Tandem Felix escrita por Paula Freitas


Capítulo 3
Est arcanum


Notas iniciais do capítulo

...A entrevista acontece... A primeira impressão é a que fica?!
...E Jayme, falará?!...



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– Então, vamos começar a entrevista?! – Perguntou Félix. Eles já haviam fechado o restaurante e a candidata estava apenas esperando ser entrevistada pelos possíveis futuros patrões.

– Sim, meu amor, deixa só eu trocar essa roupa lá atrás! É rapidinho!

Félix concordou, mas logo voltou pegando na mão dele.

– Carneirinho... Se quiser, nós podemos deixar essa entrevista pra amanhã...

– Por quê?

Félix o olhou de cima a baixo e respondeu. - Pra eu ir lá atrás e te ajudar a trocar essa roupa...

Niko deu uma risada e ficou corado.

– Félix!

– Que é?! Você falou que era rapidinho, eu pensei...

– Sei bem no que você pensou! Mas, não! – Félix suspirou com decepção e Niko completou. – Amor, vamos entrevistá-la logo! Quanto mais cedo contratarmos alguém, mas rápido eu me livro dessa rotina...

– Eu sei, eu sei! Vai lá vai, vai trocar essa roupa e seja rápido mesmo!

– Tô indo!

Enquanto Niko estava trocando de roupa, Félix se aproximou da moça.

– Então... Seu nome é Jéssica, não é?! – Perguntou muito sério.

– Sim, sim senhor!

Ela não demonstrava segurança com a voz, nem com o corpo. Tinha os ombros levemente erguidos e apertava as mãos. Félix observava cada detalhe. Aquela seu mau pressentimento permanecia.

– Eu sou Félix Corona, o outro dono dos restaurantes Gian! – Desde que Dr. César morreu Félix se apresentava, em muitos momentos, apenas com o sobrenome de Niko, afinal, o sobrenome Khoury lhe fazia recordar o San Magno e o papi soberano. – Eu também vou entrevistá-la... O Niko deve ter avisado, não?!

– Sim, o seu Niko disse que o senhor viria hoje para os dois me entrevistarem! Eu só queria dizer, senhor, que eu gostaria muito mesmo de trabalhar num restaurante como esse! É um sonho...

– Sim, sim, mas a vida não é feita só de sonhos, também há a dura realidade e um mercado de trabalho bastante competitivo lá fora, portanto, se você quer ficar com a vaga tem que fazer por merecer!

– Sim... Eu faço qualquer coisa...

– Qualquer coisa?! – Félix não gostou daquela resposta, ficando ainda mais desconfiado.

– S-sim... Bom, quero dizer... Eu trabalho com qualquer coisa, eu sei cozinhar, mas mesmo que seja para lavar os pratos, eu estou disposta a ficar com o emprego...

– Sei... Por enquanto, posso ver seu currículo enquanto o Niko não vem?

– O currículo?

– Claro! Por acaso não tem?

– Tenho... Tenho sim... – Ela tirou um papel da bolsa e entregou para Félix que começou a ler indo em direção a uma das mesas. - É... Posso fazer uma pergunta?

– Pode!

– Os senhores... Os dois são donos do restaurante e... São... São um casal, não é? – Ela perguntou meio sem jeito.

– Sim, Niko e eu somos casados! Você vê algum problema nisso?

– Não, não, eu nunca tive esse tipo de preconceito! Eu até já tive amigos gays... Imagina, não veria problema algum... E os dois formam um casal muito bonito... - Ela falou com simpatia, mas para Félix foi simpática até demais.

– Pronto! Voltei! – Exclamou Niko. – Vem pra cá, Jéssica! – Chamou Niko com a simpatia de sempre, puxando uma cadeira na mesa para a qual Félix já havia ido. – O que você está fazendo? – Perguntou para Félix.

– Pedi o currículo dela para dar uma olhada!

– Ah... E aí, quer começar perguntando alguma coisa, Félix?! Você que entende de entrevistas melhor que eu!

– Claro, o tempo como diretor do San Magno me deu muita experiência... E vendo o currículo dela sei bem o que vou perguntar...

Niko sentou-se ao seu lado e lhe falou baixinho: - Amor, pega leve, tá!

