Magnésio 12 escrita por Evelyn Waldrich


Capítulo 18
Memórias e Flashbacks


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura!



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Ela massageava as têmporas. Estava estressada. Tinha acabado de conversar com seu espião Keane, e se perguntou se havia feito a escolha certa. O garoto nem tinha conseguido seguir o plano. O plano era conquistar o telepata, e não o garotinho controlador por contato físico. O poder era interessante, porém pouco útil. Keane havia insistido que era impossível chegar perto do telepata com a proteção e treinamento dado a ele pela Resistência. Impressionante! Mesmo no seu próprio plano, eles atrapalhavam. Maldita Resistência! Agora, teria que se virar sem o telepata. (Suspiro). Incompetentes! Inúteis! Idiotas! Ela tomou folego e se acalmou. O estresse era mal para ela. Fazia-a perder o controle. E isso não podia acontecer. Precisava estar no controle da situação para seguir com o plano. Iria conseguir tudo que planejara. Tudo! Afinal, já tinham lhe passado a perna antes, não é? Com aquela... garota. Merda! Merda! Merda!!! Merda!!! Lembrava como se fosse ontem: Quando a garota tirou-lhe tudo, toda a sua herança, seu respeito, sua vitória, sua mente. Ainda sentia as sequelas de vez em quando.

     Faziam anos e o futuro parecia um sonho. Maravilhoso, perfeito! Era jovem, de 17 anos, e tinha acabado de fugir da casa dos pais, que a chamavam de “demônio”, “amaldiçoada”, “aberração”:

     “Você é um demônio, Rose! Um demônio! Saiu do inferno, amaldiçoada!!!” Rose era o nome dela, um nome “muito bonito para uma aberração” dizia a mãe. Rose sofria muito, mas não tinha coragem de fugir. Até o dia que a mãe bateu nela. Um enorme corte na testa, que sangrou e sangrou. Os enormes pingos escorriam pela sua testa e caiam nos seus olhos, deixando a vista vermelha. Foi quando se decidiu. Fugiria de casa. Estava morando nas ruas fazia cinco anos, quando foi acolhida por um grupo de outros iguais a ela, com diferentes habilidades, um grupo que se auto denominava “O Kraken”, controlado pelo mais Alto Nível . Eles deram uma família para ela, uma nova chance. E tudo que precisava fazer era provar seu valor. Se provasse seu valor se tornaria oficialmente um membro. Seria verdadeiramente acolhida. E tudo que precisava fazer era conseguir um novo membro.

     Rose procurou muito até encontrar uma menininha. Uma doce menininha de óculos e cabelos cacheados, com um poder fenomenal! Conseguia colocar os medos do outro contra ele mesmo. Era fantástico. Ela seria a chave para seu futuro perfeito! Rose tinha até se apaixonado por um jovem adulto do mais Alto Nível. Ele era lindo e também parecia amá-la. Fizeram promessas de amor para um futuro tão distante e ao mesmo tempo tão próximo. Ela contou para os cinco do mais Alto Nível sobre a menina, e eles a orientaram: Disseram que para provar seu valor deveria ser capaz de qualquer coisa. Deveria cumprir o dever. Ordenaram que matasse a mãe da menina e que controlasse o pai. Assim, seria a nova madrasta e conseguiria o respeito da menininha, tornando-a um membro e continuando o ciclo.

    Rose relutou a princípio, mas sabia que isso deveria ser feito. E quando chegou a hora, ela não falhou. Usou seus poderes e viu quando a cabeça da mulher virou 360 graus e ela morreu. Mas sentiu pena. Sentiu pena por ter feito isso, mas era necessário. Precisava fazer isso. E seguiu com o plano. Se aproximou da menina e conquistou sua confiança, e logo se tornou a nova madrasta da menina. A garota não confiava muito nela, mas Rose sabia, sabia que ela ia conseguir. Que daria tudo certo. Até que uma noite elas começaram uma discussão. Uma discussão normal, tipo mãe e filha:

    - Emily, você não poderia ajudar mais na arrumação da casa? Sabe como é difícil para mim e seu pai de cuidar da casa inteira!

    - É, bem, se você não passasse tanto tempo arrumando as unhas, também poderia ajudar mais na casa.

    - Emily! Retire isso! Retire o que disse!

    - Como se não fosse verdade.

    - Como?? Você não pode continuar me tratando assim! Sou sua madrasta! Quase uma mãe!

    - Você nunca vai ser minha mãe!

