Não Sou Quem Você Imagina! escrita por Gilraen Ancalímon
Notas iniciais do capítulo
Olá meninas, como vão?
Espero que todas estejam bem, aqui vai mais um capítulo para vcs e espero que gostem, vou ver se consigo postar mais um vez esta semana, já que minhas aulas começaram, agora vai ficar mais facil de fazer isso.
Desde já quero agradecer a todas pelos recados deixados e por acompanharem a fic tbm, e tbm quero agradecer aos fantasmas por acompanhar apesar de não deixarem recadinho nenhum, bjs att
[RECAPITULANDO]
Não importava quem empurrava sua cadeira. Os pensamentos de Anne giravam em torno do que estava acontecendo e do que havia feito. Alguém ajudou-a a entrar na carruagem, onde ela se sentou com o pé apoiado em um banco e olhou pela janela, grata pelo véu que cobria parte do rosto e conferia alguma privacidade.
O túmulo. Teria de ver o túmulo de Fitzwilliam. E aceitar a ideia de que ele poderia estar vivo, se houvesse viajado em sua cabine na noite do acidente.
Pouco depois a carruagem parou e todos desceram. Podia ver o toldo negro poucos metros a frente. O coração disparou e o pânico explodiu em seu peito. Em algum lugar, um pássaro entoou seu doce canto matinal.
A chuva da noite anterior deixara a grama mais verde e brilhante. Coroas de flores e buquês variados não podiam esconder a terra revolvida recentemente que cobria o corpo de Fitzwilliam Bingley.
*******
Jane olhou para o túmulo e percebeu a enormidade do ato que cometia, o horror da situação que estava vivendo.
Havia pensado no corpo de Anne anteriormente, mas banira da mente as dúvidas mórbidas. De repente era obrigada a lidar com elas.
Onde estaria Anne? Onde fora enterrado o corpo da verdadeira esposa de Fitzwilliam?
Ela deveria estar ali, ao lado dele por toda a eternidade, mas por causa de sua fraqueza, por ter se deixado envolver em uma mentira conveniente, ninguém jamais soubera o suficiente para tentar localizar o corpo.
A ideia a enfraqueceu fisicamente e provocou um soluço. Mary estendeu a mão para afagá-la, aumentando em muito a culpa por seu comportamento hipócrita.
E o bebê que Anne esperava! O pequeno ser merecia ser enterrado junto dos pais. Não havia ninguém para chorar pelo filho de Fitzwilliam e Anne.
Ninguém além dela...
A carga expulsou o ar de seus pulmões e provocou uma nova torrente de lágrimas.
Onde estariam Anne e o bebê? Se haviam sido separados de Fitzwilliam na terra, também passariam a eternidade longe dele?
Jane abriu a bolsa para pegar o lenço com que cobriu a boca.
O ministro começou a dizer as palavras que ensaiara antes, mas ela não as ouvia. O Senhor a poupara e a filha por razões desconhecidas, e em troca mentira para a família do homem que a ajudara num momento de dificuldade, uma família que chorava a morte de um filho e de um irmão.
Uma das amigas de Mary cantou, e depois o ministro rezou novamente. Jane esperou que um relâmpago cortasse o céu e a atingisse naquela cadeira de rodas. A morte teria sido uma solução rápida e simples. Perdida em meio à culpa e à própria infelicidade, rezou apenas para que o dia chegasse ao fim.
— É hora de ir. — Fitzwilliam Darcy estava em pé ao lado da cadeira, e ela se deu conta de que o braço direito de Charles estivera esperando em silêncio por algum tempo. Todos haviam partido, e só ela permanecia sob o toldo que cobria o lugar reservado para os participantes do ofício religioso.
Fitzwilliam empurrou a cadeira pelo terreno irregular até onde a carruagem esperava, na estrada, depois acomodou-a no veículo e ajudou a sra. Gardiner, que carregava Helena. Finalmente sentou-se ao lado de Jane e a carruagem partiu.
— Fitzwilliam tinha muitos amigos — Mary comentou com a voz embargada. — Não esperava tantas pessoas.
Charles afagou sua mão.
— Ele está repousando num lindo lugar, não é mesmo, Anne querida? — Mary perguntou. — Ao lado do pai.
Há alguns minutos duvidara de que isso fosse possível, mas Jane tinha certeza de que estava mais pálida. Pressionou o lenço contra a boca para conter um soluço. Quando soubesse a verdade, Mary a odiaria por ter privado Anne e seu verdadeiro neto do direito de repousar ao lado de Fitzwilliam.
Helena escolheu aquele momento para começar a chorar. A sra. Gardiner o embalou, mas foi inútil, e finalmente Mary o tomou nos braços e ofereceu seu dedo para que ele sugasse até chegarem em casa.
Charles notou que Anne mantinha o lenço apertado contra a boca e imaginou se estaria doente.
— Eu mesmo ajudarei a sra. Bingley — disse a Fitzwilliam assim que a carruagem parou diante da casa. — Ampare minha mãe, por favor.
Fitzwilliam olhou-o de maneira estranha, como se não compreendesse a ordem, mas respondeu apenas:
— Sim, senhor.
Charles estendeu os braços para Anne e ela se encolheu, mas controlou-se em seguida. Ele a segurou contra o peito e começou a afastar-se da carruagem.
Alguns minutos foram suficientes para que percebesse os tremores que a sacudiam.
— Sente-se mal? — perguntou.
— Não. — A resposta soou fraca, e ela apoiou a mão em seu peito como se precisava do apoio.
