Primavera escrita por Jullyana Belichar


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Sei que estou um tempinho sem postar, mas essa história criei há pouco tempo, espero que gostem ;3



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Nunca entendi o sentido da vida das pessoas... para que nascemos? Isso parece bem clichê, mas é mais pura verdade. Não temos utilidade.
Meu nome é Cecília, e eu estou morrendo.
Literalmente morrendo.
Tenho um problema no coração e preciso urgentemente de um transplante.
Há quanto tempo estou internada? Desde os três anos.
E eu tenho dez.
Passei a minha vida toda nesse hospital, esperando alguém para me dar um coração. Um de verdade, de preferência que seja compatível comigo.
Meu irmão vem me visitar todos os dias, ele e mamãe.
Josh, esse é o nome dele. Meu irmão é um chato... Não tem confiança em nada e acha que tudo tem um fim. Menos eu.
Sou a única coisa que ele acredita. Mas tenho certeza que ele sente a necessidade de acreditar porque estou morrendo.
Patético --'
--Ei, Ceci...-ouvi ele me chamar.
--Sim?
Eu estava sentada no parapeito da janela do hospital como sempre. Tubos me conectavam a uma máquina ao lado de minha cama. Mas eu sempre a arrastava para perto da janela, porque lá eu via tudo e todos.
Ali, sentada naquela janela eu via crianças entrando e saindo.
A maioria entrava chorando, triste... Mas todos que saíam, sempre olhavam para o céu, como se quisessem provar a si mesmo que os raios de sol que esquentavam-lhe o rosto eram mesmo reais... Eu ficava imaginando quando faria isso.
--Vai nevar hoje.
Sorri sozinha. Sempre quis brincar na neve.
Quando nevava, Jhon sempre trazia uma bola de neve escondida entre suas mãos.
Eu a tocava com delicadeza e cuidado... Tinha desejo de levantar e correr pra fora do hospital. Mas, a máquina a qual estava presa, é responsável pelo batimento fraco do meu pequeno coração. Se eu saísse, meu coração pararia em poucos minutos.
--Jhon?
--Diga.
Jhon tinha 17 anos, era loiro com olhos azuis a cópia de mamãe. Já eu,tinha cabelos pretos e olhos castanhos... Igualzinha a papai.
--O que acontece quando a neve derrete?
Ele olhou-me confuso.
--Ora, Ceci quando a neve derrete ela...
--Tudo bem. -Eu o interrompi.-Eu sei o que acontece.
Ele sorriu.
--Você sempre pergunta isso Ceci.
Fingi um sorriso.
Sim, eu sabia.
"Quando a neve derrete ela vira água." É o que ele sempre dizia.
E era verdade. Tudo tinha um fim... Até a neve mais fria , do inverno mais longo. Até ela derrete e vira água.
Assim como meu coração. Não importa quanto tempo dure, ou o quanto ele seja forte...Um dia ele vai parar. E virar pó.
Os meses passam com uma facilidade. Passam rápido mesmo? Ou será que sou eu que nem ligo mais no tempo?
Pouco importa. Não é o tempo que vai me salvar...
A cada dia eu ficava mais triste, menos esperançosa. Mais fraca, menos motivada.
Nem para a janela eu ia mais. Foi no dia em que eu me sentia péssima que ela apareceu pela primeira vez.
Uma bolinha rolou do corredor e veio para meu quarto...
--Jhon esqueceu a porta aberta.- Eu disse quando a bolinha entrou. Não havia ninguém para me escutar, mas falei só para ouvir minha voz. Pra ter certeza de que eu ainda a tinha.
--Tem alguém aí?- Perguntei
Uma menina estranha de cabelos ruivos, roupas pretas e all star surrado entrou no quarto.
--Ah, encontrei. -Sua voz era meiga e doce. Não combinava nem um pouco com seu visual.
--Bolinha sapeca hahaha-Ela riu sozinha.
Foi aí que ela notou que não estava sozinha.
A garota me olhou com seus lindos olhos verdes.
--Oie!
Ela era animada. Até demais.
--Oi...-Eu disse, timidamente.
--Desculpa ter entrado sem bater... -Desculpou-se sorrindo.- Meu nome é Katte.
Katte andou até a maca e sentou-se na ponta, ao meu lado.
--Prazer. -Ela apertou minha mão e sorriu de novo.
--Prazer... Sou Cecília.
--LIA!! -Ela gritou e começou a rir histericamente.
--Meu nome não é Lia... É Cecília, e meu apelido é Ceci.
-Nããão! Haha vou te chamar de Lia ta?
-Mas, eu... - Tentei argumentar.
--Noooossa que vista linda!
Katte levantou e sentou-se no parapeito da janela, observando a neve.
--Lia... O que você acha que acontece quando a neve derrete?
Era a mesma pergunta que eu havia feito a Jhon. Eu sabia a resposta. Mas a odiava.
--Ela vira água. --Eu disse fitando a neve e amaldiçoando a mim mesma por estar ali.
Então ela riu. Riu muito.
Eu não entendi.
-Ai Lia.. Hahaha. Você é bobinha. Hahaha
Ela continuou rindo, até chorar.
