Não Sou Quem Você Imagina! escrita por Gilraen Ancalímon
Notas iniciais do capítulo
Olá meninas, aqui estou eu. Antes de mais nada gostaria de dar as boas vindas a Blond Mistery, por ter deixado um recado.
Gosto muito deles e agradeço a todas leitoras fiéis pelas mensagens, bem aqui vai mais um capítulo para vcs.
[RECAPITULANDO]
Havia sido importante para o pai que a Fundição Bingley prosperasse, e que os filhos passassem os negócios para seus filhos. Charles sempre se esforçara para corresponder às expectativas, honrando a memória do pai e conquistando o orgulho da mãe, e por isso assumira as responsabilidades e o trabalho que teriam cabido a dois homens.
E ressentira-se contra Fitzwilliam.
Entendia o peso da culpa.
Lágrimas brotaram de seus olhos.
Várias mulheres usando os uniformes do hotel atravessaram o pátio sob a luz amarela de uma lamparina. Distraído, notou que eram quase dez horas, tarde demais para alguém estar deixando o trabalho, e voltou para a cama.
Esperava receber notícias no dia seguinte.
Por que encontrar Jane se tornara uma obsessão?
Porque estava preocupado com o bem-estar de uma jovem mãe e sua filha.
Porque não era como o pai dela.
Precisava esclarecer tudo entre eles e dizer que não a odiava, um temor que ela expressara na carta.
Por quê?
Porque a culpa e a vergonha pesavam em seu coração.
Precisava encontrá-la novamente. Tinha de mostrar a ela que seu lugar era ao lado dos Bingley... dele.
Por quê?
Porque...
Charles fechou os olhos e examinou o recanto mais secreto da alma.
Porque a amava.
***
Jane vestiu e amamentou a filha, notando que os seios não estavam tão cheios quanto haviam estado. Helena estivera inquieta nos últimos dois dias; o que a preocupava. Talvez estivesse doente.
Não queria gastar o dinheiro da consulta com um médico, porque depois de pagar o aluguel e comprar comida para a semana, não restava muito a ser economizado. Mas Helena era mais importante que tudo, e por isso saiu cedo, esperando ser atendida por um médico antes do horário de apresentar-se no hotel.
Felizmente a sorte estava a seu lado.
— Qual é o problema? — perguntou o homem de meia-idade e aparência serena.
— Minha filha está agitada há dois dias — disse, colocando-a sobre a mesa de exames. — Ela raramente chora, mesmo quando sente calor ou algum outro desconforto, mas na última noite quase não dormiu.
— Todos os bebês choram. — Mesmo assim, o médico examinou-a. — Ela parece muito saudável. Não vejo nada de errado com sua filha. Talvez seja um dente...
— Ela já tem dois, e nunca se comportou dessa maneira.
— Todos nós ficamos agitados com esse calor.
— Não sei...
— Ela está com fome?
— Fome? Ela mama regularmente.
— E acha que a quantidade de leite é suficiente?
— Bem, eu... notei que meus seios não são mais tão cheios quanto antes — respondeu embaraçada. — Há algo de errado comigo?
— Vamos dar uma olhada.
Jane superou o constrangimento e permitiu que o médico a examinasse.
— Não há febre nem sinal de infecção. Sente dores nos seios?
— Não.
— E quanto à dieta? Tem se alimentado bem? Toma leite? Bebe bastante água?
— Eu... janto todos os dias. Mas é só.
— Então encontramos o problema. Se quer continuar produzindo leite para o bebê, precisa comer em intervalos regulares e ingerir muito líquido. Não é hora de pensar em recuperar a silhueta.
Lágrimas brotaram nos olhos de Jane e ela fechou os olhos. Estava deixando a própria filha faminta!
— Se quer emagrecer, vai ter de dar a ela leite em pó ou encontrar uma ama-de-leite.
Jane pegou Helena.
— Eu não sabia — disse envergonhada. — Vou me alimentar melhor.
O aroma de chá fresco invadiu o consultório e ela ouviu o ronco do próprio estômago.
