POV Percy Jackson

13 de setembro de 2014

Setenta e quatro dias foi o tempo que demorou para minhas feridas cicatrizarem e me liberarem desse “hospital”. Depois desse tempo todo enclausurado, sem poder me levantar da maca, apenas recebendo visitas, hoje finalmente saio desse lugar.

Claro, não estou cem por cento. Mesmo com esse tempo todo, não foi suficiente para eu me recuperar totalmente. Ainda sinto muita dor no ombro, consequentemente, qualquer movimento com meu braço esquerdo sinto como se minha pele estivesse rasgando novamente. Mas apesar de tudo, vou poder voltar para minha vida, não a que eu tinha, não mesmo, mas o mais próximo que posso chegar dela.

Então com isso em mente, com muito esforço, levanto meu tronco, coloco as pernas pra fora da maca e coloco-me de pé. Pego uma mochila que deixaram mais cedo para mim com uma muda de roupas e atravesso o corredor vazio. Paro em frente ao espelho e me olho. Apesar de ter tomado um tiro, aparento muito melhor do que nos três meses em que passei sozinho. Não é mais possível ver o cansaço e abatimento que era presente em minhas feições no dia a dia.

Reúno coragem e retiro a tipoia do meu braço e já sinto a dor lancinante quando o estico. Tiro a camiseta da roupa hospitalar e vejo o curativo aonde as balas entraram. Com cuidado, levo minha mão direita até o local e começo a tirar os esparadrapos e a gaze. E então eu vejo, três pequenas cicatrizes. É, vou ter que conviver com elas, pelo menos me consolo com a ideia de que por causa delas, salvei Annabeth. E isso, já basta pra mim.

Pego a roupa que me trouxeram, e por incrível que pareça, é meu antigo uniforme de combate da marinha. Então coloco a camiseta branca e por cima visto a jaqueta camuflada deixando-a aberta. Coloco a calça camuflada e por fim visto minhas botas pretas. Assim, sigo até a saída da tenda do hospital que está fechada com alguns panos. Só assim, começo a me preparar psicologicamente para o que está por vir.

Bufo algumas vezes e puxo grandes lufadas de ar, e então, finalmente abro uma saída. E então, sigo até o compartimento 23, onde minha família está hospedada. E enquanto eu vou passando por todos, vou lembrando esses dias que fiquei no hospital. De quando eu acordei, de quando me reencontrei com meus pais, com Thalia, com Luke e Rachel e de quando tentei falar com Annabeth.

*FLASHBACK ON*

08 de julho de 2014

Acordei com uma dor de cabeça do caralho e uma dor insuportável no meu ombro. Abri meus olhos e minha visão estava muito embaçada, eu não conseguia enxergar nada além de algumas sombras e ouvir umas vozes que eu tinha certeza que já tinha ouvido antes. Tentei levantar, mas alguém me impediu imediatamente.

– Percy?! Você está bem? Até que enfim você acordou! – aquela voz... Não importa como eu estivesse ou quanto tempo passasse, eu nunca me esqueceria daquela voz... Era Annabeth.

– Annie? – tossi algumas vezes. Minha garganta estava seca e quando eu falava parecia que minhas cordas vocais raspavam uma nas outras. – Água, por favor. - De imediato, Annabeth colocou um copo de água em minhas mãos e eu bebi num gole só. Minha visão começou a melhorar, e finalmente pude ver Annabeth. E parecia que ela estava mais linda do que nunca. Não que isso fizesse muita diferença já que toda vez que eu a via, eu tinha esse mesmo pressentimento.

– Percy, consegue falar agora? – Annie sentou-se novamente ao meu lado e com meu braço bom, alcancei sua mão entrelaçando-a com a minha.

– É, acho que sim... O que aconteceu? Eu não consigo me lembrar direito do que aconteceu naquele dia.

– Você foi baleado Percy, levou três tiros. Por sorte, nenhuma pegou no seu coração. E quando você entrou no carro comigo, tinha perdido tanto sangue que acabou desmaiando. Eu corri o caminho todo de volta e quando chegamos aqui já te colocaram na “sala de cirurgia”. – Annabeth fez aspas com a mão livre – Depois fui avisar seus pais e Thalia. Passamos umas quatro horas esperando para saber sobre você. Eu fiquei tão preocupada Percy. Eu tinha acabado de te encontrar, eu não podia te perder de novo.

– Hey Annie. Eu estou bem agora. E você não vai me perder, pode acreditar. Você ainda vai ter que me aturar por muito tempo – dei um meio sorriso. Então Annabeth sorriu, aquele sorriso que ela só dá para mim. E eu senti meu coração esquentando e batendo mais rápido, se inundando com uma sensação boa de estar em casa, de estar perto da garota que eu amo novamente...

