O silêncio preencheu o ar, todos sabíamos que ela estava certa e também sabíamos que aquilo seria apenas mais um empecilho difícil de se ultrapassar. O Drago não tem outro hobbie não? Sei lá, dançar, chutar coelhinhos, pescar, qualquer coisa!
– Então, o que a gente faz? - Brenna perguntou quebrando o silêncio.
– Por enquanto acho que não há muito que se fazer. Por mais que os dragões de Drago sejam vulneráveis, duvido que estaríamos em vantagem se fôssemos atacar Svart og Hvitt, eles estão sempre preparados para reagir, aquele povo defende sua ilha com muita dedicação. - falou Verena.
Ficamos encarando uns aos outros por muito tempo, ninguém falava nada. Talvez pelo fato de ninguém, simplesmente, saber o que falar, é um tipo de assunto que cansa a gente, sabe? Ter que ficar enfrentando problemas constantemente, sem descanso, sem tempo para fazer qualquer outra coisa, só porque alguém quer alcançar um objetivo que nos envolve e que insiste em tentar alcançar. É repetitivo e inútil. Uma nova voz cortou meus pensamentos:
– Ei! Há quanto tempo pessoal! - Eret se dirigiu à nossa mesa. - Mas que clima é esse?
– Oi Eret, seja bem-vindo de volta. - cumprimentei-o. - Não se preocupe por enquanto, são só uns problemas aí.
– EREEEEEET!!!! - Cabeça Quente saiu berrando e se agarrou no garoto. - Senti sua falta, lindo.
– AI! AI! SOCORRO, ALGUÉM PODE DESGRUDAR ELA DE MIM? - Eret implorou, enquanto ríamos até a barriga doer. Cabeça Dura foi socorrê-lo e puxou a irmã pela cintura.
– Ufa! Obrigado.
– Me larga! Imbecil! - Cabeça Quente se debatia nos braços do irmão.
– Você é maluca! - falou Eret.
– Sou, sou maluca por você!
– Ai, meus deuses.
Rindo, eu o convidei:
– Senta, Eret. - ele se colocou na cadeira entre mim e o Perna-de-Peixe, bem longe da Cabeça Quente, não sei bem por quê.
– Então, Eret, esses são Brenna, Vere... - ia apresentando, Soluço. O garoto o interrompeu:
– Eu sei quem eles são, Verena e seus amigos já cançaram de libertar os meus dragões e botar fogo nos meus barcos.
– Você fala como se não tivesse merecido. - argumentou a irmã do Soluço.
– Pior que agora eu tenho que admitir que mereci. - falou rindo.
– O crime não compensa, não é? - Verena criticou.
– Olha só quem fala. - ele revirou os olhos.
– Você vai começar com isso de novo? É sério? Porque olha aqui seu... - A garota foi interrompida pelo namorado:
– Parem vocês dois! Já deu esse assunto, chega! Nós já fizemos as pazes.
– Afe. - resmungou Eret.
– Tá, tá. - Verena fez um gesto de " deixa pra lá" com a mão.
– Mas então, quais são as novidades? - Eret mudou de assunto.
– Não são bem novidades, Drago tem nos atacado, de novo. Achamos que pretende algo ainda pior do que da última vez, estávamos conversando sobre isso antes de você chegar. - falei.
– Vocês não souberam? - Eret perguntou.
– Não soubemos do que? - questionou Soluço.
– Drago morreu.
– O quê?! Você tem certeza? - exclamou Verena.
– É o que andam dizendo nas outras terras. Parece que foi um dos soldados dele. Pelo que ouvi, Drago havia chamado o cara na sala dele, para uma reunião ou algo assim, ele aproveitou que eles estavam sozinhos e deu uma facada em Drago. Por algum motivo, Sangue-Bravo estava desarmado e não reagiu. O soldado fugiu pela janela, Drago morreu minutos depois, quando foram olhar porque estavam demorando tanto o encontraram, já sem vida.
– Isso é bom ou ruim? - questionou Melequento.
– Não sei, essa história me parece meio furada. Drago poderia forjar sua morte para pensarmos que estão indefesos e relaxarmos e depois nos atacar. - falou Verena.
– Bem, foi isso que me contaram. Mas não acabou ainda. Também disseram que Drago deixou um documento falando que, caso algo acontesse com ele, um sucessor assumiria seu posto e teria de cumprir tudo que não havia terminado.
– Ele falou quem? - manifestou-se Soluço.
– Sim, espera, deixa eu ver se eu me lembro do nome, deuses, essa minha memória... Ri... Ec... Eti... Eri... Erick! Isso, tenho certeza, é Erick! - Eret pareceu bem satisfeito por ter se recordado, já Brenna tinha o queixo caído e lágrimas nos olhos.
– Com licença. - pediu a ruiva, retirando-se, em seguida. Naldo fez mensão de seguir a irmã, mas a namorada o impediu:
– Não, Naldo, deixa. Ela precisa de um tempo sozinha. - Verena apoiou o rosto nas mãos e suspirou alto. - Ele está vivo, afinal.
– Quem? Drago? Eu acabei de dizer que ele morreu e... - ia falando Eret, confuso.
– Não Drago, Erick. - disse a garota de cabelos longos e castanhos, simplesmente.
– Vocês o conhecem?
– Erick era namorado de Brenna. Ele desapareceu há alguns anos, levou uma flechada e caiu de um barranco em um ataque do exército de Drago, nunca mais foi visto. Eu e Verena não acreditamos em sua morte, suspeitávamos que ele era um traidor, que trabalhava para Drago. Mas nunca comentamos isso com Brenna, é claro. Parece que estávamos certos.
Ficamos em silêncio, acho que todos pensávamos sobre o assunto, com exceção de Cabeça Dura e Cabeça Quente, que, como sempre, discutiam e se estapeavam. Não sabia o que se passava nas mentes dos outros, mas na minha, tudo aquilo parecia um grande absurdo, infinito e confuso, uma certeza incerta.
Me questionava se aquilo era mesmo verdade. Se fosse, me sentia triste pelo fato de Erick ter iludido tanto Brenna e os outros, e feito eles acreditarem que era uma pessoa fiel e maravilhosa. Talvez até tivesse sido sim, algum dia, tudo bem que não o conhecia para julgá-lo, mas quem mudaria assim? Quem faria uma coisa dessas? Os motivos dele não eram os mesmos de Verena, se não ele não teria concordado em ser sucessor de Drago.
Uma coisa passou pela minha cabeça. E se o que motivasse o garoto fosse o fato de ele se identificar com Sangue-Bravo? E se ele estivesse fazendo aquilo por que realmente queria o que Drago queria? Ou talvez até mais? E se Drago não tivesse morrido realmente, eles talvez estariam agindo em conjunto? E se o maldito estava realmente morto, onde estaria o soldado que lhe deu a facada fatal?