Se Hoje Fosse Seu Último Dia escrita por Rhiannon


Capítulo 1
Capítulo Único




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Como Nico odiava aquilo.

O garoto moreno dos olhos verdes tinha um braço em volta da garota loura que sorria animadamente enquanto falava com sua amiga, Piper, se Nico se lembrava bem. A verdade é que ele não tinha o mínimo interesse nesses alunos populares e metidos. E esses alunos populares e metidos muito provavelmente não tinham interesse nenhum em Nico, ou em qualquer outro aluno anti-social. É o ciclo da vida.

- Pare com isso. – ouvir aquilo foi o suficiente para Nico desviar o olhar de Percy Jackson e se recompor. Só então percebeu que estava com as mãos cerradas ao lado do corpo.

Nico se virou para encontrar Thalia abrindo o próprio armário e jogando seus livros lá dentro. A garota tinha seus cabelos negros presos em um coque mal feito, usava uma blusa do Green Day larga demais e uma calça colada demais no corpo. Tipico dela. Ainda mais típico foi o olhar reprovador que lançou para seu melhor amigo.

- Desculpe.

Thalia bufou ao ouvir aquilo.

- Tanto faz. – disse ela com indiferença, procurando algo dentro da mochila – Já sabe muito bem o que eu penso sobre tudo isso. Se eu fosse você, mandava ele ir se foder.

Nico se encostou novamente no armário, olhando de relance para Percy e Annabeth, que agora estavam de mãos dadas.

- Eu já fiz isso. – falou ele baixinho – Várias vezes.

- Oh, ho. Você dever ter se confundido e dito “Vem me foder”.

Nico fez uma careta.

Talvez Thalia estivesse certa, mas só um pouco.

É, Nico precisava de seu diploma de babaca.

O garoto olhou para o chão, envergonhado e tornou a por as mãos nos bolsos da jaqueta.

- Eu acho que perdi meu livro de biologia. – disse Thalia frustrada ao seu lado, mas Nico não prestava mais atenção no que ela dizia.

Percy vinha em sua direção, com Annabeth ao seu lado. Suas mãos não estavam mais entrelaçadas, o que melhorou um pouquinho no mal humor matinal de Nico. Sem nem mesmo notar o que estava fazendo, ele passou a observar aquele par de olhos verdes como o mar que sempre invadiam seus sonhos.

Pouco antes se passar pela frente de Nico, Percy levou um dedo a orelha. Nico ficou tentado a imitar o gesto. Era o gesto deles. Ninguém mais sabia que aquilo significava que estavam marcando de se encontrar as sete horas da noite nos fundos da casa de Nico. Ele decidiu manter a palavra e por fim não tirou as mãos dos bolsos, apenas observou Percy caminhar e lhe lançar um olhar questionador, fazendo uma pergunta silenciosa. A qual Nico respondeu arqueando as sobrancelhas, como se dissesse “Ainda pergunta?” Percy então se virou e falou algo para Annabeth, sem sequer olhar alguma vez para trás.

Aquilo era tão fodidamente fodido que Nico tinha vontade de vomitar até as tripas.

Mas era assim. Ou ele o tinha pela metade, ou não tinha.

Ou ele o encontrava as escondidas, ou não encontrava.

Ou ele o via algumas vezes por semana, ou não via.

Ou ele aguentava ve-lo com Annabeth, ou sequer poderia ve-lo.

E aquilo o machucava mais a cada dia. Porque Nico sabia que não podia competir com Annabeth Chase, a líder de torcida gostosa que todos queriam. Ele nunca seria tão bonito quanto ela é. Ele nunca seria tão bom quanto ela é. Mas mesmo assim, Percy continuava a procura-lo. E o pior: Nico continuava a encontra-lo e a querer cada dia mais.

Só que não sabia mais quanto tempo poderia aguentar daquela maneira.

*~*

That was fighting back tears

Sat right down beside me, and whispered right in my ear

Tonight I'm dying to tell you

That trying not to love you, only went so far

Trying not to need you, was tearing me apart

Now I see the silver lining, from what we've fighting for

And if we just keep on trying, we could be much more

Maldita música que o fazia se lembrar dos olhos verdes, da pele bronzeada, dos cabelos pretos despenteados, do cheiro de maresia...

