MORADA - Fanfic Express escrita por Serena Bin


Capítulo 1
Parte 1


Notas iniciais do capítulo

Olá Hunger's amados. Estou numa onda de ressucitar fanfics perdidas. Achei essa em um arquivo em meu computador e resolvi postar.Foi inspirada em uma música mas não é uma song fic, também tomei referencia a uma cena que vi em seriado de tv. Espero que gostem.Boa Leitura.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/517144/chapter/1

É um dia comum. Uma tarde gelada do fim de algum novembro qualquer. A chaleira na cozinha apita avisando que o chá está pronto; o bolo no forno cheira, mandando um recado de que está no ponto; e do outro lado da rua observo a movimentação silenciosa na casa dele. Devem estar providenciando a mudança; não há nada que o prenda ao 12, sem familia, sem amigos vivos,sem guerra, sem Snow para tortura-lo ,Peeta finalmente está livre para construir uma nova vida longe daqui, longe de todas as lembranças ruins e, principalmente, longe de mim.
Vai ser melhor assim.

Fazem exatamente dez meses que a guerra teve seu desfecho sangrento. Não há mais Jogos Vorazes. A revolução que pôs fim aquele cruel mundo tem-se agora impressa em livros de história e em documentos de ordem nacional.

Eu não tenho uma estátua ou uma medalha de honra ao mérito pelo papel que desempenhei na guerra que trouxe abaixo a tirania da Capital. Não, definitivamente eu não tenho. Tudo o que recebi foi uma absolvição do superior tribunal de justiça de Panem, pelo assassinato de Alma Coin.

Eu sinceramente carrego isso como um bom prêmio, porque minha real sentença é conviver com o medo, a depressão, a dor e a falta de pessoas queridas.

Meus dias desde o fim de meu julgamento se resumem em idas ao banheiro, sessões de choro e desespero, sonecas rápidas e noites pesarosas.
Greasy Sae cozinha para mim, mas não tenho fome. Haymitch nunca me visita. Minha mãe me liga as vezes, só pra saber se ainda não desisti de viver, mas fora isso nada mais acontece; eu sento na poltrona grande da sala onde Buttercup costuma dormir e ali passo a maior parte do tempo.

E os dias passam, de domingo a domingo, mês após mês, nunca muda.
As vezes, sinto vontade de quebrar esse luto e me jogar para cima, mas meu corpo está tão fadigado que desisto antes mesmo de tentar, porque nos raros momentos em que tenho esses surtos de bom ânimo, imagino Prim brincando na neve, correndo por entre as árvores, tirando leite da cabra, sendo a ela mesma, minha Primrose. Mas então tudo fica nebuloso e as lembranças se convertem para o dia em que a vi explodir, e tudo o que faço e chorar e implorar para que tudo passe logo.

As conversas com o Dr. Aurélius são raras, já que eu nunca atendo seus telefonemas,entretanto meus medicamentos controlados sempre chegam até minha casa, mas eu nunca os tomo. Greasy Sae diz que é por isso que eu não melhoro, talvez ela esteja certa, mas no fim eu sei que o que os remédios fazem é somente prolongarem minha sobrevivência.

A noite cai e a medida que a madrugada torna-se mais profunda consigo adormecer, mas logo pela manha sou desperta com barulhos de alguma coisa ferindo a terra.
Meu sono leve rapidamente é desfeito e num estado de alerta dou um salto do sofá onde passei a noite. Procuro uma janela para ver a origem do barulho, quando abro as cortinas as palavras rusticas me invadem:

– Voce quer parar de fazer buracos no meu quintal?

Não há resposta da outra parte e quando finalmente me acostumo com a luz da manha eu o noto.
Ali, ruborizado pelo esforço com uma pá de jardinagem em mãos, eu finalmente posso ver quem é.
Peeta.

Não sei exatamente o que eu deveria sentir ao vê-lo pela primeira vez depois de meu julgamento. Talvez eu devesse sentir alívio ou até mesmo carinho mas nesse momento eu não sinto nada, como se eu já não tivesse lugar para guardar sentimento algum.

– Ele está aí desde às quatro da manhã. - Ouço a voz fina de Greasy Sae explicar da cozinha.

– Achei que ele tivesse ido embora do 12. - Respondo. Greasy apenas sorri.

Olho novamente pela janela e o observo. Ele mantém algumas mudas de uma flor plantadas desajeitadamente em pequenos vasos de barro. As mãos trabalhando incansavelmente sob a terra escura e entre adubos e folhagens percebo que não são apenas flores comuns. São mudas da Evening Primroses. É impossível conter a lagrima que se forma em meu olho.

Pela janela aberta, coloco minha cabeça para fora e posso sentir o doce aroma dos pequenos botões de flor misturando-se com o cheio de terra molhada pelo orvalho da madrugada.
Estou de olhos fechados quando ele finalmente diz:
– Achei que seria legal plantar-mos para ela.

