Unforgivable escrita por oakenshield


Capítulo 23
Stay


Notas iniciais do capítulo

Oi. Então. Vou encurtar a fic que já estava sendo encurtada. Alguns poucos capítulos a mais. Boa leitura.



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Katerina estava sem sono, então disse a Alison e Francis que vigiaria Hector no primeiro turno. Eles colocaram o despertador para cinco da manhã, que era a hora que Alison acordaria para cuidar de Hector.

Ela pega uma maçã e começa a morder depois de lavar, já que não sabe descascar, e fica pensando em tudo aquilo que perdeu. Matou Jacques por Erik e decidiu que iria embora para ajudar os rebeldes, pensando que Melanie era sua irmã e que estava em perigo. Descobriu que Joffrey, o seu tio psicopata, era na verdade seu pai. Não tinha porquê ir para o norte se Melanie não era sua irmã, mas ainda assim ela foi. Sempre pensou que estava fugindo por causa da retaliação que viria por parte de Hahle, mas na verdade estava fugindo de Joffrey e da verdade. Precisava espairecer, mas só acabou se estressando ainda mais. Morreu e voltou à vida. Se esconde de todos agora, esperando sua meia-irmã louca ser deposta para ela poder reassumir o trono.

Ela poderia simplesmente chegar em Frömming e contar a verdade: que o casamento de Ivna e Joffrey não era válido já que ele casou com Harriet. Ela era a verdadeira herdeira. O trono era seu por direito.

Mas isso significaria que Ivna e Joffrey perderiam a Rússia. Ela não ligava para Ivna, mas seu pai estava a ajudando a recuperar seu país, não podia deixá-lo a ver navios. Por isso planejavam tudo minuciosamente.

Ela só queria sentir o vento gélido, mesmo no verão, das ruas de Frömming. O clima ameno dos corredores de pedras do seu palácio, deitar em sua enorme e confortável cama, reencontrar sua mãe e sua irmã. Seu filho. Tudo o que ela mais queria era pegar seu filho no colo e ouvi-lo sussurrar mamãe em seu ouvido. Queria reconhecer o rosto do seu marido no do seu filho.

Ela sente um arrepio e percebe que a janela se abriu com a ventania. Ela vai até lá para fechá-la, mas fica observando os flocos de neve caírem sob o brilho da lua. Uma luz em meio à escuridão.

Katerina sente uma mão no seu ombro, o toque reconfortante daquele que um dia ela pensou que nunca amaria, mas que a amou de maneira tão intensa que todo o seu ser se rendeu. Ela encosta a mão na dele e sente seus braços ao redor da sua cintura enquanto ela continuava apoiada no parapeito da janela, o queixo dele apoiado no seu ombro. Era assim que eles sempre ficavam, era assim que ela gostava de se lembrar dele.

– Por que não conhecemos Carrick antes? - ela pergunta. - Ele poderia tê-lo trazido de volta.

– Viver novamente não é natural, Kate. Você sabe disso. Está ligada ao mundo dos mortos, de certa forma, por isso consegue me ver.

– Não é apenas ver. Eu sinto - a ruiva sussurra. - Eu sinto suas mãos ao redor do meu corpo, eu sinto seu calor contra o meu. Seus movimentos, eu o escuto.

Ela vira-se para ele.

– Isso não é por que eu quero tanto tê-lo aqui que chego a delirar constantemente?

A palma dele encontra a bochecha dela e Katerina fecha os olhos, uma lágrima queimando sua bochecha. A saudade arde em seu peito, a nostalgia... ela não sabia que a morte dele ainda doía tanto. Nas últimas vezes que havia o visto, eles não tinham conversado sobre.

– Não é um delírio. Eles se foram junto com o veneno, antes de você renascer.

Ele sorri levemente para ela.

– Eu sempre vou estar aqui, você sabe, vivo ou morto. Eu prometi, não prometi?

– Até que a morte nos separe - ela murmura, lembrando do juramento no dia do seu casamento. Ela abre os olhos azuis e molhados. - Ela nos separou. Tirou você de mim e do nosso filho.

– Erik ainda vive e enquanto ele respirar, eu estarei com vocês.

Ela sorri tristemente e se inclina para frente, apoiando a cabeça no ombro dele, sentindo seus braços ao redor dela.

– Eu não sei o que faria se você não estivesse aqui.

Ele a afasta devagar.

– Você é mais forte do que pensa.

– Eu não...

– Eu estou aqui - ele pressiona o indicador contra a cabeça dela, simbolizando que ele estava nos pensamentos da ruiva.

