Tandem Felix escrita por Paula Freitas


Capítulo 11
Somno fecit


Notas iniciais do capítulo

A conversa continua...
Niko se sente observado...



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– Porque só quando o pai Niko chegar? Você não pode contar mais?

– Pelas barbas de Moisés! Contar mais sobre o quê, criatura?

– Ué! Sobre vocês...

– Não sei o que mais você quer saber, Jayme?

– Ah... Muita coisa...

– Como o quê, por exemplo? – Félix já estava inquieto.

– É... Tipo... Isso... Isso aí que você pegou...

– O quê? Ah! A camisinha?!

– É!

– É... Você sabe pra que serve né?!

– Sei! Assim, eu sei por que nos explicaram naquela aula, disseram quais os benefícios, por que é importante... Mas, aí, pelo que disseram... Eu não entendo uma coisa!

– Que coisa?

– Você e o pai Niko usam?

– Jayme! – Félix arregalou os olhos e ficou vermelho, tomado pela surpresa das perguntas.

– Quê? Não posso perguntar?

– Não! Quer dizer... P-pode... Mas, não... Ai, garoto, você conseguiu me deixar sem jeito...

Félix ouviu uma risada e logo reconheceu de quem era.

– Jonathan! Saia já de onde você estiver!

Jonathan saiu de detrás da porta que dava para a varanda. Com a mão na boca, tentava segurar o riso.

– Desculpa, pai... Eu tinha que ver isso...

– Desculpa... Sei... Estava ouvindo o tempo todo né?!

– Estava! Mas, agora que já vi a cara que você fez se você quiser eu saio!

– A cara que eu fiz?! Como assim, que cara que eu fiz, criatura?

– Uma cara assim meio de susto, meio de vergonha, meio de tomate...

– Tomate?

– É! Tão vermelho quanto!

– Ai, que exagero, Jonathan! – Cruzou os braços. – Olha, não foi você mesmo que disse pra a gente vir pra cá pra ter mais privacidade? Então?

– Então, o quê?

– Então, por que se intromete?!

– Ai pai, tá bom, tá bom... Eu vou ficar com o Fabrício... – Foi indo para dentro. – Mas, e aí... Vai responder ao Jayme ou não?! – Entrou.

– Jonathan! – Reclamou e olhou para o filho do meio que o aguardava com olhinhos curiosos. – Ai ai, devo ter sido cúmplice de Barrabás pra ter que responder as perguntinhas dessa criatura sem o carneirinho estar presente!

Jayme também notou que o pai Félix não tinha tanto jeito para conversar com ele quanto o pai Niko, então lhe falou: - Pai, se não quiser falar ou se quiser esperar o pai Niko, tudo bem... Não precisa responder nada!

– Ai, tudo bem mesmo, filho? Sério? – Félix se sentiu aliviado, mas logo voltou atrás. Seu senso de responsabilidade havia aflorado desde que se tornara pai desses meninos. – Não, olha... Se você quer mesmo ter essa conversa comigo... Se você acha que estou tão apto a responder suas questões quanto seu papi Niko, ok! Eu respondo o que você quiser saber...

– Então, responde!

– Hein?! M-mas já?! Ai, garoto... É o apocalipse! Só pode!

.

.

Em um ponto distante da cidade, Jéssica chegava em casa. Ao entrar, foi recepcionada pelo namorado que a esperava.

– O que faz aqui?

– Eu que pergunto... Não devia estar trabalhando essa hora?

– Eu fui, mas... O meu chefe notou que eu não estava bem e me mandou embora...

– Te mandou embora? Tu foi demitida? – Ele já começou a ficar agitado.

– Não! Me mandou pra casa por hoje, até eu melhorar! Se amanhã eu estiver bem, eu vou!

– Melhorar? – Ele riu. – Melhorar de quê? Tu não tá doente!

– Não?! – Perguntou em tom irônico. – Você me deixa doente!

– Olha aqui, cachorra... – Chegou mais perto. – Se você usou aquele pó que eu trouxe ontem foi porque você quis!

– Não me chama de cachorra! Aqui o único cachorro é você! Pulguento, asqueroso!

– Cala a boca! – Gritou empurrando-a para o sofá. – Fez pelo menos alguma coisa que preste?! Deu um jeito de deixar de novo aquela tal porta de lá do cofre aberta pra facilitar pra nós?

Ela teve medo de responder, mas ele segurou em seu braço com força, forçando-a a falar. – Responde! Deixou ou não deixou?

