Escudo escrita por Melzinha


Capítulo 3
Capítulo III- Laços do Destino




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Escudo

Capítulo III

Laços do destino

Por Mel

“Tão calado...”- A voz soou rouca pelo desgaste das cordas vocais. A idade de Shang traía sua mente jovem. – “Ainda estudando, filho?”.

“O rei quer uma boa estratégia de defesa”- Levantou-se acomodando o pai em uma cadeira. – “Mas parece que os outros comandantes e o atual general só pensam em guerra”.

“Mesmo?”- Sorriu enigmático acomodando a bengala perto da mesa, enquanto se sentava na cama do rapaz.“E o que você pensa?”.

Syaoran resmungou um pouco antes de começar a falar.

“Lutar pelo meu país é uma honra... Mas a paz, meu pai...a paz não tem preço. O rei lutou tanto para que Tomoeda ficasse em paz com os reinos vizinhos que não acho que criar uma guerra sem necessidade seja a melhor solução”.- Suspirou pesado.- “É como se eles não entendessem que a guerra não é apenas lutada em lugares longínquos. Mas poderia destruir o nosso reino também”.

“Meu filho”- Fez uma pausa- “O rei lhe escuta, mais do que me escuta...Mostre a melhor saída e tenho certeza de que ele ouvirá, como sempre o ouviu”- Encarou seu tão crescido e maduro filho com orgulho e um pouco de preocupação- “Não me parece que seja apenas isso que o importuna...”.

“Estou sendo tão óbvio assim?”- Ele perguntou em um meio sorriso- “Pai, o senhor já ...”.

Antes que ele pudesse perguntar qualquer coisa o barulho de trombetas invadiu os ares fazendo os vitrais tremerem pela ressonância. Uma cansada e descabelada Meyling abriu a porta do quarto com tudo, mal conseguindo controlar a respiração.

“Syaoran...”.- Os olhos rubis aflitos.- “A princesa desapareceu”.

O coração do comandante bateu duas vezes mais rápido com o simples pensamento de que algo tivesse acontecido com Sakura.

“Como assim?”- Ele perguntou de uma vez alterando a voz.- “Desapareceu como?”.

“Não sabemos. As damas chamaram os guardas e-“

Sem deixar que a prima terminasse a frase, pegou sua espada e correu em direção ao castelo tão rápido como um leopardo correndo atrás de sua presa. Não pensou duas vezes ao invadir os aposentos reais e para a sua surpresa lençóis de linho fino formavam uma espécie de corda possibilitando a fuga da menina. As damas de companhia arregalaram os olhos ao ver o belo comandante ofegante no meio do quarto.Os olhos âmbares tão intensos como faróis na escuridão, encarando em descrença a janela.

Droga! Ela havia fugido novamente.

Cerrou os punhos e correu em direção ao estábulo real. Sakura ainda o deixaria com os cabelos brancos antes do tempo, tinha quase certeza disso.

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“Você quer parar de me seguir?”- Sakura pediu colocando uma mão na cintura, sem se dar conta do quão doce parecia fazendo isso- “Estou tentando espairecer”.

“Sinto lhe informar, princesa”- Li começou após um sorriso suave- “Que são ordens do próprio rei. Estou perdendo o treinamento com batalhão porque tenho que vigiá-la”.- Suspirou- “Quem mandou tentar fugir pela janela? No que você estava pensando, hein?”.

“Em ficar sozinha...”.- Rebateu

“Ainda me pergunto como você conseguiu passar por tantos soldados...”.

Após montar em seu corcel negro, o rapaz fez o trajeto inteiro pela campina em direção a grande cachoeira. Era tão óbvio que ela estaria lá que se sentiu um pouco idiota por percorrer o caminho mais comprido. Quando a encontrou dando água a seu belo cavalo branco sentiu seu corpo ser invadido por um alívio fora do comum.

O rei após um grande sermão pela demonstração de irresponsabilidade da princesa ordenara ao rapaz vigiá-la 24 horas. O comandante ficara surpreso com a ordem de seu rei, principalmente pelo sorriso enigmático que ele lhe lançara quando durante a bronca que Sakura recebia, inconscientemente se colocou a frente dela como um escudo protetor.

