Descobri você escrita por Makino07


Capítulo 1
Capítulo único


Notas iniciais do capítulo

Oi gente. Eu não estou acostumada com narrativa em primeira pessoa, mas decidi me arriscar nessa one-shot com o ponto de vista do Dick Grayson. Espero que gostem!! ^^



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– Que dor no estômago! - choraminguei enquanto derrubava meu corpo no sofá da sala. Rachel vinha trazendo um de seus chás, e eu rezava pra que ele fizesse efeito.

– Calma Richard! Ficar reclamando não resolve nada. Toma logo isso aqui e vai deitar no quarto, já já vai passar - ela respondeu à minha reclamação com o rosto totalmente indiferente, era claro que ela não estava na minha pele.

De longe senti aquele cheiro forte, fiz uma careta antes de tomá-lo, completamente pressionado pelo olhar repreendedor de Rachel. Tomei o chá e fui para o quarto da república. Já havia dois anos desde que me mudara pra lá com meus amigos Victor, Garfield, Rachel e Kory. Havíamos passado nos exames nacionais e agora estudávamos na mesma universidade. Com algumas economias e ajuda do governo, alugávamos uma casa naquela cidade universitária.

Deitei na cama pensando em todos os textos que eu tinha para ler, uma sensação de pânico me tomava pois eles eram pra terça, e já era sexta. Antes de fechar os olhos tentando ignorar tudo isso ouvi uma batida na porta.

– Dick, posso entrar? - uma voz muito doce me chamou.

– Claro, entra - usei o tom de voz mais agradável que consegui.

Kory entrara no quarto com uma aparência totalmente cansada e desagastada, era fim de período e todos na casa estavam se descabelando para irem bem nas provas. Mas era realmente muito engraçado, que mesmo desesperada e com algumas olheiras, Kory continuava linda. Ela entrou com sua calça jeans azul e uma blusa lilás de manga. O cabelo num coque desarrumado e alguns fios pendiam em seu rosto.

– A Rae me disse que você estava chorando igual a uma criança de cinco anos... - ela sorria enquanto sentava na beira da minha cama. Há muito tempo eu não via aquele sorriso, nos falávamos muito pouco ultimamente, na verdade depois que entramos na faculdade, Kory era a pessoa com quem eu menos falava, mesmo morando na mesma casa. Eu estava sempre tão ocupado.

– Ela deve sentir algum prazer nisso - vociferei revirando os olhos lembrando de minha amiga pálida. Apesar de seu gênio complicado eu adorava sua companhia, principalmente pelo fato de ela estar sempre quieta, ou lendo. Era a única que não reclamava de meus sutis desaparecimentos, ou isolamentos na casa. Seu silêncio me concentrava. - Vai sair pra comer pizza com Vic e Gar?

– Roy me chamou para sair... - Respondeu com os olhos mais brilhantes que a pedra em seu colar.

Acho que soltei um "huum" num tom de como quem fala "cuidado e juízo". Ela entendeu minha advertência pois ria como se fosse uma filha obediente. Ele já estava tentando se aproximar dela há algum tempo, e eu não não sabia se ela estava interessada - também não procurei saber - mas parece que ela lhe havia dado uma chance. Eu não tinha nada contra, mas ficava alerta.

– Melhoras - Apertou minha mão sorrindo e saindo do quarto.

– Obrigado... - suspirei, fechando os olhos aos poucos. É claro que eu não dormiria até ela chegar. Por mais que estivéssemos um pouco afastadados, eu me preocupava sempre.

Kory Anders era minha amiga desde a infância. Sempre fora uma menina aventureira e diferente das demais, algumas pessoas riam disso. Um dia uns garotos a perseguiam para ludibriá-la por ser diferente. Eu os espantei e até dei uns socos em uns. Ser adotado por um dos caras mais ricos e influentes da cidade não me livrou de ficar com um olho roxo também. Ficamos amigos e conversávamos muito. Ela nao gostava muito das coisas que as meninas de sua idade gostavam. Deixava bonecas, maquiagem para estar em contato com as belezas da natureza. Mas isso era fácil, uma vez que não tinha condições financeiras muito boas. Vivia com seu padrasto Galfore, um homem muito bom e trabalhador que fazia de tudo para que Kory tivesse estudos. Meu padrasto Bruce lhe arrumou um emprego e assim eu e Kory passávamos muito tempo juntos. Eu estudava com ela em casa, e a ensinava com muita paciência. Para ela, era complicado, pois só havia estudado no primário, apenas sabia ler. Mas tinha um sonho, entrar para a universidade e ela conseguira, eu ficava muito feliz de ter participado ativamente na realização desse sonho. Ela escolheu fazer dança, pensou em gastronomia, mas era uma negação. Uma vez ela preparou um pudim que fizera meu estômago ficar de joelhos, e ele já é sensível.

