Não Sou Quem Você Imagina! escrita por Gilraen Ancalímon


Capítulo 33
Capitulo 33


Notas iniciais do capítulo

Olá meninas como vão? Obrigada pelos comentários deixados para a minha pessoa, espero que gostem do capítulo, att



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[RECAPITULANDO]

— Não sei quando os outros irão para seus apo­sentos. E meu escritório está aberto aos homens a qualquer momento. Eu irei ao seu quarto. Es­pere por mim.

Ela assentiu e abaixou a cabeça.

Charles soltou-a e a viu voltar ao salão.

Teria de tomar cuidado para não tocá-la. Não podia aproximar-se a ponto de ver o fogo em seus olhos ou sentir o aroma excitante da pele e dos cabelos.

Mesmo quando estava zangado, mesmo depois de Anne ter permitido que a mãe o humilhasse, apesar de ser capaz de identificar suas táticas de manipulação, ela o incendiava. Permitir esse tipo de fraqueza seria um terrível engano.

Sim. Teria de ser cuidadoso.

***

Depois de um dia de trabalho e uma noite tão agitada, Charles sentiu-se exausto muito antes dos convidados manifestarem o desejo de ir dormir. Finalmente eles o deixaram e recolheram-se, e ele abriu as cortinas e as ja­nelas do escritório para arejar o ambiente abafado.

Os homens o acompanhariam a Hampshire na manhã seguinte, e teria de se levantar muito cedo. Subiu a escada, disposto a resolver a questão com Anne sem prolongar a discussão.

Levando um grande envelope, bateu na porta e foi recebido imediatamente.

Charles entrou no quarto, sentiu seu perfume no ar e censurou-se por ter ido procurá-la em seu território.

Não! Não havia nenhum território dela ali. Es­tavam em sua casa, e cada centímetro daquele chão pertencia a ele. Anne teria apenas o que ele quisesse dar.

Culpado, deu um passo à frente. Ela era esposa de Fitzwilliam. Tinha tanto direito à casa quanto ele. Afirmar o contrário era apenas uma maneira tola de alimentar sua confiança.

— Importa-se se eu me sentar? — ela perguntou.

O rosto pálido revelava cansaço.

— Não.

Ela se acomodou em uma poltrona e apoiou as pernas no banco.

Charles abaixou a cabeça e, ao fazê-lo, notou que ela usava os dois sapatos. Não havia percebido nada antes.

— Tirou o gesso — comentou.

— Sim, há alguns dias.

Era possível ver as meias sob a saia e os saiotes e constatar que um tornozelo estava muito maior que o outro.

— Seu pé está inchado.

— Isso sempre acontece quando passo o dia todo em pé.

— Devia ter tirado os sapatos.

— Sabia que viria.

Prevenira-a para que o esperasse, e ela não se despira. Sentia-se o pior dos homens. Deixando o envelope de lado, inclinou-se para desamarrar os sapatos de solas macias e segurou um de seus pés. Ela deixou escapar um gemido.

— Sente dor? Eu a machuquei?

Anne negou com a cabeça, os lábios apertados numa linha fina. Charles concluiu a operação.

— Devia ter posto gelo sobre a área inchada.

— Mandei os criados para a cama. Eles terão de se levantar muito cedo amanhã.

Deixara gelo no balde do estúdio, e estava certo de que ainda encontraria algumas pedras.

— Voltarei em um minuto.

Pouco depois ele entrava com o balde, colocava o gelo em uma toalha e envolvia o tornozelo in­chado com ela.

— Melhor?

Ela fechou os olhos e reclinou a cabeça.

— Vamos falar sobre o assunto que o trouxe aqui.

— Podemos deixar para amanhã, se estiver mui­to cansada.

Ela o encarou.

— Primeiro me faz esperar até esta hora, e então diz que o assunto pode esperar?

— Estamos cansados, Anne. Talvez seja melhor deixarmos essa conversa para outra ocasião. A propósito, cumpri minha palavra. — E entregou o envelope. — Os papéis que me pediu.

— Oh, eu... Obrigada.

Mal podia manter os olhos abertos. Devia ter cuidado da mãe, amamentado Helena e mandado os criados para a cama desde a última vez em que a vira. E depois ficara acordada esperando que ele fosse insultá-la.

Determinado, toma-a nos braços para levá-la até a cama, e o perfume que tanto apreciava as­saltou seus sentidos. O aroma misturava uma fragrância floral a um toque de madeira, compondo uma mistura feminina... e perigosa.

Deixou-a sobre a cama e recuou, sentindo que o corpo começava a reagir.

— Vá dormir. — E saiu do quarto sem olhar para trás.

Jane removeu o gelo do tornozelo, abriu o envelope e espalhou os papéis sobre a cama. Todos os fatos da vida de Anne estavam ali, alguns manuscritos, outros impressos em letras unifor­mes e claras. Ele contratara a Agência Pinkerton, a melhor de todas, e as informações foram regis­tradas com detalhes e uma lista de fontes para confirmação.

De acordo com o que lia, Caroline já bebia antes do marido morrer. O casamento fora um desastre desde o início, e Anne tivera um irmão que havia sido assassinado em uma briga de rua.

