Sangue Divino escrita por Bianca Bittencourt


Capítulo 5
Cap.5 - Esclarecimentos e Lembranças


Notas iniciais do capítulo

Como prometido^^ ai está. Boa Tarde semideuses



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Sai do carro e o cheiro de mofo se foi, mas o frio estava ainda mais cortante. Entramos no prédio, pegamos o elevador e tocamos a campainha daquele lugar que a mim era tão familiar, fico pensando quanto tempo meu pai viveu aqui para depois ter que escolher deixar seu lar para minha segurança, me vem um novo aperto no peito por ter gritado com eles. Sally abre a porta mostrando uma expressão tão surpresa quanto radiante, é a segunda avó que eu visito hoje, mas essa é aquela que criou o filho e teve que aceitar sua partida e depois criou a neta sabendo que estava apenas preparando-a para voltar a seus pais, Atena pode ser a Deusa da Sabedoria, porém nunca será minha vó como a Sally é.
–Percy! Meu filho, quanto tempo... -Ela diz abraçando meu pai. -Querido, você parece tão para baixo, se anime.
–Já me sinto bem melhor só de rever a senhora, mãe.
Minha avó sorri e se volta para Annabeth que força um sorriso na hora, não para ser cínica, dá para perceber que ela gosta da sogra, só não quer chateá-la.
–Annabeth! Estou feliz em revê-la minha...nora. -Sally diz enquanto abraça Annie, a pausa para falar a palavra ''nora''... é como se ela nunca a tivesse dito e tentava lembrar como se falava, isso me faz perceber uma coisa, e eu acabo pensando alto.
–Vocês não eram casados quando eu nasci, não é? Quer dizer, eu fiz as contas e vocês tinham uns 19 anos. -Digo pensativa, olhando mais para minha mãe, acho que agora a enxergo como mãe e nem sei quando isso aconteceu, mas ainda tem muito que eu não sei.
Todos me encaram, estupefatos por eu ter constatado isso, mas Annie trata logo de sacudir a cabeça e então fala aborrecida encarando o chão, já sem poder sustentar o sorriso que tentava manter:
–Alguma hora você iria perceber...
–Vamos entrar?! -Minha vó fala animada.
Nós três entramos, andando num clima de enterro e nos sentamos no sofá. Percy e Annabeth de um lado, eu e Sally, de frente a eles, no outro lado. O ar quente do aquecedor na casa da minha avó penetra cada canto do meu corpo e eu me sinto muito mais aconchegada apesar dos outros não parecerem muito confortáveis. Minha mãe não tirou o olhar do chão, então me dirijo a ela.
–Hum... acho que me deve uma explicação. -Quando digo isso ela levanta os olhos e me encara com tristeza. -Não sobre isso, eu percebi que no minimo o assunto da sua adolescência te incomoda, mas você disse que falaria do assunto sobre a ''eternidade''. -Explico.
–Ah, sim, claro... -Annie diz aliviada. -Então, vamos lá. Quando tínhamos 14 anos seu pai meio que salvou o Olimpo, não sozinho é claro mas...
–Alias, se não fosse a sua mãe eu teria morrido naquela noite, ela quase morreu por mim, o que não teria ajudado muito porque sem ela eu não teria motivos para continuar. -Meu pai corta ela e diz sorrindo.
–Bobo! Você teria muito pelo que continuar sim. -Minha mãe rebate.
–Espera ai. Como você salvou ele? -Pergunto.
–Ela levou uma facada no meu lugar, a faca teria acertado meu único ponto vulnerável e me matado. -Percy explica, me fazendo pensar quantas vezes eles já viveram esse tipo de aventura mortal, não parece ter sido só uma.
–Teria feito o mesmo por mim! -Ela afirma com tom que provavelmente deveria sair zangado porém se perdeu em meio ao sorriso agora radiante que ela exibia. Parece esqueceram que estou aqui, mas eu fico feliz em vê-los relembrando esses momentos que deveriam ser trágicos se não tivessem se tornado tão heroicos e românticos, como num conto de fadas.
–Cookies azuis com cobertura rosa! -Sally diz chegando da cozinha com uma bandeja cheia.
–Senti falta deles. -Meu pai constata, já pegando um cookie.
–Onde eu estava? -Annabeth diz se voltando de novo para mim. -Ah, é! Não foi sozinho mas ele meio que foi o maior destaque, digamos assim, e pela bravura do Percy o concelho olimpiano decidiu que ele poderia ter o que quisesse...
–E o maior desejo de qualquer herói é a imortalidade. -Completo lentamente.