Félix deu um meio sorriso, mas não respondeu nada, apenas começou a fazer algumas perguntas para a moça que estava de frente para eles. Depois, Niko também fez algumas perguntas referentes ao trabalho, já que Félix não entendia do assunto de cozinha. Ela respondia tudo muito bem, apesar de demonstrar certa insegurança em algumas respostas. Às perguntas de Niko ela deu respostas mais completas e respondeu com mais desenvoltura, já às perguntas de Félix pareciam mais assustadoras para ela.

– E seus antecedentes?

– Ant-antecedentes?!

– Sim... Os outros lugares que você já trabalhou... Do que você achou que eu estivesse falando? Antecedentes criminais? – Falou Félix com seu sorriso cínico típico.

Ela desviou o olhar e Niko bateu de leve com o cotovelo em Félix.

– Félix! Está deixando ela envergonhada!

– Não, seu Niko, imagina... – Ela sorriu e respondeu a Félix. – Bom, eu já trabalhei num restaurante... Mas, saí... – Ela desviou o olhar para a esquerda. – Por que não gostava muito de lá...

– Simplesmente saiu porque não gostava? – Perguntou Félix que a observava atentamente.

Ela o olhou por um segundo e desviou o olhar para a direita dessa vez. – É... Na verdade, eu fui demitida... Injustamente... E, por isso, não coloquei no currículo, pois se ligarem provavelmente não darão referências de mim... Fora que eu trabalhei muito pouco tempo lá! – Dessa vez fixou o olhar em Niko. – Tudo que eu aprendi na cozinha foi com minha mãe! Eu não tive a oportunidade de trabalhar nunca antes num grande restaurante como esse, mas sei fazer um pouco de tudo quando a questão é comida! E a culinária oriental me despertou o interesse quando eu era jovenzinha, assim com uns doze anos, e a minha tia se casou com um descendente de japoneses! Eu ficava muito na casa deles e ele acabou me ensinando muito!

– Ah que legal! Gosto de conhecer pessoas que aprenderam em casa! Sabe, minha mãe também me ensinou quase tudo, mas eu estudei com um professor que era japonês mesmo, e tinha muitas palavras que ele não sabia falar em português e tinha um intérprete em quase todas as aulas, porque quando não tinha, nossa...

– Niko! – Interrompeu Félix fazendo sinal de tempo. – Timeout! Não estamos aqui pra você contar sua vida, vamos voltar para a entrevista senão fugiremos muito do assunto... – Disse esse final olhando para Jéssica, insinuando claramente que ela estava tentando fugir do assunto.

Obviamente ela entendeu sua indireta, baixando o olhar.

– Tá bem, Félix! Quer fazer mais alguma pergunta? Falta mais alguma coisa no currículo dela?

– Falta sim... – Félix a encarou. – Senhorita... Você já disse que trabalhou num restaurante menor durante pouco tempo...

Ela interrompeu. – Sim, mas não foi tão pouco, foi um ano!

– Um ano... Ok! E que idade você tinha quando trabalhou nesse restaurante?

– Félix, e o que isso tem a ver? – Perguntou Niko.

– Carneirinho, eu sei o que estou fazendo! – Virou novamente para ela. – Então, pode dizer que idade você tinha?!

– Sim... Eu comecei quando tinha acabado de fazer dezoito anos!

– Ok! Começou cedo, não?!

– Um pouco, mas eu fui pela ajuda desse meu tio que me ensinou sobre comida japonesa, era um restaurante de um amigo dele...

– Ok! E agora você está com... – Olhou no currículo. – Trinta e dois anos! Desde então trabalhou em supermercados, postos de gasolina, pequenas lanchonetes... Nunca mais trabalhou em nada grande?!

– Não, não senhor, como pode ver no meu currículo...

Félix a interrompeu: - Sim, eu estou vendo seu currículo e está incrível... Incrivelmente detalhado! Por isso mesmo, eu dei por falta de alguns períodos de tempo nele! Por exemplo, você diz que começou trabalhando com dezoito anos, e que ficou um ano no emprego, mas aqui falta um período entre os anos de dois mil e cinco e dois mil e seis, justamente quando você tinha dezoito anos...

– É que... Eu não fiquei um ano completo no emprego, eu... Eu fiquei uns oito meses... – Ela havia ficado claramente nervosa e Félix obviamente notou.

– E você ficou desempregada nesse período que falta no seu currículo?!

– S-sim!