Katerina pega a mão dele e a coloca contra o seu peito, onde o seu coração pulsa afobadamente.

– E aqui - murmura. Ela fica na ponta dos pés e sente os lábios dele contra os seus, sempre suaves.

Então ele se vai. Ela volta a se inclinar no parapeito da janela. Os flocos pararam de cair e metros de neve está acumulada na entrada do galpão. Daqele lugar no meio do nada, ela consegue ver as estrelas mais brilhantes do que nunca. Ele era uma delas, ela sabia.

– Mesmo depois da morte, Erik.

– Kat?

Ela vira-se para trás, reconhecendo a voz.

– Sim?

– Com quem você está falando?

Ela olha ao redor. Não há nada. Suspira tristemente e responde com o coração na mão para Francis:

– Ninguém.

+++

Michael joga a bolinha de papel e acerta a testa de Vincent, que o encara, furioso.

– Por que você está aqui mesmo? - ele questiona. - Sua mulher está grávida em Ahnmach, você é o rei! Não deveria estar no seu país?

– Leona entende que eu estou conhecendo o meu pai depois de vinte e seis anos.

Vincent respira fundo.

– Tudo bem. Faça suas perguntas, me conheça, depois dê o fora daqui.

Michael se ajeita na poltrona.

– Se eu me der por satisfeito.

– Ótimo. O que você quer saber?

– Como você e Harriet se conheceram?

– O pai dela, depois de achar minas em Las Mees, soube que havia diamantes no subsolo do norte de Frömming. Então ele veio para cá. Meu pai, o Senhor do Norte, os recebeu em nossa casa. Bom, os Fieldmann são irresistíveis - ele olha para o filho e faz uma careta. - Você sabe como faz um bebê, afinal acabou de fazer um. Sou seu pai, mas isso não significa que eu preciso ter esses papos com você.

– E quando Joffrey entra na história?

– Caine soube da vinda do pai de Harriet e se interessou. Como ele e Kurt estava enrolados com acordos de paz, mandou pessoas de confiança: Joffrey e Giulietta. Nessa época Caine estava meio louco, assim como sua falsa irmã, Rebekah. Bom, Joffrey, como um idiota, se apaixonou pela sua mãe no primeiro instante e, como um cachorrinho, fazia todas as suas vontades.

– E você não?

– E eu lá me apaixono?

Michael dá de ombros.

– Se apaixonou por Melanie.

Seu olhar de repreensão se tornou de ódio e Michael percebe que não deveria ter comentado sobre. Havia sido criado por Joffrey, afinal. Foi criado para dizer tudo o que pensava a todo momento.

– Está na sua hora. Vá na piscina, jogar alguma coisa na quadra, comer as vagabundas que tem nessa casa, se enforcar, sei lá. Vá fazer algo longe do meu escritório.

– Ela o machucou tanto que é preciso você cortar todo mundo que toca no nome dela?

Vincent levanta, irado, batendo as mãos na mesa.

– Sai, bastardo! - ele berra, apontando para a porta.

– Qual é o seu problema? - o loiro altera o tom de voz, nervoso. - Por que não deixa ninguém entrar?

Vincent sai de trás da mesa e caminha ameaçadoramente até o filho.

– Porque quando você deixa alguém entrar, ela se torna a sua fraqueza.

– Você parece o meu pai falando - Michael sussurra depois de alguns segundos.

– Eu sou o seu pai.

Ele se afasta, negando com a cabeça.

– Joffrey me criou. Ele é meu pai.

– Você não é um Archiberz. É um Fieldmann. Se comporte como tal.

– Não importa o DNA. Joffrey pode não ter sido um pai afetuoso, mas ainda assim foi um pai presente e eu sei que ele me considera como um filho. Ele foi o único pai que eu tive a vida toda, afinal. Já você... age como se eu fosse um dos seus subordinados, sempre maltratando todo mundo. Na escada de poder, eu sou um rei e você é simplesmente um senhor de terras. Eu estou acima de você, mas mesmo assim, você não desce desse seu pedestal construído em cima de sangue, ossos e sofrimento alheio. Eu sou a única pessoa viva que tem o seu sangue correndo pelas veias, a única que está aqui. Você deveria me tratar como tal.

Ninguém nunca havia falado assim com ele. Nem mesmo Melanie, sempre tão ousada.