–Isso. Eles disseram que eu poderia ser um deus, eternizado aos 14 anos. Foi tentador, mas eu neguei. -Percy confessa. -Eu... eu queria continuar a minha vida, não me via morando no Olimpo, longe da minha mãe, dos meus amigos e... principalmente vendo a vida da Annabeth continuar sem mim.
–E depois disso eles finalmente começaram a namorar, mas desde de que se conheceram deva para ver que eles gostavam um do outro, tinham um brilhinho no olhar que não é amizade. -Diz minha avó encerrando a história.
–Como na história do Hércules... -constato pensando em voz alta- Que lindo! -Exclamo.
–Também acho. -Sally diz carinhosamente enquanto me olha sorrindo. -Mas agora porque não come, querida?
–Está bem. Agora eu vou comer mas depois quero saber mais dessa história de heróis! -Respondo.
Como meu cookie, enquanto meu pai come uns dez. Todos estavam concentrados no jornal, já eu, meus pensamentos voavam pensando em quantos mais segredos o passado pode revelar, então algo me vem na cabeça e eu me viro e digo:
–Agora você pode me contar porque os doces aqui são azuis, vó?
–Claro! -Ela diz. -É que, o primeiro padrasto do seu pai disse que não tinha como fazer comida azul e que isso não existia, e eu aceitei isso como um desafio, comecei a fazer tudo azul! -Conclui rindo.
–Espera ai... padrasto? Eu não tinha pensado nisso antes, se o Percy é filho de Poseidon então meu vô não é meu avô de verdade! -Digo com um tom meio chateado. -E você disse... primeiro padrasto? Quantas vezes você se casou antão? -Questiono chocada com os olhos quase saltando do meu rosto.
Sally da uma longa gargalhada e responde:
–Calma, foram só duas, e a primeira não foi por amor...
Minha cara era claramente de alguém que não está entendendo nada, porque eu realmente não estava entendendo, cada coisa que eu descobria eram mais três a desvendar.
–Ela casou com o Gabe quando eu era muito novo, um cara nojento, chato e feio, mas que encobria o cheiro do meu sangue de monstros. -Meu pai explica.
–E não me arrependo! -Afirma Sally. -Você ficou seguro por doze anos, os pais as vezes tem que fazer sacrifícios para que seus filhos fiquem bem. Sei que você entende, não foi fácil para vocês mas ela está a salvo e é o que vai faze-lo feliz mais tarde.
Então era por isso que minha avó tinha tanto incenso na casa, cheiro que aliás não estou sentindo mais. Foi como levar um chute no estômago, eu tinha que dizer alguma coisa para eles, não podia simplesmente fingir que não estava lá.
–Vovó tem razão, quero me desculpar com vocês, não deve ter sido fácil abrir mão da filha e... eu ainda fiquei brava com vocês, gritando que me abandonaram. -Disse, sentia muito mesmo por eles, mas lá no fundo eu sabia que não tinha perdoado eles por não terem me criado, ou me dado o direito de saber quem eles eram por anos, podia ser o melhor para mim, mas não era tão fácil processar e aceitar isso.
Annabeth se levanta calmamente e se ajoelha na minha frente, ela é bem alta, quase fica na altura do meu rosto. Ela me abraça e diz segurando umas das minhas mãos com as duas dela:
–Você tem todo direito de ficar brava minha menina, mal nos conhece, mas eu quero que saiba que sempre te protegemos fora de casa, eu te via de longe quase todos os dias, você é a minha filha! Realmente achou que eu mal te via?! -Algumas lagrimas começam a brilhar no seu rosto, destacando o cinza dos seus olhos mas ela continua. -Eu te amo muito, e não é porque eu não te criei que eu não te conheço.
–Por isso a vovó anotava o que eu fazia em um diário e colocava fotos minhas lá quase todo dia? Ela dizia que guardava... mas ela mandava para você... vocês, não é?
Annie assente com a cabeça e dessa vez eu abraço ela. Eu podia não ama-la, mas ela é minha mãe, se importava muito comigo e era uma pessoa muito legal. Ela já estava triste de novo e novamente era minha culpa minha culpa, eu me afasto dela, precisava tentar lembra-la de algo feliz.
–E as histórias de heróis? -Questiono.
–São muitas... -ela fala se levantando e sorrindo um pouco - diversas profecias, muitos colegas, é bem complicado explicar em resumo, contaremos uma por uma futuramente, agora temos que voltar para o acampamento.
–Está certa. -Percy diz se levantando e indo abraçar minha vó. -Tchau mãe, vejo a senhora em breve.
Sally me abraça e eu sussurro um ''até mais'', depois ela abraça minha mãe e diz ''Boa sorte, querida''. Era hora de passar pela porta e encarar o frio de novo.