– E depois em... – Olhou no currículo. – Dois mil e dezessete... Você também ficou quase dois anos sem emprego?

– Pois é... Eu tive que parar de trabalhar para cuidar da minha mãe! Ela já estava com a idade avançada e... E acabou falecendo...

Ela baixou o olhar com uma expressão triste. Niko logo se comoveu.

– Sinto muito! – Falou o loiro.

– Foi ano passado... Ainda sinto falta dela, mas a vida continua né?! E eu preciso mesmo trabalhar!

Niko olhou para Félix que não estava tão comovido quanto ele, e voltou-se para ela outra vez.

– Você tem família? – Perguntou Niko.

Ela ainda estava com o olhar baixo. - Não... Eu sou solteira como coloquei nos dados do currículo...

– Sim, mas, não tem filhos?!

– Não... – Félix notou que ela fechou os olhos por um instante e respirou mais profundamente. – Nunca tive... Nunca tive ninguém! – Então, levantou a cabeça de novo e os encarou. – Tudo que eu quero é uma oportunidade para trabalhar e mostrar do que sou capaz!

Niko segurou em sua mão, com toda sua simpatia, e disse: - Você foi muito bem! A entrevista já acabou! Pode ir!

– Niko... – Félix reclamou baixinho.

– Félix, já está ficando tarde! Tem mais alguma coisa que você queira saber?

Félix a olhou de lado e ela outra vez desviou o olhar. Ele, então, respondeu a Niko: - Não, nada mais! A entrevista acabou!

– Ótimo! Então, venha amanhã, Jéssica! Nós vamos conversar, mas provavelmente esse emprego já é seu! Você é a melhor candidata que já apareceu aqui...

Félix interrompeu comentando: - Não apareceram muitos também né?!

Niko apenas o olhou repreendendo-o, mas sem falar nada.

Ela levantou-se, pegou sua bolsa e foi saindo. – Então, muito obrigada! Se me contratarem eu vou fazer o possível para não decepcioná-los!

– Está bem... Tchau! E te espero amanhã, hein?! – Se despediu Niko dando-lhe um aperto de mão.

– Claro, seu Niko, eu virei! – Estendeu a mão para Félix. – Obrigada também, seu Félix!

Félix a cumprimentou e assim que apertou sua mão sentiu algo que não conseguiu explicar. Algo nada bom.

Ela foi embora e, então, Niko chamou: - Pronto, meu amor, vamos embora também, que eu quero cair na cama e dormir! Ah, mas eu estou com um pressentimento de que nossos problemas estão perto de acabar! E você? – Félix estava pensativo e não o respondeu. – Félix, o que você tem?

Félix balançou a cabeça negativamente e respondeu: - Desculpa Niko... Mas, meu pressentimento não é tão feliz quanto o seu!

Niko não entendeu, mas havia notado que Félix não estava tão satisfeito com a provável nova empregada.

Ambos entraram cada um em seu carro e foram para casa.

.

.

Já tarde da noite, Jéssica chegava a porta de casa, quando foi abordada por um homem que a segurou forte pelo braço.

– O que você quer?

– Calma... Só quero saber como foi! E aí, conseguiu trabalho?

– C-consegui... Eu acho... Por quê? Vai finalmente me deixar trabalhar em paz?

– Depende... Será que você consegue?

– Consigo o quê, seu...

– Shh... Entra... Vamo conversar!

.

.

No dia seguinte, antes de Niko ir ao restaurante, ele e Félix conversaram e chegaram a conclusão de contratar Jéssica de uma vez. Afinal, prolongar mais a espera para outros candidatos, logo na época de alta temporada, era em vão. Mesmo assim, Félix ainda não estava muito contente com a decisão, nem com o tal pressentimento que tivera.

– Félix, sinceramente, eu não sei por que você cismou com a Jéssica?

– Não é cisma! Carneirinho, sabe aquela vozinha da sua consciência que te diz “vai com calma”? Pois é... Depois que eu te conheci eu ouço muito essa voz...

– Ué, não entendi! – Niko deu um sorriso malicioso. - Tem horas que eu que peço calma e você não para...

– Niko! Não estou falando disso! Aliás... Por que tocou nesse assunto agora? – Félix sorriu. – Está se animando a fazer alguma coisa?

– Quem sabe?! – Piscou para ele. – Se nós contratarmos a Jéssica e ela provar que tem capacidade para cuidar do restaurante, eu vou até tirar uns dias de folga... Que tal?!