“Fui treinada por um excelente professor”- Sorriu o fazendo corar com o elogio- “Mas usei a minha persuasão”.

“Persuasão?”.- Levantou uma sobrancelha

“É, você sabe, Syaoran...Coisas de mulher. Dei um sorriso, algumas piscadinhas mais lentas”- O olhou triunfante – “Não precisei usar a força física”.

O comandante a encarou assustado. Ela já era encantadora por si só, teve dó dos pobres soldados ao imaginar aquela beldade flertando. Corou novamente sem perceber.

“Pois dessa vez a senhorita passou de todos os limites. Eu entendo que todos precisam de liberdade, mas não pode se colocar em risco desse jeito. Você é a única herdeira do império e precisa criar responsabilidades”- O sermão parecia repetido. Escutava seu rei em cada palavra que repetia para sua princesa.- “Você poderia se machucar, ou pior, ser sequestrada...Sabe quantos grupos revolucionários estão esperando uma chance dessa para conquistar o reino? Viu o que aconteceu com os reinos de Nagoya e Fukushima?”.

“Eu só queria...”- Ela começou cansada- “Deixa para lá, mesmo que eu explicasse você não entenderia”.

O coração dele doeu um pouco ao ouvir isso.

“Você sabe que pode me contar tudo, Sakura”- Ele, Meyling e o rei eram os únicos que podiam se direcionar a ela com tamanha intimidade. Nem mesmo Takashi ousava chamá-la com tamanha familiaridade.

“Eu sei!”- Suspirou- “Mas eu só quero ficar um pouco sozinha”.- Ela precisava de um tempo...Mas o rapaz não facilitava nada. Tinha tanta coisa borbulhando em seu coração que só queria esquecer por um segundo tudo e todos.

“Tome o tempo que precisar...Prometo que não vou atrapalhar”.- A encarou- “Mas não vou te deixar completamente sozinha. Você não vai perceber que estou por perto”.

Ela grunhiu levantando uma sobrancelha.

“Por que não vai se encontrar com a Kimie?”- Cutucou- “Vocês pareciam bem ligados no banquete de ontem”. – O ciúmes latente matando seu coração.- “Essa dama sem pudores...”- Bufou.

“Porque eu não quero estar com ninguém, simples assim.”- Rebateu de forma mortal apertando o punho. Como ela era temperamental. Se ela ao menos soubesse que ele...

“Não quer?”- Riu sarcástica- “Mas ontem parecia que queria...Você a deixou tocar seu cabelo depois do jogo de luta e Deus sabe mais no que”.

“Estava me observando?”- Franziu a testa

“Olhei sem querer”- Levantou os ombros corando. Mentira! Ela não conseguia parar de olhá-lo o banquete todo, mal sabia ela que ele também não pôde deixar de observá-la por um minuto sequer.- “Mas isso não muda o fato de que você estava se deixando levar por ela...”.

‘Porque eu não posso ter você’- Sua mente gritou- “Oras, Sakura. Eu sou homem. Não espera que um homem de vinte e um anos seja virgem, não é?”.- Foi o que respondeu sem perceber que isso a consumia ainda mais.

Virou-se de costas tentando esconder a raiva- “Você é homem?...Tá certo...E eu sou sua princesa e ordeno que me deixe sozinha, homem ou não”.

“Não vai dar”- Sorriu debochado- “Sabe princesa, existe uma hierarquia a ser seguida...E ordens do rei são ordens do rei e ponto final”.

Ela levou as mãos as têmporas mostrando o quão incomodada estava com aquela situação.

“Ordens!”- Bufou- “É isso que eu sou para você, uma ordem do rei?”

Ele piscou sem acreditar no que ela falava.

“Lógico que não, Sakura...O que deu em você hoje?”- Aproximou-se dela- “Você não é uma ordem do rei para mim, nunca foi...”- Os olhos dele suavizaram quando viram que ela estava realmente chateada com o que ele dissera.

