Não Sou Quem Você Imagina! escrita por Gilraen Ancalímon
Notas iniciais do capítulo
Olá meninas como vão?
Como prometido, aqui vai mais um capítulo para vcs, obrigada pelos recados deixado, e tbm pela visitas dos fantasminhas, rsrrsrs
Espero que gostem do capítulo. E se alguém tiver interesse em ler, comecei a postar uma fic ontem baseada em Harry Potter.
Att
[RECAPITULANDO]
Com alguma dificuldade, moveu-se pelo espaço onde o piso era de madeira crua, tomando cuidado para não fazer barulho com as muletas. O suor brotava abundante em sua testa e corria pelas costas. A qualquer momento ele poderia abrir aquela porta e... e...
E estaria nu.
E molhado.
Estendeu a mão e girou a maçaneta, tremendo de medo e ansiedade. A porta se abriu. Passou ao corredor e fechou-a, olhando de um lado para o outro a fim de certificar-se de que estava sozinha.
Felizmente não havia ninguém por perto.
Por enquanto.
*********
Grata pelos tapetes que abafavam o som dos passos trôpegos, afastou-se daquela ala o mais depressa possível.
A sra. Gardiner estava acordada, mas trabalhava em seu bordado quando Jane entrou no quarto.
— Ela começou a se mover há poucos minutos — a criada contou. Se achava estranho o desaparecimento da jovem mãe, não disse nada.
Pelo que sabia, Jane era a segunda senhora da casa. Tinha todo o direito à liberdade de ir e vir quando quisesse.
Jane tocou as cartas em seu bolso. Leria cada uma delas quando estivesse sozinha naquela noite.
*****
Com os acontecimentos de poucas horas atrás, fez com que Jane refletisse. Tivera uma filha, mas nunca havia visto um homem nu. Jane não conseguia olhar para Charles durante o jantar sem lembrar os músculos das costas e dos ombros bem moldados. A recordação provocou um calor intenso que partiu do ventre e espalhou-se por todo o corpo até alcançar o rosto. Por mais que se concentrasse no cordeiro assado e na conversa em torno do acidente na fundição, não conseguia banir da mente as perturbadoras imagens de um corpo nu e poderoso.
— Anne? — O som da voz profunda e vibrante a fez erguer a cabeça. — Pode ir ao meu escritório mais tarde? — ele perguntou.
Sentiu a garganta oprimida.
O que Charles poderia querer? Teria descoberto que havia estado em seu quarto? Sentira falta das cartas?
— Sim, é claro.
— Sente-se bem, querida? — Mary perguntou. — Está quieta demais... e ruborizada também.
— Estou bem, obrigada.
— Vai aprender a viver com a solidão. Encontrará outras coisas com que ocupar seus dias e pensamentos com o passar do tempo. E existe um certo sentimento de depressão depois do nascimento de um bebê que não tem qualquer relação com a morte de Fitzwilliam.
Jane assentiu e manteve os olhos baixos. Era quase injusto o número de desculpas que tinha para o seu silêncio, suas alterações de humor, sua presença naquela casa. Como Anne, tinha uma desculpa para tudo. Como Jane Bennet era responsável por todas as mentiras. A vida como Anne era muito mais fácil.
A sra. Pratt tirou sua sobremesa intocada.
— Pode me acompanhar agora? — Charles perguntou.
— Sim... quando quiser.
— Não quer juntar-se a nós, mãe?
— Não, obrigada, querido. Gruver vai me levar à casa dos Austin para um jogo de cartas.
— Faça com que ele fique e espere. — Beijou o rosto da mãe e acompanhou Jane até o escritório. — Incomoda-se com a fumaça?
Ela ergueu a cabeça e viu o cigarro entre os dedos longos e bem cuidados. Um cavalheiro sempre pedia permissão de uma dama para fumar em sua presença, e Charles era um cavalheiro.
— Não. Meu pai fuma cachimbo.
— Fuma? Pensei que seu pai estivesse morto.
— Oh, sim... está. Quis dizer que ele fumava cachimbo. — E antes que ele pudesse interrogá-la, perguntou: — Queria falar comigo?
