Sinking Man

Minha garganta tem um nó que impede que eu fale. Mas se eu não dizer logo, vou perder a coragem.

–Eu não quero que fique bravo comigo, isso nem mesmo foi escolha minha. Eu estou sendo obrigada a isso- olho para ele por uma fração de segundos - Minha mãe acha que você está influenciando meu comportamento e minhas notas. E ela está totalmente certa- dou uma risada seca, como se isso tornasse as coisas mais leves.

–Clary, eu entro na linha- ele põe sua mão sobre a minha- Obedeço a regras e aprendo a aturar Sebastian...

–Jace- meus olhos marejam pelo tom de sua voz. Ele está praticamente suplicando, e eu estou de mãos e pés atados- Eu lamento- coloco minha mão livre sobre a sua- Não tenho escolha. Talvez seja apenas por um tempo, até que eu recupere minhas notas. Ela pode me mandar para o outro lado do país caso eu não me afaste de você.

–Eu posso tentar falar com ela- dou uma risadinha e aperto a mão dele.

–Não vai convencê-la- olho em seus olhos, que parecem perdidos. Uma lágrima escorre por meu rosto e eu pisco varias vezes como se ajudasse a dispensar o choro- Eu posso ser sua amiga- sugiro. Ele dá um risadinha de sarcasmo, mas depois olha para mim.

–Vou tentar me conformar com isso.

Antes que eu desabe e meus olhos transbordem, me levanto e pego o café. Ele se levanta também e fica parado a minha frente.

–Preciso ir- coloco uma mecha de cabelo solto atrás da orelha. Ele se aproxima de mim e limpa meu rosto com o polegar.

Com delicadeza, ele segura meu rosto e beija meus lábios. Algumas lágrimas escorrem por meu rosto e eu seguro seu pescoço. Estou sendo fraca, preciso acabar de uma vez só isso, para que as feridas se cicatrizem mais rápido. Então empurro levemente seu peito e não o olho nos olhos. Fico encarando sua camiseta com a palma da minha mão sobre seu peito.

–Desculpe.

Saio andando sem andar para trás, fingindo ter passos confiantes. Mas na verdade eu estava tentando manter meus pedaços no lugar para que eu não me despedace por completo e venha ao chão. Se eu tivesse essa escolha, talvez teria sido menos dolorido ter dito um adeus.

Limpo minhas lágrimas e continuo caminhando, pensando em qualquer coisa para manter minha mente longe do assunto Jace Herondale.

Xx

Bato na porta de Simon e ele aparece.

–Lewis.

–Fray- ele franze o cenho e analisa meu rosto- Você estava chorando?

–Não é nada. Discussão boba.

–E a segunda opção está sempre aqui- ele diz balançando a cabeça. Fico espantada com suas palavras.

–Não Simon, você nunca vai ser segunda opção.

–Ah sério? Então prove o contrario. Fale-me uma vez desde que saiu da Academia para Moças que você veio aqui me ver para passarmos um tempo juntos ou então me ligou.

–Quem é que acabou indo no ultimo ensaio da sua banda? Ah fui eu.

–Acha que eu não percebi que te aconteceu alguma coisa?

Quero gritar com ele e desabar em lágrimas, mas ele está certo. Ultimamente eu mal tenho lembrado sua existência. E não vou admitir isso, por que vai piorar tudo.

–Ok, já entendi- passo a língua nos lábios –Desculpa o incomodo.

Começo a caminhar e ouço a porta batendo. Se ele tivesse dito alguma coisa... Qualquer coisa seria suficiente para eu me sentir um pouco menos horrível.

E pelo jeito estou sozinha agora.

Xx

Compro um sorvete e vou para casa. Entro em meu quarto, pego o computador e apago as luzes. Deixo a janela aberta e enquanto como o sorvete vou vendo Ponte Para Terabitia e chorando como uma criança.

–Mas que droga! Por que você foi atravessar o rio sozinha garota! Todo mundo sabe que isso acaba em morte- minhas frases já perdem o sentido depois de tanto choro e sorvete.

–Clary?- minha mãe chama, mas eu finjo que não ouvi e continuo da mesma maneira. Ate que ela surge no meu quarto e me pega chorando. –O que aconteceu querida?

Tudo culpa sua. Sinta-se culpada e me deixe arrumar as coisas.

–Essa droga de filme é muito triste- limpo minhas lágrimas e levo outra colherada de sorvete de pistache até minha boca. –Eu estou bem -digo de boca cheia.

–Que bom. Vou tomar um banho e fazer o jantar.

–Não vou comer. Hoje só me permito porcarias.

–Mas eu não- ela levanta uma sobrancelha e eu reviro os olhos.

–Briguei com Simon, mereço isso- ela abre a boca e me olha com seu olhar de compaixão. –E fiz o que você mandou.

Sem dizer mais nada, ela sai do quarto. E eu volto a chorar, sem nem mesmo olhar para a tela do filme.