O dia seguinte era sábado. Vic ficara encarregado de lavar as roupas. Um terço do tempo dedidado à lavagem, ele gastava jogando espuma em Gar e Rachel, e fazia isso cada vez mais quando via que Kory se divertia. Ela tinha uma risada envolvente, eu não sabia descrever, mas era riso infantil e maduro ao mesmo tempo. Aos poucos fui percebendo que a risada de menina moleca da Kory se transformava numa risada de mulher, graciosa e inocente, ecoando pela sala enquanto os cabelos de Gar ficavam brancos com tanta espuma.

A noite caíra. Eu estava no quarto lendo um de meus textos. Não conseguia me concentrar sabendo que meus amigos estavam na sala rindo e se divertindo. Decidi levar meu texto para lá e enquanto eu lia eu também poderia interagir com eles. Na semana passada eu já tinha levado um baita esporro de Gar por estar sempre trancafiado no quarto, e embora soubesse que ele era compreensivo, resolvi ceder à diversão. Victor, Gar e Rachel assistiam a um filme de comédia. Os dois rapazes riam e Rachel parecia estar com o rosto congelado numa expressão de tédio, que mudou imediatamente ao me ver. A expressão dizia "me tire daqui!". Sorri ao vê-los rindo e percebi que Kory não estava lá. Imaginei que estivesse com Roy, e de uma forma esquisita isso me incomodou.

Me sentei numa mesa na sala. Rachel veio me ajudar com os textos. Ás vezes eu ficava irritado por ela ser boa em tudo. Estava fazendo literatura, me ajudava com meus textos de Direito, ajudava Vic com sua engenharia de automação, e até Gar com veterinária... ela só deixava Kory na mão. Após o filme, conversamos sobre umas besteiras e logo todos foram dormir. Kory ainda não havia chegado então decidi continuar com o texto na sala para esperá-la. Eu já estava no estágio em que lia a mesma frase sete vezes para entendê-la, meus olhos faziam força para fechar e a cabeça só não pendia para o lado, porque minha mão a apoiava. De repente ouvi vozes alteradas. Não pude ouvir muitos detalhes, mas reconheci a voz de Roy.

– Acha que eu sou algum tipo de idiota?! - ouvi a voz dele claramente nessa parte.

– Você não precisa falar assim... - Kory o repreendeu pela ignorância. Ela não parecia brava, mas sua voz era chorosa. Eu não ia me intrometer, mas quando ouvi Kory chorando, me levantei rápido da cadeira e abri a porta.

Era tarde e estava frio. Minha camisa branca e calça de moletom preta não estavam sendo suficientes para que eu ficasse confortável com aquela brisa gélida que corria pelas minhas espinhas. No entanto foi questão de tempo para que meu sangue esquentasse. Roy me olhava com desprezo, talvez por eu ter aberto a porta com tanta veemência e ter dito as seguintes palavras:

– Está tudo bem por aqui? - me dirigi a Kory, olhando em seus olhos verdes e vermelhos de choro. Me olhou de um jeito como se pressentisse que eu faria algo que Roy nao iria gostar. Pela minha visao periférica, vi que ele queria me devorar vivo.

– Está tudo bem Dick - ela tentava me acalmar.

– Você não acha incoveniente interromper a conversa de alguém? E se intrometer assim? - Roy perguntou, me fazendo olhar para ele.

– Você não acha incoveniente estar discutindo com uma moça a uma da manhã num tom de voz que acordaria a todos nessa casa? - disse da forma mais ameaçadora que consegui.– É melhor você ir embora.