Apavorada, ela pensava se lhe dizia a verdade ou não. De qualquer maneira, aquele homem já tinha seus planos traçados. Então, ela decidiu por mentir.

– Eu... Eu deixei aberta! Eu consegui a chave e abri... Mas, aí se o patrão vai ver e trancar, eu já não posso adivinhar!

– Fez bem... – Deu um sorriso maldoso. – Se bem que devia ter aguentado! Devia ter ficado lá o dia todo pra garantir que a porta ia ficar aberta pra mais tarde...

– M-mais tarde? Danilo... Você vai mesmo? E se...

– E se o quê?! Se o quê?! Nem você nem ninguém vai me fazer mudar de ideia, eu já tenho tudo muito bem planejado... Além do mais, eu preciso de grana! É bom que a porta esteja aberta... Mas, se não tiver, a gente sabe como abrir rapidinho! O negócio é o cofre... Tem certeza que é como você me disse? Lá dentro da cozinha né?!

– É... É lá... Quando entrarem na cozinha vão ver duas portas, uma é a despensa e a outra é a da sala que tem o cofre!

– Legal... No final de semana esse lugar é movimentado! Agora que passou, o cofre deve tá abarrotado de dinheiro! Sabe se tem algum outro canto que os caras lá podem guardar o dinheiro?

Ela se lembrou do dinheiro que viu no compartimento secreto da gaveta dos talheres, mas decidiu não contar.

– E aí, sabe se tem ou não?

– N-não... Não sei... Acho que é só no cofre mesmo que eles guardam...

– Já tá bom! Hoje tem festa! – Sorriu batendo na arma escondida na cintura. – E você, trata de descansar pra vê se muda essa cara acabada! Ainda tá cedo... Vou tratar de uns negócios... De madrugada passo aqui!

– De madrugada?

– Claro... – Deu um sorriso cínico. – Só depois de fazer uma visitinha ao seu local de trabalho... – Saiu.

.

.

O dia passou. A noite chegou e Niko fechava o restaurante quando se sentiu como se estivesse sendo observado. Olhou para os lados, mas não viu ninguém.

– Carlos?! – Chamou seu garçom, mas viu que ele já ia longe, no fim da rua. Ele estava sozinho.

Tocou nos bolsos e notou que havia deixado a chave do carro lá dentro e voltou. Enquanto abria novamente a porta, sentiu-se outra vez observado. Olhou para todos os lados, mas nada viu, então, entrou no restaurante.

Logo pegou a chave do carro que estava junto à sua roupa de chef e junto às outras chaves do restaurante. Ia sair só com a do carro, mas por algum motivo sentiu que era melhor levar também as outras chaves. Aquela sensação de estar sendo vigiado o perturbou.

– Não... Eu devo estar tão paranoico quanto o Félix! – Pensava enquanto decidia se levava as outras chaves ou não. Acabou saindo com todas as chaves, trancou novamente o restaurante e entrou no carro.

Ao dar a partida, viu pelo retrovisor algo que lhe pareceu um vulto próximo ao restaurante e rapidamente olhou para trás. Seu coração acelerou, mas como não viu mais nada, saiu dali. Ainda não deixando de lado aquela desconfiança que se instalara de repente, deu uma volta com o carro. Ao lado havia um estacionamento que era separado do restaurante por uma grade e um beco estreito. Ao dar uma volta na rua ao redor do restaurante e do estacionamento, Niko se sentiu melhor por não ter visto nada suspeito, nem ninguém. Confirmou que a tal sensação era só coisa da sua cabeça, principalmente, por que não parava de pensar no marido e em suas preocupações. Seguiu, então, para casa.

.

.

Algum tempo depois, em casa, Niko se preparava para dormir. No quarto, falava com o marido que já estava na cama.

– Ah Félix, sabe o que aconteceu hoje? Uma mãe distraída enviando mensagem de celular enquanto comia lá no restaurante, não viu que o filho, que devia ter a idade do Fabrício, engasgou com um pedaço de peixe e... – Niko notou como Félix parecia distante, distraído com os pensamentos. – Félix... Amor, o que foi?

– Hein?! Que foi com o que?

– Com você, meu amor... Eu estava falando e você parece que nem estava ouvindo!

– Ah desculpa, carneirinho! O que você estava dizendo?

– Não, primeiro me fala, no que você estava pensando?! Desde que cheguei do restaurante você está mais calado que nunca e sabemos muito bem que você não é de ficar tão quieto! Houve alguma coisa?