E simplesmente assim, Emily a atacou. Todos seus medos, tormentos, memórias terríveis  nocautearam Rose e ela apagou. Estava à beira da inconsciência, quando viu Emily pegar a adaga da família e sair da casa. A menina fugira, roubando todo seu dinheiro, e a deixando com graves sequelas. As memórias e sentimentos iam e vinham, a deixando descontrolada. Mas ainda tinha fé. Não contou para o Kraken que havia perdido a menina. Ela não podia ter ido longe. Quando a perguntavam sobre o andamento do plano, dizia que tudo ia bem, enquanto secretamente procurava a menina. Até que um dia, O Kraken a chamou:

    - Então, Rose? Como vai com Emily?

    - Vai muito bem, senhor. Há muito progresso.

    - Hmhm, sei. Porque por nossas fontes, a garota fugiu faz três meses.

    - Am, oque? Não, não, posso garantir que...

    - Não minta pra mim!!! - Rose se calou. – Sabemos que a menina te atacou e que fugiu! Você falhou!

     - Nã-não! Planejo encontrá-la! Sim! Vou encontrá-la!

     - Não me venha com essa! A menina já foi resgatada pela Resistência!

     - Re-Resistência? O que é...?

     - É um grupo que reúne outros com habilidades como nós.

     - Mas então... Nós podemos conversar com eles e...

     - Tola! Não se deixe enganar. Não serão gentis conosco. Acreditam que podem viver pacificamente com os homens ordinários, mas sabemos que isso não é verdade. Não nos darão ajuda. Estamos sozinhos.

    - Mas...

    - Cale-se! Você falhou. Não é digna de pertencer ao Kraken. É fraca e despreparada! – As palavras do Líder do Mais Alto Nível eram venenosas, feitas para machucar. E atingiam onde queriam. – Você não conseguiu nem ganhar a confiança de uma menina! E ainda por cima, deixou-a impor sobre você! Você perdeu para uma menina com metade de sua idade!

   - Não! Não perdi! Eu até matei a mulher, não matei? Matei a mãe dela! Eu consegui fazer aquilo!

   - Aquilo??!! Aquilo era a menor de suas preocupações! De todos que acolhemos você foi a maior decepção.

  - Não! Não! Eu faço tudo por vocês, eu juro!

  - Para que? Para depois mentir para nós? Trair nossa confiança? Não. Não merece ser um membro do Kraken.

As palavras queimavam por dentro. A faziam lembrar de sua mãe, xingando-a. Lágrimas quentes escorriam em seu rosto.

   - Agora saia! Saia e nunca mais volte! Você é uma mentirosa, uma fraca e traidora! Saia!

Não, não, não, não! Toda a raiva, frustração, medo, decepção que a consumiam por dentro estouraram. Todas as lembranças de dor e sofrimento liberadas por Emily voltaram, somados a ira e desespero do momento. Na hora, ela só viu a sombra dos homens se retorcendo, os corpos girando em ângulos asquerosos, sem saber o que estava acontecendo. Depois, voltou a si, e entre os corpos destruídos, estava o de seu amado. Um berro do fundo da alma saiu dela. Um choro de puro desespero, desolação e sofrimento se apossou dela. Chorou por horas, talvez minutos?, Quem sabe segundos? Não sabia. Até bater à porta uma menina de cabelos ruivos:

   - É, com licença? Oh, meu Deus!

   Rose se levantou, a cara inchada de tanto chorar e a postura firme, vinda de uma força que não sabia possuir:

  - Qual seu nome, garota?

  - Bicolor. Quero dizer, é Hadassa Lee, mas pode me chamar de Bicolor. O que aconteceu aqui???!!!

  - Qual seu poder Hadassa?

  - Eu separo átomos, desintegro as coisas. Desculpa, não devíamos chamar ajuda??!!

   - Hadassa, faça-me um favor: Chame os outros e os avisem que sua nova líder está descendo para encontra-los.

Hadassa não se moveu. Estava meio surpresa, meio chocada, um tanto preocupada.

   - Agora!!! – Berrou Rose, e as pernas de Hadassa se mexeram involuntariamente. Rose limpou o rosto, retomou a compostura, e saiu da sala, deixando os corpos desfigurados para trás.

   Anos depois Rose finalmente percebeu que o terrível acontecimento com o mais Alto Nível se deu ao flashback das memórias horrendas que Emily trouxe à tona. Percebeu que os efeitos do poder da menina haviam sido tão fortes, que voltavam de tempos em tempos. E quando voltavam, coisas horríveis aconteciam. Quanto mais estresse sentia, mais descontrolada ficava, e mais acidentes terríveis aconteciam. Mas não se lamentava. Já havia sofrido demais. E se não fosse por Emily, não seria quem era hoje. Porque Rose planejava um grande futuro, que não tinha espaço para tolos e ignorantes, como a Resistência.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado! Comentem!



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