--Posso saber por que está rindo? -Eu já estava irritada com aquela garota. --Lia, quando a neve derrete... Chega a primavera.
A... Primavera...?
--Katherine!- Alguém gritou do corredor.
--Já vou!-Ela gritou de volta.-Tenho que ir.
Katte sorriu e andou em direção à porta.
-Eu... Espere...-Sussurrei.
-Não importa, Lia. Não importa o quão longo seja o inverno, ou o quão esteja frio. A neve sempre derrete. Sempre. E aí chega a primavera.
Então ela se foi.
Primavera...
Seria mesmo possível? Eu não entendi o porquê fiquei tão espantada com suas palavras... Acho que foi porque naquelas palavras eu encontrei um pouco de esperança.
Os dias passaram e Katte sempre voltava quando mamãe e Josh não estavam.
Ficávamos horas conversando, olhando para neve da janela do meu quarto. Ela sempre vinha de preto, blusas de bandas de rock ou personagens de desenhos animados.
Com o passar dos dias fomos nos conhecendo e nos tornamos grandes amigas.
Mesmo pela diferença de idade(ela tinha 15), Katte passava suas tardes conversando comigo sobre celebridades, meninos e revistas de adolescente. Ela era a única que me tratava normalmente, sem nunca falar sobre minha doença ou como meu coração ficava fraco a cada minuto que passava...
Mas então ela começou a faltar, vinha poucos dias ao longo da semana.
"Estou tendo uns probleminhas pessoais." Ela dizia.
Eu as vezes esquecia que ela tinha uma vida normal. Que ela não era uma prisioneira como eu.
Fiquei observando a neve caindo. Dali a poucas semanas, o inverno acabaria e a primavera chegaria. E por algum motivo, eu estava ansiosa por ela.
:::::::::::::::::::::::::::::::::::
Enquanto isso, em um apartamento pequeno, uma jovem passava mal...
Seu corpo tremia, sua respiração estava irregular e sua cabeça parecia querer explodir.
Quantas vezes ela sentirá aquela dor ao longo do mês? Cinco, seis? Ela não lembrava.
A dor estava mais forte, mais do que o normal.
Um vizinho ouviu seus gritos e a levou ao hospital. Ao mesmo hospital em que ela ia todos os dias, visitar sua pequena amiga.
Enquanto os médicos, tentavam reanimá-la, sua vida correu-lhe aos olhos...
Ela lembrou de tudo.
Lembrou do dia em que sua mãe morreu, quando ela tinha apenas cinco anos; do dia em que seu pai há abandonou com treze anos...
Sua vida sempre foi triste, mas ela nunca deixou de sorrir. Mesmo sabendo que estava a beira da morte por causa de uma veia mau formada em sua cabeça... Mesmo assim, ela sempre sorria e ajudava os outros.
Apenas uma coisa a deixava triste: ter que deixar sua pequena amiga, e por não ter ajudado-a.
Foi então que uma ideia veio-lhe à mente.
Com um fraco puxão ela chamou o médico e sussurrou algumas palavras.
O médico, anotou tudo que a garota disse num pedaço de papel.
Quando as últimas palavras foram ditas, o último suspiro.
--A hora da morte. Vá em paz pequena, Katte. Encontre sua mãe.
Um corpo frio e inanimado, deitado sobre a maca... E no chão um pequeno pedaço de papel com apenas duas palavras escritas: Cecília Loriman"
:::::::::::::::::::::::::::::::::::
"Ceci você tem um novo coração agora." Foi o que minha mãe disserá ao longo daqueles dias.
--Cecília Loriman, você finalmente vai pra casa.
Foi o que o Dr. Peter disserá para mim quando recebi alta.
Há duas semanas mais ou menos eu recebi um coração. Mas não qualquer coração...
Era o coração de Katte.
Quando saí do hospital, a primeira coisa que fiz não foi olhar para o céu, e sim para a janela do meu antigo quarto.
Foi ali, aos prantos, que me despedi de tudo. E eu juro, que por um breve segundo, vi Katte sentada no parapeito, olhando para mim, acenando.
Eu demorei alguns dia até tomar coragem para ir visitá-la no cemitério.
'Katherine Shine': Era o estava escrito em sua lápide.
--Desculpe por ter demorado, Katte.
Fiquei horas ali, sentada falando com ela.
Era fim de inverno, amanhã já seria primavera e as flores começavam a brotar.
Katte tinha razão:
"Não importa o quão longo seja o inverno, ou o quão esteja frio. A neve sempre derrete. Sempre. E aí chega a primavera."
Eu devo tudo àquela garota ruiva de olhos verdes, fã d Nirvana e Bob Esponja.
Deixei o cemitério sorrindo.
Katte me ensinou bem mais do que ter uma amiga ou sorrir... Katte me ensinou a acreditar que não importa o quão difícil sua vida esteja, sempre haverá algo por que lutar.
Minha primavera enfim chegou...
Obrigada Katte, com amor Lia. ♡


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Notas finais do capítulo

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