Inverno.Época fria,neve,frio,gelo,fio,congelante,frio.

Eu já disse que é frio?Ah certo.

Bem,o inverno começou bem rigoroso em Manhattan.Havia menos de duas semanas,e as tempestades de neve eram enormes.Impediam qualquer pessoa normal de sair de casa para trabalhar.

Leiam novamente.Eu disse : “ qualquer pessoa normal”.

Então,obviamente,Annabeth Chase – minha namorada a qual eu compartilhava um apartamento espaçoso – saia para trabalhar nessas nevascas.

Mesmo a cidade estando fechada.Mesmo as lojas estando fechadas.Mesmo toda Manhattan estando parada,você podia ver um pontinho loiro em toda aquela neve.

Ah e as brigas... Ah,as brigas!

O que? Você achou mesmo que eu concordava com a saída da minha namorada assim? Na nevasca?

Primeiro que: se o carro dela quebrasse,eu teria que sair de casa,do meu sofá quentinho,para ir socorrê-la.

Segundo que : se ela caísse num lago congelado,eu teria que sair de casa,do meu sofá quentinho,para ir socorrê-la.

Terceiro que : se ela ficasse soterrada na neve,eu teria que sair de casa,do meu sofá quentinho,pra ir socorrê-la.

Enfim,se qualquer coisa acontecesse com Annabeth,eu teria que sair de casa,do meu sofá quente...Ah vocês entenderam.

“-Ok,será que eu devo ligar para qualquer ser humano com consciência de que a cidade toda está parada e a minha namorada quer sair nessa nevasca para ir trabalhar? – perguntei aquela manhã de segunda-feira.

-Percy,o escritório pode abrir! Eu tenho que ir!

-Annabeth você quem abre o escritório!

-Mas..

-O que foi hein? O que aquele escritório tem que você não pode trabalhar aqui? – perguntei desconfiado.

-Tem silêncio.Eu posso desenhar a vontade- ela cruzou os braços,brava.

-Eu fico quietinho – murmurei,enrolando-me ainda mais no lençol que me cobria – Prometo – fiz beicinho.

-Desculpe,eu preciso mesmo ir! A cidade não pode para!- ela me deu um selinho rápido e fugiu para a porta.

-Mas a cidade já está parada! – gritei para o nada,quando a mesma bateu a porta com força.”

Naquele dia,eu fui obrigado a dormir no sofá.Eu estava bravo,e por mais chateado que estivesse,eu não iria tirar a cama dela,por favor.

“-Annie!

-Percy!

-Annabeth,você quer se matar? É isso mesmo? Quer ficar hipopotérmica,menina?- gritei com ela.

-Hipotérmica,Percy! – ela riu,enrolando o cachecol no pescoço.

-Ah então você admite! E não mude de assunto – gritei – Fica em casa,por favor.Eu preciso de você – ok,eu estava mesmo jogando pro emocional.

-Eu também preciso de você..- ela sussurrou.

-Então fique.

-Venha comigo.

Dissemos ao mesmo tempo.

-Nah nah,eu vou ficar em casa.

-Percy esse sofá já está com o formato do seu corpo- ela disse exasperada.

-Annabeth,este sofá me ama.Eu amo o sofá.É um amor mais,você não pode inteferir nisso -

-Percy-

-Vá.Vá trabalhar,Annabeth.Você vai chegar atrasada – gritei por fim,jogando-me no sofá.”

Naquele dia,fui novamente obrigado a dormir no sofá.Ele estava mais quentinho,parece que estava mesmo com o formato do meu corpinho.

“-Vou trabalhar – ela disse.

Fiquei em silêncio.Eu havia visto isso num programa de televisão,e chama-se : tratamento do silêncio.

- Vai me dar um beijo? – ela perguntou,colocando a touca,e a touca da blusa grossa.

Continuei silencioso.

-Percy...eu tenho milhares de desenhos para entregar essa semana. Por mais que não haja ninguém em lugar nenhum,eu preciso terminar essas coisas no escritório – ela disse cruzando os braços.

Suspirei,e continuei em silêncio.

-Eu não estou conseguindo dormir direito ,sabe? –ela coçou a nuca por baixo das toucas – A cama tá fria.

Abaixei a cabeça,prendendo o riso.Ela quem estava merecendo isso mesmo.

-E..eu não tenho mais travesseiro,você não tá mais lá – ela disse passando o indicador pelo nariz vermelho,gesto que sempre fazia quando estava nervosa. – Volta pra cama,Percy...

Deitei-me de costas para ela no sofá.

Eu estou muito bem aqui,obrigado. – queria dizer.

Apesar da minha coluna não dizer o mesmo.

-Tudo bem,até mais – ela saiu pela porta.”

A noite,ela chegou coberta de neve como sempre,e com o nariz e as bochechas extremamente vermelhas.Como nas outras noites,mas agora,estava bem mais.Eu estava na cozinha – estilo americana que ela mesmo havia desenhado e comandado a reforma- quando a vi ir depressa para o chuveiro.