“Não deu nada em mim...”- O olhou com os olhos cheios de água- “Eu só quero ficar sozinha”.

Ele se virou irritado.

“Já disse que isso não vai acontecer!”.- Sentou-se a encarando. Deus! Ela parecia ainda mais atraente brava daquele jeito.

“Se quer tanto saber... Então eu vou te contar”- O encarou profundamente - “Meu pai quer se casar novamente”- Ela disse de uma vez- “Com a Sayuri! A princesa viúva de Fukushima...”- Cerrou os punhos delicados- “Foi por isso que ele estava tão alegre no banquete de ontem...”- Ela estava furiosa- “Faz meses... MESES... que a minha mãe morreu e ele...”- Lágrimas teimosas banhavam o belo rosto- “E ele traz outra mulher... para dentro do palácio, como se fosse a coisa mais normal do mundo. Eu percebia que essa mulher estava flertando com ele, mas há algo nela que eu não consigo gostar...”.

Ele a olhou espantado enquanto ela continuava.

“Eu quero que meu pai seja feliz, eu realmente quero”- Falou sincera cobrindo o rosto.- “E esse sentimento de repulsa está me matando. Eu estou me sentindo uma péssima pessoa”.

“Sakura...”- Ele se aproximou dela e a trouxe para perto.

“Vai fazer isso, Syaoran?”- O viu franzir a testa sem entender enquanto a abraçava- “Vai fazer isso também por que é homem? No dia que a sua mulher morrer vai correndo se jogar nos braços de outra?”- Perguntou amarga.

“Sakura eu...”- Ele estava tão inconformado com a onda emocional que ela demonstrava que não conseguia responder. Nunca a vira daquela maneira.

“Você o quê?”- Ela estava muito próxima- “Já está na idade de se casar, comandante, constituir família...Tem uma fila de damas da corte loucas para ocupar esse papel...a começar pela Kimie...Já que você é o melhor partido do reino”.- Repetiu as palavras do próprio Fujitaka.

“Você está fora de si”- Ele balançou a cabeça sentindo o perfume dela inebriar seus pensamentos. Cerrou os dentes para manter o pouco do auto-controle que ainda lhe restava. Como ela ousava falar uma coisa dessas para ele? Sentiu seu coração afundar dentro do peito.

“E você não percebe, não é?”- Ela riu irônica- “Nunca percebeu que eu...”- Parou antes de completar a frase.- “Deixa para lá”.- Ela deu as costas e estava começando a se afastar quando a voz grossa invadiu seus pensamentos.

“Que você o quê?”- Sakura travou ao ouvir a pergunta. Ele sentiu seu coração bater descontrolado, se continuasse assim desmaiaria a qualquer momento. Ela não poderia ter interrompido aquela frase...

Ela o encarou. Os olhos esmeraldas brilhando pelas lágrimas contidas.

“Eu tenho 17 anos, Syaoran...Mês que vem faço 18, não sou nenhuma menina de dez anos que caiu da cachoeira. Não sou mais a garota que você jurou diante do reino proteger com a sua vida”.- A voz embargada pela emoção- “Será que você não consegue enxergar que eu cresci?”

Ele piscou várias vezes a encarando confuso.

“Eu sonhei tanto que um dia você pudesse me ver com outros olhos. Mas você só olha para mim como um ‘dever’ a ser cumprido, ou uma ‘palavra de honra’ que não volta atrás”- O viu cerrar os punhos. A tristeza clareando os olhos âmbares. Como ela ousava falar isso?

Ele não falou nada. Seu anseio por ela o levando a insanidade. Ao vê-la soluçar novamente o seu auto-controle se foi. Aproximou-se mais ainda e a abraçou com força, como se seu toque pudesse responder aquilo que a boca não podia. Aquilo que sua honra não permitia, aquilo que se posição abaixo dela não deixava.

Mas foi dela que partiu aquilo que seu coração mais ansiava dizer...

“Eu te amo, Syaoran”- Ela sussurrou, enquanto as lágrimas finalmente se libertaram das esmeraldas, tão baixo que ele pensou estar tendo uma alucinação, pensou que seu amor por ela traía sua mente.