Félix suspirou e contou: - Niko, eu tive uma conversa com o Jayme!

Niko se surpreendeu. – Você teve uma conversa com o Jayme? Que tipo de conversa?

– Ai carneirinho, nem te conto... Que tipo de conversa você acha que foi?!

– Sei lá... Que houve? Vocês brigaram?

– Não, carneirinho, pelo contrário... Foi uma conversa franca... De homem pra homem...

– Vocês tiveram uma conversa de homem pra homem? Mas, o Jayme é um menino!

– Niko, o Jayme está crescendo! Ele... Ele tinha umas dúvidas, me fez um monte de perguntas e sinceramente... Eu me enrolei todo! Eu não sabia como responder algumas coisas e acho que ele não saiu satisfeito dessa conversa! Eu estava pensando agora no que poderia ter dito de outra forma, mas... É difícil, carneirinho!

Niko o olhava com compreensão. – Amor... Quem disse que ser pai é fácil?

– Eu sei que não é, Niko, mas... Eu, definitivamente, não nasci pra ter certas conversas com adolescentes!

– O que ele queria saber?

– Ih, tanta coisa!

– Tá, mas, não acredito que tenha sido tão ruim assim... Ah, Félix, você descobriu então o que ele estava escondendo?

– Niko, deixa eu te dar uma ideia... – Félix tirou do bolso um preservativo. – Olha isso! E não é o que você está pensando... Não estou lhe fazendo propostas!

O loiro pensou um pouco e enfim entendeu. – Espera... Era isso que o Jayme estava escondendo?

Félix balançou a cabeça confirmando.

– Não acredito...

– Eu também fiquei surpreso quando achei isto no bolso do casaco dele...

– Não, não estou assim por causa disso... Eu sabia que ele já tinha tido uma aula de educação sexual... Mas, é que... Ah Félix... – Ele desviou o olhar com certa angústia.

– Que foi, carneirinho?

Niko suspirou. – Eu... Nada! – Deitou com os braços cruzados.

– Como nada, criatura? – Félix deitou atrás dele e pegou em seu ombro. – Carneirinho... Por que você ficou assim de repente? O que você tem? – Ele perguntava de modo tão carinhoso que Niko teve que virar e abraçá-lo.

– Ah Félix... Amor, nosso filho tá crescendo... E eu... Eu fiquei com uma pontinha de inveja de você, pronto, falei!

– Inveja de mim, carneirinho? Por quê?

– Você passa o dia todo com nossos filhos... O Jayme teve essa conversa que eu tanto pensei como seria, com você! Daqui a pouco é o Fabrício também que só vai confiar em você... Nenhum dos dois vai mais falar nada pra mim e só vão querer o papai Félix...

– Ai, carneirinho, por favor... – Riu. – Você está fazendo nem uma tempestade, mas o dilúvio num copo d’água!

– Sem piadinhas, Félix! – Niko fez bico.

– Ah como é dengoso esse meu carneirinho! Olha... – Pegou em seu rosto para olhar para ele. – Pra começar, o Jayme demorou tanto pra falar com alguém, porque ele queria falar com você primeiro, tá!

– Comigo?

– É, carneirinho! Ele estava sem jeito de falar comigo, pensava que eu não entenderia, não saberia como ou o que falar... E nisso ele não estava tão errado... Então, preferiu falar primeiro com o Jonathan e depois queria entregar isto pra você! – Pegou de novo o preservativo. – Ele acha que você é mais compreensivo, mais sensato e, sinceramente, eu tenho a mesma opinião! – Sorriu.

Niko também sorriu e voltou a abraça-lo. Agora os dois estavam sentados na cama e o loiro encostou a cabeça no ombro do marido.

– Ah Félix, se eu soubesse que ele queria falar comigo eu teria deixado de ir ao restaurante só pra ter um tempo pra conversar com nosso filho! – Pegou a camisinha da mão de Félix. – Por que ele não nos entregou isso antes e perguntou o que queria saber?!

– Ah carneirinho, eu imagino o quanto é difícil falar sobre essas coisas com os pais, né?!

– É, e que bom que nosso filho te procurou pra falar... Hoje em dia ele poderia muito bem ter tirado as dúvidas na internet ou com qualquer um! Mas, as palavras de quem a gente ama não tem preço né?!

– É sim... – Félix lhe deu um beijo na cabeça. – E, carneirinho... Ele perguntou se a gente usava camisinha, sabia?!

– Não! E o que você disse?

