Abbie Robbs

– Tem certeza que é o melhor para nossa menininha, Roger? – Ouvi um sussurro abafado vindo do banco da frente. Mamãe, que provavelmente acreditava que eu havia dormido, cochichava com papai, que, pra variar, estava com problemas em seguir as orientações do GPS.

– Você sabe que sim, Rose. Você tem que parar de super proteger a garota, não é à toa que não tenha amigos! – Sussurrou um pai furioso. – Esse GPS está com defeito!

– Você tem certeza que colocou o endereço certo?

E antes que eu pudesse ouvir a discussão que se seguiria, ajeitei meus fones de ouvido e aumentei o volume. Logo estaríamos no acampamento.

Lyanna Ivanovich

O taxista corria como um louco, o que me fez, por um instante, cogitar a possibilidade de descer e continuar o caminho a pé, mas fui impedida no último instante pelo meu cérebro, que me lembrava que eu não fazia ideia de como chegar ao acampamento.

Chequei minhas mensagens mais uma vez. Nada.

Alex já deveria ter dado algum sinal de vida. Nós havíamos combinado de nos encontrar no aeroporto!

Resolvi me distrair com a paisagem ao redor, o local era bem afastado do centro, o que seria ótimo pra relaxar e me distrair. Era bem disso que eu estava precisando.

O carro estacionou meia hora depois, em frente a um enorme portão de madeira aberto, deixando à mostra uma trilha bonita, fechada por árvores ao redor e, ao fundo, um chalé apinhado de pessoas.

– São setenta dólares. – Disse o taxista, com sua voz monótona e insossa.

Tirei o dinheiro da carteira e mal consegui retirar minhas malas do carro antes dele dar uma arrancada forte, me jogando no chão. Estava prestes a xingá-lo de todos os nomes que conhecia quando meu celular tocou. Alex.

– Ei, onde você está? – Falei, minha raiva já diminuía.

“Anna... Más notícias...” – Começou ele com aquela voz que eu já conhecia, algo deveria ter dado errado. – “Vou ter um intensivo de férias, provas e tudo o mais... Vai contar como extras e essas coisas...”

– Sério? – Falei, tentando conter o desapontamento na voz.

“Sim... Eu posso optar por não ficar, mas...”

– Não, não! – Cortei-o. – Vai ser importante pra você! É o que você sempre sonhou, não é?

“Sim, mas... Eu queria ver minha irmãzinha...”

– Sua irmãzinha vai esperar o bravo irmão mais velho se tornar um grande piloto, ok? – Tentei soar mais animada.

“Tem certeza?”

– Sim senhor, capitão!

“Aproveite o acampamento por nós dois, então. Combinado?” – Ele parecia um tanto aliviado.

Olhei para a trilha e o chalé ao fundo novamente. Eu já estava ali, não é mesmo?

– Combinado. – Respirei fundo. Lá vamos nós.

Emerson Watters

– Tem certeza que não quer que entremos? – Minha mãe tinha perguntado isso durante todo o trajeto e a resposta não mudara:

– Sim mãe, pode ficar tranquila.

– Vamos sentir sua falta, querido. – Disse ela, abraçando-me forte enquanto meu pai se encarregava de tirar as malas do carro.

– Se cuida, campeão. – Falou meu pai, ciente de que toda aquela agarração da esposa estava ficando complicada. – Vamos querida, deixa o garoto aproveitar as férias!

– Qualquer coisa nos ligue! Estaremos aqui num piscar de olhos! – Insistiu ela, enquanto entrava no carro e acenava.

Acenei de volta e esperei que o carro fizesse a curva na estrada para então me permitir entrar no acampamento, aquelas férias seriam sensacionais!

– Opa, desculpa! – Falei, quando senti que havia esbarrado em alguém. – Tudo bem?

Era uma garota. E que garota.

Ela havia derrubado a mala que carregava, a qual eu prontamente peguei.

– Pode deixar que eu levo. – Disse. – Sou Emerson Watters.

– Abbie... Robbs... – Respondeu-me ela num sussurro, o rosto ruborizando.

– É a primeira vez no acampamento? – Perguntei, puxando assunto.

Ela olhava para o chão, os lados, menos para mim. Quase não ouvi quando ela soltou um fraco “uhum”.

– A minha também. Parece ser bem legal, né?

Tímida, extremamente tímida. Abbie com certeza era o tipo de garota difícil de se aproximar, mas algo me dizia que seria encantador se eu o fizesse.

– Hã... Obrigada. – Disse ela num sussurro, esticando os braços para pegar sua mala assim que chegamos ao chalé principal.

– Não há de que! Nos vemos por aí?

Olhei a tempo de ver um sorrisinho brotando em seus lábios e um leve aceno com a cabeça. Sorri de volta.

Ivvy Mongtmerry

– Vamos, querida? – Mamãe insistia para Emily, que estava agarrada à minha perna.

– Quero ficar com a Ivvy! – Pedia ela, me apertando mais forte.

– Mas você não pode, amorzinho. – Mamãe tentava. – Só as meninas grandes podem ficar aqui. Quando você tiver idade, você vai vir também, ok?

– Não. Não vou deixar a Ivvy. – Os olhinhos de Emily estavam cheios de lágrimas.