Nico respirou fundo. Arrancou os fones de ouvido e caminhou até a estante de seu quarto. Pegou um livro e o abriu. Lá dentro havia uma flor já há muito murcha que marcava uma página.

Uma frase estava grifada com marca texto azul.

“O amor é veneno. Um doce veneno, sim, mas mata do mesmo jeito.”

Veneno o qual você não consegue viver sem,pensou.

Tornou a fechar o livro, com a flor murcha na mão. Por que diabos ele ainda guardava aquilo? Só servia para lembrar da atordoada relação que tinha com o moreno dos olhos verdes. Atordoada ainda era pouco para definir. Nico podia se lembrar de inúmeras brigas que tiveram...

É claro, uma das discussões mais feias foi quando o pai de Nico “descobriu” a orientação sexual do filho. Definitivamente não foi algo bonito de se ver. Hades, é claro, não o deixou sair ileso. Não chegou a bater tanto assim. Nico até pensou que sua reação foi boa, mas deixou hematomas. E Percy queria socar qualquer um que encostasse em um fio de cabelo do... namorado? Amante? Ficante? Parceiro de fodas? Nico não sabia como chamar aquilo.

E foi mais ou menos aí que o “Problema Annabeth” começou.

Nico queria manter sua homossexualidade em segredo. Quero dizer, ele não queria que a escola inteira ficasse sabendo, pois sabia como todos eram, então, é claro, no dia que se passou depois de levar “uma pequena surra para educa-lo” todos já sabiam que o garoto branquelo e anti-sicial era gay.

Para ele, isso foi um pequeno problema. Para Percy, foi o problema do século.

Vejamos, Nico e Percy são opostos. Enquanto Nico não liga para o que os outros pensam dele, o do olhos verdes é totalmente o contrário. Antes de tudo, eles andavam juntos para qualquer lugar, não se desgrudavam por um momento. Mas depois do incidente, Percy passou a ser um dos caras populares que só ficam com gente popular.

Percy não aguenta ouvir coisas ruins a seu respeito. E foi quando o chamaram de “viado” por ser tão próximo de Nico que ele teve uma crise de masculinidade inabalável. Era o típico cara estereotipado que todos esperavam que ele namorasse a líder de torcida que todos os caras queriam pegar e todas as garotas queriam ser, e não o branquelo tímido que se socializava mais entre seus livros do que qualquer outro lugar e chamava o próprio violão de Herpes. Então, óbvio, foi o que Percy fez.

Por dois meses, dois terríveis meses, o dono dos olhos verdes sequer olhou para o rosto de Nico, o trocou por uma garota, nãoumagarota. Ele contou bem, e nesse tempo Percy namorou Rachel, Calypso e Annabeth. A garota loira sempre nutriu um sentimento maior, Nico notara, e pensava que seu namorado a amava, assim como sabia que Percy sussurrava em seu ouvido após uma longa noite de amor nauseante. A amava tando que dizia as mesmas palavras para Nico há quase um ano. Annabeth chegou na vida de Jackson e cortou Nico como uma faca, mas não por muito tempo, aparentemente.

Caminhou até a janela e jogou a flor, observando-a cair no gramado. Queria poder fazer o mesmo com seus sentimentos.

Se fosse possível não sentir mais nada, desligar completamente seu lado emocional, Nico não teria feito o que fez sete meses atrás.

Percy apareceu em sua casa. Até aí tudo bem, mas Nico estava sozinho, o que não o impedia de fazer o que quisesse. E é claro que eles começaram a se beijar por todo o caminho até o quarto de Nico, deixando suas roupas para trás.

O que estragou tudo foi Percy dizer, enquanto o beijava e o jogava na cama:

- Ninguém pode saber, tudo bem?

O mais novo surtou com aquilo. Gritou coisas que ele sequer fazia ideia do que significava, o xingou em italiano, inglês e o pouco que sabia em latim. Percy o acalmou, assustado, e contou que eles podiam se ver escondidos, como antes era.

- Você está namorando Annabeth! – Nico gritara com raiva, não gostando do som que aquelas palavras faziam.

