O país secreto. escrita por Apenas eu


Capítulo 54
A neta do vilão


Notas iniciais do capítulo

Oi, de novo :3



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A parte interna do castelo está em uma quietude tão grande, que nem mesmo parece que uma guerra está ocorrendo lá fora. O saguão de entrada está fortemente iluminado pelas luzes do dia, que atravessam as imensas portas de vidro. Ele é tão amplo, e tão vazio, que me faz sentir pequenininha. Há duas escadas longas, em cada extremidade da sala, que dão no mesmo lugar. Hellena, ofegando, vira-se para mim.

— Emma - Diz ela. - Temos que ir rápido. Antes que a guerra chegue aqui!

Ela olha em torno, respirando pesadamente. Deve estar tão impressionada quanto eu - não é todo dia que se entra em um castelo, afinal.

Antes que eu possa dizer qualquer coisa, no entanto, Hellena agarra meu pulso e recomeça a me arrastar como um saco velho, suas unhas beliscando minha pele. Eu até protestaria, mas estou ocupada demais tentando não tropeçar nos degraus e cair, já que eu sou um desastre ambulante. Na primeira curva da escada, mais ou menos pelo meio dela, avisto duas formas distantes - seus rostos colados na janela, suas mãos em concha aos lados do rosto e palavras aleatórias lançandas ao ar. Hellena hesita por um instante, mas então retoma seu rítmo, me levando consigo.

Eu só constato que se trata de Will quando estamos a uns dez degraus de distância dele. A outra pessoa, porém, é uma garota que eu nunca vi na vida.

— Ei! - Grita Hellena para ele, subindo mais devagar. Will se afasta da janela e olha para baixo, diretamente para nós. A menina aparece por trás dele. - Ei, seu monte de merda! O que faz aqui?

Will espera até cobrirmos a distância entre nós para responder. Quando chegamos, ele revira os olhos.

— Ah, eu estava vendo como anda o movimento por aqui - Ironiza. - É claro que estou me escondendo, sua tapada!

Hellena lhe recompensa com um soco no braço, fazendo-o gemer.

— Você é um covarde, William Dill Bouringor! - Acusa ela, apontando para seu peito. A colega de Will arregala os olhos, assustada. - Seu irmão está morto! Ele morreu lutando! E você só faz se esconder o tempo inteiro.

Meus olhos se dirigem para a menina. Eu não tenho ideia do que ela faz aqui, ou de quem ela é. Eu naturalmente nunca a vi em qualquer outro momento da minha vida - só posso dizer que ela é nova demais, e parece frágil demais para uma guerra. Seus cabelos azuis-elétricos caem como ondas pelas suas costas, com uma tiara caríssima sobre eles. Seus olhos grandes e pretos possuem longos cílios, e mudam de um lado para o outro tomados de terror. Seu rosto é fino e delicado, como porcelana, e ela é baixinha e magra, me deixando pensar que não pode ter mais que treze anos. Suas roupas são finas e esvoaçantes, mas não transparentes, e os braços magros estão adornados por jóias.

— O que eu podia fazer? - Protesta Will, num fio de voz, voltando as palmas das mãos para cima. - Eu sou apenas um leitor de mentes, e embora eu tenha outros talentos, não sei usá-los! E eu perdi minha espada enquanto corria dos dragões! E, mesmo que não tivesse perdido, eu sempre fui péssimo com ela...

Alterno olhares entre ele e sua nova amiga.

— Mas o que faziam olhando pela janela? - Gesticulo. -  Tipo, como se estivessem assistindo a um jogo de futebol? E... Quem é essa menina?

A garota desce um degrau, parando ao lado de Will. Ela está desconcertada, mas se apresenta mesmo assim.

— Desculpe. Meu nome é Isie Hogfword, filha da princesa Oliz, e neta do rei Vindre...

Hellena voa na direção da menina tão rápido, que mal consigo segurá-la. Ela se debate, tentando agarrar pescoço dela, mas Will se coloca entre as duas. Isie recua, apavorada.

— Rei de merda nenhuma! - Xinga Hellena - Cala a sua boca! Você não passa de uma...

E daí para lá, não acho que seria conveniente relatar o que minha priminha geladinha falou. Porque são tantos palavrões, tantas ofenças, que até eu me assusto. A menina já se vira para correr, quando eu grito:

— Hey! Espere!

Isie espera. Ela congela, alguns degraus acima. Ainda lutando para segurar Hellena, eu pergunto à ela:

— Você sabe... Onde seu avô...?

Eu sei, é uma grande estupidez eu perguntar isso. Tão idiota quando se eu dissesse "hey, você sabe onde eu poderia achar seu avô? É que eu preciso matá-lo, coisa rápida."

