I Cried Like a Silly Boy escrita por Mardybum


Capítulo 15
Capítulo 15


Notas iniciais do capítulo

Oláá pessoal!!
Faz tanto tempo que não vou nem citar os tantos motivos de não ter conseguido postar esse capítulo antes. Só espero que me perdoem pelo atraso.
Já estamos em 2015 :O Então, um feliz ano novo (mais atrasado que o capítulo, ou não) a todos vocês!!! ;)



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O sol batia tão forte naquela manhã, que mesmo que Gina tentasse dormir, seus raios sobre seu rosto não a deixariam. Abriu seus olhos com dificuldade e se deparou com um céu tão limpo e tão diferente do dia anterior que teve de abri-los várias vezes para assim poder acreditar que estava mesmo acordada. Estava deitada em uma grama verde e úmida e mais a frente, árvores vivas e fortes completavam a paisagem. Mas ao virar para o lado, se deparou com um par de olhos azuis que podiam estar a observando a mais tempo que imaginava.

–Dormiu bem, Gina?– Perguntou Ferdinando, sorrindo de lado. Ela sabia que estaria mentindo se negasse, mas não conseguiria afirmar. Não para ele.

–Dormi como sempre, oras. Foi uma noite normal, como qualquer outra.

–Pois pra sua informação, eu dormi muito bem, minha cara. Inté acho que foi uma das melhores noites da minha vida.– Disse, com o mesmo sorriso de antes.

–Bom pra você.– Respondeu, o ignorando. Não que, no fundo, quisesse. Mas precisava pensar na situação e seus galanteios ao seu lado não a deixavam nem um pouco concentrada. Começou a raciocinar.

Será mesmo que haviam chegado em Santa Fé? As descrições que Ferdinando sempre a fazia não se pareciam em nada com aquele lugar que estava vendo. Primeiro porque, se era uma vila, haveriam de ter várias casas ao seu redor, coisa que não havia. Conforme negava cada vez mais ser possível ter chegado em tal lugar, mais a paisagem se modificava e perdia seu esplendor.

Não podia deixar de ficar triste. Tudo seria muito mais fácil se tivessem mesmo chegado. Ela até pensaria duas vezes antes de partir e deixá-los, talvez pudesse ficar um tempo hospedada em alguma casa, como a dos Falcão. Será que a deixariam ficar? Ou a esqueceriam e viveriam como sempre? Essas perguntas martelavam em sua cabeça enquanto pensava numa realidade em que pudesse viver em paz com todos.

Já ele ficava tonto só de pensar que estava em casa, deitado ao lado de Gina. Não era uma coisa ruim, ao contrário, a felicidade que estava sentindo era sem tamanho. Mas a cada vez que pensava nisso, começava a enxergar tudo mais fraco, como se as coisas estivessem sumindo. Suspirou e fechou os olhos, tentando encontrar a paz novamente.

Gina ouviu Ferdinando suspirar ao seu lado e outra desvantagem de ainda estar naquela floresta veio a sua cabeça. Como o convenceria de que sua teoria estava certa? Lembrou-se de sua cara quando descobriram o local, a felicidade estampada em seu rosto e o brilho que deixava seus olhos ainda mais azuis. Sentiu um forte aperto no coração ao pensar na decepção que teria.

De repente, se sentia mais solidária com ele. Era como se alguma coisa naquela terra estivesse a deixando mais tranquila, naquele momento a ultima coisa que faria era brigar com Ferdinando. Toda a vontade que tinha de pegar sua espingarda ou até trabalhar com terra havia sumido. A única vontade que sentia era ficar deitada ali o dia inteiro. Não, semanas. Até meses ou anos. Para sempre. Sua capacidade de pensar estava sumindo, mas o pouco que ainda tinha a fez sentar-se e perceber que aquela que estava se tornando num instante não era a mesma Gina que sempre fora. E que mesmo que ele sofresse, ela tinha que ajudar Ferdinando a voltar para a realidade também.