– Bom, no início eu não soube o que dizer, fiquei mais sem jeito do que ele... Mas, depois eu fui claro, disse que sim, que é importante, enfim, acho que ele não saiu muito convencido porque eu dei uma explicação quase tão chata quanto a que ele deve ter ouvido na escola, mas... Ele ainda me fez outras perguntinhas e depois disse que queria mesmo terminar a conversa quando você estivesse presente como eu tinha sugerido antes!

– Ai Félix, será que você não tentou fugir da conversa e ele percebeu não?

– Por favor, carneirinho, vê se eu sou de fugir de alguma coisa...

– Você fugia de mim! – Falou com um sorriso desafiador.

– Ah ah... Eu não fugia de você, tá! Eu tinha medo de te magoar, de te fazer mal, por isso não queria corresponder aos meus sentimentos e nem às suas investidas, tá bom?!

– Tá bom... Eu sei, amor...

– Hum, inclusive o Jayme perguntou sobre isso também... Perguntou se a gente já namorava desde quando você convidou a mim e a Márcia para passar o natal lá na sua casa...

– Ele pensou que a gente já namorava desde aquela época? – Perguntou surpreso. – E o que você disse?

– Ora, que não né, carneirinho?! O que pensou que eu diria? Que você me queria tanto que me deu sapatos de presente só pra me conquistar?

– Ai Félix... Eu não te dei aqueles sapatos só pra te conquistar... Talvez, só um pouquinho... – Ambos riram.

– Então... Depois ele me perguntou se estávamos juntos no réveillon lá na casa de mami... Eu disse que ainda não! Claro que o espertinho deduziu depois qual o dia que a gente... Que rolou!

– Deduziu?!

– Claro... Ele chegou à conclusão quando lembrou um dia que você chegou todo alegrinho porque havia ligado pra mim pra marcarmos um encontro... Eu ia “jantar” na sua casa... – Fez sinal de aspas com os dedos na palavra jantar e piscou.

– Ahh... – Niko sorriu ficando ruborizado. – Sei... Ah, eu estava animado mesmo... Nós estávamos começando a namorar... Mas, e aí, o que mais ele perguntou?

– Ah depois... Depois ele me perguntou sobre outras coisas sem importância...

– Me fala!

– Aff... – Suspirou. – Ok! Ele perguntou sobre... Quem foi a lacraia na sua vida!

– Ele se lembrou do Eron? O que ele queria saber?

– O que ele era seu... E eu disse!

– O que você disse?

– A verdade, ora! Que era uma lacraia venenosa que te picou e te deixou paralisado, encantado... Mas, aí quando eu cheguei igual a um príncipe que sou, quebrei o encanto, derrotei a lacraia acabando com a maldição, salvei todo mundo e te fiz feliz!

Niko não conteve uma risada. – Ai Félix, só você...

– Só eu mesmo! Por que como eu...

– Não há! Já sei! Mas, amor, você não falou assim mesmo né?!

– Não, não carneirinho, usei outras palavras... Mas, a história é quase a mesma!

Sorriu. - Tá bom, amor, se o Jayme me perguntar eu conto melhor... Espero que ele não mude de ideia e ainda queira conversar comigo também, eu quero tanto esclarecer as dúvidas dele, quero que ele me conte as coisas, quero ser o confidente dele...

– Ele vai, carneirinho, não tenha dúvidas! Com toda essa sua capacidade de ter uma paciência e uma compreensão inigualáveis, pode ter certeza que nossos filhos sempre vão confiar em você!

Niko sorriu e lhe deu um beijo lhe acariciando com ternura.

– Ai ai... – Félix deu um sorriso malicioso e pegou de volta a camisinha. – Só é uma pena que vamos desperdiçar né?!

– Desperdiçar? Por quê?

– Por que esta é tamanho M!

– Ai Félix... – Ambos começaram a rir. – Você não perde a piada...

– Piada nada! Vai dizer que cabe?

– Félix! – Niko corou, mas também deu um sorriso lascivo. – Você sabe muito bem que não! – Piscou. – Vai, deixa isso de lado! Agora me fala do nosso bebê! O Fabrício tem sentindo minha falta?

Félix ficou sério. Tentou disfarçar, mas lembrou de o que Fabrício havia falado sobre não querer ser mais como o papi Niko. Se ele contasse isso para Niko seria como dar-lhe uma punhalada no coração. Ele sabia que seu carneirinho sofreria.

– Bom... O Fabrício... Ah, sabe como ele é, carneirinho... Ele ainda é muito pequeno, nem nota muito que você não está o dia todo...