Hellena se aquieta, mas ainda bufa como um touro.

— Me solta! - Ela rosna. - Eu não vou bater nela. Emma, me larga!

Afrouxo o aperto, e ela se desvencilha com um puxão, soprando uma mecha de cabelo branco que cai em seu rosto. Will olha sobre os ombros, para Isie, que agora se atreveu a descer mais uns degraus.

— Vocês querem matar meu avô - Afirma ela, com desconfiança. - Eu sei que querem.

É claro. Eu já esperava uma resposta dessas. Não posso culpá-la.

— Eu vivi minha vida inteira aqui dentro - Ela continua, cautelosa. - Ouvi histórias, e fui induzida a acreditar que os vilões eram todos aqueles que iam contra minha família. Eu vivi de olhos fechados. Fechados para toda a realidade.

— Isie - Sussurra Will.

Isie coloca a mão no ombro de Will compreensivamente, como se dissesse que está tudo bem.

— Hoje, com essa guerra, eu entendi que nem tudo é como eu achei que fosse. Conheci Will, alguns minutos atrás, e ele abriu meus olhos.

Hellena, ainda contrariada, resmunga.

— Nossa, comovente. Agora vamos pular a parte dramática - Ela se movimenta para pegar meu pulso novamente, mas eu o tiro de seu alcance. - Emma, temos que ir.

Isie olha de mim a ela, e seus olhos se inundam. Hellena sobe a passos duros, esbarrando propositalmente no ombro da garota, que cambaleia e por pouco não cai, graças a Will que a ampara. Fico boquiaberta com a raiva de Hellena.

— Espere. - Pede Isie à Hellena. Minha prima estaca, colocando as mãos nos quadris para enfatizar sua impaciência. - Terceiro andar. Última porta, última torre. É melhor correrem.

Em seguida, ela desanda a chorar. Hellena a olha brevemente sobre o ombro.

— Obrigada. - Murmura, embora muito provavelmente ela não tenha ouvido.

Hellena e eu corremos como loucas até achar a outra escada, a que dá acesso ao terceiro andar. Eu nunca estivera em um lugar tão confuso e tão grande como esse. Chego a acreditar que estou correndo em círculos - ei, espere, eu tenho certeza que já vi esse quadro antes!

Hellena desliza pelo chão, freiando, ao avistar a escada. Ela inspira profundamente grandes golfadas de ar, debruçada em seus joelhos. Lá fora, uma explosão me faz dar um pulo.

— Rápido, rápido, rápido! - Repete Hellena.

Eu juro, se ela falar "rápido" outra vez, eu vou enlouquecer.

Essa escada é ainda mais longa e mais íngreme que a que acabamos de subir. Poucos degraus acima, eu já estou quase desmaiando de exaustidão. Hellena me dá palmadinhas nas costas, também tentando respirar.

— Rá...

— Cala a boca - Interrompo-a. - Vamos.

Quando chegamos ao fim, nossos joelhos cedem e desmontamos no chão frio e lustroso do terceiro andar. Meu coração bate em meus ouvidos, tão apressado que posso ver seus movimentos por cima do meu vestido. Minha vista escurece, todos os meus músculos protestam.

Hellena é quem se levanta primeiro. Ela me puxa pelo colarinho, pela segunda vez no dia. Eu consigo ficar em pé sobre minhas pernas instáveis, e só então percebo que estou em um corredor.

Minha mente dispara. Eu me lembro desse corredor... Um corredor escuro, com morcegos entalhados nas paredes e teias de aranhas, e que irradia perigo. Tipo essas casas assombradas de filmes de terror. Um arrepio percorre minha espinha, quando me lembro de Birc.

— Lena - Falo, afobada. - O Chris e a Anna estão em algum lugar por aqui... E o Júnior - Emendo, rapidamente. - Eu já estive aqui com Birc. Foi assim que ele me avisou sobre...

Me interrompo, cheia de culpa.

— Que ele te avisou que Luize estava morta - Ela completa, secamente, me dando as costas. - De qualquer forma, o plano tem que seguir. Nossa tarefa é matar Vindre e Arismir. Quanto aos presos, deixa com Drafe.

Assinto, tomada por uma angústia avassaladora ao me lembrar daquela noite. A morte de Luize dói tanto quanto quando eu a descobri. A ferida torna a se abrir, e com ela exposta, eu estou vulnerável. Todavia, Hellena parece tão corajosa, tão determinada a prosseguir, que me sinto uma boba.

Balanço a cabeça para me livrar do pensamento, e avanço pelo corredor sombrio.


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Notas finais do capítulo

Hellena revoltz kkkk



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