- Ela não precisa saber disso – foi o que teve em resposta. – Ninguém precisa. Vamos ser só nós dois, como nos velhos tempos. Hein? Vai ser divertido.

Esse era o problema. Nico não queria ser apenas mais uma diversão na vida dele. Queria ser único.

- Ah, claro – Nico havia dito com uma amargura incrível enquanto encarava Percy, ainda deitado em cima de si – E eu sou o quê? Seu amante? Seu brinquedinho sexual que pode vir brincar quando quiser?

Percy contorceu a boca de uma forma estranha, como se quisesse dizer algo mas não suportasse o significado de suas palavras.

- Bom, se é pra ser o amante, vamos fazer isso direito. – Nico fez um movimento rápido, ficando por cima de Pecy e surpreendendo os dois. – Ela pode te foder bem – ele dissera enquanto chupava o pescoço de Percy, arrancando pequenos gemidos de seus lábios – mas eu fodo melhor.

E Nico se repreendeu durante dias por ter feito aquilo, por ser tão fraco a ponto de não aguentar ficar longe daquele cheiro de maresia que o outro exalava. Por fazer com que aquela bagunça durasse tanto tempo.

- Babaca – disse em voz alta para as paredes. – você é um babaca, di Angelo.

Ele se sentou no chão, com as costas apoiadas da cama. O relógio marcava oito horas da noite. Nico havia deixado Percy no vácuo, será que ele estaria agora o esperando, com a esperança que Nico aparecesse para mais uma de suas saídas noturnas?

Claro que não, seu babaca. Ele deve estar com Annabeth. Você é só o amante. A segunda opção. Lide com isso. Você nunca será o único na vida dele.

*~*~*

Percy nunca foi muito bom com palavras, nem em entender o que as outras pessoas estavam sentindo. Mas definitivamente alguma coisa estava errada com Nico.

Devia ter algo a ver com ele te-lo chamado para sair com o gesto secreto justamente quando Annabeth estava ao seu lado. Definitivamente.

Percy só queria vê-lo, beijar aqueles lábios e dizer o quanto o amava, assim como em seu primeiro beijo. O garoto sorriu nostálgico ao se lembrar daquele dia, deixando sua mente vagar pelas lembranças.

Nico e Percy tinham quatorze e dezessete anos respectivamente. Estavam sentados no sofá da casa de Sally Jackson, assistiam a um filme. O problema é que o filme era em italiano e sem legendas. O mais novo zombava do primo por este não saber o que os atores estavam falando.

- Não está entendendo nada, não é? – riu Nico.

- É claro que estou – disse Percy, o que era só meia verdade. Acompanhou o garoto e riu junto.

Percy adorava o som daquela risada. Adorava tudo em Nico, o rosto jovem e delicado, os cabelos negros desgrenhados, a inocencia do garoto. Como ele queria tirar toda a pureza dele...

- Não, não está – afirmou Nico, que era um italiano de nascença e falava a língua fluentemente.

- Já disse que estou. Nunca entendi um filme tanto como entendo esse. – mentiu.

- Então prove. Diga alguma coisa,babaca. Me diga o que a mulher está dizendo para o vilão.

Percy resolveu aproveitar a situação. Então ele disse em italiano, com um sotaque ridículo, mas disse:

- Ela está dizendo;Eu queria te beijar aqui e agora, mas não sei qual será sua reação.

Nico parou de rir imediatamente. Percy ficou tenso, mas só teve que esperar alguns instantes para que Nico dissesse, também em italiano, com a voz fraca:

- Acho que ele está respondendo agora:Por que não tenta para ver?

Naquele instante Percy pensou que nunca havia ouvido palavras tão belas quanto aquelas. Os dois estavam sentados bem próximos então, sem perder tempo, o dono dos olhos verdes virou o rosto e encarou o primo mais novo, ainda tentando absorver o que acabara de ouvir. Para sua surpresa, quem tomou a iniciativa foi Nico, selando os lábios de ambos. E, antes que pudesse se dar conta, a língua de Nico já estava dentro de sua boca. Como ele podia ser assim tão submisso perto dele?

Percy levou sua mão até a nuca de Nico, este que se mexeu no sofá e acabou sentado no colo do mais velho. Tudo o que Percy conseguia pensar naquele momento era como seu primo beijava bem.