Ajoelhando-se diante do fogo da lareira, ele acendeu o cigarro com uma brasa. O aroma rico do tabaco de boa qualidade invadiu a sala. Ele se levantou e olhou para as chamas.
A mente distraída de Jane levou-a de volta ao quarto, ao buraco de fechadura através do qual descobrira um mundo desconhecido e fascinante. Jamais seria capaz de olhar para aquele homem como antes. O calor invadiu novamente seu peito, mas dessa vez desceu até o ventre e provocou uma sensação estranha, inquietante.
Charles encarou-a.
— Quero discutir as responsabilidades que mencionei em nossa última conversa.
— É claro. — Foi sentar-se na cadeira mais distante do fogo, já que estava mais do que aquecida.
— Como esposa de Fitzwilliam e mãe de Helena, tem obrigações com a família. Fitzwilliam nem sempre viveu à altura de suas responsabilidades.
Por que ele tinha sempre de apontar as falhas do irmão?
— Talvez ele não tenha vivido à altura de suas expectativas.
— Meu irmão era dono de uma porção da Fundição Bingley. Uma parcela exatamente igual à minha. E nunca assumiu essa responsabilidade.
As palavras e o ressentimento que expressavam ecoaram na sala como um tiro de canhão, e ela se sentiu tola por não ter percebido antes. Não conseguira compreender a razão de tanta desconfiança.
— Qual era a parte de Fitzwilliam na Fundição Bingley? — perguntou.
— Um terço. Mamãe e eu temos um terço cada um. Depois de sua morte, o terço pertencente a ela seria dividido entre nós, os filhos.
Dinheiro. O assunto girava em torno do dinheiro que Anne e seu filho teriam herdado.
— E agora que Fitzwilliam está morto, o que acontecerá com a parte que pertencia a ele?
— Como se nãosoubesse...
— Como poderia saber? Não conversei com ninguém além de você e Mary, e nenhum dos dois me contou nada.
— Fitzwilliam nunca falou sobre os bens que possuía? Sobre os negócios da família?
— Fitzwilliam não planejava morrer! Ele havia acabado de se casar.
Os olhos escuros examinaram seu rosto por alguns instantes antes de buscarem novamente o fogo.
— Helena herdou o terço de Fitzwilliam. Quando minha mãe morrer ela herdará metade do terço que pertence a ela. Metade da Fundição Bingley será dela.
Fitzwilliam não negligenciara o bem-estar da esposa e do filho. De uma coisa estava certa: ele e Anne amaram-se muito. Por que Fitzwilliam não tomaria todas as providências para certificar-se de que ela e o bebê estariam seguros, caso não pudesse estar junto da família?
— Ele não era tão irresponsável, afinal — disse, incapaz de conter o sorriso de satisfação que distendeu seus lábios. — Cuidou de tudo para que a filha não ficasse desamparada. E quanto a... — Deteve-se antes de dizer Anne — ...mim? Qual é minha participação nisso tudo?
Charles fitou-a com uma intensidade que teria sido suficiente para rasgar o mais espesso couro.
— Existem contas abertas em seu nome. Os depósitos são realizados anualmente a partir dos lucros da companhia. Vai me dizer que não tinha conhecimento disso?
Uma onda de raiva brotou em seu peito. Como esse homem atrevia-se a acusar a generosa mulher que conhecera rapidamente de tão sórdida manipulação?
— Está tentando sugerir que provoquei o desastre de trem para ficar com o dinheiro de Fitzwilliam?
A expressão revelou toda a surpresa provocada pela pergunta direta.
— Acredita que eu queria a morte de Fitzwilliam? — ela insistiu, a voz mais alta e estridente do que pretendia.
Charles jogou o cigarro na lareira e afastou-se do fogo.
O coração de Jane batia descompassado. Não tinha o direito de discutir com aquele homem. Nem de estar zangada, contrariada, ou de desafiá-lo e questionar seu direito a duvidar das intenções de uma desconhecida que acolhera em sua casa. Não era nada para ele. Mas a bondade e a generosidade de Fitzwilliam e Anne haviam sido tudo para ela. Por eles ainda estava viva.
— Não, não acredito que tenha desejado a morte de meu irmão. Mas não estou convencido das razões que a levaram a se casar com ele.
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