O escárnio do desejo. escrita por Thaty Crippa


Capítulo 9
Capítulo 9 : A doce brisa do amor




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Sabe aquele frio na barriga? Aquelas borboletas no estômago? Pois então, Nando as estava sentindo desde aquele dia que passou com a ruiva. Quando ele lembrava de cada momento, da pele macia e quente que o envolviam, da alegria de ter sido o primeiro homem dela, da afobação com que tudo aquilo começara e de repente se tornara tão delicado e delicioso.
Ele lembrava de tudo. Não só do acontecido na noite retrasada, mas de tudo. De como chegara a Vila de Santa Fé e se deparara com aquela formosura de moça que era a Dona Juliana e que o fez suspirar com seus cabelos rosas. Da briga que tivera com o pai, como sofrera com tudo aquilo. Mas como foi bom também, pois revelou a ele um amigo, Seu Pedro Falcão, e sua família querida, bem, nem todos. Lembrou do seu desejo de se casar com Juliana, que agora, não passava da mais sincera amiga que já teve. Mas não, não tão sincera como a praga da Gina. "Oh garota danada aquela uma!" Pensava ele se lembrando das inúmeras brigas que teve com ela, e os indícios de interesse por aquela formosura dos cabelos de fogo. Nando se lembrava. "Ahh, eu não sei, mais tem algo nessa uma, que me agrada..." Lembrou ele, como pensou nisso tantas e tantas vezes. Como achara que havia ficado maluco, de um dia pensar em ter algo com aquela maluca! Bem dizia Dona Tê que ela era cascuda com quem não sabia lidar com ela. Esse costumava ser o caso dele, mas não mais. Agora, agora ele sabia, nunca se dera tão bem com Gina.
A ruiva esteva no jardim, arrumando as mudas, com seus pensamentos ao longe, talvez seria a primeira vez que não pensava em Nando desde o acontecido, na verdade, ela não estava pensando em nada. Gina se sentia leve, solta, livre!! Como jamais se sentira. Era como se ela tivesse completado um ciclo e começado outro em sua vida. Estava feliz. Apenas.
Mas Gina também estava inquieta, espoleta. Ficava pirilampeando até altas horas da noite fora de casa. E cantava, dançava, tudo em sua pequena varanda, com os pirilampos.
Dona Tê até comentara com Seu Pedro sobre a filha, mas este só murmurara um "Deixa a menina, sô." E acabava com o assunto. Diferente do Dr. Ferdinando com quem conversava agora na sala, e por quem se interessava muito a sua filha.
–Mas ela ainda não voltou Dona Tê? - Questionou Ferdinando
–I nem vai vortá Nando. Essa uma não para mais in casa, ocê tinha qui vê. Faiz tempo qui eu e o Pedro num si aparece por aquelas banda da Vila, porque tudo que tem que fazê lá, ela faiz por nóis. Pirilampeando feito uma borboleta. Mas ela disse que tá filiz que só, i isso pra nós já é o suficiente.
–Pra mim também Dona Tê. A Gina tando filiz, pra mim é oque me basta. Mas... me diga a senhora.... Como vortaro pra casa aquele dia? Correu tudo bem na istrada?
–Má é craro! Mesmo que já estava iscuro pra mais de hora, nada acunteceu nesses mato, não.
–I.... a casa, bem... estava organizada, quando a sinhora chegou? Não sentiu falta de nada?
–Não... não, mais... porque ocê mi pergunta isso?
–Ara, por nada não.... é qui nunca si sabe, arguem podia de te... invadido! Isso. Invadido a casa, por exemplo.
–É....ié verdade....
Nesse meio tempo constrangedor, alguém entra correndo pela porta,sim,era Gina, mas a reação que se imagina é diferente, pois Gina, nem dera conta que Nando estava ali.
–Ooooh mãe!! Mãe!! Aaaai mãe. Ieu já fiz de tudo! Ieu tô angustiada! Já fiz tudo qui tinha qui fazê nesse sitio, e num é nem meio dia mãe!!!
–Ooo, oh fia.... ocê não va cumprimentá o Dr. Nando.- disse Dona Tê
Gira parou instantaneamente, e se virou nos calcanhares. Viu Nando ali e deu um sorriso de orelha a orelha. Um sorriso que encheu a alma do Agrônomo.
–Olá Gina. Bom dia. - disse Ferdinando
–Bom dia Nando. Como vai ocê.
Nando de primeira estranhou o comportamento, afinal, quando Gina falara isso para alguém?
–Ieu vô muito bem, minha cara.
–Mãe? O armoço vai demorá muito?
–Vai um poco minha fia, tô esperando seu pai vortá..
–Ah tá certo, sendo anssim, eu posso i da umas vorta cum o Ferdinando. Craro isso si ele quisé, purque eu num vô guenta ficá im casa, mãe. Eu quero sai, eu quero pula, quero canta...
–Tá certo fia, tá certo, hihihihi. Ocê tá espuleta esse dia hein?! Só não vai assustá o moço.
–Há!Tá certo mãe!! Vamo Ferdinando!
Gina o puxou pelo braço como se fosse uma criança, querendo ir lá fora brincar...

