque?

– Qual sua mutação?

– Eu... não sei. Deve ter algo a ver com eletricidade mas não sei. Eu nunca utilizei minha mutação para nada.

Disse ela, a voz abaixando enquanto falava.

– A Celiny vai saber qual é a sua mutação. Ela vai ajudá-la. Deve ser algo muito forte para causar aquela explosão, suas veias brilharam.

Ellen parou. Toda aquela conversa havia feito se esquecer de suas marcas. Rodou o cachecol no pescoço, novamente incomodada com sua aparência.

– E demora muito pra chegar a tal Resistência?

Perguntou Ellen, tentando mudar de assunto.

– Só algumas horas. Deve estar cansada. Ayuna mostrará seu quarto enquanto viajamos. Pode dormir, quando chegarmos te acordamos.

Ayuna se levantou e se dirigiu ao elevador. Ellen a seguiu. No caminho ela ouviu Felipe dar um bocejo:

– Acho que também vou descansar. Boa noite, Li.

Ellen e Ayuna desceram para o primeiro andar e seguiram por confortáveis corredores, com portas brancas com numeração: 1A, 2A etc. Ayuna parou a frente do 4A.

– Este será o seu quarto. – Disse, abrindo a porta. – Fique à vontade. Tem um banheiro com chuveiro caso queira tomar banho. Tem todos os artigos de banho e um roupão no armário. Caso queira chamar-nos, tem a PlacaPad ao lado de sua cama. Pode dormir, a viagem vai durar algumas horas. Quando chegarmos irei tocar a campainha para acordá-la, ok? A chave do quarto está em cima da escrivaninha. Boa noite.

– Boa noite. Obrigada.

– Não há de que.

Ellen fechou a porta atrás de si. O quarto era muito confortável, com assoalho novo, um armário de madeira e uma cama encostada a parede. Na parede, ao lado da cama, havia a PlacaPad, muito comum um Hotéis, para quando o cliente quisesse algo. A frente da cama, na parede oposta havia uma escrivaninha de madeira com um cartão em cima e ao lado da escrivaninha tinha a porta do banheiro. Era um bom quarto.

Maior do que tenho no orfanato, pensou Ellen. Ela tirou o sapato e foi ao banheiro para tomar um bom e longo banho. Depois do banho e de secar o cabelo, deitou na cama, pensando em tudo que havia ocorrido naquele dia. Mas não chegou a pensar muito pois num instante já estava presa num pesado sono, sem sonhos.


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