Roy me encarou por um tempo e depois se dirigiu a Kory.

– Não precisa falar comigo amanhã. To cansado do seu jogo duro e do seu amiguinho intrometido.

A expressão nervosa de Kory pela minha "conversinha" com Roy, se tornara uma expressão triste. Jurei tê-la visto murchar. Roy se virou e foi embora, e peguei a mão da ruiva e a puxei para dentro de casa. Assim que entrou, ela se encostou na porta. Com as mãos no rosto, começou a chorar. Parei de frente a ela e por alguns centímetros quase a pressionava na porta. Ela não fugiria. Iria me contar tudo.
– Já pode começar a falar... - eu falei e por um momento me senti o Bruce quando se deparava comigo e minhas advertências da escola.

– Dick... Eu não sei se... - ela soluçou - se quero falar...

– Nas poucas vezes que te vejo, você está sorrindo. Por que agora eu tenho que te ver chorando? Eu não posso nem saber o motivo? - cruzei os braços, ainda tendo ela entre mim e a porta - O que ele fez com você?

– Nada... - limpou as lágrimas.

– Então... - levantei uma sobrancelha.

– Esse foi o problema... - ela confessou e eu pude diferenciar totalmente o rubor em seu rosto do choro, do rubor de vergonha. Quase não acreditei no que ouvi quando entendi o que ela queria dizer.

– Ele FEZ alguma coisa?

– Não Dick, não fez nada... Eu só... Não quis - ela fechou os olhos tentando se acalmar, e eu olhava para o nada, imaginando meu punho enfeitando o rosto daquele cara.

Caí em mim quando percebi o silêncio extenso. A abracei e seu corpo quente dentro do casaco grosso me esquentou. Eu estava confortável e por mais alguns segundos, eu seria capaz de dormir ali. Levei-a até seu quarto e disse coisas para confortá-la, ao contrário de uma menina desiludida e alucinada, ela prestava atenção em cada palavra que eu dizia, mesmo que algumas não fizessem sentido por causa do sono. Uma coisa eu deixei bem claro para ela: não responderia por mim caso Roy fizesse qualquer coisa que EU não julgasse legal com ela. Um pouco receosa, ela entendeu.
No dia seguinte acordei com o corpo dolorido, parecia ter piscado os olhos e acordado novamente. O pai de Victor viria almoçar conosco, então tive que levantar cedo para ajudar com as tarefas. Já estava escovando os dentes quando pensamentos perturbadores invadiram minha mente.

O sonho que tive à noite veio à tona. Era Kory. Ela estava num vestido verde claro rodado. Estávamos num lago perto de onde moramos na adolescência. Ela estava falando algo que eu não me lembrava, ou talvez eu nem estivesse prestando atenção. A única coisa da qual me lembrava era que os tímidos filetes de luz do sol, ofuscados por algumas nuvens, faziam o vermelho de seus cabelos parecem mais vivos, e os verdes de seus olhos, ainda mais verdes. Tudo nela ganhava mais cor mesmo que o dia estivesse nublado. Meus olhos estavam concentrados em seus lábios que esboçaram um sorriso quando ela disse algo. Pelo meu olhar dirigido a ela, estava claro que dentro desse sonho eu amava a Kory.

Terminei de escovar meus dentes ainda pensando nessa ideia. Talvez tivesse sonhado com ela devido ao que tinha acontecido na noite passada. Lavei o rosto e fui para a cozinha. Rachel lavava alguns legumes e sorriu ao me ver. Era um sorriso diferente, como o de uma criança que acabara de aprontar, ou então como se ela tivesse colado um papel nas minhas costas escrito "me chute" e eu ainda não tivesse percebido. Ela se virou e voltou ao afazeres. Comi um grande sanduíche de presunto e Vic e Gar passaram carregando uma mesa maior para a sala. Eu estava bebendo o suco quando ela apareceu. Kory estava sorridente e quando os rapazes largaram a mesa pesada, ela começou a brincar com os dois, parecia que ela estava retrucando toda uma manhã de implicância da parte deles. Gar a abraçou e pôs uma das flores do jarro em cima da orelha da moça, e depois depositou este na mesa grande.