Ele a encarou tentando conter as próprias lágrimas ao vê-la se declarando tão abertamente. Aquilo não poderia ser possível. Não para ele, não para um menino pobre adotado por um rei com dó. Ele a amava tanto que toda razão que tinha explodiu em um flash e rompendo a barreira entre eles a beijou docemente. Não sabia se lhe era permitido, mas naquele momento era a única coisa que queria de verdade. Um beijo tão apaixonado que o desestabilizou por completo.

“Sakura eu...”- Agora era a sua vez de se emocionar- “Quero o melhor para você”.

Ela o encarou seriamente. O coração em saltos pelo o que acabara de ouvir. Pelo beijo que trocaram, pela forma que ele a olhava- “Se você não me ama por que me beijou?”.- As lágrimas voltando a preencher as esmeraldas. Ele teve vontade de se bater por estar causando isso nela. Por não ter se controlado. Xingou-se mentalmente.

“Não faz isso comigo, por favor”- Ele não podia e ela estava realmente dificultando as coisas.

“Por que me beijou?”- Ela insistiu com a pergunta. Ela estava tão próxima que sua pele reagiu imediatamente.

“Porque eu quis”- A resposta não era totalmente mentira. ‘Porque eu te amo’ –sua mente respondeu.

“Porque você quis?”- Ela perguntou incrédula- “Você ao menos se importou com o que eu sinto, por acaso?- O coração doía tanto que ela pensou que iria desmaiar.

“E você?”- Ele alterou a voz- “Se importou com o que EU sinto?”- Os olhos âmbares repletos de dor. Apertou o queixo em perceber- “Se importou, Sakura? RESPONDA! Olha a situação em que VOCÊ me deixou.”.

Ela arregalou os olhos, assustada. Nunca o havia visto agir daquela forma, tão transtornado, tão ferido. O que ela havia feito com a amizade deles? Sua alma doeu ainda mais. Havia estragado tudo...Deus! Como podia ser tão burra?

“Por favor...Me perdoa...”- Ela falou de uma vez chorando abertamente- “Eu estraguei tudo entre a gente...”- Colocou a mão no rosto- “Você vai deixar de ser meu amigo, não vai?”- O desespero invadindo suas células.- “Por favor...diz que você não vai me odiar...”.

Se ela pudesse entender que era esse amor imenso que ele sentia por ela que o impedia de trair sua palavra para com o rei. Se ela conseguisse enxergar o quanto aquilo o estava matando. Se ela pudesse perceber o quanto o seu coração estava em pedaços.

“Nunca faria isso...”- Ele apertou o punho. O que mais queria era gritar para os quatro ventos que a amava...Que ela era a própria vida para ele. – “Shhhii, não chora”- Aproximou-se mais dela e a abraçou- “Está tudo bem...não chora...”.

Ele a apertou mais em seus braços e beijou-lhe o cabelo. ‘Te amo mais do que a própria vida’ sua mente constatou enquanto sentia ela apertar o abraço e aos poucos os soluços cessarem.

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“Princesa Sakura?”- Uma voz pouco familiar a tirara de seu devaneio. A princesa lia um pergaminho com as crônicas dos reis persas sentada embaixo de uma linda e florida cerejeira na companhia do seu guardião- “A senhorita tem um minuto?”.

Ela olhou para Li que estava sentado perto dela entretido com alguns mapas. Ele sinalizou positivamente com a cabeça e a forma que ele a olhou lhe dizia para não se afastar muito e ela assim o fez.

“Olá, princesa Akemi”- Ajeitou-se arrumando seu belo vestido amarelo sentando-se há alguns metros dali- “Está tudo bem?”.

A ruiva sentou-se ao lado da princesa soltando o ar com tudo. Havia algo indescritível dentro dos olhos negros. Algo como preocupação.

“Eu sei que a senhorita não é a favor da união de nossos pais” – Começou de vagar sem encará-la- “Para mim, tudo é muito recente também. Perdi meu pai há tão pouco tempo... Na verdade, perdi a minha família toda de uma só vez e minha mãe...”- Limpou uma lágrima solitária- “É a única parente viva que ainda me resta”.