Sim, seu aroma era tão exótico e erótico quanto lembrava, e arrependia-se por ter permitido que Fitzwilliam conhecesse o prazer de sentir as curvas femininas em seu corpo. Ela era uma Bingley.
Charles não a aprovava nem confiava nela, mas tinha o dever de protegê-la e garantir seu bem-estar e o da criança. Gostasse ou não, as obrigações que Fitzwilliam contraíra passassem a ser dele.
Não queria a responsabilidade de cuidar do bem-estar daquela mulher.
Não confiava nela.
Ou era nele mesmo que não confiava?
Não tinha escolha.
Consciente do tecido suave e frio em seus braços, do farfalhar misterioso dos saiotes sob a saia ampla e das batidas aceleradas do próprio coração contra os seios fartos, subiu a escada.
Ao entrar na suíte, aproximou-se de uma cadeira.
— Ponha-me na cama, por favor — ela pediu com um gesto cansado.
— Sente-se mal? — Devagar, colocou-a sobre os travesseiros e encarou-a em busca de uma confirmação para aquilo que acabara de dizer.
— Não. Estou apenas cansada.
Charles estendeu a mão para o chapéu, lembrou-se do grampo que o mantinha preso à cabeça e, resignado, ergueu o véu que cobria o rosto pálido. Os olhos azuis encontraram os dele com surpresa e... constrangimento? Ou seria vergonha?
— Foi um dia difícil — ela suspirou.
Charles posicionou-se aos pés da cama.
As sombras escuras sob seus olhos comprovavam as palavras... ou a habilidade com os cosméticos. Lutou contra o ímpeto de vê-la como ela desejava mostrar-se: frágil e carente, necessitando de proteção e amparo. A pessoa vulnerável que via sobre aquela cama contrastava com as mulheres determinadas e independentes que o irmão sempre preferira.
Mas não se deixaria enganar. Tinha a mãe e o negócio que o pai havia construído para proteger.
Os gritos de Helena ecoaram no corredor, anunciando que a enfermeira aproximava-se do quarto. Anne retirou as luvas.
— Vou buscar sua cadeira — ele avisou.
— Deixe-a no corredor, por favor. Acho que vou descansar aqui por uma ou duas horas.
Charles executou um movimento afirmativo com a cabeça.
A sra. Gardiner entrou carregando o bebê. Anne removeu o chapéu e um caracol dourado caiu sobre seu ombro. Ela jogou o complemento sobre a cama e observou a governanta, que deixou o bebê no berço.
Charles também se manteve atento enquanto ela trocava as roupas molhadas da menina. Helena era uma criança forte com cabelos claros que pareciam uma seda muito fina. Tinha faces coradas que convidavam ao toque, mas Charles conteve a urgência de acariciá-la.
As pernas roliças da garota atestavam sua saúde e apetite voraz. Era uma criança da qual qualquer um sentiria orgulho. Uma menina ao qual seria difícil resistir, se não conhecesse certos detalhes. Ainda não estava convencido de que aquele era mesmo a filha de Fitzwilliam. Estudando-o, tentou encontrar algum sinal que o identificasse como um Bingley.
Os relatórios que recebera sobre Anne afirmavam que Fitzwilliam não fora o primeiro homem em sua vida. Trabalhara como costureira, mas costumava passar as noites entre os atores e funcionários do teatro. Havia sido assim, depois de relacionar-se rapidamente com outros três homens, que ela conhecera Fitzwilliam.
Todos os bebês eram parecidos, Charles concluiu. Como era possível comparar aqueles pequenos traços aos de um adulto? Impossível. A mãe ficaria devastada se aquela não fosse a filha de Fitzwilliam.
A sra. Gardiner concluiu sua tarefa, vestiu Helena e encarou Charles com expressão de dúvida.
— Entregue-o à mãe — ele ordenou.
Ao receber o filho nos braços, Anne fitou-o com ternura e, pela primeira vez naquele dia, Charles viu o rosto pálido corar.
Sentindo-se um intruso, despediu-se e deixou o quarto. Para uma mulher que havia conhecido alguns homens, ela sabia como desempenhar o papel da jovem mãe recatada e tímida. E por que não haveria de se esforçar para convencê-los? Como viúva de Fitzwilliam, nunca mais teria de trabalhar... ou ser amante de outro homem.
A sra. Anne Bingley dera um grande golpe.
Notando que havia esquecido as luvas, voltou sobre os próprios passos e parou com a mão na maçaneta, olhando pela fresta da porta entreaberta.
Anne estava reclinada sobre os travesseiros, o bebê mamando com avidez e satisfação. A expressão em seu rosto era completamente diferente daquela que vira quando a sra. Gardiner entregara a criança. Havia ternura e adoração em seus olhos, um amor tão grande que era impossível não notá-lo, mesmo estando distante.
Muito bem, ela amava a menina. Era mãe dela, e isso não provava nada. Pensando bem, era possível que ela houvesse estado tão desesperada para dar um pai à criança que usara Fitzwilliam com esse propósito.
Charles examinara a caixa contendo os papéis de Fitzwilliam, documentos que a companhia de trens enviara assim que ele fora identificado, e assim descobrira que o casamento ocorrera sete meses antes.
Mas o nascimento de Helena podia ter sido precipitado pelo acidente. Jamais saberia ao certo.
Observou mãe e filha por mais alguns instantes, chegando a uma conclusão. Não saberia se aquele era a filha de Fitzwilliam, a menos que a própria Anne revelasse a verdade. Ela era a única que a conhecia. Seu objetivo era convencê-la a revelá-la.
E usaria todos os meios disponíveis.
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