– Percy – sorriu - eu não acredito que você realmente está aqui. – Ela repousou a mão em meu rosto – Você não sabe o quanto eu senti sua falta. – Algumas lágrimas caiam de seus olhos, assim passei minha mão em seu rosto limpando-as. Annabeth fechou os olhos apreciando o toque.

– Eu também senti muito a sua falta Annie... Vem cá. – falei chamando-a para um abraço. Annabeth deitou-se na maca comigo e ficamos um tempo assim, abraçados. E eu percebi que era o momento perfeito para conversarmos.

– Hey Annie, preciso falar com você. Uma coisa séria.

– Percy, droga, eu fiquei aqui com você o tempo todo e me esqueci de avisar seus pais. Eles tavam desesperados. E a Thalia então?! Nunca vi mais agressiva. – ela soltou uma risadinha. – Depois a gente conversa, pode ser? – Relutantemente concordei e Annabeth saiu indo chamá-los.

Depois de algum tempo, Annabeth voltou com meus pais e Thalia. Thalia essa, que chegou me batendo e gritando comigo enquanto eu via minha mãe chorar e abraçar meu pai, que incrivelmente, parecia também estar chorando. Eu olhava pra tudo com um sorriso no rosto, e reparei em como eu senti falta daquilo tudo...

– Hey gente, eu tô bem agora! Relaxem.

– Relaxar Percy?! – falou Thalia – Como você quer que a gente “relaxe”? Nós passamos três meses pensando que você estava morto! Morto, Percy! Você sabe o que é isso?! Mamãe não conseguiu parar de chorar por dias! Dias! Você não viu o estado que nós ficamos!

– Thals, eu sei, nunca vou entender o que vocês passaram. Mas agora eu estou aqui, com vocês. E pode ter certeza que não pretendo sumir de novo. Então você pode se acalmar e vir dar um abraço no seu irmão que sentiu saudade de você? – falei dando um sorriso brincalhão.

Thalia apesar de aparentar ser aquela garota durona de sempre, no fundo, sempre foi muito sentimental, e naquele momento, depois de tanto tempo, eu vi esse lado. Ela se jogou em cima de mim e afundou o rosto no meu peito enquanto chorava compulsivamente e eu afagava seus cabelos tentando acalmá-la. Meus pais se aproximaram. Minha mãe me deu um beijo em minha testa e depois ficou me fazendo um carinho e meu pai me deu um tapinha e ficou sorrindo pra mim.

E ficamos um tempo assim, apenas conversando. Contei como passei meus últimos meses e eles me falaram sobre a vida no acampamento, como tudo funcionava. Falei também sobre o dia em que levei os tiros, como tirei Annabeth das mãos daquele ser imundo. E então me lembrei de Rachel e Luke.

– Annie, onde a Rachel está? – perguntei a ela que estava sentada na maca ao lado, junto de Thalia, que depois de algum tempo me soltou, parou de chorar e foi se juntar a Annabeth.

– Ahn, ela deve estar por aí. – falou sem dar muita importância. Não sei por que nessa hora Thalia deu um sorrisinho malicioso e deu uma cotovelada em Annabeth.

– Você pode encontrá-la e trazê-la aqui? E Annie, chame o Luke também, por favor?

– Hum, tá. – ela falou se levantando e indo em direção à porta.

– Ha ha, até parece que ela vai falar com Luke. – Thalia falou quando Annie já tinha saído.

– Por quê? – eu perguntei.

– Annabeth e Luke não se falam há meses. Três, para ser mais exata. – franzi o cenho – Ela o culpa por você ter sumido, Percy. Ela não achou certo ele ter te deixado para trás. – falou dando de ombros.

Annabeth culpando Luke por tudo que aconteceu comigo. Não é a toa que ela não sabe de nada. Provavelmente, do jeito que é teimosa, Annie não o deixou falar. Mas agora temos tempo, vou poder, finalmente, acertar as coisas com ela.

Então ela voltou com Rachel e Luke. Annabeth não estava com uma cara muito boa. Deveria ser por causa do Luke.

– Percy! – Rachel correu até minha maca e me deu um abraço apertado até demais. Soltei um gemido de dor. – Desculpa. Você está melhor? Fiquei preocupada com você.

– Bem melhor Rach, fica tranquila. – sorri – Luke! Chega aí seu viado!

– Hey cara, você tá vivo então! Pensei que você tinha virado comida pros walkers.

– Pois é, né?! – ri – Pelo jeito ainda não era minha hora. Ainda tenho que fazer algumas coisas... – Luke riu entendendo o duplo sentido da frase.

*FLASHBACK OFF*

Naquele dia, me lembro de termos ficado conversando até tarde... O pessoal só foi embora quando a enfermeira os expulsou dizendo que eu tinha de descansar.