Nico rebolou no colo de Percy, sentindo algo duro embaixo de suas nádegas.

Talvez ele não fossetãoinocente assim, como Jackson pensara.

Para os dois, teriam ficado ali se beijando o dia inteiro, mas o ar era necessário. E quando o fez, se separaram alguns centímetros.

A mão de Nico estava no ombro de Percy, ele notou que Nico respirava com dificuldade e tremia levemente, apesar de tentar não demonstrar aquilo.

Os lábios de Percy estavam avermelhados. Nico colou suas testas, não sabia ao certo o que estava fazendo, apenas fazia.

- Eu amo você – o dos olhos verdes sussurrou.

Nico ficou sem fala. Aquilo era mais do que ele esperava. Sempre sonhou com o dia em que experimentaria o gosto dos lábios do primo, mas nunca imaginou que ouviria aquilo. Ele abriu a boca para dizer alguma coisa, mas parou no meio do caminho quando ouviu a voz de sua irmã, Bianca.

- Nico, vim te buscar mais cedo. Mamãe disse que você pode voltar amanhã. Eu disse a ela que Percy é nosso vizinho e que não teria problema em você ficar aqui, mas ela insiste em...o que vocês estão fazendo?!

Se aquilo foi constrangedor?Bah, quase nada. Ser pego pela irmã do garoto por quem você é apaixonado, ainda mais se esse garoto for seu primo, beijando-o , e pior ainda: se esse garoto está sentado em cima de você enquanto sua cabeça de baixo fala mais alto. Nada constrangedor.

Mas Bianca é da parte legal da família. Ela ficou quieta, claro, de inicio não aprovou muito a relação dos dois, mas com o tempo, aprendeu a aceitar, ainda que não aprovasse por completo. Mas ela apenas queria ver o irmão feliz. E se Percy Jackson era o caminho para a felicidade de Nico, o que ela poderia fazer?

Foi por isso que ao encontrar Jackson batendo na porta de sua casa quando era quase nove horas da noite, ela lhe lançou um olhar ameaçador, como se dissesse em silencio que, caso alguma coisa acontecesse com o irmão, Percy se arrependeria eternamente por isso, mas por fim disse que Nico estava lá em cima em seu quarto.

Percy subiu as escadas, bateu uma vez na porta do quarto do garoto, não recebendo nada em resposta, entrou mesmo assim.

Nico estava sentado em sua cama, com as pernas cruzadas como um indígena. Ele sequer olhou para Percy quando este entrou no quarto. Em seu colo havia um caderno de desenho. Nico usava uma touca cinza que o deixava meio emo, mas Percy gostava, só não curtia muito o fato de que a franja do moreno cobria quase que totalmente seu olho direito. E Percy gostava daqueles olhos castanho escuro que eram facilmente confundidos com pretos.

Se sentou em frente ao garoto, arrancando o mais gentilmente que pôde um dos fones de ouvido da orelha dele. Nico levantou o rosto, encarando-o. Percy pode ver um misto de emoções passar pelo seu rosto. Surpresa, felicidade, irritação. Nico tirou o outro fone e praticamente gritou:

- Que porra você tá fazendo aqui?

Percy baixou o olhar para o caderno de desenho, que foi fechado com a velocidade mais incrível do mundo quando Nico percebeu o gesto.

- Eu quero falar com vo...

- Não, você não quer. – cortou Nico – Você só quer algumas horas de diversão comigo para então amanha voltar a enfiar a cara nos peitos de outra puta qualquer. Alias, não era pra você estar com a Tetas agora?

Percy suspirou.

- Não chame Annabeth assim. – pediu, com a voz abalada.

- Por quê? Se você prestasse um pouco de atenção, sua puta mal comida, veria que um peito dela é maior que o outro. – Percy massageou as têmporas ao ouvir aquilo. Nico e seu jeito de dizer as coisas. – Ou só você pode falar dos peitos dela?

O maior revirou os olhos.

- Nico eu...

- Cala a boca. – foi cortado outra vez – Só cala a porra da boca e vai embora. – mandou se levantando da cama e lavando o caderno até a escrivaninha perto da janela, ficando de costas para Percy.