– Adoro! Ah, mas eu devo ter adocicado os pães da santa ceia para receber, enfim, uma boa notícia logo de manhã! Meu carneirinho está voltando com tudo, é isso?!

– Com tudo! – Niko sorriu e o beijou antes de sair. Ambos ficaram se olhando, sorrindo um pra o outro enquanto Niko saía.

– Ei, olha a cabeça! – Niko se esquivou, mas ainda bateu de leve. Félix ria. Niko havia se acostumado a se abaixar um pouco para passar por aquele portão de trás tão baixinho, mas sempre que saía mais distraído um pouco ficava a ponto de bater a cabeça. E Niko só saía distraído por três motivos. O primeiro era quando os dois tinham uma noite de amor maravilhosa, o segundo era quando estavam planejando uma noite de amor maravilhosa. O terceiro motivo era quando estava preocupado com algo, mas como saiu sorrindo, e já que o primeiro não aconteceu, só podia ser o segundo. E isso fez Félix ficar muito alegre. Tanto que esqueceu seus receios.

.

.

Horas depois, era fim de tarde quando Félix resolveu passear com os filhos para se distrair. Foi até a porta do quarto de Jayme que estava aberta e chamou o filho que estava no computador.

– Jayme, eu vou com o Fabrício andar na praia um pouco! Quer ir também?

– Não, pai, eu tô esperando alguém!

– Ah tá... – Foi saindo, mas voltou quando entendeu. – Peraí! Esperando alguém?! – Entrou no quarto, sorrindo. – Que história é essa, Jayme? Quem que você está esperando, se é que eu posso saber...

– Pode pai Félix... É a Angélica!

– Ah é?! E pra quê? Vocês estão de férias da escola, não tem nem trabalho nem dever de casa pra fazer... – Cruzou os braços atrás de Jayme que finalmente virou para ele.

– Pai, eu sei né?! É que ela comprou um novo jogo do Nintendo que foi lançado e vai trazer pra a gente jogar aqui!

– Aqui, no seu quarto?!

Jayme ficou corado e logo retrucou: - Não, pai! Vamos jogar lá na sala, né?!

– Tá, criatura, só perguntei! Bom, então eu vou sair com o Fabrício e vou avisar a Adriana que sua colega vem... – Mas, Félix lembrou. – Ah não, lembrei que a Adriana vai sair daqui a pouco porque o marido dela está doente... E agora? Você vai ficar sozinho?

– Sem problema!

– Como sem problema, menino?

– Pai Félix, eu já tô grande, posso ficar em casa sozinho um tempinho!

– Ah sim, já tá grande, já tá um homem...

Jayme se levantou contrariado.

– Ai que raiva que dá quando vocês falam assim! – Foi saindo do quarto, mas Félix o segurou.

– Ei, ei, meu filho! Vem cá! O que foi que eu disse, hein?! Me diz, por que você está assim!

– Nada, nada pai...

– Jayme, quem nada é peixe, me fala o que está acontecendo agora!

– Já disse que não é nada! – Exclamou soltando seu braço com força.

– Ah, mas eu devo ter tacado a primeira pedra em Maria Madalena pra merecer um filho aborrescente em casa! Jayme, afinal, o que você tem?! Faz dias que você está assim, chega perto da gente, até parece que dá choque! Eu ou o Niko fizemos alguma coisa pra te chatear?

– Não...

– Então?!

– Então o quê? – Jayme falava aborrecido, mas como se quisesse sair dali para não ter que conversar com o pai.

– Sei lá, criatura, quem está com algum problema é você! Me conta...

– Não tô com problema nenhum!

– Ah não?! – Félix agarrou seu braço de novo, virando-o para si. – O senhor está com algum problema sim, e vai me contar agora o que é!

– Não tem problema...

– Tem sim!

– Não!

– Tem e você vai me contar, mocinho! Senta aí! – Félix o puxou para sentar-se na cama e sentou na cadeira do computador de frente pra ele. – Vai, fala, o que te aconteceu pra você ficar tão estranho?! Olha aqui, Jayme, eu sei que foi naquele dia que você saiu com seus amigos, não adianta negar, alguma coisa aconteceu naquele dia e você não quer nos falar! Mas, chegou a hora, vai, fala!

...


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Notas finais do capítulo

Continua...



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