O país secreto. escrita por Apenas eu


Capítulo 17
Revejo o Homem da Harpa.


Notas iniciais do capítulo

Hello!



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Abro os olhos lentamente. Tudo está muito embaçado e desfocado, então só o que posso fazer é esperar minha visão se normalizar. Não sei onde estou, nem mesmo me lembro o que aconteceu, mas assim que consigo ver com clareza, sei que não estou mais na casa de Arismir. Na realidade, estou sob copas de arvores. Aquelas árvores enormes e com poucas folhas que ficam próximas à casa de Arismir. Estou deitada em uma superfície dura, mas há algumas irregularidade que suponho que sejam pedras. O tom alaranjado do céu sugere que o sol já está partindo. Estou tonta. O mundo parece rodopiar à cima de mim.

Forço-me a me sentar e consigo, mesmo com o latejar forte em minha cabeça. Levo à mão a testa. Tento murmurar alguma coisa, mas não consigo. Árvores... pedras... grama... o que estou fazendo aqui? No meio da floresta?

Arismir. Uma onda de ódio toma conta de mim ao lembrar do velho. Ele me acolheu. Me treinou. E depois se livrou de mim.

Estou com fome, com sede. Sei que devo levantar, mas não consigo. Seria uma presa fácil para um predador.

Então escuto. É uma melodia de seis notas, doce e calma. Encantadora. Não sei o que é nem de onde vem, mas sei que pode se tratar de alguma criatura esfomeada. Tento me pôr de pé, mas caio de bruços.

Eu não vou conseguir. É o meu fim. Se eu conseguisse lançar uma rajada de fogo na direção da criatura... impossível. Estou fraca, impossibilitada. A música está mais perto.

Quando estou fazendo uma segunda tentativa de me levantar penso: “O garoto tinha uma harpa. Harpas fazem...

–Música.- Murmuro.

Sento-me no chão e fico aguardando a chegada dele. A canção está mais perto. E se ele for um predador? A música se aproxima. E se não for o menino da harpa?

Então ele sai dentre as árvores. Exatamente como me lembrava: Cabelos castanhos bagunçados, olhos inteiramente negros. Seu porte atlético deve ser por conta dos anos na floresta e seus dedos se movem habilidosamente pelas cordas da harpa. A música é tão bela que tenho até mesmo vontade de aprender a tocar.

Ele interrompe a canção, e pisco desnorteada.

–Você não deveria vir aqui sozinha.- Ele sorri. Acho que ele me disse algo parecido quando nos conhecemos no lago.

–Ainda...- Engulo em seco, pois o esforço de falar é muito.- Não sabe o seu nome?

Ele franze as sobrancelhas.

–Que espécie de pessoa não sabe o próprio nome?- Diz.

Sorrio. Estou confusa, mas seu jeito chega a ser engraçado em partes.

–Sabia que eu poderia ter te enfeitiçado, se quisesse?- Ele pergunta.

–Como?- Pergunto. Minha voz deve ser apenas um rangido, mas ele escuta a tudo que digo.

–Eu sou um hipnotizador.- Ele diz, se aproximando e abaixando-se próximo a mim.- Já te contei que sou o homem da harpa?

–Acho que sim.

Ele me avalia com o olhar. E depois coloca as costas da mão em minha testa.

–Acho que você não está muito bem.- Ele diz.- Como veio parar aqui?

–Um... portal.- Digo.

–Você não se dá muito bem com portais.- Ele observa.- E mora suficientemente longe daqui para que eu não consiga te levar em casa.

–Onde estamos?- Pergunto.

–No coração da floresta.- Ele sorri, orgulhoso.- Na minha casa.

–Você dorme... ao relento?- Pergunto calmamente para não forçar muito minhas cordas vocais.

–Que idiota dormiria ao relento?- Ele gira os olhos e se levanta, segurando firmemente a harpa na mão esquerda.- Eu tenho minha caverna. Ele toma conta dela para animais não tomarem posse e eu saio para caçar. Ele é meu amigo, sabe?- O garoto me ajuda a levantar, e, me apoiando em seu ombro, me carrega.- Ele apareceu do nada e por sua idade, não achei legal deixá-lo jogado por aí.

–Ele quem?- Pergunto, visivelmente confusa.

–Ele.- O rapaz dá de ombros.

Estou começando a achar que esse “Homem da Harpa” tem um sério problema com nomes.