- Pare com isso. – pediu fracamente – Nós precisamos conversar, não discutir. Eu preciso te contar uma coisa.

- Nós não temos nada a conversar. Você disse que ia terminar com essa palhaçada – Nico continuava de costas, não conseguiria olhar para Percy – e não acabou. Então acabo eu.

Percy se levantou encarando as costas do garoto.

- O que você quer dizer com isso?

- Acabou – disse – Não me procure mais que eu não procuro você. Pelo menos não enquanto tiver esse anel ridiculo de compromisso em seu dedo e do de Annabeth. Se não resolver isso, é o fim para nós. Mas eu não tenho certeza se um dia houve algo que poderia ser chamado de umnós.

Percy passou a língua pelos lábios, os humidecendo. Ele não queria que as coisas entre os dois chegassem aquele ponto. Ele observou as costas de Nico e então o ouviu falar:

- Qual será o sentido da vida desses peixes que vivem em um aquário?

- O que? – Percy disse confuso.

Nico se virou para ele.

- Esses peixes vivem a vida inteira nadando, nadando, nadando – ele gesticulou com a mão como se não soubesse ao certo o que dizia – mas nunca vão a algum lugar, não é? O aquário os impede.

- O que quer dizer com isso?

- Você é meu aquário e eu estou preso a você. Enquanto o aquário ficar ali, não vou a lugar nenhum.

- E se o aquario não quiser que o peixe saia? E se ele quiser que fique com ele para sempre, mas não consiga isso?

- Então ele teria que se livrar de um peixinho antes. E então tudo ficará bem.

- Como sabe disso? Digo, algo pode dar errado. Algo pode estar no meio dos dois.

Nico negou com a cabeça.

- Se os dois quiserem que tudo fique bem, ficará. Eles darão conta disso.

Percy suspirou.

- O aquário está confuso.

- Esqueça disso. – Nico disse impaciente. – O que você quer, afinal?

- Terminei com Annabeth. – Percy soltou.

Nico cruzou os braços.

- Ah, é?

Percy levantou a mão, mostrando que ali não havia nenhum anel mais.

- Falei com ela hoje. E queria falar com você de noite, mas não apareceu.

Nico mordeu o lábio inferior. Percy notou que ele queria dizer alguma coisa, mas tinha receio.

Ele se aproximou do moreno, meio hesitante.

- Sei que não vai acreditar em mim, mas eu realmente sinto muito por ser um babaca. Eu só não sabia como lidar com tudo isso. Sei que disse um milhão de vezes para mim não me importar com o que dizem, mas eu não consigo. Não consigo ser como você que não liga para o resto do mundo. Eu ligo, Nico. E realmente sinto muito por desperdiçar tanto tempo assim das nossas vidas com isso. Eu amo você desde o dia que eu te vi, e isso me deixou confuso. Eu quero ficar com você. Mas eu não sei se conseguiria lidar com a pressão de me discriminarem só porque sou... só porque sou...

- Gay?

Percy assentiu.

Nico descruzou os braços.

- Diga em voz alta – mandou encarando o mais velho.

- O que?

- Diga “Eu sou gay e gosto de pênis e apenas pênis”

Percy coçou a bochecha, envergonhado. Se bem que ele devia ter previsto uma coisa dessas vindo de Nico.

- Ahn, eu acho que...

- Tudo bem, enquanto você não criar corage...

- Tá, tá – Percy disse encarando o chão – Eu sou gay e gosto de pênis e apenas pênis.

Nico riu.

- Bom saber.

Percy o encarou, receoso.

- E então?

Nico suspirou e se aproximou do primo.

- E então oquê? Vamos continuar o que eramos antes? Ou você vai se assumir...

Percy mordeu o lábio inferior.

- É o que eu preciso fazer para que você fique comigo? Porque eu faço.

Nico levou as mãos até os ombros de Percy.

- Tudo bem – disse o encarando – Sem pressão. Sei como isso é difícil, mas saiba que sempre pode contar comigo. Só não invente aquilo de novo.

- Somos só nós dois. Como sempre deveria ser.

- Sempre?

- Sempre.

Nico sorriu de uma maneira tão feliz que Percy sentiu seu estômago embrulhar.