– Ei pequena... – Chamei-a, agachando-me para fichar da sua altura. – Vamos fazer assim: você vai com a mamãe pra ela não ir sozinha e cuida do Sr. Polvo por mim, ok?

– Mas eu quero ficar com você... – Pediu ela.

– Awn meu anjo, eu também. Mas se você não for, quem vai cuidar da mamãe e do Sr. Polvo? Ele precisa que alguém durma abraçada nele se não ele fica com medo do escuro!

– Mas você vai ficar sozinha? – Perguntou ela.

– Tem um monte de gente aqui, eles com certeza vão ficar de olho em mim. Enquanto isso você cuida da mamãe e do Sr. Polvo que quando você menos esperar eu já vou estar em casa de novo, ok?

– Ok... – Emily assentiu, com os olhinhos cheios de lágrimas ainda. – Vou sentir saudade.

– Eu também, pequenina. – Sussurrei em seu ouvido e dei um beijo em sua testa, levantando-me novamente. Emily segurou a mão de minha mãe e saiu andando com ela, olhando a toda hora para trás como se quisesse verificar que eu não tinha saído dali. Esperei até que elas entrassem no carro e partissem para casa para enfim segurar minha mala e entrar no bonito chalé.

Makaria Bawrning

O carro parou bem em frente aos portões de madeira velho. Fiquei esperando o motorista abrir a porta e pegar minhas malas, mas tudo o que ele fez foi pronunciar um “chegamos”, olhando-me pelo retrovisor. Revirei os olhos. Dessa vez minha mãe havia se superado, além de me mandar para o meio do mato, ainda arranjava um motorista babaca que não sabia cumprir suas funções direito.

– Não vai pegar as malas? – Perguntei.

– Sua mãe pediu que eu chegasse em casa logo, senhorita. – Respondeu-me ele, como se fosse uma desculpa.

– Quer saber, vai tomar no cu, você, minha mãe, todos! – Reclamei, irritada, e saí do carro. Minhas duas malas enormes mal saíram do porta malas direito e o maldito motorista já havia partido.

Olhei pela trilha que teria que percorrer. Aquilo era o inferno. Já estava me arrependendo de ter concordado com aquela loucura de acampar.

Comecei a caminhar, mas as malas estavam impossíveis, então parei, xingando a tudo e a todos.

– Precisa de ajuda? – Ouvi uma voz atrás de mim e me virei. Uhm, até que aquele ali não era mal.

– Tem alguma dúvida? – Reclamei.

– Ei, calma aí estressadinha. – Riu o homem. Alto, forte e moreno. Uma combinação fatal. – Qual seu nome?

– Makaria, Mack.- Respondi.

– Uhm, seja bem vinda ao acampamento, Mackaria Mack. – Brincou ele, babaca.

– Chama isso de acampamento?! É um depósito de mosquitos nojento! – Reclamei.

– Bom, espero que sobreviva, então... – Respondeu-me ele, sorrindo. Aquele cara não sabia esconder os dentes não?!

Damon O’Neal

– Eu nem acredito que meu bebê vai passar as férias todas longe de mim! – Mamãe dizia enquanto descíamos do carro. Senti minhas bochechas ruborizando e comecei a me irritar. – Pegou o protetor solar? E o repelente? Trouxe o remédio para dor de estômago?

– Sim, mãe. Sim. – Respondi, um tanto seco.

– Ah meu amorzinho... – Ela me abraçou. Não esbocei muita reação, haviam diversas pessoas passando por ali e eu já estava constrangido o suficiente.

– Trouxe todos os telefones anotados? Já avisei na casa da sua tia Dolores que qualquer coisa, se não conseguir falar conosco, pode ligar para ela, ok?! – Mamãe dizia.

– Sim, sim. Cade minhas malas? – Perguntei, desejando escapar dali.

– Deixa que seu pai leva, querido. – Disse ela.

– Não precisa, eu vou sozinho... – Insisti.

– Ah, que isso... – Ela começou.

– Mãe...

– Querida, vamos deixar nosso garoto crescer... – Papai piscou para mim e abraçou a esposa.

– Mas querido... – Mamãe reclamou.

– Ele já está bem grandinho, não é garotão? – Papai riu.

– Sim senhor. – Respondi, agarrando minha mala e acenando para eles enquanto entrava no chalé.

Finalmente um pouco de paz.

James Parker

– As listas já estão prontas? – Sav me perguntou, passando rapidamente por mim na recepção.

– Acho que dei pro Chris não faz nem dez minutos. – Respondi, pegando as malas de mais um acampante para levar pro chalé certo.

– Saco, não faço ideia de onde ele está... – Savannah olhou ao redor.

– Dá uma olhada na fogueira, maninha. – Sugeri.

– Ei, sabe onde posso encontrar um banheiro? – Ouvi uma voz atrás de mim e me virei. – Ah, você. Sabe onde posso encontrar alguém que me diga onde é o banheiro??!

– Olá, Makaria Mack. – Falei, irônico. – Os monitores devem saber.

– E sabe onde posso encontrar um monitor? Parece que nenhum desses inúteis quer trabalhar hoje.

– Eu mesmo, monitor e chefe dos Trovões. O banheiro é a segunda porta à esquerda. – Respondi e dei uma piscada de leve, controlando-me para não cair na gargalhada com a careta que ela fez logo em seguida.