Clara observava o Doutor remover sua gravata-borboleta e jogá-la no chão com olhos embaçados por lágrimas. Ela sabia muito bem o que aconteceria logo a seguir, sem que ele precisasse explicar. Afinal, ela tinha passado por sua timeline e visto todas as suas encarnações anteriores. Saber que ele não iria morrer era um enorme alívio para a morena, mas o que acontecia diante de seus olhos era pouco confortador - o Doutor, seu Doutor, iria dar lugar a uma nova face, a um homem totalmente diferente. Ele ainda seria a mesma pessoa lá no fundo, e disso Clara não tinha dúvidas, mas ela não conseguia ficar neutra com o que se passava à sua frente.

– Por favor, não mude! – Ela implorou indo na direção do – talvez por enquanto – moreno, mesmo sabendo que não era algo que ele pudesse escolher. Clara odiava o fato de que a última vez em que ela o veria nessa encarnação sua imagem estaria embaçada por mais das lágrimas que preenchiam seus olhos e caíam por seu rosto.

Suas mãos quase se tocavam, e Clara sabia que a qualquer momento a mudança aconteceria, mas nada foi como ela esperava. Não por que ela esperava que a regeneração fosse como na torre em Trenzalore – porém em escala menor, ou por causa do súbito movimento para trás do Doutor, mas por que ela nunca esperou que seu pedido fosse atendido.

O Doutor continuava igual.

Olhos arregalados eram a única reação de Clara enquanto o moreno franzia o cenho e pegava a gravata-borboleta do chão.

– Hm, isso é novo. – Ele murmurou para si mesmo ao não sentir mudança alguma, em confusão, enquanto a garota impossível o encarava de forma estupefata.

– V-você... Ainda é você? – Clara sussurrou com a voz ainda embargada pelo choro.

Como ele ainda era ele? Ela se lembrou de um breve comentário feito anteriormente ainda na cidade chamada Christmas, onde a décima encarnação tinha mantido o mesmo rosto uma vez, mas pelo tom usado ela tinha a impressão de que foi algo premeditado, e com certeza o seu Doutor não tinha esperado isso - dado todo o seu discurso anterior.

Com a pergunta da morena, ele rapidamente deslizou em volta do console da TARDIS até chegar ao monitor acoplado, mexendo em alguns botões até que o mesmo tomasse a função de um espelho.

– Pelo que parece, sim! – Ele respondeu, dando um sorriso que ele achava ser charmoso – e que Clara secretamente também achava - para o espelho e ajeitando o seu cabelo.

– Bem, é uma pena que eu não tenha ficado ruivo, mas eu sempre gostei desse rosto. – Murmurou enquanto colocava mais uma vez sua gravata - Bem, nem sempre, a minha décima encarnação pareceu não gostar muito do meu queixo, mas ele não conta. Nem o vovô, mas ele... – O Doutor foi interrompido por um abraço, que, após poucos segundos de choque ele retribuiu. – Você está bem? – Ele perguntou ao se afastar um pouco de Clara para poder ver seu rosto.

– Aham. – Ela respondeu olhando para aqueles grandes olhos tristes que ela achou que nunca mais veria, finalmente processando o que aconteceu. Ele não tinha mudado. – Eu pensei que nunca mais veria você. – Ela verbalizou seus pensamentos enquanto ele beijava o topo de sua cabeça.

– Eu sou ou não sou uma caixinha de surpresas? – Ele brincou, voltando á abraçá-la. O Doutor também estava com medo. Nada tinha sido como em sua última regeneração, mas era impossível não temer a sua próxima. Ele começaria a pensar diferente, agir diferente, parecer diferente. E se ele não achasse mais gravatas-borboleta legais? E não só isso o amedrontava, mas também o medo de que o Valeyard surgisse era cada vez maior. Além de tudo isso, tinha Clara. Ele não podia negar que sentia alguma coisa por ela, sua garota impossível - não que ele fosse admitir isso em voz alta algum dia. Tirando seus temores de mente – afinal, ele não tinha mudado -, ele se afastou de Clara com um sorriso no rosto e, antes que pudesse fazer qualquer outra coisa, a TARDIS derrubou os dois no chão, fazendo com que sua companion caísse em cima dele.

– O que aconteceu? – Ela perguntou assustada, não tendo tempo de sair de cima dele por si só já que tudo balançou fortemente mais uma vez, a tirando de cima do Doutor.

– Eu acho que isso é minha culpa. – Ele disse se levantando mesmo com o chão ainda tremendo, se lembrando de quando ele puxou alguma alavanca pouco antes de sua não–regeneração. Olhando mais uma vez para a tela do console e clicando em alguns botões, a cor de seu rosto sumiu e o mesmo deu um sorriso amarelo para Clara antes de voltar a falar. – Nós estamos batendo! – Ele disse, elevando o tom de voz tentando fazer com que a morena o ouvisse, já que o lugar agora estava preenchido por estalos e barulhos de explosão.

– No quê?! – Ela perguntou também elevando o tom de voz enquanto se levantava com a ajuda do Doutor, que havia se movido para estender sua mão á ela.

– É uma boa pergunta, Clara! Excelentíssima, na verdade. – Ele murmurou enquanto voltava para o console e observava seus botões de forma apressada. - Enquanto nós não sabemos, por acaso você saberia me dizer qual alavanca eu puxei? Eu estava meio ocupado com o meu discurso de despedida e não faço a mínima ideia de qual foi!