Ela estava rindo enquanto lustrava a mesa de madeira envernizada, um blusão e o short jeans que só usava em casa. Seu sorriso e a flor no cabelo a estavam tornando uma poesia viva bem ali na minha frente. Quando vi aquela cena meu estômago embrulhou, suei frio e me forcei a não fazer contato direto para não parecer um babaca. Descascando umas cenouras na mesma mesa que eu, Rachel apenas ria. Ás vezes penso que ela é capaz de invadir mentes.

– Richard! Que bom que acordou! Você pode me ajudar com arbustos lá fora, quando terminar? - Kory me perguntou sem se dar conta de que sua beleza me fazia parecer que ainda estava dormindo. Eu estava de boca cheia e Rae respondeu por mim.

– Acho que o Dick vai ficar muito feliz em te ajudar! - a moça risonha na cozinha respondeu à ruiva, que inocente não percebeu o tom malicioso em Rachel.

Fiz que sim com a cabeça dirigindo meu olhar de Kory para Rae. Ainda com a boca cheia, olhei pra Rachel com olhos condenadores, e como já havia tomado meu banho matinal de indiretas, me levantei para ajudar Kory.

Com a história de final de período, muitas coisas na casa estavam com um ar completo de desleixo, a entrada era um bom exemplo. Os arbustos quase não estavam nos deixando entrar mais. Cuidei disso com Kory, e em todo esse tempo não falamos sobre Roy e suas "royzices". Kory me contou que não conseguiu dormir por causa de uma mosca que zumbia em seu ouvido, e ela explicava a cena como se fosse algo muito importante. Minha língua coçou para falar sobre o sonho, mas não achei que seria saudável contar isso a ela. Talvez ela achasse estranho e se eu realmente fosse contar, contaria tudo.

O senhor Stone chegou e foi bem recebido. Garfield adorava conversar com ele, Victor até brincava que eles é que eram pai e filho. Em geral ele se dava bem com todos e ria com as pérolas que cada um contava da vida universitária e ficou feliz quando Victor contou que estava na equipe de atletismo.

Já era noite quando o senhor Stone contava umas piadas, até Rachel soltava umas risadas, eu não sabia dizer se eram das piadas ou do jeito Stone de contá-las. Só sei que eu ria até cansar, minha barriga doía e fui beber água. Vi Kory no corredor com o celular na mão, ela não chorava, mas não também não parecia feliz. Após desligá-lo vi que ela brincava com o aparelho girando-o nas mãos. Naquele momento eu decidi que nunca queria vê-la assim, ignorei o fato de que provavelmente ela falava com o Roy e fui em direção a ela.

Segurei seu rosto e o acariciei, ela me olhou como se não entendesse nada, mas não questionou meu ato. Colei meus lábios nos dela e senti o choque de meus lábios gelados da água, com os quentes dela. Senti como se beijasse seda de tão macios que eram. Me derramei em seu beijo, ignorando totalmente o fato de nossos amigos estarem na sala ao fim do corredor. Eu não sabia o que sentir em relação a isso, mas ela correspondia o beijo como se há muito, já esperasse por isso. Me senti um grande babaca por ter nunca ter percebido o quanto ela mexia comigo. Eu devia ter me dado conta do meu mau humor quando os rapazes falavam dela, de como eu ia dormir satisfeito cada vez que ela me dava um abraço de agradecimento por eu ter explicado uma matéria, ou quando meu estômago embrulhava nos dias em que, embora morando na mesma casa, eu não a via. Ela me apareceu em sonho para que eu tomasse uma atitude na realidade, como se fosse para me lembrar de algo que eu havia esquecido... e eu me lembrei. Paramos de nos beijar, e sem perceber eu peguei as mãos dela e cruzei com as minhas, as dela estavam geladas e seu olhar estava tão fixo no meu, que cheguei a pensar que ela estivesse lendo meus pensamentos. Encostei minha testa na dela, e pude ver meus olhos sorrindo no reflexo de seus olhos. Uma imagem veio à minha cabeça: Kory estava num vestido verde rodado no lago perto de onde moramos na adolescência, ela dizia umas coisas antes de sorrir, mas agora eu lembrava o que era: " Eu sempre te amei, Richard...".


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado! Abraços



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