- Bom.

- Então... estamos bem agora. Você acredita em mim?

- Eu devo acreditar?

- Eu só achei que fosse mais complicado.

- Está dizendo que sou complicado?

- Tá brincando? Você é a pessoa mais complicada que conheço. Te entender é como tentar construir um quebra cabeça com uma peça faltando.

Nico iria dizer alguma coisa, Percy notou, mas não o deu chances. Antes mesmo que o mais novo pudesse se dar conta, seus lábios estavam selados. Nico, a principio, pareceu não querer ceder assim tão facilmente. Mas era Percy, e ele sempre acabava cedendo. No entanto, o beijo não foi tão prolongado como imaginava. O moreno dos olhos verdes se afastou.

- Preciso de falar uma... uma coisa – sussurrou. Seu tom de voz era de que a coisa era importante, mas não que fosse preciso urgentemente ser contada agora.

Nico deu um selinho rápido em seus lábios.

- Shi. Não estrague o momento – e jogou Percy na cama, se sentando por cima com um joelho de cada lado de seu quadril.

Percy resmungou qualquer coisa em sinal de reprovação, que foi transformado em um suspiro quando sentiu as mãos de Nico abrirem o zíper de sua calça jeans.

Relutante, segurou os pulsos do primo, impedindo o ato.

- Apressado – murmurou.

- Hm – Nico resmungou.

Percy inverteu as posições com um movimento rápido. Segurou os dois braços de Nico em cima de sua cabeça, o impedindo de fazer qualquer movimento, e tascou um beijo no moreno.

- É sério, Nico – sussurrou em seu ouvido – tenho que te contar uma coisa.

O menor se remexeu inquieto em baixo de Percy.

- Tudo bem – suspirou, encarando-o. – diga o que quer que seja.

Olhar para aqueles olhos cheios de esperança fez Percy vacilar. Ele sentiu toda a coragem esvaziar de si. Era mais covarde do que imaginava.

- Nada – se forçou a dizer, sorrindo – Não é nada.

Nico arqueou as sobrancelhas. Percy não lhe deu muito tempo para objeções e selou seus lábios novamente em um beijo rápido, porém cheio de emoção. Soltou os braços do primo, lhe dando liberdade para tirar sua camiseta enquanto fazia o mesmo.

- Seus pais não estão em casa? – perguntou Percy enquanto beijava o pescoço do menor. Ele não queria ser interrompido, e sabia que Bianca era tranquila quanto a isso.

- Não – arfou Nico – eles estão em um jantar qualquer.

- Bom para nós.

Nico gemeu.

Percy soltou um risinho.

- Gosta disso? – perguntou enquanto lhe dava um chupão no pescoço.

Nico trincou o maxilar, incapaz de dizer qualquer coisa. Em vez disso empinou o quadril fazendo com que seu membro já ereto entrasse em contato com o membro de Percy. As calças jeans causavam certo desconforto, mas mesmo assim aquilo o deixou mais excitado ainda. Se bem que ele ficava excitado só de ouvir a voz do primo.

- Vou levar isso como um sim. – Percy murmurou rindo e beijando o peito do menor.

Nico respirou com dificuldade, sentindo sua calça ser retirada com rapidez. Ele passara uma semana inteira longe do amado. Parece pouco tempo, mas ele sentia como se fosse anos. E para ele, aquilo era uma tortura.

Mas poderiam recompensar o tempo perdido.

*~*~*

Percy não sabia que horas eram. Ele ficara pelo menos uma hora olhando para Nico que dormia profundamente. Se sentia mais covarde a cada minuto.

Não queria se despedir. Não, ele nunca quis isso. Mas era necessário.

Di Angelo tinha um braço em volta de si. Estava completamente nu por baixo do lençol branco que cobria o corpo dos dois. A contra gosto, Percy tirou com todo o cuidado o braço de Nico e se levantou.

O único som do quarto era a respiração lenta e constante do moreno adormecido.

Percy se vestiu, tentando fazer o mínimo de barulho possível para não acorda-lo. O dos olhos verdes tremia levemente, mas apesar disso foi até a escrivaninha e arrancou com todo o cuidado uma folha de um caderno que estava ali. Nico gastava grande parte de seu tempo livre desenhando ou escrevendo, então não foi difícil encontrar uma caneta jogada em um canto qualquer.