Mas, Niko se entristeceu. – Quer dizer que ele não sente nem minha falta?

– Não... Não, Niko, não foi isso que eu quis dizer... Ele sente claro, óbvio que sente... Mas, é que, assim, ele... Ele não está passando por nenhuma fase como o Jayme por exemplo, então, com ele é mais fácil de lidar... – Vendo que Niko não estava se conformando com aquilo, Félix disse: - Olha, carneirinho... O Fabrício sente sim sua falta! Ele acha que você não quer ficar mais pra brincar com ele... Eu expliquei que você tinha muito trabalho, mas, ele é muito novo ainda né?! Como você disse, ele é muito novinho, e às vezes fala umas coisas... Mas, você vai ver que assim que passar um tempo com ele vai ficar tudo bem! Eu... Eu prometi que assim que você tivesse um tempo você ia brincar com ele!

Niko sorriu mostrando estar melhor depois do que Félix falou.

– Fez bem, Félix! O que eu mais quero mesmo é passar um bom tempo com nossos filhos! Você não sabe a saudade que tive hoje deles, principalmente do Fabrício, quando eu estava socorrendo aquele menininho lá no restaurante...

– Quem? Ah! O menininho que você estava falando que se engasgou, não foi?

– Foi! E eu tive que prestar os primeiros socorros...

– Ah sim, sim... Continua... Como foi?

– Bom, quando a mãe, que me pareceu muito irresponsável por sinal, percebeu, o menino já estava ficando roxo, Félix! Ainda bem que eu corri pra socorrer o coitadinho... Ele ficou tão assustado, começou a chorar no meu colo! Aí, eu o acalmei e perguntei o que ele mais gostava... Ele disse que gostava do bolinho de arroz, e... – Ele interrompeu sua própria fala, se emocionando. – Olha que coisa mais fofa, Félix! Ele falou igualzinho ao Fabrício... – Niko encheu os olhos de lágrimas. – Me deu uma saudade do meu bebê nessa hora...

Félix enxugou uma lágrima que já rolava em seu rosto.

– Não fica assim, carneirinho...

– Ai Félix... Eu sinto não ter tempo de ficar mais com nossos filhos, com você... – Suspirou profundamente. – Eu cozinho pra dezenas de pessoas todos os dias e, no entanto, qual foi a última vez que fiz o prato preferido de cada um de vocês? No ano novo! Lembra?

– Lembro, carneirinho! Mas, não faz tanto tempo assim... Agora que é fevereiro...

– Sim, Félix, mas... Eu me sinto mal... E agora que você me falou sobre essa conversa com o Jayme, eu me sinto pior, sabe... Por que eu queria participar disso! Eu queria estar presente! Nosso Jayme tá crescendo, o Fabrício também precisa de mim... Eu não consegui parar de pensar nele depois de ver aquele menininho lá...

Félix o abraçou para ele se acalmar, aninhando-o em seus braços. Deitando sua cabeça em seu peito e fazendo um cafuné.

– Não chora, meu carneirinho... Sabe que não aguento te ver chorando! Shh... Fica calmo, vai! Continua me contando desse menininho... Ele acabou de comer ou desistiu depois do susto? – Pediu que ele continuasse falando com a intenção de fazê-lo se acalmar.

Com a voz embargada, ele continuou: - Não, Félix, ele não desistiu... Ele estava com fome, tadinho... Eu dei a ele um daqueles garfinhos infantis como o Fabrício usa, sabe...

– Sei... – Mas, nesse momento, Félix se lembrou do que havia escondido na gaveta dos talheres e que não havia dito a Niko. – É... Carneirinho... Esses garfinhos ficam junto do resto dos talheres, não é?

– Sim, ficam na gaveta dos talheres! Por quê?

– Não, nada... Foi você mesmo que foi pegar o garfinho? Ou você pediu pra alguém?

Niko não entendeu o motivo daquela pergunta, mas respondeu: - Bom, não... Eu estava com o menino nos braços, então eu pedi pra a Jéssica que estava lá perto do balcão pegar... Mas, por quê? Não entendi!

Félix parou o cafuné, muito sério e pensativo. Niko levantou a cabeça e perguntou:

– Amor... Que foi? Algum problema?

Ele o olhou com ar misterioso e deitou de novo gentilmente sua cabeça sobre seu peito:

– Não, carneirinho... Problema nenhum... Espero!

.

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Notas finais do capítulo

Será que não haverá problemas como Félix espera?! Ou os problemas estarão só começando?!...
Continua...