–--

Juliana reconhecia o caminho como se tivesse passado a vida inteira o percorrendo. Chegou em frente de sua tão querida escola e entrou, passando a mão em cada mesa e carteira como se o toque a fizesse matar um pouco da saudade que sentia daquela sala. Olhava e ansiava o momento em que poderia voltar a dar aulas, a ensinar o alfabeto, coisa que gostava tanto de fazer. Sentou-se em sua mesa e olhou os tantos livros que estavam em cima dela. Também havia um caderno, aberto numa folha em branco e um lápis ao seu lado. Quando se preparou para folhear um livro que pegara, ouviu alguém chegar.

–Olá Zelão.– Disse a professora quando encarou o capataz parado na porta da escola. - Entre.

–Licença– Respondeu, enquanto entrava com tímidos passos. - Ô num vô atrapalhá a s'nhora?

–Já te disse pra não me chamar de senhora. Apenas de Juliana. E respondendo sua pergunta, de forma alguma você vai me atrapalhar.– Deu uma pausa e continuou. - Eu gosto da sua companhia, Zelão. Pegue uma cadeira e sente-se.

O capataz fez o que a professora pediu e se sentou ao seu lado. Nenhum dos dois sabia muito que dizer naquele momento, parecia mentira que estavam juntos na escola. Juliana abriu um livro, mas não tirava os olhos de Zelão, que olhava para o papel em branco a sua frente. Depois de alguns minutos, ele quebrou o silêncio.

–Ô sempre quis iscrivinhá uma carta pra s'nhora.

–Por isso pediu ao Rodapé que a escrevesse?– Disse, se lembrando de quando cartas misteriosas apareciam em sua mesa, sempre com escritas indecifráveis.

–Sim. Mai ô queria iscrivinhá ô mermo as cartas. Ô queria poder lhe contar tudo o que acho i sinto pela s'nhora. Por ocê.

–Então, por que não tenta escrever agora?– A própria professora não entendera o motivo de dizer isso. Sabia que Zelão não sabia ler nem escrever. Ele ficou tão confuso quanto ela, mas algo o dizia para seguir a dica da professora.

Pegou o lápis e o posicionou no caderno. Lembrou-se de tudo que sempre quis dizer a Juliana e de tudo que queria dizer agora. Reuniu todo o amor que sentia e as palavras começaram a passar facilmente para o papel. E ele percebia que tudo que estava escrevendo era exatamente o que estava pensando. Olhou para cima e viu o olhar admirado de Juliana, que só o incentivou a continuar com a carta.

–--

–Ara Gina, porque ocê se levantou? Tá tão bão ficar aqui descansando...

–Ferdinando deixa de ser preguiçoso! - Disse de uma vez, irritada. Mas pensou que isso era um bom sinal, voltar a ter vontade de brigar com o engenheiro. Mas, ao contrário do que achava, ele não veio com nenhuma provocação ou coisa do tipo. Ele nem se deu ao trabalho de responder. Pensou no que diria em seguida, alguma coisa que o tirasse dali. - Eu só quero conhecer melhor a vila. Conhecer sua casa ou a venda do seu Giácomo...

–Mai ocê não pode deixar isso pra dispois?– Aquilo estava sendo mais difícil do que imaginava. Se continuasse assim, ela mesma o tiraria dali a força. Pensou em algo que o deixaria feliz e soube o que dizer.

–Mas e a casa dos Falcão, você não me contou que estava hospedado lá?.–Ao dizer isso, parecia que tinha conseguido o fazer levantar-se e voltar a raciocinar.

–Gina, ieu quero lhe mostrá um lugar que eu sei que ocê vai gostar de conhecer.

–Pois então, se você tem tanta certeza de que eu vou gostar, vamos logo.– Respondeu, enquanto o esperava partir para segui-lo. Mas Ferdinando apenas ficou parado, oferecendo seu braço para que caminhassem.