Melanie. A única pessoa para quem ele se abriu de verdade e que se arrependeu logo em seguida. O que ela fez? Mentiu, o rejeitou, engravidou de outro, sendo que ele salvou a vida do irmão dela, a livrou da tortura dos Aguirré, a deixou sair impune de vários assassinatos, cuidou de sua filha com outro homem... e tudo que ele recebeu em troca foram mentiras atrás de mentiras.

Eu deveria saber que ela estava mancomunada com aqueles baderneiros o tempo todo, ele rosna mentalmente.

– Por que você ainda está aqui, afinal?

– Porque, ao contrário do que você pensa, eu sou, sim, um Archiberz. E nós, os Archiberz, temos esperança. Nós nunca desistimos daqueles com quem nos importamos, por pior que sejam seus atos. Está no manifesto da nossa família, talhado em ouro na Sala do Trono.

Michael balança a cabeça após receber apenas o silêncio de Vincent.

– Mas você tem razão. Eu deveria voltar para a minha esposa grávida, para o país que eu devo reinar.

Ele caminha até a porta e olha novamente para Vincent. Ele está no meio do escritório, olhando para os próprios pés. Nunca pareceu tão frágil.

– Eu atravessei um país em guerra para conhecer você, mas talvez esse esforço tenha sido em vão.

+++

– Joffrey vai nos receber. Eu sei.

– Czar Archiberz não quer ser incomodado - o soldado insiste, no Idioma Comum, porém com um refinado sotaque russo.

O Palácio Roskovsk era lindo, o enorme casarão bege com cinco andares e detalhes em ouro e em vermelho sangue. O enorme jardim com pinheiros cobertos de neve, montanhas ao fundo, trenós perto da garagem. Carruagens grandes e pequenas, brancas, levemente amareladas e em tons de azul bebê com talhes em ouro. Uma delas, a maior, branca, tinha detalhes em ouro e em vermelho. Um R lindo e bem desenhado estava pintado na porta. Roskovsk, a família que manda na Rússia. Melanie nunca pensou que veria carruagens. Parecia o tempo dos reis e rainhas na Idade Média. Lembrava Frömming, mas bem mais imponente.

Um enorme tapete vermelho cortava a longa escaria de mármore da entrada da frente, soldados com uniformes negros e armados até os dentes. Crianças brincavam na neve do pátio enquanto criadas traziam chocolate quente. Uma mulher de cabelos grisalhos, vestido florido e costas levemente curvada lia um grande e pesado livro em russo que Melanie desconfiou que fosse uma Bíblia.

Aquele lugar era tão lindo e mágico que ela desejou ter nascido ali. Na Corte, na Rússia.

– Não será preciso incomodá-lo - uma voz conhecida a tira dos seus devaneios. - Eu conheço eles.

Ivna.

+++

Katerina estava tendo uma bela lembrança da sua infância. Era mais um inverno em Frömming, foi alguns dias antes dos seus pais morrerem. Ela brincava na neve com Michael, Hana e Rebekah. Eles fizeram um boneco grande com a ajuda das criadas e jogaram bolas de neve nos soldados, que corriam atrás delas, alguns bravos, outros com tom de brincadeira, entrando no jogo. As meninas estavam exaustas, mas Michael não cansava nunca, então decidiu escalar a maior árvore do jardim. Katerina, preocupada com ele, não apenas da forma como uma garota se preocuparia com o primo, disse que era perigoso. Ele não ligou. Escalou. E caiu.

Ela gritou e as criadas vieram correndo. Estavam longe do laboratório do palácio para pegar a pomada milagrosa e também da cozinha para pegar gelo. Havia vários cortes espalhados pelo seu corpo, porque ele caiu com o braço em cima de uma pedra. Teve sorte do resto do corpo ter caído na neve fofinha, mas o braço estava cheio de cortes e hematomas. Ele gritava e esse som era doloroso demais para a ruiva.

As criadas arrancaram os vários casacos que ele vestia. Michael tremeu de frio, principalmente quando elas colocaram neve nos ferimentos. Ele gritou de dor, mas depois disse que não sentia nada. Havia amortecido.

Katerina sentiu o alívio invadir os seus pulmões e suspirou quando...

– Ajuda! Ele está tremendo! Ajuda!

A ruiva levanta às pressas. Era a vigia de Alison e ela estava desesperada. Hector estava tremendo na cama de solteiro. Francis estava apavorado. Alison começa a chorar.

Ela se lembra do seu sonho. A solução para o problema. É isso! Ninguém havia curado as feridas de Hector porque achavam que não havia remédio. Devia estar infeccionando. Mas por que precisavam de remédio quando a neve amortecia e o curaria?