O coração de Sakura se comprimiu de repente e uma onda de pesar invadiu seu corpo. Não queria que as coisas fossem desse jeito para nenhuma delas na verdade.

“É muito difícil aceitar outra mulher na minha vida”- Sakura confessou sincera.- “Mas jamais faria alguma coisa contra vocês”- Comentou sinceramente.- “Desculpe-me por ter fugido daquela maneira, mas eu precisava colocar o minha cabeça em ordem”.

“Fico feliz em ouvir isso”- Sorriu de leve- “E não tem nada com o que se desculpar”-Sorriu de leve- “Agora, vou voltar ao palácio, mamãe quer que eu ajude na escolha do vestido. Até mais tarde”- Levantou-se e parou olhando para trás- “Vai ser legal ter uma irmã mais nova”- Disse por fim, deixando uma pensativa Sakura nos jardins imperiais.

Talvez...Apenas talvez...Ter uma família maior não fosse tão ruim assim. Voltou-se para perto de Li que permanecia calado a encarando com curiosidade.

“Algo errado?”- Perguntou analisando a expressão de Sakura.

“Acho que tenho sido um pouco egoísta”- Comentou apoiando a cabeça nas próprias mãos enquanto encarava o palácio de longe- “Talvez eu esteja exagerando...”.

Ele lançou-lhe um olhar preocupado.

“Tudo vai se ajeitar, Sakura...você vai ver”.- Disse por fim, sorrindo ao receber um sorriso carinhoso de seu princesa. Não sabia por quanto tempo iria aguentar aquela situação.

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Os dias voaram em Tomoeda e tudo o que se falava era sobre o casamento real. Artistas dos reinos vizinhos foram chamados para a grande festa. Sayuri quis marcar o casamento para o dia do aniversário da princesa de Tomoeda e naquela ocasião em especial estava radiante. Sempre sonhara em ser rainha, mas casou-se com o terceiro herdeiro na linha de sucessão do trono, portanto era quase impossível chegar aonde chegara, tentou dar uma mãozinha ao destino, mas jamais imaginou que o idiota do seu ex-marido tentaria defender o irmão mais velho.

Balançou a cabeça dissipando as memórias sangrentas daquela noite e olhou-se no espelho, com seu majestoso vestido azul marinho de veludo trazido dos grandes mares, seus negros e intensos olhos contrastando com os cabelos cacheados avermelhados e não conseguiu conter o sorriso de satisfação. Sua filha estava deslumbrante em um vestido prateado como a lua sendo paparicada por inúmeras damas da corte.

Saiu do quarto. Bancar a boa mãe às vezes a cansava, mas não queria que sua filha terminasse amargurada como ela própria. Não depois de tudo. Vasculhando o palácio que seria seu em breve, deteve-se no grande corredor principal onde quadros da família real Kinomoto decoravam as paredes. De repente sentiu a raiva e o ressentimento se apossarem de seu ser a obrigando a contrair sua face quase em uma careta.

“Nadeshico”- falou entre os dentes- “Mesmo depois de morta continua tão irritante como sempre”- Respirou fundo passando a mão pelos móveis caros- “Eu vou acabar com tudo que um dia foi seu, a começar pela felicidade da sua filha. Você me paga por roubar a única coisa que eu sempre desejei na minha vida...”.- Passou o dedo na pintura em um carinho grotesco- “Agora EU serei a rainha e você não passará de uma memória varrida...Essa noite o seu marido será meu...TODO meu...”. -Limpou com força uma lágrima teimosa.

Agora que chegara lá, agora que o sangue de inocentes estavam em suas mãos, nada pararia o seu plano. Akemi seria a sucessora do trono e não a filha de Nadeshico...Mas por enquanto... tinha que manter a postura. Tinha que manter a atuação...Tinha que ganhar a total confiança de Fujitaka...Olhou novamente a pintura e jogou a taça de vinho contra o quadro cuspindo em seguida na imagem da ex-rainha de Tomoeda.