Fiz chá para jantar comendo biscoitos.

Annabeth saiu do banheiro agasalhada,e com os cabelos presos,estava silenciosa...

-Que porcaria de dia,dia maldito,dia cocozento – ela reclamou.

Ok,nem tão silenciosa assim.

Setei-me no sofá,colocando meu travesseiro do lado contrário hoje,o lado que ficava para o corredor onde ficava nosso quarto.

Ela tomou duas xicaras de chá,parou perto da televisão pegando uma touca,e foi para o quarto.

Simples,silenciosa,e reclamona.

-x-

-Atchim!

...

...

...

-Atchim!

...

Hmn...

-ATCHIM!

...

Quê?

Acordei com um barulho de espirro forte e tosse.Eu não estava espirrando forte nem tossindo...Então..

Ah o destino,esse danado.

Ouvi gemidos baixinho de dor,talvez..eu estivesse sendo muito malvado com Annabeth.Suspirei e levantei-me indo até o nosso quarto.

Ela estava completamente encolhida ,enrolada por dois cobertores grossos e estava tremendo.Aparentemente dormindo.

-Annabeth? – chamei da porta,porém ela nem se mexeu.- Annie?

Ela tremeu mais um pouco.Aproximei-me dela,puxando os cobertores,e vi que ela estava vermelha e suando.

-Annie? – a balancei e ela gemeu baixinho – Amor,acorda.

-Percy? – ela abriu os olhos devagar – Eu quero vomitar.

-Vomitar o que? Você só bebeu duas xicaras de chá- sentei-me ao seu lado colocando uma mão em sua testa. –Meus Deuses,você está queimando.

-Eu quero um cobertor,tá muito frio – ela disse manhosa,sentando-se na cama. –Só vem para a cama se eu estiver morrendo? Que tipo de amor é esse?

-Só percebe que eu estou certo depois que fica doente? Que tipo de percepção é essa? –retruquei.

-Não briga comigo,eu tô doente e não usa palavra dificil – ela disse manhosa de novo – Ai vou ficar como nariz entupido em 3,2,1 Atchim! – ela espirrou novamente.

Certo.O que fazer com a sua namorada doente? Eu sou novo nessas coisas,e se querem saber,não existe um guia/almanaque ensinando a lidar com essas situações!

Eu já procurei.

-Vem,vamos até a sala,eu te faço uma sopa,você toma um banho quente,veste roupas quentinhas,e eu cuido de você. – levantei-me da cama,porém ela ficou me olhando com os olhos cinzentos lacrimejantes. – O que foi?

-Eu tô dolorida – ele reclamou fazendo beicinho.

-Eu falei para não sair nessa nevasca para ir trabalhar.Agora aguente – disse me dirigindo até a porta.

-Percy – ela gritou,depois tossiu um pouco . – Eu tô dolorida porquê cai da escada do escritório,e não tinha uma alma penada para me ajudar!

-Mais uma vez,eu avisei – disse empinando o nariz.

-Percy..por favorzinho – ela só esticou os braços,fazendo beicinho.

-Ah não,não invente! – disse cruzando os braços.

-Por favorzinho – ela estava com a respiração pesada ,os olhos lacrimejantes .

Suspirei e andei até ela,peguei em sua cintura,e enrolei suas pernas em meu quadril,enquanto ela se enroscava em meu pescoço,fungando.

Não pensem besteiras,foi só um enroscar de pernas no quadril.

Eu sei que é dificil não pensar besteira.Mas não pense,seu danado.

-Só desta vez.

Caminei calmente pelo corredor,levando-a até o meu sofá adorável .

-Fique aqui,eu vou fazer sua sopa – sentei-a e ela gemeu baixinho. –Onde dói?

-Aqui – ela colocou a mão na costela – Mas não quebrou,eu tomei néctar ,vai ficar tudo bem.

-Annie-

-É sério,eu só preciso de uma sopinha – ela sorriu passando a mão na cabeça tirando a touca.

-Você pode ir tomando seu banho enquanto isso.

-Você me carrega até o quarto e o banheiro? – ela fez beicinho.

-Na na ni na não.

-Então eu fico assim mesmo – ela deitou a cabeça no meu travesseiro respirou fundo –Eu senti saudade do seu cheiro.

-Ok,agora eu sei que você está delirando. –

Fui até a cozinha e preparei os ingredientes da sopa enquanto ouvia Annabeth falar o quanto seu nariz estava cheio de água,e sua cabeça doendo. O quando estava com a garganta seca,e os olhos lacrimejantes.

Terminei sua sopa,sem comentar que eram quatro horas da manhã,e levei até a sala.

-Me dá um beijo? –ela pediu quando me sentei ao seu lado.

Por mais que sua boca estivesse vermelha bem convidativa,eu não queria ficar gripado. De jeito nenhum.

Vocês entendem não é mesmo,danadinhos?

-Hmn,você sabe.. essa gripe e –

-Eu quero beijo – ela fez beicinho –Um beijo bem molhado!