Ele se sentou na cadeira, com a folha e os braços apoiados da mesa. Respirou fundo e começou a rabiscar algumas palavras. Vez ou outra, parava e encarava Nico que ainda dormia, se perguntava o que ele faria ao ler aquilo, se perguntava se estava fazendo o certo. Mas encarando bem a situação, era a melhor coisa a fazer.

Percy tentou resumir ao máximo as coisas. Disse em meio de palavras que sentia muito, não queria abandona-lo, de forma nenhuma, mas era preciso. Jackson engoliu em seco ao escrever a última parte. Explicou que fora diagnosticado com um tumor do cérebro, não mais que isso. Ele não queria detalhar muito o assunto, principalmente a parte de que teria que ir a outra cidade para fazer o tratamento. Seus pais tinham grande fortuna, as chances de cura eram grandes, mas também tinha chances de nunca mais poder voltar e beijar a pessoa mais importante do mundo para ele. Porque, como dizem, o dinheiro não pode comprar a vida. Não disse para que cidade iria fazer o tratamento, pois sabia que Nico o procuraria, e não queria que ele sofresse o vendo morrer.

É, Percy já tinha se reconfortado. Estava morrendo.

Fez uma despedida rápida, pensou até em dizer palavras doces, mas não seria ele. E queria se despedir sendo ele mesmo. Esperava que Nico soubesse o quanto ele o amava. Novamente, pediu desculpas por ter entrado na vida de Nico e causado aquela bagunça, mas também disse que o moreno dos olhos escuros foi a melhor coisa que aconteceu em sua vida.

Quando terminou, Percy se levantou. Uma gota solitária de uma lágrima correu pela sua bochecha e manchou o papel, borrando uma palavra. Fungou, depositando o papel em cima da escrivaninha.

Deu mais uma olhada para Nico que ainda dormia como se tudo estivesse bem e pensou em voltar a deitar-se com ele, mas deteve-se. Tateou os bolsos da calça jeans e tirou de lá um colar. Havia passado em frente a uma loja e olhado para aquele pingente de anjo, simplesmente lhe ocorreu na cabeça que aquele seria um bom presente. Nico entenderia o significado. Nico se lembraria do dia em que estavam deitados no gramado de sua casa e Percy lhe dissera:

- Será que seremos daqueles casais que criam apelidos bonitinhos e idiotas um para o outro?

O mais novo riu daquilo.

- Bom – ele respondera – eu te chamaria de quê? Tartaruga Purpurinada?

- Não sei. Mas você tem cara de anjo.

- Tenho não. – retrucara com uma careta.

- Tem sim. – afirmara Percy lhe dando um selinho – Meu anjo...

Lembrar daquilo fez outra lágrima escorrer pelo seu rosto. Mas daquela vez, não a deteve.

Colocou o colar junto com a carta e se virou.

Nico ainda dormia tranquilamente. Percy caminhou até ele e depositou um último beijo em seus lábios.

- Me desculpe, anjo. – sussurrou – Mas isso não precisa ser um adeus. De qualquer jeito, saiba que mesmo se eu não voltar, estarei com você. Sempre.

Percy não queria se deter muito mais tempo ali, tinha medo de desistir no último instante, então saiu do quarto, dando uma última olhada para Nico.

Ele não sabia o que o futuro lhe guardava, mas esperava que, pelo menos para Nico, fosse algo bom. E Percy sabia que caso ficasse, causaria uma bagunça maior ainda. Ou talvez não.

Mas aquele poderia ser seu último dia. Qualquer dia poderia ser seu último.

Um amigo seu dissera que cada dia é um presente, e não um direito adquirido

Mas para Percy, tudo o que ele queria era ver Nico feliz. E tinha certeza que não conseguiria isso ao seu lado.

Foi pensando nisso que o garoto dos olhos verdes continuou andando, para onde, não sabia. Cada passo era mais difícil, mas aquele poderia ser seu último.


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Notas finais do capítulo

E aí? Mereço algum comentário?
Ps: Estou totalmente aberta a críticas c:



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