Foi decidido que no dia seguinte, pela manhã, todos partiriam de volta para casa. Aquela noite foi tão longa para Angelina e Sarah, e para elas as preocupações não acabaram assim que foram se deitar.

_____________________________

Narrador Off

Angelina On

De repente, eu estava pensando em tudo que anda aconteceu, quando percebi Sarah levantando da cama cuidadosamente, abrindo a porta e saindo. Eu logo fiz o mesmo e a segui, ela desceu as escadas e foi até a cozinha do hotel, pegou uma maçã, foi até a pia, abriu a torneira e começou a lavá-la. Nesse instante eu acendi a luz.

– É nisso que dá não comer nada no jantar.

Ela desligou a torneira e virou-se.

– Já estou de saída.

– Não está não! Eu vou te perguntar um coisa, então seja sincera. Por que me deu um soco e saiu correndo?

– Esquece isso.

– Eu tentei, mas cada vez que me olho no espelho e vejo minha boca inchada e esse curativo, eu me lembro novamente.

– Eu estava nervosa, você estava me pressionando, eu estava falando a verdade, mas você insistia tanto. Eu não queria te machucar, eu jamais iria querer algo assim.

– Eu sei. Eu também quero que você permaneça incólume, mas não sei o que posso fazer.

– Eu sei.

– O quê?

– Não faça nada, continue exatamente do jeito que você está. Eu sei que fui boba, isso chega até a ser engraçado, eu fui tão longe por... Como você disse antes, por um cara que não gosta de mim. Eu tentei lutar contra esse sentimento, mas isso só piorou as coisas, aquele maldito dia nunca saiu da minha cabeça!

– Que dia?

Eu não sabia de nada, mas Sarah me contou a história de quando Nicholas salvou sua vida, eles eram tão pequenos e inocentes, mas Sarah havia guardado essa lembrança a vida toda.

– Por que não me contou antes?

– Eu ficava envergonhada só de pensar. – ela olhou para o horizonte e sorriu – Quando eu era pequena eu costumava imaginar histórias com conosco, ele sempre era o super herói mascarado e eu era a mocinha que precisava ser salva, era divertido! Pra mim ele era um herói de verdade, o herói mais fofo e gentil que eu havia conhecido, pois eu tive a oportunidade de ser salva por ele.

– Sinto muito, eu sei que estraguei tudo.

– Eu cresci, passei por várias coisas, e um dia serei a heroína também. Enquanto eu treino para ficar mais forte, o super herói mascarado precisa salvar outra mocinha, e ela é você.

– Sarah, eu quero ser sua melhor amiga, eu quero que tudo continue como era antes, nem que para isso eu precise esquecer o Nicholas.

– Não! Você é a mocinha dele agora. – ela se aproximou, me entregou a maçã e cochichou no meu ouvido – Tudo que a gente passou, nada, nunca vai mudar. Agora que eu quero ser a heroína, preciso salvar pessoas também.

Ela se retirou da cozinha sem ao menos se despedir com um beijo, um abraço ou apenas um “tchau”, ela simplesmente saiu. Não sei se está tudo bem com ela, eu sinto que ainda há algo errado para ser esclarecido. Eu quero que tudo volte a ser como era antes, mas essa conversa parece que não resolveu cem por cento. Então o que eu posso fazer?

Angelina Off

Sarah On

Saí da cozinha e subi as escadas. Quantos andares será que há por aqui? Resolvi conferir, pois nunca havia passado do segundo, onde ficava nossos quartos. Subi quatro lances de escadas até chegar a uma porta trancada com uma corrente e um cadeado velho, olhei pelos buracos enferrujados da porta e vi o topo do hotel. Não consegui enxergar muita coisa, mas uma ideia passou pela minha cabeça. Desci as escadas correndo e quase me deparei com a Angel voltando para o quarto, esperei ela fechar a porta e corri rapidamente para o quarto dos meninos. A porta não estava trancada, mas quando a abri tive que ser cuidadosa, engatinhei no chão até a cama do Caleb.

– Ei, Caleb, acorda! – sussurrei tentando acordá-lo, mas ele não reagiu – Caleb! – pulei em cima dele.

– Ahhh, mas o que...

– Shhhh!!! - coloquei a mão em sua boca – Sou eu, fica quieto, você vai acordar todo mundo!

– O quê você está fazendo em cima de mim? – perguntou ele, agora num tom mais baixo.

– Eu quero te mostrar uma coisa.

– Você sabe que horas são? Não dá para deixar isso pra amanhã?

– Não, levanta logo.

– Não sei se você percebeu, mas está em cima de mim, como quer que eu levante?!

Saí de cima dele e ele pode levantar, estava de bermuda, então só pegou uma camisa xadrez e vestiu sem abotoar.

– Você está com seu celular?

– Estou.

– Ótimo!

– O que você está tramando Sarah?!

– Vem comigo!

Eu estava ficando com um pouco de frio, pois estava apenas com uma camisola preta de alças finas, mas nada tão afetável. Finalmente chegamos até a porta acorrentada e trancada por um cadeado.

– O que você vai fazer? – perguntou ele.

– Você não tem nenhum grampo ou algo assim?

– Claro que não!

– Então vai ter que ser na força bruta. – chutei o cadeado uma, duas vezes, e na terceira ele se quebrou.

– Você é louca.

Por trás da porta havia um terraço, estávamos no topo do prédio e a vista era linda. O Caleb ficou encantado.

– Nossa, que lindo! – ele deu alguns passos à frente boquiaberto. – O céu imenso com essas estrelas brilhantes, não dá para ver isso da cidade. Fazia tempo que eu não parava para ver algo assim, algo tão simples que no dia a dia eu nem presto atenção.

– Pois é, a gente nunca presta atenção nas coisas simples. – me aproximei – Me passa o seu celular.

– Não, você não vai mexer no meu celular!

– Me dá isso logo, é rapidinho!

– Tá, mas olha lá o que você vai fazer!

Entrei na pasta de músicas e procurei pela banda Breaking Benjamin, eu sei que ele escutava, coloquei a música Dear Agony, que por sinal é muito linda. Aumentei o volume e coloquei o celular no chão, estendi a mão para ele e perguntei:

– Quer dançar comigo?

– Está falando sério?! Mas eu nem sei dançar.

– Nem eu. E então? Aceita?

– Você é maluca mesmo. – ele segurou a minha mão.

Enlacei os braços em volta de seu pescoço e ele segurou a minha cintura. Um passo para lá, um passo para cá, e assim fomos. Escorei minha cabeça no ombro dele delicadamente.

Eu nunca imaginei dançar com o Caleb a luz da lua e das estrelas, isso era um pouco estranho, normalmente ele estaria brigando e dizendo “que frescura”, mas agora não. Parecia que ele estava gostando, acho que pelo corre-corre de sua vida, o tempo todo no celular, computador, escutando música de cabeça baixa, sem olhar para frente, sem ter tempo para sentir as coisas mais simples, isso faz com que ele valorize esse momento.

– Sarah... – ele parou de dançar e olhou para mim – obrigado. – e sorriu.

– O que eu fiz?

– Eu nem lembro a última vez que sorri por olhar as estrelas. Gosto muito de Breaking Benjamin, mas jamais poderia imaginar que algum dia dançaria uma música deles. – ele aproximou-se do meu ouvido e sussurro – Obrigado. – percorreu o caminho até minha boca e me beijou...