Nos dias que se seguiram, Annabeth vinha me visitar todos os dias e eu sempre tentava falar com ela, porém, depois daquele dia, ela começou a ficar estranha e se afastava cada vez mais e nossas brigas se tornaram constantes. Isso se prolongou por um bom tempo e eu nunca teria entendido se não fosse por Thalia e Luke.

*FLASHBACK ON*

18 de agosto de 2014

Era meu aniversário e eu tinha acabado de falar com Annabeth. Por algum motivo acabamos brigando, e novamente o assunto era Rachel. Annie estava muito estranha nessas últimas semanas, vivia implicando com minha amizade com Rachel e ela simplesmente “cismou” que eu gostava dela mais do que uma amiga. E era assim que estava o meu humor quando Thalia e Luke chegaram.

– Heeeey Percy!! – Luke entrou gritando acompanhado da Thals – Parabéns seu filho da puta!

– Perseu! Parabéns seu idoso!! Vinte e seis anos, já?! Nem parece que é adulto. – Thalia riu.

– Como você é engraçada, né Thals? – falei emburrado.

– Iiiih, brigou com a namoradinha é Percy? – Luke falou brincando.

– Luke, não tô pra brincadeiras hoje, tá?

– Sério, Percy, você e a Annabeth brigaram de novo? – Thalia perguntou.

– É – bufei – ela cisma que eu estou gostando da Rachel, fica implicando na nossa amizade... Sei lá. E ela também anda muito estranha ultimamente, sabe? – Thalia e Luke se encararam e riram. Eu fiquei com cara de bobo que não está entendendo nada.

– Sério Percy?! Sério mesmo?! Jura que você não sabe por que ela está assim?!

– Não Thalia, eu não sei por que a Annabeth está assim. – falei irritado.

– Nossa Percy, como você é lerdo cara! – Luke riu.

– Percy! A Annabeth está com ciúmes! – Thalia meio que gritou.

– Ciúmes? Por que ela teria ciúmes da Rachel?

– Percy, você não pode ser tão lerdo assim...

– Desculpa se eu não entendo as mulheres Thalia, mas tá complicado!

– Ela gosta de você Perseu! – Thals gritou – E não tô falando como um amigo, ela gosta de você como algo mais... Entendeu? – eu fiquei pasmo. Annabeth gostando de mim do mesmo jeito que eu gosto dela?

– Ela te disse isso Thalia?

– Claro que não Percy! Provavelmente nem ela sabe o que está sentindo. E você sabe como ela é também... Teimosa que dá dó.

– Mas quem sabe se você resolver tomar uma atitude, né Percy, ela perceba isso?! – Luke, nada direto, falou para mim.

– É, Percy! Fala com ela, conta o que você sente, ai vocês param com essa enrolação toda, se beijam, ficam junto e todo mundo fica feliz. – Thalia falou.

– Vocês falam como se fosse fácil...

– E é fácil Percy! Você só tem que fazer alguma coisa, porque se você ficar enrolando, vai acabar perdendo a garota. – Luke me deu uma cartada final.

*FLASHBACK OFF*

E foi por causa daquele dia, que caí na real. Procurei a Thalia pra me ajudar a botar meu “plano” em ação.

*FLASHBACK ON*

21 de agosto de 2014

Hoje fiquei sabendo que mais algumas semanas, e vou poder sair desse lugar. Já não aguento mais ficar aqui, parado. Então por isso, chamei Thalia pra me ajudar a terminar meu plano.

– Percy! Você tá bem? Me falaram que era urgente, eu fiquei super preocupada. – Thalia chegou toda afobada.

– Não é nada de mais Thals – ri – É que eu preciso da sua ajuda. E se você ainda não percebeu, eu ainda estou meio incapacitado.

– Ai Perseu, seu troço! O que você quer?

– Quero um pedir um favor.

– Ah, não mesmo, você é muito folgado.

– Por favor, Thals, se não for por mim, que seja pela Annie.

– Ah, então você vai parar de ser um cagão e tomar alguma atitude né?!

– Eu já tava trabalhando nisso Thalia. Agora eu preciso da sua ajuda, pra fazer tudo funcionar direitinho.

– Tá bom, me diz aí. O que você precisa? – dei um sorriso e comecei a contar meu plano. Thalia prometeu que me ajudaria, e quando eu saísse daqui, tudo ia estar pronto para minha surpresa pra Annabeth.

*FLASHBACK OFF*

Pensando em tudo, finalmente cheguei. Compartimento 23. Abri a porta e entrei, encontrando Thalia e Luke no maior clima.

– Heey, arrumem um quarto, por favor! Não preciso ver isso! – Thalia me mostrou a língua (quanta maturidade) e depois se levantou me dando um abraço. Luke veio logo em seguida e demos um aperto de mãos.

– E aí, Percy. Preparado? – ele perguntou.

– É, acho que sim. – respondi nervoso - Tá tudo certo pra hoje Thalia?

– Tá tudo OK. Annabeth vai ter a melhor surpresa de todas.