— Quanto lhe devo?
O médico respondeu e ela depositou a moeda em sua mão, sentindo-se mais tola e incompetente que nunca.
— Sirva-se de uma xícara de chá — ofereceu o doutor.
— Obrigada, mas vi um pequeno restaurante a caminho daqui, e acho que vou comer alguma coisa.
— Boa ideia. Sua filha vai se acalmar em um ou dois dias.
Jane beijou a cabeça de Helena e murmurou dezenas de pedidos de desculpas enquanto caminhava pela rua. Como não tinha muito tempo, pediu uma tigela de mingau de aveia e um copo de leite. Tentando não lamentar a despesa extraordinária, comprou um sanduíche para a hora do almoço e correu para o hotel.
Elizabeth, Sara e algumas outras estavam na lavanderia.
— Está com a aparência de quem já enfrentou um dia de trabalho.
— É como me sinto. — Jane acomodou Helena no aparato que Elizabeth a ajudara a costurar e prendeu-o em suas costas.
— Tenho uma ideia — Elizabeth anunciou. — Por que não deixa Helena comigo esta manhã?
— Oh, eu não poderia.
— Só por algumas horas. Seria um prazer ter uma criança por perto. Carreguei meu filho até ele ter um ano de idade, e o peso de Helena ainda é bem menor que o dele. Por favor...
Estava precisando de algumas horas sem os quilos extras nas costas.
— Está bem — concordou.
Transferiram o aparato das costas de Jane para as de Elizabeth.
— Quem está encarregada do quarto quatorze? Preciso daquele quarto — Elizabeth suspirou.
— Qual é o problema? O hóspede é interessante? — Sara brincou.
— Lindo como o pecado.
— E deve ser muito rico, ou não estaria hospedado aqui.
Todas concordaram e riram.
— Talvez vá dar uma olhada no tal hóspede — Sara decidiu. — Acha que é casado?
— Quase todos são — Elizabeth respondeu. — Pelo menos os melhores...
A sra. Hollister entrou com a divisão de tarefas para aquele dia.
— Parece nervosa, Jane — ela comentou quando as outras se dividiram. — Algum problema?
— Não, senhora. Nenhum.
— O bebê está ficando pesado demais?
— Não. Ela não me incomoda. Elizabeth me pediu para carregá-la por algumas horas.
— Sinto falta da meu filho — ela confirmou.
A mulher se deu por satisfeita e dispensou-as e, aliviada, Jane foi trabalhar.
***
O calor e a espera não contribuíam para melhorar o humor de Charles. Pediu água, e atendeu à porta ao ouvir as batidas suaves.
— Sua água, senhor.
— Obrigado.
A jovem esguia despejou a água no lavatório. Ela carregava um bebê preso às costas.
— Mais alguma coisa, senhor?
— Não, obrigado. — Ofereceu uma moeda e ela aceitou o dinheiro com evidente constrangimento. Depois agradeceu e sorriu.
— Tenha uma boa estadia, senhor.
— Obrigado.
A jovem virou-se para partir e o bebê tornou-se completamente visível. A cabeça loura e os olhos azuis lembravam alguém...
Jane. Helena!
A criança era um pouco maior do que se lembrava, mas não a via há semanas.
Sim, tinha certeza de que eram os mesmos olhos azuis. O mesmo queixo. Os mesmos cabelos, embora um pouco mais longos.
Charles respirou fundo.
O que sabia sobre bebês?
Todos haviam sido idênticos até conhecer Helena. Não pensara em outra coisa nas últimas semanas, teria começado a ver aquilo que desejava?
A criada chegou ao corredor.
— Senhorita — disse, detendo-a com a palavra.
— Sim, senhor?
— Seu bebê... ela tem lindos olhos azuis.
— Sim, ela tem lindos olhos... mas não é meu.
O coração de Charles parou de bater.
— Não?
— Não. A menina é filha de outra empregada do hotel.
— É uma linda criança. Qual é o nome dela?
— Helena.
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