– Neve - ela sussurra. - Preciso de neve.

Depois de muito desespero, gritos de agonia, choradeira, Melanie conseguiu fazê-lo voltar a respirar de forma regular.

– Bom sinal. Ele está consciente agora.

Alison observa o irmão e vê o rosto dele contrair por causa do gelo derretendo nas suas costas.

– Ele está em dor, desde quando estar consciente, porém em dor, é bom sinal?

– Eu venderia a minha alma para Erik estar consciente agora, mesmo que com a pior dor de todas - ela solta antes de perceber. - Pelo menos Hector está vivo, você deveria ser grata por isso.

Alison a encara.

– Se passou quase dois anos. Você ainda pensa nele?

A ruiva suspira.

– Seu irmão foi meu primeiro amor, mas depois que ele me enganou, Erik estava lá - ela conta, sem olhar para a loira. - Então ele morreu. Francis estava lá, então. É complicado.

– Eu tentei gostar de Petrus, mas para mim ele só era um amigo. Ele me entendia e sabia pelo que eu passava, mas mesmo assim... Hector é meu destino. Você também vai encontrar o seu, seja com Francis ou não.

– Eu acredito que seja - Katerina fala -, mas nunca conversamos sobre Erik. Sabe, o meu filho. Não sei se ele aceitaria...

– Francis sempre se deu bem com crianças.

– A guerra é longa, não sei se Erik será uma criança quando acabar e mesmo que Francis goste dele, é sempre difícil para um homem criar o filho de outro...

– Ele vai te apoiar. Eu conheço o meu irmão.

– Eu gosto muito dele. Eu o amo, na verdade. Mas mesmo que sinta isso, jamais seria capaz de ficar com um homem se ele não aceita o meu filho. Porque, acima de tudo, eu amo Erik. Eu jamais deixarei meu filho para trás.

– Francis a apoiou em tantas coisas, sei que não a desamparará nisso.

Katerina sorri forçadamente. Não tinha tanta certeza.

+++

Michael pediu para as criadas levarem as malas para o carro que o levará para o aeroporto. Depois foi até o quarto do pai, apenas para bisbilhotar. Olha para o quarto vazio, não havia sequer uma fotografia. A cara de Vincent, sem identidade. Apenas uma cama enorme, uma estante recheada de livros, uma linda vista para o jardim, um banheiro todo branco e um closet maior do que o que ele próprio costumava ter.

O loiro desceu as escadas. Encontrou um menino lá embaixo, com uma garotinha ruiva de no máximo quatro anos do seu lado. Ela lembrava tanto...

– Quem é você?

– Você é o Archiberz, certo?

– Sim...

– Essa é a filha de Melanie, filha de Kurt. Eu preciso que você leve a menina com você.

– Mas eu estou indo para Ahnmach, não para Frömming.

– Frömming não. É perigoso com a rainha louca. Em Ahnmach ela estará segura, eu sei. Vincent odeia a criança, porque é filha de Melanie com outro. Luna não pode mais ficar aqui.

– Quem é você?

– Eu sou o irmão de Melanie, Derek. Por favor, você precisa levar Luna com você.

– Mas e você?

– Eu fujo depois. Eu só preciso que ela fique em segurança.

Michael se agacha e olha para a menina. Cabelos ruivos, pele branquinha e grandes olhos azuis. Ela era realmente uma Archiberz, não havia como negar. Jamais. Lembrava Katerina na infância, o que era estranho, já que não tinham o mesmo sangue.

– Vá para o carro, tudo bem? Faremos uma viagem.

Assim que a criança desaparece depois de atravessar a porta, Derek suspira, aliviado.

– Obrigado.

Então ele desaparece tão sorrateiramente como havia aparecido. Michael olha ao redor, meio que se despedindo. Passou um bom tempo ali, afinal.

Ele pega sua mala de mão, que contém papeis importantes. Está desapontado consigo mesmo, não conseguiu mudar Vincent, não conseguiu interromper a guerra e nem fazer amizade com o pai. Era um fracasso.

– Espera.

O loiro vira em direção a voz, que se encontra no topo da escada.

– Esperar o quê? Você me dar uma porrada de despedida?

Vincent desce as escadas de forma cautelosa, porém com os passos apressados. É como se ele temesse encarar Michael frente a frente, mas também como se ansiasse por aquilo.

– Eu vou pedir isso apenas uma vez, Michael. Certifique-se que está ouvindo muito bem.

O loiro espera, em silêncio.

– Fique.


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Notas finais do capítulo

E aí?



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