O país secreto. escrita por Apenas eu


Capítulo 27
O loirinho sequestrador.


Notas iniciais do capítulo

Hello! Dessa vez, não demorei tanto né? Boa leitura ;)



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O dia já está se despedindo, mas permaneço ao lado de fora da caverna, esperançosa. Aguardando Hellena aparecer em meio às árvores. Esperando alguma notícia dela. Tudo o que quero é vê-la novamente. Poder consolá-la, dizer que estou com ela. Que, aconteça o que acontecer, estarei ao seu lado. Serei sua amiga. Farei-a sorrir quando seus olhos lacrimejarem. Que nunca a abandonarei.

Antes que perceba, já estou chorando. Em breve não me restarão lágrimas. Apenas uma expressão dura e triste, que nunca se desfará.

Então, subitamente, entro em transe. É como se tivesse dormido de repente, perdido todos os sentidos, me teletransportado para outra dimensão.

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Minha visão está turva e distorcida. Faço um esforço enorme para manter a concentração, poder enxergar o cenário, saber onde estou. O mundo parece girar ao meu redor, e isso faz com que caia de joelhos no chão áspero. Sinto uma vontade louca de vomitar, de correr e de chorar. Um monte de sensações tomam conta de mim, e isso me confunde.

O mundo para de rodar e estreito os olhos. Minha visão entra em foco. A luz do sol é forte, como se estivesse no meio da tarde. Mas isso não é possível, já que estava anoitecendo antes de eu desacordar. Árvores cumpridas e feias por todos os lados... pedras... raízes... é a floresta. Estou no centro da floresta. Mas o que faço aqui? Quem me trouxe aqui?

Sinto um calafrio percorrer todo o meu corpo. Birc. Novamente, Birc invadiu minha mente? Para mostrar outra tragédia? Para se divertir às minhas custas? Para rir do meu desespero?

Me levanto, tentando me equilibrar. É como se estivesse andando na corda bamba. Minhas pernas parecem feitas de gelatina, e estou ciente de que podem ceder a qualquer instante.

Ouço um farfalhar de folhas e engulo em seco. Ele vai sair dali. Ele vai me torturar. Ele vai despedaçar meu coração mais uma vez.

Prendo o fôlego quando ele aparece entre as árvores. Mas solto todo o ar em seguida, aliviada. Não é Birc. É Giroy.

Ele parece bem mais limpo que da última vez. E ainda usa a mesma roupa: a regata vermelha e as calças azuis. Ele me lança um olhar preocupado e depois sorri para disfarçar.

–Emma...- Se aproxima de mim.

–Seu maluco, o que está fazendo?- Brigo, batendo o pé.- Por que me aprisionou no seu cérebro? Por que está de dia? O que você quer?

–Calma...- Ele recua um passo.- Uma pergunta de cada vez... você está parecendo a Demmie...

Solto um suspiro.

–Me explica!- Digo, indignada.

–Certo...- Ele se concentra.- Primeiro: Eu estou tentando te mostrar uma coisa. Segundo: Está de dia por que você está nas minhas lembranças. O que tenho a te mostrar, está no passado.

Franzo o cenho, incapaz de entender.

–O que foi, Giroy?- Pergunto.- Tem haver com meu irmão? Com meus primos?

Ele assente devagar.

–Então por que está perdendo tempo?- Digo.- Me leve lá logo!

Mal acabo de pronunciar as palavras e o cenário se desfaz. Agora estou de volta ao castelo, dentro de um lugar que desconheço. É grande e espaçoso, tingido de dourado e com algumas esculturas bizarras em alguns cantos. Está deserta, a não ser por Giroy e eu.

–Por que estamos aqui?- Pergunto, confusa, olhando em volta.

–Espere e verá.- Ele faz um aceno de cabeça na direção da porta.

Estreito os olhos. Alguns barulhos metálicos vêm do lado de fora e logo a porta se abre com um estrondo.

Dois homens de sobretudo entram, carregando a bela moça morena de lindos cachos negros em um vestido azul em farrapos.

Dianna.

Eles a arrastam com brutalidade pelos braços até o interior do ambiente e a atiram de forma cruel no chão.

Abafo um grito.

–C-como você tem essas imagens?- Pergunto com a voz abafada.