“Vida longa a rainha”- Sussurrou sentindo a ira e o desejo de vingança invadir seu coração.

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“Vamos, Sakura”- Syaoran estava apoiado atrás da porta de madeira maciça- “Seu pai quer sua presença e eu vou escoltá-la até o salão”.

“Já vou”- a voz saiu abafada- “Estou quase pronta”.

“Ela ainda não está pronta?”- Uma incrédula e bem vestida MeyLing entrou no corredor real vendo o primo apoiado no batente da porta. O vestido vermelho dor do carmim com detalhes dourados deixara a morena muito atraente.

Era o crepúsculo do dia de Vênus e todos estavam preparados para a grande festa de gala. O palácio estava um alvoroço. Floristas, padeiros, confeiteiros de todas as províncias vizinha vieram ajudar na organização do evento. As torres estavam iluminadas por lampiões decorados. Nunca, em toda história de Tomoeda, houve uma festividade tão majestosa quanto aquela. Um casamento real não acontecia todos os dias.

“Estou quase!”- gritou novamente ouvindo a amiga perguntar.

Li balançou a cabeça soltando um sorriso debochado. Desde que conhecera Sakura percebeu o problema da garota com a pontualidade. Muitas vezes ele tinha que jogar pedrinhas em sua varanda para despertá-la para o treinamento. Já ia bater novamente na quando a porta se abriu e a imagem de um anjo de olhos verdes invadiu sua visão, o obrigando a franzir a testa.

“Eu disse que estava quase pronta”- Ela riu ao ver o olhar espantado do rapaz.

“Sakura...”- Meyling começou- “Você está deslumbrante com esse vestido cor-de-rosa”. Sorriu um pouco- “E essa fitas brilhantes em seu cabelo estão maravilhosas”.

“Obrigada”- Corou de leve.

“Sakura?”- Li começou em um meio sorriso um pouco sem graça- “Feliz aniversário”- Era uma data muito importante para ela, e apesar de ter sido ofuscada pela grande cerimônia, ele jamais esqueceria aquele dia. Remexeu no bolso aonde guardara um presente especial, mas o entregaria mais tarde.

“Muito obrigada”.- Sorriu suavemente.

Meyling a abraçou com carinho.- “Desejo que você tenha muitos anos de vida, minha amiga”- Falou sinceramente pensando no quanto gostava de sua princesa.

“Obrigada por lembrarem”- Sorriu- “Vocês não estavam com pressa?”- Perguntou

Ele balançou a cabeça algumas vezes e lançou-lhe um tímido sorriso estendendo o braço. Meyling ia alguns passos na frente resmungando alguma coisa sobre Yamasaki estar atrasado. Foi então que a bela futura rainha os parou no corredor a caminho do salão. Sayuri cerrou os olhos sobre a princesa e os suavizou em seguida.

E o inesperado aconteceu. A mulher abraçou Sakura de forma carinhosa assustando a princesa que não conseguia reagir. Ela passava as mãos carinhosamente pelos cabelos da menina enquanto lágrimas de crocodilo enchiam seus olhos.

“Estou tão feliz, minha querida”- Ela começou com um voz cheia de falsa emoção- “Sei que jamais poderei substituir sua mãe, mas darei o meu melhor para que você seja feliz”- Sorriu tão descaradamente que era impossível não acreditar naquela expressão.- “Ah! Feliz aniversário meu bem, espero que você não tenha ficado chateada pela festa de casamento ter encoberto esse seu grande dia”.

O calor do abraço dela a deixou sem saber o que fazer.

“Quero te dar um presente”- Olhou para ela falando alto para que os guardas do corredor pudessem ouvir- “Essa é a adaga da lua. O símbolo real de Fukushima, e eu gostaria que essa peça ÚNICA fosse sua”.

“Uma adaga?”- Encarou-a confusa, mas logo tratou de engolir a curiosidade- “Obrigada”.

“De nada, meu bem...” Sorriu “- Agora preciso ir, há um casamento a minha espera”.