– Ah Ferdinando, pode ir tirando seu cavalinho da chuva que eu não vou ir de braços dados com você de jeito nenhum.– Respondeu nervosa.

–Ara Gina, o que custa ocê fazer isso por mim? Num vai lhe arrancar o braço!

–E o que custa você apenas me mostrar o lugar, sem precisar dessa frescura?

Giina, ocê num me provoque. Senão eu fico aqui i num lhe mostro lugar argum!– Ao se lembrar da situação em que estavam ela acabou achando melhor ceder, apenas dessa vez.

–Tá bom Ferdinando. Eu vou de braços dados com você. Pronto, tá feliz?– Disse, enquanto juntava seu braço ao do engenheiro.

–Ocê não imagina o quanto, minha cara.–Sorriu, se aproximando de seu ouvido e arrancando um arrepio da ruiva.

De repente, Ferdinando ficou confuso. Sua visão estava enfraquecendo e a Vila que enxergava em sua frente estava sumindo e voltando, se misturando com a floresta. Percebendo seu mal estar, Gina perguntou, assustada:

–Tá tudo bem com você, Ferdinando?

–Tá sim, Gina. Só a minha visão, que ficou estranha. Acredita que de repente ieu comecei a enxergá di novo aquela floresta, mas já tá passando. Ieu acho que preciso descansar mais...

–Se tá mesmo passando, tudo bem. Qualquer coisa, você me avisa. - Respondeu, atenta.

Eles seguiram e Gina não conseguia diferenciar em nada o lugar que estavam e para onde iam. Os dois pareciam ser o mesmo campo, nenhum vestígio de casa ou algo assim. Até que Ferdinando parou.

Gina, ieu vou te levar para conhecer o trigal que eu ajudo o seu Pedro Falcão a cultivar e aplico tudo que aprendi no curso de agronomia. - Disse o engenheiro, enquanto ela concordava e pensava aonde estaria a tal plantação.

Após poucos minutos caminhando, Ferdinando novamente fez um pausa, dessa vez, afirmando que haviam chegado. Para sua surpresa, a plantação tinha crescido e os trigos não poderiam estar mais fortes. Ele se encheu de alegria ao ver o resultado de seu trabalho nas terras de Pedro Falcão, mas Gina continuava a ver o que via desde que chegara no local.

–Mas você não ia me levar para conhecer o trigal, Ferdinando? - Perguntou, esperando uma afirmação do que já estava imaginando a algum tempo.

–Ara, mai ieu te trouxe no trigal Gina, ocê num tá vendo? - Ela não respondeu de instante, precisava pensar. Então, era certo de que não haviam de fato chegado a Vila. Mas o que faria agora para sair desse lugar que, provavelmente, se tornava o local onde cada um mais queria estar no momento. Não sabia como informá-lo disso, mas tinha de arranjar um jeito.

–Ferdinando... Eu desconfio de que a gente não tenha chegado na Vila de Santa Fé. Eu tenho quase certeza de que isso é uma armadilha. - O engenheiro não conseguia acreditar nas palavras da ruiva. Não podia. Como poderiam não ter chegado, se o que via em sua frente dizia o contrario?

–Gina, como pode se eu to vendo aqui, na minha frente, a Vila que cresci e sinto farta todos os dias. Ocê nunca a viu, por isso diz esse absurdo. - Disse Ferdinando, desprezando a hipótese dela.

–O que eu estou dizendo não é nenhum absurdo, Ferdinando. E você que não conhece o país em que cresci, senão saberia que seria totalmente possível estarmos sendo enganados! - Gritou Gina, com vontade de chorar. Sentia-se triste por ele não ter acreditado em suas palavras. Sentia-se magoada.

–Pois então, ocê pode vorta pro seu país, num é isso que ocê tanto quer? Ieu sabia que a primera coisa que ocê ia fazê quando a gente chegasse era isso. Nos abandoná! – Também estava magoado. Virou-se para trás, tentando evitar que Gina percebesse isso.