–Você já vai saber.- Ele murmura.

Os homem abafam risadas, enquanto Dianna faz um enorme esforço para se levantar, para impulsionar-se com seus braços finos e fracos.

–Giroy, eu...- Sacudo a cabeça, pouco a vontade.- Por favor, eu não...

–Shh.- Ele pressiona o indicador sobre os lábios, sem desviar o olhar de Dianna.- Não se preocupe tanto. Quero dizer, não agora.

Tento afastar as lágrimas que começam a se aglomerar em meus olhos.

–Eu estou frágil, abalada... se eu ver mais alguma coisa acontecendo aos meus primos ou irmãos...- Suspiro, entristecida.- Estou falando sério, Giroy, eu não vou aguentar...

As palavras vão sumindo em meus lábios assim que percebo uma coisa muito estranha, vinda dos dois guardas. Franzo o cenho, sem entender. Ambos parecem enfeitiçados, olhando fixamente para uma estátua horrenda de um animal, que me parece um javali, mas sem cabeça. É como se algo excessivamente espetacular naquele objeto chamasse a atenção dos homens, a ponto de os deixarem feito bobos.

–O que...?

Me interrompo novamente, assim que outros três homens aparecem de repente, alguns centímetros à frente do javali sem cabeça. Dois deles eu conheço. Giroy e Vedir. Os gêmeos. Giroy não se move, com os olhos completamente negros e brilhantes voltados para os guardas, que são incapazes de desviar o olhar dele. Vedir e o outro rapaz- um mais alto que ele, com os cabelos louros roçando os ombros e os olhos cinzentos e grandes encantadores, vestindo uma blusa verde escura que salienta seus músculos, e jeans folgados e rasgados- correm para ajudar Dianna.

–Quem é?- Pergunto, me referindo ao rapaz desconhecido.

–O nosso maior problema.- Ele acompanha a cena com os olhos.- Seu nome é Drafe, e ele também era um dos guardiões.

–Era? Por que? Não é mais?

Observo-o levantar Dianna e sorrir para ela, que tenta retribuir, apesar da fraqueza e dor.

–Ele deu trabalho...- Giroy diz.- Começou muito bem, sabe? Seus poderes de teletransportação era muito útil, e isso fazia dele um dos principais guardiões. Mas ele se apaixonou por uma das garotas que deveria proteger. Nada de mal, até então. Até ele ficar obsessivo. Como uma mariposa enfeitiçada com a luz. Sim, ele deu muito trabalho.- Ele balança a cabeça.- Então, arranjou briga com todos nós. Disse que apenas ele tinha direito de cuidar dela e blá-blá-blá. E foi embora. Separou-se de nós. E, tenho certeza, sempre esteve à espreita desta menina.

Estreito os olhos atenta à cena. Dianna franze o cenho para ele, como se o reconhecesse.

–Eu já te vi antes, não é?- Ela pergunta.

Ele cora.

–Claro que já me viu.

Ela arregala os olhos, como se se lembrasse de súbito.

–Meu amigo imaginário...- Ela cobre a boca com a mão, perplexa.- Eu achei que fosse mesmo imaginário, já que aparecia e desaparecia do nada...

Olho para Giroy, assustada.

–É a Dianna?- Pergunto.- Esse garoto é... obcecado pela Dianna?

Ele assente vagarosamente.

–Ela... ela já tinha me dito...- Mal posso conter a agitação.- Me falou uma vez, quando tinha nove anos... me falou de um amigo imaginário... mas eu pensei que fosse apenas uma fantasia de criança, quero dizer, eu também tinha um...

Dianna solta-se da mão do garoto, que parece se irritar, e recua. Vedir olha de um para outro, premeditando o que aconteceria a seguir.

–Drafe, nós temos que ajudar os outros também...- Vedir faz uma tentativa.

–Eles podem esperar- Ele sorri.- Primeiro Dianna.

Olho para Giroy, apreensiva.

–E por que vocês estavam aqui?- Pergunto, esganiçadamente.- Se ele é louco, então por que vieram?

