Todos os dias, antes do mundo tornar-se negro aos meus olhos, lembrava-me do sorriso radiante de Aiolos ao acordar. Sorriso o qual jamais esqueceria, mesmo diante das acusações do Santuário.

O Santuário o qual havia bravamente protegido antes de morrer. A terra sagrada que agora lhe chamava de traidor.

Sempre que andava ao cemitério, eu orava diante do vazio. Não havia nada ali, nenhuma lápide com menções honrosas, um pedaço de galho para simbolizar que alguém descansava ali ou ao menos um corpo. Existia apenas a esperança de que um dia, meu irmão seria visto novamente como um verdadeiro Cavaleiro de Atena.

Quando olhava para o céu noturno e via a constelação do centauro arqueiro brilhando em uma bênção silenciosa, não me sentia tão solitário assim, se perguntando se Aiolos estaria ali, zelando por meu futuro como Cavaleiro de Ouro de Leão.

Ele sempre foi esse tipo de pessoa, amável e dedicada que se importava com tudo e todos. Estaria sempre junto de uma pessoa que necessitasse dele prontamente, e isso havia me enchido de raiva, pois ele não estava ali no começo, quando o Santuário se mobilizou e todos crucificaram a mim e ele.

O irmão do traidor. Futuro traidor. Desgraça ao Santuário.

Odiei até mesmo a deusa Atena, por permitir que palavras assim fossem dirigidas à Aiolos.

Odiei ao Grande Mestre, um ser miserável e maligno que se enraizou ao título. Odiei Shura. Ah, como o odiei, aquele que se dizia amigo de meu irmão, e ceifou sua vida friamente com a própria lâmina. Meu segundo irmão...

Tudo se tornou tão negro ao ponto de odiar Aiolos também, assim como aqueles que o chamavam de traidor, e por um momento percebi o motivo de tanta amargura.

A saudade que sentia. Saudade dos tempos em que ambos treinavam, choravam e eram felizes juntos. Eu era dependente das asas do meu mais velho, por mais que tentasse negar.

E transformei esse sentimento em forças para lutar por aquilo que Aiolos acreditava, a paz e o amor na Terra. Pensamentos tão nobres de um espírito igualmente nobre, pois a cada lágrima que deixava escapar, uma sensação arrebatadora tomava conta de minha alma, dizendo para seguir em frente pelos ideais que ele sempre seguiu.

E por mais que sussurrassem injúrias e apedrejassem o nome de Aiolos, por mais que meu próprio coração doesse, eu resisti.

Pois lembrava também de cada palavra que dizia em preces para Atena, cheias de amor... Dos atos que realizava sempre em prol daqueles que queria proteger, dos sorrisos gentis que não oferecia só a mim, e também lágrimas de consolo para aqueles que não possuíam mais nada.

Ele se tornou mais do que meu irmão e ideal, mais do que um simples ser humano perdido no mundo em busca do destino. Aiolos de Sagitário se tornou meu herói.