Vendo a princesa assentir com a cabeça deu as costas mudando a expressão drasticamente e com um sorriso triunfante olhou para a bela fita colorida escondida em suas mãos enquanto uma outra adaga brilhante jazia em seu cinto imperial.

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“Papai?”- a voz doce invadiu os aposentos reais- “O senhor está aí?”.

Fujitaka permanecia calado observando os súditos se aglomerarem em sua janela. O rei virou-se e quase caiu para trás quando viu sua pequena. Sakura estava deslumbrante, mais parecida com a mãe do que nunca. Era como voltar no tempo em segundos.

“Você está linda, meu bem”- Lágrimas emocionadas invadiram os olhos castanhos.

“Obrigada”- Sorriu e em seguida sentiu o pai lhe abraçar.

“Feliz aniversário, meu bem”- Ele estava com a voz repleta de emoção.- “Eu a amo muito, e por isso quero lhe dar um presente muito especial hoje. Mas o darei depois da cerimônia, enquanto isso...”. Observou o jovem comandante a seu posto atrás da grande porta de mogno conversando com Meyling e Takashi. -“Eu gostaria de dar uma palavra com Syaoran a sós”.

“A sós?”- Estranhou- “Mas por quê?”.

Ele colocou as mãos nos longos cabelos da filha.

“Assunto de homens, meu bem. Por favor, mande-o entrar”- a voz soou autoritária e ela percebeu que não adiantava argumentar.

Ela encarou-o intrigada e, por fim, concordou de leve saindo da sala e avisando ao comandante que o rei queria vê-lo. O rapaz entrou e se curvou em respeito a autoridade e remexeu-se um pouco incomodado quando a ouviu sair. O que o rei teria para tratar a sós com ele?

“Syaoran”- Começou de vagar- “Pequeno lobo...Gosto muito do significado do seu nome. Lobos são animais intrigantes. Caçam em bando, constituem famílias, são fiéis a matilha até o fim”.

“Majestade?”- Perguntou confuso.

“Meu querido comandante”- Levantou-se e encarou o jovem que sorriu de leve ao ser chamado dessa forma pelo seu rei- “Acho que está na hora de termos uma longa conversa”.- O encarou- “O que você mais gostaria de receber na vida?”.

O guerreiro apertou a bainha da espada sem perceber. O rei virou-se de costas claramente esperando a resposta.

“O que eu gostaria majestade, está completamente fora do meu alcance. E eu sei o meu lugar”- Comentou firme apesar da tristeza em seus olhos o traírem miseravelmente.

“Eu sei o que você quer...sempre soube...”- Sorriu fracamente. – “E acho que já passou da hora de acabar de uma vez por todas com essa barreira”.- Estendeu-lhe um anel de ouro puro com um escudo cravejado de topázios. O símbolo real de Tomoeda.

“Eu não entendo majestade”- Suas mãos tremiam. Aquilo não poderia ser o que ele estava pensando. Ou poderia?

“Com esse anel, Syaoran Li, eu te nomeio Duque de Tomoeda”.- Sorriu ao ver os olhos do rapaz se arregalarem- “E termino oficialmente com qualquer limite entre você e a minha filha. Vocês sempre tiveram a minha benção, herói, sempre”- Lembrou-se da gratidão que tinha pelo feito daquele rapaz. – “E após a cerimônia anunciarei oficialmente para que todos saibam”.

Ele deu dois passos para trás completamente em choque e a única coisa que conseguiu pensar foi em abraçar o rei, mesmo que aquilo nunca fora permitido.

Continua...


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Notas finais do capítulo

N/A:

E ai meus amores??? Estou tão empolgada com essa história. Como ela está toda rascunhada, estou conseguindo desenvolvê-la na linha que eu imaginei sem deixar a trama fugir do controle (As vezes acontece rs!)

Esse Syaoran tímido, forte, todo preocupado está me matando ( Ai ai ai)!!! E vocês meninas?? Estão gostando desse Syaoran??

Aguardo comentários!

Muitos Beijos,

Mel

Obrigada pelos reviews!!



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