–Caímos na dele.- Giroy suspira.- Ele disse que nos ajudaria a resgatar seus primos, e era nossa melhor opção, já que tem a capacidade de estar onde quiser na hora que desejar. Acontece que ele consegue camuflar seus pensamentos muito bem, sabe fazer com que pareçam bondosos e sinceros. Invadi seu cérebro até nas partes mais profundas e não encontrei nada maldoso. Demmie fez o mesmo, e o resultado foi igual ao meu.- Ele olha para mim, arrependido.- Confiamos que ele havia mudado, voltado ao normal...

–...Não se assuste, Dianna...- Drafe diz, aproximando-se dela. Mas ela recua.

No mesmo instante que Vedir estica a mão para tocar Dianna e torná-la invisível, Drafe se atira sobre ela e ambos são teletransportado.

–Dianna?- Vedir gira em círculos, desesperado.- Droga!

E agora só restam os dois.

A cena se desfaz mais uma vez, e agora estamos novamente no coração da floresta. O desespero e a inquietude toma conta de mim. Murmuro alguns xingamentos, e depois meu olhar vai lentamente à Giroy, sentindo uma súbita onda de raiva.

–Você...- Me abaixo e pego uma pedra no chão, lançando-a nele em seguida. Ele desvia, assustado.- o que você tem na cabeça?! Ele é maluco sabia? Doido varrido! E você confia nele? Por acaso a imortalidade lhe custou o cérebro?- Apanho alguns gravetos e tudo o mais que acho no chão e jogo-os contra ele, que se encolhe.- Você é a pessoa mais estúpida que eu conheço e, acredite, eu conheço muita gente estúpida!

–Emma, calma...- Ele se desvia de mais algumas coisas lançadas por mim- Emma...

–Não me mande ficar calma!- Ando até ele a passos longos, deixando transparecer minha fúria, enquanto fuzilo-o com os olhos. Ele recua.

–Não... não pode me ferir, é só um sonho...- Ele se encolhe, como se o que acabasse de dizer me fizesse investir contra ele com tapas, socos, chutes e pontapés.

–Idiota!- Brado, soltando o ar dos pulmões e colocando as mãos na cintura. Minha respiração está ofegante e meu coração bate descompassadamente.

Giroy me estuda, esperando qualquer outra reação agressiva, mas ao me ver mais calma, ele se endireita e pigarreia.

–Por favor, Emma, escute...- Sua voz soa calma e controlada.- Drafe pode ser louco, obcecado, possessivo e tudo o mais. Mas ele nunca, repito, nunca ousaria arrancar um fio de cabelo sequer de Dianna. Ele não fará mal a ela.

–Quem me garante?- Digo, áspera.- Você? Vindo de um cara que confia em um louco, não sei se é seguro acreditar. Vocês devem ser muito amiguinhos, não é mesmo? Confia cegamente nele, e agora está o defendendo.- Solto uma risada debochada.

–Eu já fiz minha parte- Ele ergue as mãos em rendição.- Te mostrei o que precisava ver. Te assegurei que nada de ruim acontecerá à menina. E, mesmo sendo uma missão complicada, estou movendo céu e terra para resgatar os seus parentes.

Estudo-o. Bem, na verdade ele está, de fato, me fazendo um favor. Sem eles, não seria tão simples salvar a todos os meus parentes. Sem eles, obviamente morreríamos por aqui. Espere, no que estou pensando? Quero dizer, eles foram recompensados com a imortalidade para que cumprissem a tarefa. É como um trabalho pago. Não, não é um favor.

–Eu não quero mais estar em seu cérebro.- Digo, secamente.- Me acorde. Agora.

A última coisa que vejo é a cara de desapontamento de Giroy.

______________________

Acordo, tão de repente quanto adormecera. Estou deitada no chão frio e pedregoso, e meu corpo parece pesar uma tonelada. O céu está estrelado e a lua dá o ar de sua graça. Sento-me, um pouco tonta. É como se toda a raiva, angustia e medo que eu sentia enquanto estava presa nas lembranças de Giroy estivessem esvaído-se de meu corpo. E agora volto a ficar frágil, cansada e entristecida. Do mesmo jeito que estava antes de entrar em transe. Mas, agora, bem mais calma com certeza.

Meus olhos encontram Larm, sentado de costas para mim, olhando para o céu.

–Por...- Minha cabeça lateja.- Por quanto tempo eu dormi?