–Então é assim! Você não vai acreditar em mim e sequer me deixar explicar. Pois acho melhor eu ir mesmo embora! Fique ai com os seus trigos, seu engenheirinho agrônomo! - Gina correu para o mais longe que podia e deixou Ferdinando para trás, ambos tentando evitar lágrimas teimosas que insistiam em sair.

–--

Zelão terminou de escrever e olhou para Juliana, que havia achado um envelope cor de rosa em suas coisas e o trazia em sua mão. Ele o pegou e guardou sua carta dentro, o fechando e escrevendo o nome da professora.

–Zelão, eu não acredito! Você conseguiu escrever a carta! - Disse a professora, sorrindo.

– Nessa carta, ô iscrevinhei tudo que ô sinto pela s'nhora. Tudo qui passo pela minha cabeça quando lhe vi pela primera vez i principarmente, tudo o que ô senti na minhas caixa do peito, que parecia que iam exprodi de tanta felicidade cada vez que ô botava os'zolhos na s'nhora. Inté as coisa que ô num me orgulho de senti quando ô via a s'nhora com aquele dotorzinho amarelinho, mai num podia evitá. Tudo tá nessa carta, que ô ispero que a s'nhora leia, purque tudo saiu do fundo das minha caixa do peito. – Disse, emocionado.

Juliana não sabia o que dizer diante da declaração do capataz. Pegou a carta da mão dele e a deixou na mesa, substituindo-a por sua própria mão. Os dois se olhavam profundamente. Ela sentia todo o amor que Zelão passava pelo olhar, como nunca havia sentido antes. E ele, se conseguisse expressar o que estava pensando, apenas diria que se morresse naquele momento, morreria feliz.

De repente, tudo a sua volta começou a mudar. As carteiras sumiam e a escola ficava cada vez mais distante do olhar dos dois. O que tomava conta era uma grande clareira no meio de uma floresta.

–--

Quando correu o suficiente para não enxergar nem a sombra de Ferdinando, Gina se sentou atrás de uma árvore e começou a chorar. Se separá-los e deixá-los fracos era o objetivo daquele lugar, tinha conseguido. Estava magoada de mais para pensar em qualquer coisa. Ficou um tempo ali, parada vendo a paisagem ficar cada vez mais brilhante e surreal, como quando chegara ali. Parecia que quanto pior seu humor estava, melhor a paisagem ficava.

Ao pensar nisso, se lembrou de algo.

"Giina, ocê num me provoque. Senão eu fico aqui i num lhe mostro lugar argum!

–Tá bom Ferdinando. Eu vou de braços dados com você. Pronto, tá feliz?

–Ocê não imagina o quanto, minha cara."

Naquele momento, Ferdinando sorria e até Gina confessaria que se divertira com a situação. No fundo até gostava de suas provocações com o engenheiro.

"-Tá tudo bem com você, Ferdinando?

–Tá sim, Gina. Só a minha visão, que ficou estranha. Acredita que de repente ieu comecei a enxergá di novo aquela floresta, mas já tá passando. Ieu acho que preciso descansar mais..."

Agora se lembrava, Ferdinando começou a ver a floresta. Depois de ter dito que havia ficado feliz. Depois de terem trocado provocações. E de terem começado a caminhar de braços dados.

Agora sabia o que fazer. E tinha que voltar logo para Ferdinando.


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Notas finais do capítulo

Então, é isso. Planejava terminar com isso e partir pra outra parte da fic já nesse capítulo, mas comecei a escrever, escrever e escrever, o capítulo ficou muito grande então achei melhor dividir e completar melhor.
Dúvidas, críticas, sugestões, qualquer coisa que quiserem dizer, comentem. Estou com saudades de ler e responder os comentários de vocês, então, se quiserem (e puderem), me deixarão feliz deixando apenas algumas palavras.
Como estou com mais tempo, não demorei tanto assim para voltar com o próximo. Beijos e inté!! :D