Diário de uma Paixão escrita por garotadeontem


Capítulo 1
Prólogo




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Mais uma noite sem sonhos, o dia estava clareando. A insônia sempre me perturbava, mas com o passar da idade piorou. Além das dores nas articulações que me incomodavam. Fiquei observando o escuro se tornar claro, até que uma enfermeira entrou no quarto.

_ Seu Félix? Bom dia. – ela caminhou até a janela e abriu as cortinas, quase me cegando.

_ Criatura! Quer terminar de me cegar?

_ Claro que não. – ela riu.

Ela sempre ria das minhas piadas, mas às vezes, eu não estava brincando. Mariana era o nome dela, e ela me acompanhava naquele lugar há alguns anos, era a única que estava acostumada com o meu humor, hã... complexo, talvez. Ela foi até a cômoda ao lado da cama, e eu me sentei, já acostumado com aquela rotina.

_ Seus óculos. – ela me deu o óculos, que já estava precisando mudar o grau de tão fortes, e eu coloquei no rosto.

Em seu pequeno carrinho de sempre, ela trazia uma garrafa de água, ela abriu com cuidado cada caixa de remédio que eu deveria tomar e os ofereceu pra mim. Tomei todos.

_ Você quer tomar o café agora?

_ Ele já acordou? – eu perguntei e ela deu um sorriso torto.

_ Daqui a pouco vou acorda-lo.

_ Então, vou tomar o café junto dele. – ela assentiu.

_ Nos encontramos lá, seu Félix. Vou passar no quarto da dona Angela primeiro.

Eu me sentia nostálgico todas as vezes que ela me chamava de “seu Félix”, me lembrava de nossa ex-empregada e amiga, Adriana. Tirei o pijama e vesti o terno, sem perder a elegância. Os óculos me deixavam horroroso, mas não tinha jeito. Sem eles, eu não enxergava um palmo a frente. Penteei os cabelos brancos, totalmente brancos , e ralos.

Caminhei lentamente até pequeno guarda roupa e peguei o livro nas mãos, já estava todo velho e com as pontas dobradas, mas eu tentava cuidar dele com muito carinho. Peguei a bengala que ficava pendurada na parede próxima a porta e me ajudava a andar, e caminhei lentamente pelo corredor. Aquele lugar cheirava mofo, mas eu já estava acostumado, estava acostumado com tudo, as pessoas, o cheiro, e o vento de maresia que me lembrava de que ainda estávamos no litoral.

A porta do quarto dele já estava entreaberta e Mariana conversava com ele. As cortinas abertas, e a mão dela cheia de remédios.

_ Você precisa tomar os remédios.

_ Por que? Por que eu tenho que tomar tudo isso? – ela sorriu, da forma mais carinhosa que pode.

_ Para que o senhor fique melhor.

_ Eu estou bem.

_ É para que fique melhor ainda. – eu disse, chamando sua atenção.

_ Quem é esse? – seus olhos me analisaram e o meu peito afundou, como sempre acontecia.

_ Esse é o Félix. Ele veio te fazer companhia para o café.

_ Eu não o conheço. – ele me olhou de novo. – Quem é você?

_ Um amigo, um amigo. – disse, devagar. – E eu vou ler uma história pra você.

_ Uma história? Que história?

_ Só digo se você tomar todos os remédios. – ele sorriu torto, o que me fez sorrir também, pegou os remédios da mão de Mariana e os tomou.

Hoje, ele estava bem, seu humor não estava tão alterado e aceitava a minha presença. Tem dias que eu nem consigo entrar no quarto. Deixei minha bengala próxima à porta e caminhei até uma poltrona ao lado de sua cama. Ele me olhava com curiosidade e seus cachinhos que antes eram dourados, hoje estavam brancos. Seus olhos ainda eram totalmente verdes com aquele brilho encantador.

_ Que história é essa que você vai ler pra mim?

Mariana terminou de arrumar suas coisas e a cama dele.

_ Tenho certeza que é uma história que você adora. – eu disse e ele sorriu. – Ontem, paramos em... – abri o livro que carregava.

_ Não me lembro. – eu assenti.

_ Mariana, pode trazer o café mais tarde, meu doce?

_ Claro, claro. – ela sorriu, após carregar o carrinho para fora, fechou a porta.

_ Você tem certeza que eu gosto dessa história? Eu não me lembro de você. Nem se eu gosto de você. – ele disse, tropeçando nas palavras.

_ Somos amigos e eu venho ler pra você, todos os dias. Não importa se não se lembra, vou recomeçar. – tirei o marca páginas do lugar e abri a primeira página.

Tudo era escrito a mão, passei os dedos pela letra corrida e a tinta já manchada, respirei fundo antes de começar. Ele ainda me olhava com atenção, o que era um bom sinal.

Sentimento não tem explicação, ele só existe. Não entendia o significado dessa frase até conhecer essa pessoa. A gente nunca sabe quando nossa vida vai ter uma reviravolta, nunca sabe quando tudo pode mudar da água para o vinho. Nunca pensei me apaixonar por alguém como ele. Mas também, pensava que sabia o que era o amor antes de tudo isso acontecer.

_ Eu amo histórias de amor. – ele me interrompeu.

Meus olhos já marejados olharam pra ele, ele olhava a paisagem através da janela.

_ Eu sei. Você quer que eu continue?

_ Claro. – ele sorriu.

Um sorriso lindo e só voltei meus olhos para a letra e continuei. Hoje seria um ótimo dia.


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