Ela andava na frente de Nando como se ele nem estivesse ali, mas ele estava, ela sabia, por isso estava sendo o mais graciosa possível. Aproveitando o vento para esvoaçar os cabelos em cima do agrônomo, para espalhar o seu perfume, misturado com o das flores.
Ferdinando ficava ali, imaginando porque ela havia o chamado pra passear, mas o que ele pensava nem passava pela cabeça dela.
–Gina?
–Huum?
–Porque ocê me chamou aqui pra passear, sozinho, contigo.
–Ara Ferdinando, pra nóis cunversa! Dá última vez nóis nem cunverso direito.
–Ieu acho que é porque nossas bocas estavam meio ocupadas, sabe?!
Gina deu gargalhadas, e olhando pra trás deu uma piscadela para Ferdinando, que riu.
–Nossa Gina!! Ocê tá muito diferente....tá...radiante.
–Pois é Nando. Ieu mi sinto diferente. I eu acho qui foi ocê qui fez isso comigo, porque é como si ocê tivesse lá, toda hora cumigo. Comu si eu não quisesse fazê mais bestera, porque eu tenho arguém pra quem vortá, sabi? Mas mermo assim Ferdinando, ieu mi sinto livre!! Num mi importa mais oqui eu visto, eu podia inté de anda pelada por essa Vila toda e...
–Pelo amor de Deus Gina, ocê não me faça isso.
–Ieu num vô faze Ferdinando....bem, a num se... qui ocê quera.
Nando nunca vira Gina assim. Ela falara isso sem malicia alguma, como se estivesse falando de mudas de soja.
–Nando? Vamo lá no riacho? Preciso de tê uma palavrinha cocê...
–Claro Gina, vamo.
Chegando no riacho Gina senta nas raízes de uma arvore, e indica para Nando se juntar a ela.
–Sabe Ferdinando..
–Nando.
–Oque?
–Nando, me chame de Nando, Gina. Ieu adoro quando ocê faiz isso.
–Ara, tá bão. -Falou ela rindo-se - Mais intão, Nando, assim. Ieu acho que eu não sinto mais oque eu sentia por ocê naquela noite.
Um medo subiu ao peito dele, um aperto. Gina tinha dito que queria ele bem e agora, bem agora...
–Como assim Gina?
–Ieu não tenho mais vontade de te agarrar Ferdinando. Não quero que ocê mi beje daquele jeito de antes, aquela afobação.
–Ocê não qué? Mais Gina, eu achei que ocê gostava...ieu...
–Ieu gostava Nando, mas agora eu mi dei conta. Ieu num quero afobação cocê, ieu quero carinho, amor. Porque é isso que eu lhe tenho...amor.
–Ora Gina, ieu pensei... ara... sua diaba!! Ocê quase qui me mata do coração!!
–Ara, Ferdinando! Qui qui ocê pensô?
–Nada...nada. Mas então oque eu intendi é que ocê qué um bejo apaixonado?
–Depende...num sei se é.... ieu nunca qui dei uma bejo apaixonado.
–Má é claro qui deu Gina, ara!! Bão, mais ieu vô te dá um beijo delicado, assim.
Nando se aproximou dela, colocou sua mão em sua bochecha, estava gelada. E lhe deu um beijo calmo e sincero, Gina perdeu o fôlego.
–É isso mermo Ferdinando.
–Ara, intão agora quem tá mi ensinando a dá bejo é ocê.
–Num tenho cupa si bejo mior...
–Mais ara...
E ali sozinhos, os dois rolaram pelo chão. Com seu amor as avessas, que agora estava começando a funcionar....


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