Nenhuma palavra sai de meus lábios, apenas o observo.
Nas manhas que se seguem, acompanho os pequenos botoes crescerem e se tornarem lindas flores amarelas.

Greasy Sae diz que as flores remetem a saída de meu luto, porque segundo ela, Peeta tem sido meu remédio desde então, me fazendo visitas constantes, assando pães para mim, me ajudando com um livro de memórias sobre nossos amigos perdidos na guerra.

Chego a concordar que durmo melhor quando tenho os braços dele para que aconchegar, mas nada me faz parar de pensar que é um desperdício de vida ele continuar aqui no 12.

Peeta raramente fala sobre suas perdas, mas eu sei que conviver com a lembrança da família que agora ele já não tem é doloroso sem falar nas sequelas do tele sequestro, mas Peeta é como uma fênix. Me surpreende, dia após dia com uma força de vontade maior que a vida que lhe restou de se reerguer das cinzas e recomeçar.

Eu posso seguramente compara-lo a um diamante, forjado pela pressão e pelo fogo. Algo precioso que merece e precisa estar a salvo de qualquer transgressor.
Eu espero pelo dia em que ele simplesmente vá embora, mas ele não vai.

Pelo contrario, continua aqui, me fazendo companhia na tardes tediosas, me abraçando depois dos pesadelos, me amando mesmo depois de ter me odiado. Todo um amor mais forte, algo além da minha compreensão e mesmo sendo difícil entender agora mais do que nunca sei que sinto o mesmo.

Eu finalmente digo a mim mesma que o amo. O amo tanto que me recuso a permitir que ele jogue no lixo o resto de seus dias permanecendo ao meu lado, porque ele precisa viver e eu, apenas posso lhe oferecer uma sobrevida e isso não é o suficiente. O garoto do pão precisa me deixar.

Sinto o gosto amargo de minha decisão, um aperto que me sufoca mas aprendi com meu pai que quando se ama demais uma pessoa é preciso deixa-la partir, e decidi. Estou deixando Peeta livre de mim.

Na noite em que me encontro em seus braços tomo o momento para ser a lembrança que guardarei dele, mas Peeta se antecipa e coloca todas as minhas reservas no chão.
– Agora estarei com você para sempre. - Ele diz olhando em meus olhos - Não há mais nada que nos impeça de sermos felizes.

As lagrimas. Eu as sinto correr pelo meu rosto no momento em que ouço suas palavras. Ele está me jurando amor eterno enquanto eu estou calculando uma maneira de manda-lo para longe de mim.

Sinto-me desprezível.

Não, eu não sou desprezível, egoísta talvez. não. Eu o quero longe porque o quero feliz.
Peeta continua, e a cada palavra minha missão torna-se mais difícil até que ele me quebra de vez.

– Voce quer estar comigo para sempre? - Ele indaga com ternura.

– Eu já estou. - Digo, mas a resposta parece insatisfatória e Peeta torna a peguntar:

– Não Katniss, quero saber se voce quer estar comigo para sempre.

Ele enfatiza o para sempre e então entendo oque ele está propondo.
Casamento.

Não uma relação de amizade, ou um namoro forçado para as câmeras. Peeta está me propondo que pertençamos um ao outro. Sem reservas, sem pudores, sem medo.

Um mundo novo. Um vestido de noiva, um buque de Evening Primroses e Peeta me esperando no altar, tudo nesse sonho me encanta, mas quando olho para a pessoa dentro do belo vestido branco, vejo um ser retaliado, com marcas emocionais, com medo de viver. Então constato, tudo isso é apenas um sonho. Uma futuro nunca existiu entre mim e Peeta, por mais que eu o queira por perto.

– Não. - Respondo sem pensar muito, porque se os pensamentos me invadirem sei que vou acabar chorando e cedendo.

Peeta merece muito mais do que isso, como Haymitch disse uma vez, eu não o mereço.

Mesmo diante de minha resposta Peeta não se abate, porque ao mínimo beijo ele tem a certeza de que estou blefando.

– Voce nunca soube mentir. - Ele diz me dando um último beijo de boa noite.

Ele tem razão. Eu o odeio por isso.

–--

Os dias passam, e as semanas se vão antes que eu possa conta-las. Todos os meus esforços não mostram nenhum resultado, porque Peeta continua ao meu lado, me pedindo dia após dia para estar com ele para sempre; mas eu não vou desistir. Não é de minha natureza cair sem lutar.

Não me dou a chance de refletir. Quando já não existe nenhuma medida legalmente justificável, decido jogar a realidade nas mãos dele.
Essa é minha última chance. Tenho que convence-lo de que me amar é um erro.
Quando ele me encontra no pequeno escritório de sua casa jogo as cartas na mesa.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Obrigado por ler. Se curtiu deixe um comentário. É bem rapidinho e não dói nada.:)Até a próxima.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "MORADA - Fanfic Express" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.