Ele não me olha.

–Não sei.- Dá de ombros.- Mais do que deveria. Mas eu não tive coragem de te acordar... quero dizer, você fica melhor dormindo. Assim, pelo menos, você não me enche de perguntas.

–Está me chamando de chata?- Pergunto, estreitando os olhos.- Bom saber.

Ele ri pelo nariz.

–Você é muito complicada...

–Larm...- Começo, e ele volta o olhar para mim.- Eu... eu conheci quatro guardiões hoje.

Sou incapaz de decifrar sua expressão. Surpresa? Susto? Alívio? Não sei. Na verdade, parece tudo isso misturado.

–A garota da água, a ruivinha estressada, o carinha invisível, o loirinho maluco, e o invasor de mentes?- Ele ri- Eu os conheci. Mas não são quatro, e sim cinco.

–Loirinho maluco...- Desvio o olhar.- Ele é realmente maluco?

–Sei lá, mas ele parecia não regular muito bem das ideias.- Diz Larm.- Uma vez, quando tinha pelo menos quatorze anos e fui ao riacho pegar água, ele estava estirado no chão com cara de bobo.

Ao imaginar a cena, tenho vontade de rir, mas não o faço. Ele está sabe-se lá aonde nesse instante, com minha prima, fazendo sabe-se lá o quê.

–...Foi o primeiro que conheci. A primeira vez que o vi.- Ele dá de ombros.- Eu tinha recém-encontrado Doquo.

–Conte-me mais.- Digo, encolhendo-me e abraçando os joelhos.

–Então... o loirinho se levantou ao me avistar e se endireitou. Me cumprimentou e tudo.- Diz, sorrindo.- Não me lembro direito, mas quando eu perguntei quem ele era e ele ia me dizer, simplesmente sumiu. Depois reapareceu. E sumiu de novo. Como se estivesse lutando contra algo invisível.

–Vedir...- Sorrio.

–...E o carinha invisível apareceu.- Ele diz.- Sorriu e sumiu. Fim.

–E quanto à Demmie, Giroy e Jayssa?- Pergunto.

–Quem?- Ele pisca, sem entender.

Quase me esqueci do problema que ele têm com nomes.

–A ruiva estressadinha, o manipulador de mentes, e a garota do riacho.- Giro os olhos.

–Ah, sim.- Seu sorriso se alarga, e seus olhos brilham à penumbra. olha novamente para o céu. –O tempo me apresentou a eles. As circunstâncias.- Suspira.- Me salvaram da morte mais de uma vez. Me ensinaram truques e coisas que precisava saber para sobreviver. Me disseram que eram guardiões, que estavam protegendo Doquo. E eu não acreditava que Doquo pudesse estar vivo... Vê só... ele perto de mim o tempo todo e eu achando que ele estava morto.

–Você fala sério?- Pergunto.- Nunca desconfiou que esse senhor era Doquo?

–Nunca falei tão sério.

Sigo seu olhar, vendo as mais belas constelações, a lua reluzente...

–Quando morava com Arismir, adorava admirar o céu a noite.- Ele diz, olhando atentamente para as estrelas.- Era meu consolo. Como se o tempo que passasse ali, olhando a lua, pudesse amenizar um pouco a minha dor. A minha solidão. Eu sei, é uma idiotice pensar assim...

–Não, não é idiotice alguma.- Falo, sacudindo a cabeça.- Eu tinha um hábito parecido... O de madrugar para ver o sol nascer. Meus irmãos me achavam louca, mas nunca pensei assim.

–Realmente você é louca.- Ele arqueia uma sobrancelha.- Mas não por isso.

–Seu bobo- Dou-lhe um empurrãozinho brincalhão.- Vá já dormir, eu já dormi tempo demais.

Ele assente com um sorriso. E depois desce pelo buraco da caverna.

Continuo fixada no céu, com todos os pensamentos possíveis em minha mente. Dianna. Hellena. Luíze. A conversa que acabara de ter com Larm. Mesmo com toda a vontade que tenho de chorar, Larm ainda consegue me fazer sorrir.


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Notas finais do capítulo

Foi mal, exagerei na criatividade O.O
Me corrijam caso qualquer erro seja notado.
Beijão :*



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