-Annie – eu ri.

-Eu tô a três dias sem beijo! Eu quero beijo! Eu quero! – ela pediu manhosa. - Imagina se eu exigisse as outras coisas as quais você me deixou sem esses três dias!

Eu sorri e senti meu rosto queimar.Ah qual é..

-Que tal você tomar essa sopa,e eu te dou um beijo,ok? – coloquei uma mecha de seu cabelo para trás da orelha.

-Eu quero agora. Quero aqui – ela apontou para a sua boca- Quero beijo!!!!

-Annie! – a repreendi – Vamos tome a sopa.

Ela suspirou,e olhou-me acusadora enquanto tomava a sopa.

-Sua culpa.Eu estou a três dias sem beijo e sem outras coisinhas,por sua culpa. Fiquei na cama fria,por sua culpa.

-Você não me ouviu,o que você queria? Que eu dormisse com você depois de não me ouvir? – reclamei,ligando a tv baixinho.

-Ahn,como eu iria saber que eu ia cair da escada e ficar gripada?

-Hm,vejamos : estava nevando,e não tinha ninguém no trabalho para de socorrer.Ah sim,e estávamos brigados,isto é ,seu orgulho não deixou que você me ligasse –disse indicando com os dedos.

Eu não iria ceder.Sempre em nosso relacionamento,eu cedia.

Chega,eu estou certo,e ela errada.

Milagres acontecem,eu estava mesmo certo.Isso aí.Dois pontos para Percy Jackson.

-Eu não queria ligar pra você,você iria rir de mim! –ela reclamou coma boca cheia de sopa.

-Annabeth em que mundo eu iria rir de você caída no chão? – reclamei.

-Neste mesmo,nem vem com essa,eu te conheço!- ela disse manhosa.

Ok,talvez ela estivesse certa agora.Só agora.

Ficamos em silêncio,enquanto ela terminava a sopa.

-Obrigada por cuidar de mim – ela disse com as costas encostada no sofá – Eu...não quero e nem consigo me levantar daqui...você pode dormir na cama – ela bocejou.

-Tudo bem,você faria o mesmo por mim.

-Sem pensar duas vezes- ela disse com os olhos fechados.

-Quando acordarmos conversamos ,tudo bem? – sussurrei em seu ouvido.Ela balançou a cabeça,parecendo um pouco melhor.

-Tudo bem.

Fui até o meu quarto,onde FINALMENTE poderia dormir todo espalhado.

Porém algo me incomodava.A cama estava fria,e não tinha ninguém dormindo em cima de mim.

Ok ela estava certa novamente.

Levantei-me depois de um tempo tentando dormir naquele gelo.Apesar de já ter amanhecido,o dia estava escuro,o que era bom para dormirmos mais.

Fui até o sofá e empurrei Annabeth bastante.

-O que? –ela gemeu baixinho.

-Vai mais pra lá.

-Pra lá aonde? Esse sofá é pequeno.

-Vai,anda,a cama tá fria.

- Eu disse –ela riu manhosa e sonolenta

Deixou que eu me deitasse primeiro,depois se aconchegou nos meus braços,e enrolou suas pernas na minha.Nos cobri com os cobertores dela,e suspiramos.

-Agora sim.- deitei minha cabeçaem seus cabelo – Eu espero que você fique bem logo,Sabidinha.

-Eu tive um ótimo doutor – ela sorriu com os olhos fechados – Apesar de você ainda estar me devendo beijo.

Puxei seu queixo para cima.Ela nem abriu os olhos,sabia o que estava por vir.Deixei que nossos lábios se encostassem ,seus lábios quentes e vermelhos,cobriram minha boca e lá estávamos nós,aproveitando e nos deliciando com o gosto de cada um.Como deveria ser.

Ela colocou as mãos em minhas costas se segurando e terminamos o beijo com selinhos.Eu beijei seu rosto todo ,e por fim,beijei sua testa.

-Você não vai trabalhar no inverno,ouviu? –sussurrei

Ela riu baixinho.

-Você quem manda,chefe .

-Precisamos tirar uns atrasados desses dias – sussurrei novamente.Ela riu mais alto.

-Com certeza.Agora fica quietinho...tá sentindo isso? – ela sorriu um pouco mais.

-O que?

-Tô ficando com calor...

Nós rimos . Ah quanta bobagem já passamos.Eu queria tanto dizer que a amava,mas eu não precisava.

Ela sabia.Todos sabiam.

-Eu sei como é – beijei seu nariz- Tá quetinho aqui.

-Isso,quentinho. – ela concordou sonolenta.

-Mais que nossa cama – sussurrei persuasivo.

-Mais que a cama – ela bocejou.

-Vamos dormir no sofá pra sempre,é mais quentinho.

Ela ficou quietinha.

...

...

-Não inventa , Percy – ela fez beicinho.

Ok,talvez eu não tenha conseguido dessa vez.

Mas eu estava bem.

E mais importante que isso,ela estava bem.