Esforçando-se para manter os olhos abertos, Jane leu sobre os três homens com quem Anne se rela­cionara antes de conhecer Fitzwilliam. Ela vivera em um bairro muito pobre e trabalhara em uma fábrica cujo dono explorava os empregados. Depois conhecera um homem envolvido com o teatro e transformara-se em figurinista e costureira dos atores.

Cansada demais para se preocupar com trajes e acessórios, Jane tirou o vestido, soltou os ca­belos e foi para baixo do cobertor vestindo apenas as roupas íntimas.

Desafiada a pedir aquilo que desejava, solicitara o relatório. E Charles concordara em cedê-lo. Mesmo depois de tudo que acontecera com Caroline, mantivera a palavra. Por quê? Não conseguia ima­ginar a resposta.

Fechando os olhos, rezou para que Helena não acordasse muito cedo. Mas, apesar da exaustão, não conseguia dormir. A culpa e a auto-recriminação a perturbavam mais que a dor na perna.

Naquele dia havia revelado a verdade a uma pessoa. Caroline conhecia sua identidade, e por isso teria de redobrar os esforços para impedir que Charles descobrisse a farsa.

Em pouco tempo, poderia partir com a filha. Afastar-se de Charles e suas suspeitas e escapar da teia de mentiras que tecera em torno de si mesma seria um alívio. Mas não sabia como pro­cederia.

Iria embora, deixando uma carta onde explicaria tudo?

Mary amava Helena e fora boa e compreensiva com ela.

Como poderia deixá-la sozinha para lidar com a dolorosa verdade? Saber que a esposa e o filho de Fitzwilliam também estavam mortos, e que Jane não fizera nada para ajudá-los!

Caroline também devia considerá-la monstruosa por ter permitido que o corpo de Anne se perdesse.

Deitada de costas, olhou para o teto. Como uma Bingley, dispunha de todos os recursos. Os Bingley moveriam céu e terra para encontrar o corpo de Anne, o que significava que nada a impedia de agir em nome deles.

O sono era para aquelas com a consciência limpa.

Sentada na cama, acendeu a lamparina sobre o criado-mudo. Examinou os papéis e encontrou o nome do investigador contratado por Charles. Sabia que o gesto não compensaria as mentiras, mas serviria para amenizar o sofrimento de todos os envolvidos quando a verdade fosse descoberta.

Carregando a lamparina, seguiu pelo corredor até o quarto onde estivera horas antes.

A cabeça de Caroline podia ser vista acima do en­costo de uma das cadeiras.

— Está acordada?

— Sim.

Jane foi sentar-se no banco diante da cadeira.

— Tomei uma decisão — anunciou.

— Qual?

— Amanhã cedo enviarei um telegrama a Agência Pinkerton e tomaarei todas as providências para que descubram o que aconteceu com o corpo de Anne.

— Acha que vai sentir-se melhor por isso?

— Esperava poder fazer com que você se sen­tisse melhor. É o mínimo que posso fazer. Na ver­dade, é só o que posso fazer.

A mulher encolheu os ombros, um gesto que, Jane esperava, devia servir para encobrir seus verdadeiros sentimentos.

— Só queria que soubesse.

— Agora já sei.

— Por que não vai dormir?

— Irei dentro de alguns minutos.

— Boa noite. — Jane deixou o quarto e voltou ao dela. Tudo que fazia afetava muitas outras pes­soas. Ir até ali tivera consequências incalculáveis, e partir provocaria resultados ainda mais vastos e desastrosos.

Mary seria a maior prejudicada. Helena era a grande alegria de sua vida, o bebê que ela julgava ser sua neta e descendente direto do filho e do marido que perdera. Quanto mais cedo pusesse um fim na mentira, melhor. A cada dia seu amor por Mary se tornava maior.

E a cada dia o amor por Charles assumia pro­porções mais intensas e assustadoras. A inabilidade para resistir, mesmo sabendo que ele a des­prezava, era vergonhosa. Afastar-se seria a res­posta para mais de um dilema.

Assim que as autoridades soubessem o que de­veriam procurar, não levariam muito tempo para encontrar os restos de Anne. Os convidados de Charles passariam mais alguns dias em Mahoning Valley, e Jane tinha o dever de cuidar de tudo para que a estadia fosse um sucesso.

Talvez em uma ou duas semanas tivesse as in­formações sobre Anne. Até lá, seria capaz de per­manecer mais tempo em pé e caminhar sem di­ficuldade, e o prazo teria terminado. Até lá, teria de manter Caroline calada.

Voltou para a cama e apagou a lamparina. Fi­caria feliz quando se afastasse de Charles. Nunca conhecera um homem capaz de enfurecê-la, exci­tá-la e confundi-la como ele fazia. De todas as coisas que podiam ter acontecido, acabara por en­trar em um trem que a levara ao encontro de Fitzwilliam, Anne, Charles e Mary.

O destino entrelaçara seus caminhos.

E o desespero ainda a levava a tomar medidas espantosas e extremas.

Esperava que os recursos de que dispunha fos­sem suficientes para as primeiras semanas, e re­zou para encontrar um emprego, um lugar para viver e um meio de cuidar da filha.

Jane cobriu-se e se esforçou para dormir.


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