–Esse “ele” nunca te disse o seu nome?- Pergunto ainda com a voz fraca.

–Acho que não.- Ele diz.- E nem eu disse o meu.

–Disso eu não duvido.- Sorrio.- Quando pretende me dizer seu nome?

Ele pendura a harpa na cintura, por um gancho que há em seu cinto e me pega no colo. Sou pequena de modo que isso não é difícil.

–Não pretendo.- Ele diz.

Andamos- ou melhor, ele anda- por mais alguns metros e depois, quando chegamos à um buraco que há em meio a folhagem ele me põe no chão. Já está escuro, e não sei como vou descer por um buraco no chão. Pelo menos, estou me sentindo melhor. Minha dor de cabeça passou e agora posso falar normalmente. Minhas pernas estão um pouco bambas ainda, mas nada demais. Vejo-o descer o buraco e quando me vejo sozinha, enfio a cabeça por ali.

–Você me deixou sozinha.- Grito.

–Só fique aí se quiser.- Ele grita de volta. Levanto a cabeça e olho em volta.

Que breu. É pior que o quintal de Arismir em noites de fogueira.

Desço ou não? Eis a questão. Ficar aqui fora sozinha é perigoso, mas bem que pode ser uma emboscada.

–Vai descer ou prefere que eu te hipnotize?- Ele grita para mim.

–Tudo bem...- Murmuro, mas acho que ele não escutou.

Sento-me no chão, colocando uma perna por vez dentro do buraco e depois, com um movimento, salto para dentro dele, o que faz meu vestido roxo subir. Mas não importa. Está um breu lá em baixo também, de modo que ninguém pôde ver minha calcinha. Caio de pé, mas meu joelhos cedem e caio sobre as pernas.

–Já chegou?- Pergunta uma voz áspera e grave, que desconheço. Não é o Homem da Harpa, eu sei.

–Já.- Sussurro.

Me levanto e, com as mãos na frente do rosto, caminho às cegas. Minha mão toca em algo. Um tecido, a roupa de alguém. Deslizo-a para o rosto, que é macio e sugiro que seja do rapaz.

–Tem lenha por aqui?- Pergunto.

–Tem.- Ele diz.- Nós já tentamos fazer fogo, mas não tivemos sucesso.

–Aonde estão?- Pergunto.

Ele segura minha mão e a encaminha para um monte de madeiras.

–Já havíamos nos acostumado com a escuridão.- Enquanto ele diz, esfrego as mãos e uma pequena chama surge entre os dedos. Jogo-a para a lenha e o fogo é ateado instantaneamente. Agora sim. Posso ver tudo.

A caverna é toda cinza, e tenho a impressão de que estou no interior de uma rocha. Algumas carcaças de alguns animais estão jogadas em um canto e há uma garrafa de plástico cheia d'água. Algum dos dois deve tê-la achado por aí.

Olho para os homens e eles estão boquiabertos. Meus olhos correm do Homem da Harpa ao homem que nunca vi na vida. Ele é um senhor que aparenta ter oitenta anos. Seus cabelos, embora não reste quase nenhum, são ruivos, e sua barba longa e bifurcada, é da cor dos cabelos. As roupas não seriam ruins se não tivessem tão rasgadas e sujas. E seus olhos completamente castanhos eram tão bonitos, porém tão vazios...

–Como você fez isso?- Pergunta o velho, sobressaltado.

–Eu achei que fosse comum por aqui.- Digo. Olho para o Homem da Harpa de relance e ele também está assustado.

–Ter dons é comum.- Diz o rapaz.- Mas o dom do Fogo e o do Gelo não são comuns.

–Apenas dois dos filhos do rei já tiveram tal dons.- Completa o velho seriamente.

–Isso quer dizer que, ou minha mãe, ou meu pai tem um desses poderes?- Pergunto, perplexa.

–Por que está dizendo isso?- Pergunta o rapaz.

–Porque eu sou uma das netas de Doquo.- Digo.

O velho arregala os olhos e o rapaz passa as mãos por entre os cabelos. Eles parecem não acreditar e talvez nem eu mesma acredite no que Arismir me contou, já que o mesmo me traiu.

–Talvez Doquo nem esteja vivo!- Diz o Homem da Harpa.

–Ele está vivo sim, meu caro.- Diz o velho.- Eu sou ele.


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Notas finais do capítulo

Bjjs! Desculpe qualquer coisa, e caso qualquer erro me alertem, please :3



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