E agora estávamos os três novamente caminhando por Nova York, só que sem o boneco e com as ruas mais vazias ainda, o que era um alívio. Mas... para onde estavámos indo agora? É necessário um transporte para nos levar até o acampamento, um não convencional... tive uma ideia! A rua em que estávamos era deserta, o que me assustava um pouco, e meu pai parou de andar, Annabeth parou em seguida e então eu disse:

–A gente pode ir de...
–Pégaso?! -Percy completa meu pensamento e pisca para mim. É claro que ele já tinha pensado nisso, tem um pégaso a anos! Ele assobia e logo surgem: um pégaso negro que eu reconheci como Blackjack, uma égua branca de crina platinada e escovada e um potro alado malhado malhado.
–Lizy! -Grito e depois olho em volta constrangida, era tarde da noite.
Ela desce em minha direção e pousa ao meu lado para que eu possa acaricia-la.
–Ei chefe, quando disse que era para eu estar pronto para atender seu chamado eu achei que precisaria de ajuda e alertei Porkpie e Lizy, o Guido não tá muito bem... -Diz Blackjack, o que me faz pensar no que será que a Annie pensa enquanto conversamos com os cavalos, não deve ser muito legal não entender.
–Obrigada. -Fala o dono já lhe dando um torrão de açúcar.
Annabeth monta em Porkpie com naturalidade e leveza, Percy me ajuda a montar Lizy, ela é baixinha mas como voa isso não deve ser um ponto negativo, nunca montei um cavalo antes, só sei que poder me comunicar com ela deve ajudar. Depois que estou montada meu pai sobe rapidamente em Blackjack, mostrando sua experiencia de muitos anos, e alçamos voo. Voar é mais fácil do que eu pensei, pelo menos é mais fácil que montar.
Me sentia em um avião de simulação sem controle remoto, como um videogame mental, o controle era da Lizy mas eu ordenava a ela o que fazer, resumindo, é bem legal! O cheiro de morango já era forte, nossa viagem foi curta, mas para minha primeira pilotagem acho que foi o bastante para que eu não começasse a me assustar ou desequilibrar.
Desmontamos dos pégasos na frente do acampamento e o vigia ficou nos observando, ele não assustava porém não tem como não ser estranho estar sendo observada por tantos olhos de um só corpo. Passamos pelo Dragão no Pinheiro e fomos ao novo assunto:
–Onde você vai dormir? -Minha mãe me pergunta com delicadeza e uma indiferença forçada.
–Não sei, acho que no onze.
–Nada disso, você sabe quem são seus pais e confirmamos que tem sangue de Atena e Poseidon. Então eu quero dizer, você quer ir para o três ou para o seis?
–Annie, não pressione-a agora, hoje ela pode dormir no meu chalé para se acostumar já que lá é mais vazio, só tem duas pessoas, ou três, é melhor assim. -Percy diz, o que me alivia muito já que eu realmente não sabia para onde eu queria ir, ainda não.
–Está bem. -Ela concorda com um tom amargurado.


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Notas finais do capítulo

Comenteeeeem eu gosto de saber o q vcs acham!



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